Resenha: O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks - Queria Estar Lendo

Resenha: O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks

Publicado em 15 de set. de 2018

Resenha: O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks

O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks é o segundo YA da E. Lockhart que eu leio - e nos foi cedido em parceria com a editora Seguinte. É uma história sobre o desejo inato de Frankie de mudar as coisas a sua volta e a instituição ultrapassada que constitui sua comunidade.
Sinopse: Aos catorze anos, Frankie Landau-Banks era uma garota comum, um pouco nerd, que frequentava a Alabaster, uma escola tradicional e altamente competitiva. Mas tudo muda durante as férias. Na volta às aulas para o segundo ano, o corpo de Frankie havia se desenvolvido, e ela havia adquirido muito mais atitude. Logo ela chama a atenção de Matthew Livingston, o cara mais popular do colégio, que se torna seu novo namorado e a apresenta ao seu círculo de amigos do último ano. Então Frankie descobre que Matthew faz parte de uma lendária sociedade secreta - a Leal Ordem dos Bassês -, que organiza traquinagens pela escola e não permite que garotas se juntem ao grupo. Mas Frankie não aceitará um "não" como resposta. Esperta, inteligente e calculista, ela dará um jeito de manipular a Leal Ordem e levantará questionamentos sobre gênero e poder, indivíduos e instituições. E ainda tentará descobrir se é possível se apaixonar sem perder a si mesma.
Frankie Landau-Banks cresceu muito no verão e de uma primeiranista desajeita transformou-se em uma linda segundanista da Alabaster, um prestigiado colégio interno. E, agora que está de volta a escola, ela finalmente chama a atenção de Matthew Livingston, o quartanista mais cobiçado do colégio.

Em pouco tempo Frankie se torna a namorada de Matthew e é acolhida no circulo pessoal dele, com seus amigos ricos e descolados, suas festas no campo de golfe no meio da noite e a sensação de pertencer a algo muito maior do que ela.
É melhor ficar sozinha do que com alguém que não te enxerga. É melhor liderar do que seguir. É melhor falar, do que ficar em silêncio. É melhor abrir portas do que fechá-las na cara das pessoas.
Porém, junto a tudo isso, vem os segredos e a estranha relação de Matthew com Alfa, o aluno bolsista que carrega uma longa e misteriosa reputação como o mais descolado dos garotos legais. Frankie é curiosa e quando finalmente decide descobrir o que está acontecendo, acaba deparando-se com a Leal Ordem dos Bassês, uma sociedade secreta da qual Matthew e Alfa fazem parte, e a responsável por diversas brincadeiras e pegadinhas no campus.

Frankie quer ardentemente fazer parte da sociedade, mas sabe que ela é exclusivamente masculina e que nunca seria convidada a fazer parte dela. Ela também sabe que é vista apenas como a namorada bonitinha de Matthew e, por isso, constantemente subestimada por todos eles. Mas isso não diminui seu desejo de ser uma bassê, e o que Frankie quer, ela faz acontecer.

A escrita de E. Lockhart continua excelente. A forma como ela discorre sobre as informações necessárias e um tanto quanto didáticas para formar toda a história - como as explicações sobre o pan-óptico e as intervenções urbanas - se mesclam com uma facilidade muito grande dentro da narrativa da história, o que não torna as coisas chatas ou tediosas.

O senso de humor da história também dá um tom leve e descontraído, fazendo com que a gente passe as páginas sem perceber realmente. E ela conseguiu muito bem capturar aquela essência do desejo de ser "um dos garotos" aqui em O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks.
Ela não será simples e doce. Ela não será o que as pessoas lhe dizem para ser.
Além disso, ela construiu Frankie de uma forma muito bem pensada, com todas as pessoas a sua volta subestimando suas capacidades e tratando-a de forma infantilizada, o que contribuiu para a sensação dela de ter que se provar digna de algo.

Meu grande problema, no entanto, é exatamente esse: a necessidade de Frankie de se provar digna da aprovação dos garotos - e como tudo isso veio carregado de uma "mensagem feminista". Frankie quer ser um dos garotos, ela está com Matthew, mas na verdade está apaixonada pela ideia de rebeldia que ele traz, agregado aos bassês.
Segredos são mais poderosos quando as pessoas sabem que você os tem.
Todo o motivo que leva Frankie a fazer o que faz, é provar que as garotas são tão capazes quanto os rapazes, que eles a subestimam, que ela conseguiria fazer tudo melhor do que eles - e de fato faz. Mas tudo isso vem acompanhado da mensagem "as mulheres podem ser iguais aos homens" ao mesmo tempo em que se apropria de estereótipos femininos para reforçar as qualidades de Frankie.


Resenha: O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks

Ela é melhor que as outras garotas, ela é diferente de todas as outras. Ela constantemente fica zangada com Matthew e os amigos por pensarem nela como inofensiva, mas ela mesma subestima todas as outras garotas da história - com exceção de sua irmã mais velha, Zada. A história também reforça muito a ideia de que se garotas não querem ser exatamente como os garotos, então estão conformadas com o lugar que o patriarcado lhes deu, o que é uma noção absurda de igualdade.

