Resenha: In Harmony - Queria Estar Lendo

Resenha: In Harmony

Publicado em 28 de jun. de 2018

Resenha: In Harmony

In Harmony foi mais um dos meus achados gloriosos lá do NetGalley - que cedeu o eARC do livro para uma resenha sincera. A história de Emma Scott, além de ter um romance arrebatador e personagens complexos, fala sobre abuso e sobre encontrar sua voz em um mundo que quer silenciá-la; é um livro impactante do início ao fim.
Sinopse: Aos dezessete anos, a vida de Willow Holloway parece ter sido destruída. A garota divertida se foi, e deixou para trás um pedaço quebrado e traumatizado em seu lugar, uma lembrança horrível da qual seu corpo se lembra, mas ela não quer se lembrar. Quando seu pai avisa sobre a mudança da movimentada Nova York para a pequena cidade de Harmony, em Indiana, Willow se fecha e se perde ainda mais sob o peso do segredo que carrega. Por capricho, ela faz os testes para participar da nova produção do teatro comunitário – Hamlet – e, inesperadamente, é escolhida para interpretar Ophelia – a garota que se perde em loucura e em seu amor por Hamlet. Isaac Pierce é o bad boy da cidade. As garotas anseiam por sua atenção e os rapazes tem cuidado com ele. Isaac é um rei da atuação, e isso dá destaque ao seu carisma – ele desaparece dentro dos personagens que interpreta; o palco é o único lugar em que ele se sente seguro dos traumas da sua vida. Seu único desejo é ir embora para Broadway ou Hollywood e deixar Indiana para trás, de uma vez por todas. Ninguém consegue interpretar Hamlet como Isaac, e quando o diretor pareia ele com Willow em uma aula de teatro, eles se estranham – nenhum dos dois está disposto a abrir o coração para outra pessoa. Mas o estranhamento leva à aberturas, e as aberturas levam a entendimentos sobre os seus terríveis segredos, e logo Isaac e Willow percebem que as palavras de Shakespeare espalham suas próprias vidas. 
Na trama, Willow se muda para a pequena cidade de Harmony, bem longe do caos e das lembranças perturbadas que deixou em Nova York. A garota alegre e descontraída de antes se foi; restou o trauma e o silêncio e o fato de Willow ter tanto medo das consequências, de como o mundo vai receber a história do que viveu, que esconder a verdade é tudo que resta a ela. Isso e conviver com os demônios em sua cabeça.

Do outro lado temos Isaac; ele vive em um trailer caindo aos pedaços junto ao pai alcoólatra e um único sonho: sair logo da maldita cidade de Harmony. A única coisa boa que aquele lugar ofereceu para Isaac foi uma oportunidade, a descoberta de um talento. Ele é um ator fantástico e está para estrelar a peça de sua carreira, na qual olheiros de Hollywood podem ser seu escape para um mundo melhor; um mundo onde violência doméstica e abuso emocional não mais aconteçam com o rapaz.


Resenha: In Harmony

Os destinos de Isaac e Willow se encontram em meio ao teatro e às vozes de Shakespeare. Daí para frente, o que era escuridão e silêncio se torna uma conexão emocional poderosa e a ideia de que, através de outros personagens, Willow pode se libertar; e através de Willow, Isaac pode encontrar um pouco de luz.

Rapaz, como é difícil falar desse livro. Ou parar de falar dele, na verdade.

In Harmony foi uma das melhores coisas que eu já descobri sem querer nessa vida fuçando o NetGalley e que os deuses da literatura digam amém para isso.

Tudo que eu costumo criticar nos New Adults que leio, aqui foi bem orquestrado. Emma Scott soube contar uma história pesada de maneira suave, dando tempo aos seus personagens para que se desenvolvessem, sem fórmulas instantâneas para salvação; o amor não cura porcaria nenhuma, mas pode ser um caminho para levar à recuperação.
Fingir que eu estava bem era exaustivo demais.
Não existe encantamento ou palavra mágica para tirar o abuso de uma pessoa, não vai ser um Eu Te Amo que vai libertá-los. Mas, com o apoio emocional, com a certeza de que existe alguém ao seu lado que vai te dar a mão e não vai te abandonar mesmo nas horas mais desesperadoras, dá pra procurar um escape de todo aquele terror.

