A resenha de hoje é de Corpo Estranho, o primeiro romance de M. T. S. Dorrenberg, lançado pela editora Empíreo nessa Bienal do Livro de São Paulo. O livro foi cedido para o blog pela editora e ficamos mais do que felizes em colocar as mãos em um sci-fi nacional, escrito por uma mulher.
Sinopse: Corpo Estranho, de M. T. S. Dörrenberg, conta a história de Mear, um ciborgue construído para atuar numa exposição em Berlim. Ao conhecer uma mulher chamada O., Mear sai em uma jornada pelo tempo e espaço em busca de respostas sobre a composição do corpo. Ele pode se transformar na figura que quiser, viajar no tempo e entender qualquer forma de comunicação. Essas habilidades têm por finalidade permitir que o ciborgue se desenvolva no mundo humano, iniciando uma geração de novos seres.
Corpo Estranho conta, essencialmente, a história de Mear, um ciborgue construído para uma uma exposição em Berlim. Porém, após conhecer a artista O., uma pessoa que usa intervenções estéticas no próprio corpo como forma de arte, Mear é instigado a ir além daquilo para o qual foi programado.
Embora seus desenvolvedores temam que ele ainda não esteja pronto para toda essa autonomia, Mear não deixa que isso o impeça de seguir em frente. Como um ciborgue, um híbrido de homem e máquina, Mear tem um cérebro humano, mas um corpo de metal que traz N possibilidades, como deslocar-se pelo tempo e espaço. Habilidade que colabora para que Corpo Estranho também conte um pouco sobre a história da arte.
Foi impossível não lembrar de AI - Inteligencia Artificial, O Homem Bicentenário e o livro de Bernard Beckett, Gênesis, enquanto lia Corpo Estranho. Assim como toda história que envolve homem e máquina, esse me colocou para pensar sobre a criação da vida artificial, sua autonomia e o que os difere dos seres humanos. Com essa leitura, também achei meio impossível não me questionar sobre as definições de vida e arte e as barreiras que as novas tecnologias vem quebrando cada vez mais rápido. Como tudo é tão volúvel.
Outra coisa que chamou minha atenção, foi como a autora colocou a nossa "dependência" das novas tecnologia como algo que nos transforma em ciborgues, em corpos humanos ligados intrinsecamente a tecnologia -- mesmo que por puro comodismo.
Enquanto Mear viaja pelo tempo e espaço, explorando e refletindo sobre a existência humana, ele se depara com diversos artistas consagrados como Leonardo da Vinci e Goya, que posam como instrutores para o ciborgue. Além dos artistas, ele também pode se comunicar com icônicas obras de arte como o busto de Nefertiti e a Vênus de Willendorf -- aquela estatua do período paleolítico que mostra o ideal feminino de cerca de 22 mil anos atrás -- e, também, a versão digital de Gollum, do Senhor dos Anéis. E esses encontros proporcionam ao leitor um conhecimento mais aprofundado de figuras de grande destaque do passado da arte humana e a quebrar alguns conceitos atuais sobre o que é arte.
Afinal, tecnologia é arte? Por que não seria?
Afinal, tecnologia é arte? Por que não seria?
A diagramação também marcou um momento único para o livro. Ao invés de seguir um padrão Prólogo + Capítulo 1 [...], o livro tem um começo diferente. Inicia por uma festa em homenagem a Mear, e então o prólogo explicando um pouco a origem de Mear e a Introdução, que mostra um pouco do fim de toda a história de autodescobrimento do ciborgue. E vamos nem falar dessa capa maravilhosa que destaca de longe o gênero da leitura.
Achei Corpo Estranho um livro inteligentíssimo, com uma proposta diferente daquelas que estamos acostumados a encontrar no mercado. MTS Dorrenberg é doutora em Comunicação e Semiótica e Pesquisadora do corpo na arte, nas mídias e nas tecnologias humanas e, enquanto lia, senti que ela conseguiu, com sucesso, transpor seu trabalho em uma narrativa atrativa as pessoas leigas no assunto.
Achei Corpo Estranho um livro inteligentíssimo, com uma proposta diferente daquelas que estamos acostumados a encontrar no mercado. MTS Dorrenberg é doutora em Comunicação e Semiótica e Pesquisadora do corpo na arte, nas mídias e nas tecnologias humanas e, enquanto lia, senti que ela conseguiu, com sucesso, transpor seu trabalho em uma narrativa atrativa as pessoas leigas no assunto.
O único revés que achei foi que, em alguns momentos e alguns diálogos, ficaram presos demais em explicar obras e artistas. E eu sei que há muito sobre eles para se falar, mas a forma como foi narrado acabou soando didático demais e quebrou um pouco o ritmo da aventura do Mear.
No mais, é uma obra bacana que se propõe a discutir temas como gênero, beleza, identidade, arte e o relacionamento entre máquinas e humanos, tudo isso usando a trajetória de Mear, o ciborgue curioso que descobre sobre si mesmo com a ajuda de figuras históricas e desenvolve-se até o ponto de apaixonar-se por O.
Pode ser uma leitura um pouco mais densa para quem está acostumado com coisas mais leves, mas é definitivamente uma indicação para quem quer ler algo "fora da caixa" ou da sua zona de conforto.
Título original: Corpo Estranho
Autora: MTS Dorrenberg
Editora: Empíreo
Gênero: Sci-fi - Romance
Nota: 3,5
Saiba Mais: Skoob | Submarino | Loja da Empíreo
Oi Bibs!
ResponderExcluirNão conhecia o livro e achei a premissa interessantíssima. Gosto muito de ficção científica e das reflexões que o gênero propõe. Esse, pelo jeito, faz muito disso. E que bacana que seja um livro nacional!
Beijos,
alemdacontracapa.blogspot.com
Oi Bibs
ResponderExcluirAmei a dica, não conhecia o livro, mas gosto bastante de história da arte e amo o filme A.I. Dica anotada!
Bjs, Mi
O que tem na nossa estante
Achei um livro bem juvenil e esquemático, sem tensão e com várias soluções forçadas e deus ex machina, como os ilimitados e sempre convenientes poderes do ciborgue Mear. Caracterizações esterotipadas das personagens famosas. O excesso de explanações "teóricas" ao final de cada capítulo alimentando o autoconhecimento do protagonista piora a narração e torna ainda mais previsível o seu desenrolar. Talvez para um leitor novato adolescente, nos seus 12 ou 13 anos, pode chegar a instigar a procura pelos personagens fonte - como foi para mim o livro Sandra na Terra do Antes, de Fausto Wolff, que li com uns 10 anos - mas para alguém com alguma bagagem cultural mais madura vira um amontoado de trívias sobre personagens históricos. Uma pena, gostaria de ter gostado.
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