Resenha: Belles - Dhonielle Clayton - Queria Estar Lendo

Resenha: Belles - Dhonielle Clayton

Publicado em 5 de mar. de 2019

Resenha: Belles - Dhonielle Clayton

Belles, da autora Dhonielle Clayton, fala sobre um mundo onde a beleza é o maior poder; um mundo desfigurado pela maldição de um deus que encontrou salvação nas mãos de uma deusa. Suas filhas, as Belles, são as responsáveis por dar beleza ao mundo - mas todo poder vem com um preço.

Camellia está prestes a se "formar" como Belle. A cerimônia de escolha da Favorita da rainha vai acontecer e se tornar a Favorita é tudo pelo que ela mais lutou - ao perder o posto para uma de suas irmãs, o mundo de Camellia parece também perder o sentido.

Eis que uma reviravolta a coloca de volta ao palácio, sob os cuidados da rainha; a segunda opção porque, misteriosamente, a primeira não deu certo. Enquanto se ajusta às regras e ordens que precisa seguir, Camellia vai aprender que os sonhos de glória que tanto cultivou talvez não sejam mais do que um grande pesadelo.

Dhonielle Clayton me conquistou logo nas primeiras páginas. Ela estabelece esse mundo onde a Deusa da Beleza dá cor e formas a todos os seres humanos porque uma maldição antiga os tornou cinzentos e sem vida; suas filhas na terra, as Belles, carregam seu poder de moldar os corpos das pessoas de acordo com o que essas pessoas desejam - o que significa que exageros e absurdos são vistos como parte da moda. As tendências guiam a mágica e o poder define o que é belo.

Mamãe costumava dizer que somos feitas de pó de estrelas, que nascemos da Deusa da Beleza, e devemos visualizar a magia arcana como um cometa caindo sobre nós.

Camellia foi treinada, desde pequena, a obedecer e amar o que ela representa. Uma Belle é raridade, é exceção, é o toque divino no mundo - é a preciosidade do reino de Orléans. Mas é também uma peça no jogo de política e interesses que ronda a corte, em especial, os membros da coroa.

Minha surpresa ao ler esse livro foi encontrar tanto horror em meio as coisas belas - e esse é justamente o ponto crítico da obra. Até onde as pessoas vão pela beleza, pelo status, pelo glamour. Pela glória. O monstro está atrás das coisas mais belas e delicadas, escondido onde você menos espera.

- Mentiras são perigosas como espadas. Elas podem cortar até o osso.

Enquanto Camellia é uma peça, as personagens ao seu redor moldam o tabuleiro por onde ela se movimenta. Algumas são aliadas, outras são inimigas disfarçadas; a tensão gerada pela trama e inocência da protagonista muitas vezes servem para nos enganar, e é um ponto muito positivo nessa história toda.

A única coisa que me tirou um pouco do sério na construção da personagem principal foi que sua inocência por vezes soava como burrice; dava para entender algumas atitudes, mas outras, em determinados momentos, eram só falta de racionalidade da mais pura. Não dá pra perdoar algumas coisas que Camellia fez pura e simplesmente por não PRESTAR ATENÇÃO EM SINAIS ÓBVIOS. Passado o rancor por isso, eu ainda a considero uma ótima protagonista. Com potencial grandioso de representar uma revolução.

- Ninguém é prisioneiro aqui. