Resenha: Não Conte Nosso Segredo - Queria Estar Lendo

Resenha: Não Conte Nosso Segredo

Publicado em 29 de set. de 2017

Resenha: Não Conte Nosso Segredo

Não Conte Nosso Segredo, livro de Julie Anne Peters, foi finalista do Book Award e finalmente chega ao Brasil pelas mãos da Hoo Editora, selo LGBT+ recém-adquirido pela Universo dos Livros, que nos presenteou com um exemplar durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
Sinopse: Com o namorado dos sonhos, o cargo de Presidente do Conselho Estudantil e a chance de ir para uma Universidade de Ivy League, a vida não poderia estar mais perfeita para Holland Jaeger. Ao menos, é o que parece. Até que Ceci Goddard chega na escola e muda tudo. Ceci e Holland têm sentimentos que não conseguem esconder, mas como todos ao redor vão lidar com este novo romance?
Entre intrigas, preconceitos e a não aceitação dos pais, Ceci e Holland lutam para manter-se juntas, mas o amor delas pode não ser tão forte quanto as críticas da sociedade...
Não conte nosso segredo é o primeiro livro da autora Best-seller no New York Times, que promete emocionar leitores de todas as idades e gêneros.
Holland é uma garota que está sendo pressionada de todos os lados para ser a filha perfeita, a aluna perfeita e a namorada perfeita. Sua mãe tem muitas expectativas para ela, uma vez que engravidou ainda na adolescência e teve que se virar sozinha, já que não pode contar com os pais. Ela espera que Holland tenha um currículo escolar perfeito que faça com que ela entre para uma prestigiada universidade e conquiste bolsas de estudo. Como Presidente de Classe, esperam que Holland seja capaz de coordenar todos os eventos sociais da escola, além de manter suas notas altas. E, como namorada, Seth espera que eles possam, em breve, levar seu relacionamento a um novo nível de comprometimento.

O problema é que Holland está sobrecarregada, indecisa sobre o seu futuro, suas possibilidades e sua vida no geral. Ela está cansada e segue uma rotina onde cabe a sua mãe suas grandes decisões, como a universidade que vai frequentar e o curso que deve fazer. Ela odeia isso, mas ao mesmo tempo não tem forças para lutar contra ou decepcionar a mãe.


Resenha: Não Conte Nosso Segredo

Em meio a esse mar de caos e confusão, de incertezas e pressão, ela conhece Ceci. A nova estudante da Southglenn é linda, artística e uma lésbica assumida com orgulho -- como mostram suas camisetas. A atração é imediata e quando Holland percebe que também é possível que seja recíproca, ela precisa adicionar mais uma importante decisão para o seu futuro.
Discutir isso. Que coisa mais Seth. Como discutir isso mudaria alguma coisa? O mundo estava entupido de ódio.
Uma das coisas que eu mais gostei em Não Conte Nosso Segredo, definitivamente, foi a Holland e a sua jornada. Muitos romances LGBT+ focam exclusivamente na descoberta da sexualidade dos protagonistas, mas a Holland não tem que lidar só com isso. A vida dela não para para que ela possa lidar com suas descobertas. Está tudo ali, apinhado em seus ombros e esperando que ela resolva todos os seus problemas. Holland é muito mais do que apenas sua orientação sexual e isso deixou a história ainda mais rica.

Outro ponto que gostei bastante foi o fato dela não surtar quando percebe que tem sentimentos em relação a  Ceci, porque ela não é sua primeira "crush" feminina. Holland já teve de lidar com várias paixonites por outras garotas, mas sempre se refreou a respeito delas por nunca ter questionado sua orientação sexual. É só quando Ceci vocifera a respeito disso que ela começa a se perguntar a respeito -- e aceitar a si mesma é muito fácil para ela. Holland, apesar de bastante ingênua a respeito do universo LGBT+, tem uma mente muito aberta. E para ela, descobrir-se lésbica não é um choque, ela aceita sua orientação sexual de braços abertos, porque está apaixonada e não consegue enxergar nada de errado em amar outra garota.


Resenha: Não Conte Nosso Segredo

A narrativa da Julie Anne Peters é um pouco diferente do que estou acostuma, mais "fria", objetiva e clara. Ela não fica embelezando seus parágrafos, apresenta a história tal como ela é. No começo, estranhei um pouco, mas é fácil se acostumar com a forma direta como ela aborda a história, sem se enrolar ou encher linguiça, desenvolvendo os personagens de forma coerente com sua apresentação inicial e mantendo-se fiel a representação do mundo.
Estavam errados quando chamavam isso de "estar no armário". Era uma prisão. Confinamento em solitária. Eu estava trancada do lado de dentro, dentro de mim, no escuro, com medo e sozinha.
Em várias passagens me senti desconfortável com a reação dos personagens secundários a Ceci -- que é tão gay, assumida com orgulho, e faz questão de mostrar isso na forma como se apresenta aos outros. Os comentários homofóbicos, as reações homofóbicas e a falta de ação dos adultos responsáveis em parar esse tipo de comportamento dói. Mas, infelizmente, são reações ainda muito atuais. O livro, apesar de ter sido publicado lá fora em 2003, ainda é extremamente atual e relevante. Muitas das reivindicações que Ceci faz ao longo das páginas, é o que a comunidade LGBT+ ainda precisa reivindicar nos dias de hoje, e os medos que os personagens LGBT+ passam no livro, ainda é o mesmo em pleno 2017.