Uma coisa que eu percebi, e me deixou muito desconfortável na história, é que ela - mesmo sem usar as palavras exatas - age como se um matriarcado fosse o exato oposto do patriarcado. Que o sonho não é deixar de ser oprimida, mas passar a ser o opressor. Algo que fica claro quando Frankie rechaça a ideia de que mulheres precisam se apoiar dizendo que isso nos impede de sermos competitivas umas com as outras - como se a ideia de que mulheres se apoiando fosse um obstáculo para alcançarmos nossos objetivos ou um impedimento a ambição, mesmo que o "clube do bolinha" seja real e frequentemente beneficie os homens.
Então ela não respondeu, mas foi uma estrategista. Ela tinha mais poder ao não responder.
E o pior de tudo é essas busca incessante pela aprovação masculina. Eu realmente achei que no final iríamos chegar a conclusão de que tudo que Frankie fez não valeu realmente a pena, especialmente porque a mensagem principal é "as mulheres vão abrir as portas que forem necessárias, mesmo quando o patriarcado as fecha com firmeza". Mas não foi isso que tivemos. No fim, todas as mensagens ditorcidas sobre feminismo, empoderamento, e autodescoberta permaneceram reforçadas, o que transformou a história em algo completamente diferente do que eu esperava.

No fim, para mim, O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks é bom e ruim em partes iguais. Ele fala sobre a exclusão sistemática feminina, sobre opressão, sobre a visão deturpada de que somos um sexo frágil e inferior. Mas ele também reforça estereótipos sexistas para sustentar uma visão "feminista". Em vez de falar - e mostrar - mulheres sendo tão boas quanto homens, ele reforça a ideia de que só podemos provar isso se entrarmos para o clube dos garotos e recebermos sua aprovação.
Não importava que em seu coração Frankie soubesse que era inteligente e charmosa. Importava aquele sentimento de ser dispensável.
Honestamente, eu teria preferido ver a Frankie formar sua própria sociedade secreta e mostrar para os garotos que ela conseguiria deixar uma marca mais profunda, do que vê-la tomando o controle da sociedade masculina e trazendo glória para eles - mas isso é uma opinião completamente pessoal.

Não vou indicar O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks, mas também não vou deixar de indicar. É uma história inteligente, perspicaz, bem humorada - porém apresenta valores distorcidos sobre um movimento que já é bem massacrado hoje em dia. Então prefiro deixar que vocês tirem suas próprias conclusões a partir da resenha.

Título original: The Disreputable History of Frankie Landau-Banks
Autora: E. Lockhart
Tradutor: André Czarnobai

Editora: Seguinte
Gênero: YA | Contemporâneo
Nota: 3
Skoob


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8 comentários:

  1. Oi Bianca,

    Não conhecia esse livro, apesar não parecer se tudo isso, vejo muito elogios a obra anterior da autora.
    Não sei se leria no momento, mas não descarto ler mais para frente.
    Quero conferir Mentirosos primeiro.
    Bjs e um bom fim de semana!
    Diário dos Livros
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  2. Hey Bianca! Tudo bom?
    Parece ser típico girl power essa leitura com essa guria protagonista. Não conhecia o livro, mas curti o nome dele!
    Obrigada pelo comentário lá no blog.
    Volte sempre!

    ~ miiistoquente

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  3. Oi Bianca,
    Essa capa não ficou legal. Está confusa, não chamou minha atenção como as outras obra da autora, tanto que nem consegui perceber que era ela. Sei lá, a temática me agrada até, mas bateu o receio de ler... Achei sua resenha bem inteligente e com argumentos sólidos para justificar o porquê não gostou de determinadas partes.
    beeeijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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  4. Olá, Bibs.
    Eu li esse livro quando lançou e gostei bastante dele. Foi o primeiro que li da autora. Acho que temos que levar em consideração quando ele foi escrito, cinco anos atrás as pessoas pensavam desse jeito sobre o feminismo. E tem gente que ainda pensa, e até por isso deveria ser pensando muito antes de escrever um livro que vai ficar ai, para todos lerem independente do ano escrito. Entendo suas colocações e concordo com elas.

    Prefácio

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  5. Comecei a resenha super querendo dar uma chance ao livro, por ser uma ideia até legalzinha. Mas sinceramente fiquei com ranço dessa protagonista só aqui, acho meio exagerado quando autores insistem em meter a ideia do feminismo no discurso de uma mulher e aí puft faz ela ser submissa ao homem e pior né fazer coisas em nome dos nossos direitos sendo que só pra parecer melhor que o homem. Acontece e muito em uns livros aí...

    Beijos
    Próxima Primavera

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  6. Oi Bibs, eu nunca li nada da autora, mas me parece que ela sempre divide opiniões como no caso desse livro. Algumas coisas eu acho que me incomodariam tb na leitura, mas vou guardar a indicação porque ainda quero ler algo dela!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  7. Oi, Bianca
    Eu fico sem entender porque essas capas vendem uma história toda conceitual, aí vou ver o enredo, fala de adolescentes... sem menosprezar, mas se eu fosse ler só pela capa, nunca chegaria perto. Eu não entendo muito sobre feminismo pra opinar, mas eu acho chato quando a autora menospreza todos personagens mulheres a volta pra engradecer uma, fica parecendo que precisamos rebaixar todos para que uma se sobressaia na história, isso é ridículo. Eu nunca li nada dela mas tenho curiosidade, não sei se seria com esse livro.
    Beijo
    http://www.suddenlythings.com/

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