Mundo
Novo
trata de uma distopia onde a ordem no mundo é dada por adolescentes. O primeiro
livro de uma trilogia escrita por Chris
Weitz, foi lançado no Brasil pela Editoria
Seguinte (que cedeu um exemplar para a resenha) e nos deixa ansiosos pela
continuação da história.
Sinopse: Neste mundo novo, só restaram os adolescentes e a sobrevivência da humanidade está em suas mãos. Imagine uma Nova York em que animais selvagens vivem soltos no Central Park, a Grand Central Station virou um enorme mercado e há gangues inimigas por toda a parte. É nesse cenário que vivem Jeff e Donna, dois jovens sobreviventes da propagação de um vírus que dizimou toda a humanidade, menos os adolescentes. Forçados a deixar para trás a segurança de sua tribo para encontrar pistas que possam trazer respostas sobre o que aconteceu, Jeff, Donna e mais três amigos terão de desbravar um mundo totalmente novo. Enquanto isso, Jeff tenta criar coragem para se declarar para Donna, e a garota luta para entender seus próprios sentimentos - afinal, conforme os dias passam, a adolescência vai ficando para trás e a Doença está cada vez mais próxima.
Em suma o livro se passa em uma Terra
pós-apocalíptica, em que todos os adultos e crianças morreram vítimas de uma
doença que, por algum motivo, não ataca os adolescentes. Além de estarem
sozinhos, não há mais eletricidade nem todo o conforto do Antes, o mundo
moderno. A história começa em Nova York, com um grupo de adolescentes que
ocupou o Washington Park e precisa lutar pela sobrevivência buscando comida e
proteção através de armas de fogo. Essa rotina diária muda quando um pequeno
grupo, liderado por Jeff, decide ir até a Biblioteca Pública de Nova York para
encontrar um artigo científico que pode conter as respostas que eles querem
sobre a Doença.
Esse mundo pós-apocalíptico foi
surpreendentemente bem construído. O autor colocou em questão tudo que faz
falta e como a maneira de viver em uma Nova York decante habitada por
adolescentes é bem real. Há facções, há jovens usando armas e matando uns aos
outros, grupos corruptos, muito perigo e destruição. Cada lugar que é citado há
uma história por trás, como o que ocorreu com a doença generalizou e o que veio
depois, que grupo habita aquele lugar e por quê. Creio que se uma catástrofe
acontecesse na Terra, haveria grandes de chances de Nova York ficar
extremamente semelhante às descrições do livro.
“- American Apparel” – diz Donna.
- Superdry – diz Peter.
- McDonald’s – diz Donna.
- Foot Locker – diz Crânio.
É difícil acreditar que toda essa porcaria realmente importava e que essas palavras provocavam alguma coisa em nós. Agora nós as repetimos como se estivéssemos evocando antepassados. Como se as lojas fossem santuários de mil pequenas divindades e ainda exigissem um tributo. Como se fossem os mil nomes de nosso deus morto.”
Um dos narradores e protagonistas é
Jeff, que aparentemente agora é o novo líder do local já que seu irmão mais
velho, Wash, alcançou os 18 anos e morreu da doença, pois ela só não ataca
quando se é adolescente. Jeff é um personagem sincero e sensato, ele busca
compreender as coisas e fazer as melhores escolhas sem ser aquele personagem
chatinho e certinho. Você entende a situação em que ele está e também entende
que ele precisa ponderar sobre tudo, afinal, é o fim do mundo, e más escolhas
podem levar a níveis catastróficos, ainda mais quando se é responsável por
outras pessoas.
Donna
é uma personagem que me intrigou muito, mas não positivamente. Os capítulos com
seu ponto de vista são intercalados com os do Jeff. Ela é uma personagem que
supostamente deveria ter uma alma revoltada, mas seus grandes motivos para isso
foram ter perdido a evolução tecnológica, a eletricidade e as redes sociais tão
acessíveis pelo iPhone. Até certo ponto, eu compreendo, porque ninguém quer perder
toda essa facilidade e conforto que temos hoje, certo? Mas parece que ela se
preocupa mais com isso tudo do que com garantir a própria sobrevivência e dos
amigos. Muitos dos adolescentes perceberam que o melhor era deixar aquela vida
para trás e seguir em frente para se manterem vivos. Donna não.