É isso que In Harmony passa com seus protagonistas. A voz de Willow é carregada por medo e pelas lembranças pesadas que carrega em seu corpo; ela não tinha ninguém com quem contar, considerando a família ausente e que pouco se importava com sua condição silenciosa e reclusa. Willow nunca encontrou coragem para falar porque o mundo não lhe dava essa abertura, não mostrava que estaria tudo bem ela revelar o monstro que causara tudo aquilo. É a questão do silenciamento que acontece com as vítimas de estupros; a autora trabalhou isso tão bem que é impossível não sentir ainda mais raiva do universo.
Eu me ouvi dizer meu endereço naquela porra de maneira ridícula com que as garotas foram ensinadas desde tempos imemoriais - fazer coisas com as quais elas não estão confortáveis, tudo pelo bem do ego masculino.
E o fato de ela não falar não significa que é uma personagem fraca, muito pelo contrário. Willow é tão forte e incrível, tão cheia de vida e de talento. Conforme essa nuvem sombria se afasta dela com o teatro e a convivência com a cidade e os outros personagem, vamos conferindo quem é a Willow de verdade e só nos resta torcer para que ela se encontre nessa nova vida, para que esse recomeço deixe que ela siga por um caminho mais feliz.


Resenha: In Harmony

Com Isaac a questão envolve o abuso emocional e a violência doméstica. Ele aceita tudo isso porque o pai, alcoólatra, depende do seu dinheiro e da sua presença para se estabilizar, e Isaac vê essa situação como "temporária". O modo como as pessoas no colégio e na cidade reagem ao Isaac, vendo ele como "culpado", como "herdeiro" dessa situação precária em que o pai se colocou, mostra muito do que o preconceito e o julgamento podem fazer. O garoto aceita tudo isso porque ele carrega coisas demais para erguer a voz contra o que acham dele; o fato de querer sair de Harmony tão rápido mostra o desespero para começar de novo.
Willow estava ali pela mesma razão que eu: para achar alguma libertação. Para contar sua história.
O Isaac tinha tudo para ser aquele arquétipo de "sou babaca porque sofro", mas graças ao bom Deus, ele não foi. É recluso e aparentemente perturbado, para as pessoas ao seu redor, mas tem um coração de ouro e um espírito iluminado e eu queria beijar toda a cara dele por ser um personagem masculino tão decente. Tão atencioso com a Willow e com as pessoas ao seu redor, tão dedicado ao teatro e ao próprio talento, tão apaixonado pelo futuro e, de repente, pela Willow e pelo presente. É IMPOSSÍVEL NÃO SE APAIXONAR PELO ISAAC.

O romance que dá uma chance aos dois de seguir caminhos diferentes. Eu gostei tanto, mas tanto de como a autora desenvolveu o slow burn desse casal porque era um começo demorado extremamente necessário, considerando a bagagem que Willow e Isaac carregam.
É uma coisa que minha avó me contou. Ela disse que toda história tem um "até". Alguma coisa ruim acontece que mostra ao personagem o que eles mais desejam. Mas onde está o "até" que coloca tudo de volta ao lugar? Quando o personagem realmente consegue o que deseja?
Toda vez que os dois sorriam, eu sorria. Sempre que eles se olhavam e rolava aquele momento de friozinho na barriga, subia um arrepio. Toda vez que existia um momento gentil e delicado de compreensão, quando Isaac olhava para Willow e a entendia, quando ela observava Isaac e via tudo de bom que o mundo não via, eu queria rolar pelo chão. Sabe aqueles ships tão bem escritos que você quer gritar contra um travesseiro? É isto.

Quando o diretor do teatro - um homem carinhoso e cuidadoso chamado Martin, que vê em Isaac o filho que ele nunca teve - coloca os dois para estrelarem Hamlet, a narrativa encontra maneiras bem inteligentes de interligar os dramas de Shakespeare com os deles e da cidade; o nascimento da possibilidade, as pequenas mudanças de comportamento, os sorrisos roubados e os olhares sutis.

O fato de o Isaac ser um fucking gentleman que respeita o espaço da Willow (que não faz mais do que a obrigação) e não a força a absolutamente nada, nem mesmo a continuar um diálogo caso perceba que ela está se sentindo desconfortável. DÁ VONTADE, COLLEEN HOOVER?
Por causa da Willow, estava aprendendo a confiar em minha própria voz. Porque ela não havia pedido que eu fosse mais do que eu mesmo.
Mesmo com os dramas e os terrores, ambos se entendem como mais ninguém consegue. Eles são o recomeço um do outro e é tão lindo. De simpatia para amizade para um romance arrebatador, mas cauteloso - considerando o cenário (lembre-se que eu disse que a autora faz a história de acordo com Hamlet!) - é um dos melhores ships que já tive a alegria de ler. 