Foi impossível não pensar que, como sociedade, estamos caminhando de forma extremamente lenta -- e as vezes até retardatária -- em direção a um mundo mais igual e livre de ódio.

Acho que Não Conte o Nosso Segredo não é um young adult de tirar o fôlego, mas me arrancou algumas lágrimas e me deixou com a sensação de ter aprendido muito enquanto virava suas páginas. É um romance gostoso -- embora eu tenha uma pequena ressalva com a Ceci, no fim do livro, por uma atitude egoísta dela -- com uma jornada de autoconhecimento que, não necessariamente, tem a ver com orientação sexual.
Mas o que eu perdi era insignificante em comparação ao que encontrei. Eu. A parte perdida de mim. E Ceci. Conhecer o amor. Ser amada.
Não Conte Nosso Segredo tem uma abordagem interessante, especialmente para pessoas que ainda são muito "cegas" e ingênuas a respeito das difuculdades e realidade da comunidade LGBT+. Ao dar o protagonismo e o ponto de vista a Holland, uma garota que está começando a descobrir sua orientação sexual ao mesmo tempo em que começa a solidificar sua identidade como ser humano, Julie Anne Peters faz com que essa jornada seja facilmente uma introdução ao mundo LGBT+ para os leigos. Uma aula, sem ser didática ou forçada, sobre inclusão, amor e empatia.


Resenha: Não Conte Nosso Segredo

Sobre a edição, estou completamente apaixonada pela capa e a diagramação do miolo, o separador de texto é uma fofura e a capa com laminação brilhante não deixa marca dos dedos -- melhor coisa do mundo, porque apesar da laminação suave ser maravilhosa, as marcas de dedo me dão agonia. Minha única reclamação é a gramatura do papel pólen que usaram. Ele parece grosso demais e eu sempre tinha que ficar conferindo o número de páginas para ter certeza que estava virando apenas uma. Dificultou um pouco a abertura do livro e, no fim, deixou ele um pouco "estufado" perto da lombada. Quem gosta das suas edições "intactas" (o que não é muito o meu caso) pode se incomodar um pouco com isso.
Tem a ver com superar aquela pergunta, o que há de errado comigo, sabendo que não há nada de errado, que você simplesmente nasceu assim. Você é uma pessoa normal, uma pessoa bonita, e deve sentir orgulho de ser quem é. Você merece viver, e viver com dignidade e mostras às pessoas o seu orgulho.
No mais, Não Conte Nosso Segredo é um livro claro, objetivo, que conquista facilmente os leitores e de uma relevância extrema para os tempos atuais -- especialmente nesse Brasil que insiste em "cura gay".

Título original: Keeping you a secret
Autora: Julie Anne Peters
Gênero: Young Adult - LGBT+
Editora: Hoo Editora - Universo dos Livros
Nota: 4

Saiba Mais: Skoob | Amazon | Saraiva

10 comentários:

  1. É tão bom quando a história nos acrescenta algo para pensarmos, para a vida. Não conhecia esse livro, mas adorei seus comentários sobre a história..

    www.vivendosentimentos.com.br

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    Respostas
    1. Quantos capítulos tem?

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    2. Oi, Anony! O livro tem 26 capítulos e 301 páginas. :)

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  2. Oi, Bia!
    Antes de ver esse livro por aqui alguns dias atrás, eu não tinha a menor ideia do que se tratava.
    Todos esses pontos que você colocou são coisas que me agradam muito numa história. Com certeza esse livro vai pra lista de leitura.
    Beijos
    Balaio de Babados
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  3. Oie!

    Amei essa capa. Esses livro LGBTs costumam ser bem tristes. A diagramação tá lida também.

    Abraços...

    https://submundosliterarios.blogspot.com/

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  4. Olá, Bibs.
    Para ver como tudo aqui no Brasil é atrasado. Um livro que foi lançado em 2003 ainda é atual no Brasil hehe. Eu fiquei com vontade de ler ele, mas não é aquela vontade de necessidade. Por isso pode ser que eu leia mais para frente.

    Prefácio

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  5. Oi, Bia!

    Gostei muito da premissa desse livro! Não conhecia, mas parece ser muito bom e já quero ler. Amo leituras que abordem temas sérios, pra gente aprender mais e se conscientizar!

    Beijos,
    Isa
    Viciadas em Livros
    Participe do Amigo Secreto Literário do Viciadas em Livros

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  6. Oi Bibs,
    Realmente a capa é bem linda e o assunto bem atual. Fiquei bem curiosa e já vi que irei chorar em algumas partes também e ficar com raiva em outras. Odeio a falta de empatia, não é difícil aceitar as escolhas de felicidade alheia.

    tenha um ótimo final de semana =D
    Nana - Canto Cultzíneo

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  7. Gente,mas no fim, vcs acham que a Ceci traiu Holland msm ou não?

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  8. Anônimo29.1.23

    Tem filme ?

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