Além de que essa alma revoltada dela é
nada menos do que jogar a própria raiva nos outros e ser agressiva e bem,
bastante preconceituosa, ainda mais quando se trata de outras meninas. A
primeira descrição que temos de Donna no primeiro capítulo de Jeff é feminista,
e talvez essa tenha sido a intenção do autor, mas o que ele criou foi uma personagem
durona que julga as pessoas que são diferentes dela, principalmente as outras
meninas. Principalmente se a menina for bonita e nas palavras dela, tiver
peitões, lábios cheios e cílios grandes, para Donna isso significa que ela é
uma megera. A personagem é mesquinha, egoísta e fútil, e julga os outros por
serem exatamente assim. Alguns personagens de outras histórias possuem essas
características, mas de forma bem construída.
“- O que são os animais? São matéria construída em modelos funcionais pela execução de um código. C, G, T, A. – Ele engole. – DNA. Quando você come algo, é informação comendo informação.
O cheiro do porco se infiltra na minha mente. [...]
Em seguida, um momento antes que a parte que chamo de “eu” possa dizer isso, percebo que estou olhando para uma coxa humana cozida.”
Pode-se perceber ao longo da história
que o autor tem alguns problemas com personagens femininas. Na concepção dele,
de acordo com os diálogos e descrições, as meninas são seres fúteis que se
preocupam somente com aparência, maquiagem e sabotar outras meninas. Isso me
incomodou bastante, pois ele deixou uma linha muito forte entre meninos e
meninas. Entendo que isso é algo ainda feito atualmente, infelizmente, mas ele
apoiou demais nessa separação de gênero. Coisas de meninos e coisas de meninas,
totalmente diferentes e separadas. Talvez, talvez essa fosse a intenção dele,
como uma crítica a isso e à futilidade que a tecnologia trouxe para nossas
vidas. Mas não dá para ter certeza.
“Eu não acreditava muito nisso. Tenho uma teoria, que chamo de Teoria do Raio da Besteira. Ou seja, a exatidão do relato de alguém é inversamente proporcional à sua distância no espaço e no tempo. Então, se alguém fala sobre algo que aconteceu ontem, vai ser mais preciso do que se falar sobre algo que aconteceu há uma semana. E se conta algo que aconteceu há dois quilômetros de distância, vai ser menos preciso do que se aconteceu na casa do vizinho.”
Os personagens secundários são muito
interessantes e participativos na história. Por exemplo, o Crânio, que é um
garoto superdotado que faz as coisas funcionarem no Washington Park, além de
perceber coisas ao seu redor que os outros não veem. Há também a Minifu, que
veio da China com a família e por ter um porte pequeno, muitos não a levam a
sério, mas é uma excelente lutadora. Cada um é visto de uma forma por fora e se
mostra além disso, o que contribui para a boa construção da história.
A leitura é bem rápida, o livro tem
pouco mais de 300 páginas e flui muito bem. A capa é linda e muito
característica da história, com esse laranja fosforescente e o título como em
grafite com desenho dos personagens na frente e no verso.
Em nenhum momento senti que cenas
estavam sendo colocadas no enredo somente para ocupar páginas, cada
acontecimento aconteceu naturalmente (apesar de os personagens terem tido muita
sorte em algumas partes). Tirando o machismo colocado pela péssima imagem
feminina que o autor fez de algumas adolescentes (e da construção da Donna), a
história é ótima.
Alguém já leu algo parecido ou tem interesse de conhecer essa trilogia?
Título original: The Young World, The Young World #1
Autora: Chris Weitz
Editora: Seguinte
Gênero: YA
Nota: 3,5
Oi, Camila!
ResponderExcluirPena que esse machismo está presente na história. Eu conheço umas pessoas que gostam do livro e estava pensando em dar uma chance.
Beijos
Balaio de Babados
Oi Lu, me metendo no teu coment só pra dizer que apesar da visão meio deturpada que ele dá pra Donna nesse primeiro livro, a história vale muito a pena a leitura. Eu ao menos adorei! hahaha
ExcluirAtt.,
Eduarda Henker
Olá, Camila.
ResponderExcluirEu lembro que quando vi sobre ele na outra coluna eu me interessei bastante. Até porque o enredo lembra muito Gone, que amei. Mas acho que vou ficar com raiva com essa coisa do machismo. Mas ainda assim é uma história que me interessa. Já a capa não gostei tanto hehe.
Prefácio
Oi, Camila. Eu me interessei muito pela história porque ela me lembrou bem meus mangás japoneses, então imagino que iria gostar. Mas o fato da personalidade de Donna ser um pouco agressiva me incomoda, provavelmente não gostarei dela nem um pouco, mas adoraria entender melhor esse Mundo Novo.
ResponderExcluirBeijos
http://www.leitoraencantada.com