Resenha: In Harmony

A questão da recuperação se desenvolve lentamente dentro da obra. Você torce para que tudo dê certo, mas sabe que nada vem tão facilmente dentro de uma realidade como a deles; os pequenos avanços, as pequenas mudanças, eles são significativos e emocionantes e essenciais para os personagens.
Me defender, reagir era uma coisa que estava aprendendo a fazer devagar.
Coadjuvantes como Martin - sempre presente nos pontos de vista do Isaac, uma figura paterna e cuidadosa como ele nunca teve - e os pais de Willow - um contraponto ao Martin, já que são obtusos e egoístas e eu só queria arranhar a cara deles toda - têm grande importância dentro da trama. Mas a coadjuvante que mais se destaca é a Angie, com certeza; a colega de turma de Willow que acaba por se tornar sua melhor amiga, Angie é brilhante e adorável e as cenas entre as duas mostra muita sororidade e apoio e "eu estou aqui por você como você está por mim". Eu queria morrer de amor.

Minhas duas únicas críticas vão para o fato de os personagens ao redor desses "principais" serem tão... estereótipos. A autora podia ter fugido um pouco do "popular babaca" e da "patricinha fofoqueira que só quer arruinar tudo". Apesar de não serem tão importantes na trama, ainda estão ali e foi um pouco falho, considerando tudo de perfeito que ela fez até então.

E podia ter acabado sem aquele epílogo. Foi um pouco forçado - mas aí é crítica minha porque eu tenho um limite de clichês extremamente românticos ou melosos pra ler. Pode ser que agrade muito outra pessoa.

In Harmony foi uma descoberta triunfal e eu vou exaltar este livro até o fim dos tempos, e com certeza vou correr atrás de outros títulos da autora para conferir.


Título original: In Harmony
Autora: Emma Scott
Gênero: Romance | New Adult
Nota: 5
Skoob


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7 comentários:

  1. Oi, Dê!
    Só de ver o nome do livro e a capa, já tinha ficado com vontade de ler. Mas conforme fui lendo sua resenha, fiquei me perguntando o motivo de não ter corrido atrás desse livro ainda hahahahaha Eu gostei muito do fato de ele não ser um babaca e isso é ótimo nesse gênero, né? Já que todos sempre são! Já está na minha lista! <3
    Beijinhos,

    Galáxia dos Desejos

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  2. Eu gosto de livros que tratam dessas temas mais pesados, quando são bem escritos. Fiquei com muita vontade de conhecer essa história e ela parece ser muito boa mesmo. Uma pena que eu -AINDA- não leio em inglês, mas vou salvar essa dica para o futuro. Os Delírios Literários de Lex

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  3. Oi, Denise
    Eu gosto demais de new adults, geralmente devoro esse gênero porque eu consigo me ver representada mesmo que não tenha passado por nenhuma coisa que os personagens passaram.
    Eu só não curto o teor muito dramático, isso me irrita. Já vi vários new adults começarem ótimos e de repente o drama ter tomado conta da narrativa, deixando tudo muito pesado e um pouco desnecessário, mas fico mais aliviada ao saber que essa carga dramática não pesa demais sobre a narrativa.
    Vou ver se consigo ler o livro depois.
    Beijos
    http://www.suddenlythings.com/

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  4. Olá, Denise.
    Nunca tinha ouvido falar desse NetGalley e fui pesquisar hehe. Eu leio muito pouco o gênero porque já cansei de me estressar. Mas pelo o que você disse na resenha e sabendo o que você pensa sobre, eu anotei a dica e se sair por aqui vou ler ele.

    Prefácio

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  5. A mensagem por trás da historia parece ser muito valida. É ótimo quando alguns livros quebram esse preconceito que temos com certos gêneros.
    Beijos,
    Alem da Contracapa

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  6. Oi Denise! A história dos personagens parece mesmo pesada, mas muito boa! É sempre bom encontrar autores que sabem trabalhar bem seus protagonistas e ir além dos clichês. Em relação ao epílogo, eu acho que sou do tipo que vai gostar rs

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  7. Oi Denise,

    Adoro livros que são "um achado" e tem uma história bem construída, que transformam a leitura em algo mais.
    Nunca li nada de Shakespeare e gostei de saber que existe uma "interligação" entre a história dele com a do livro, mesmo que seja através da obra teatral que os personagens representam, além de ser um new adult com um tema forte bem trabalhado.

    Adorei a dica e está anotada!
    Beijos
    http://espiraldelivros.blogspot.com/

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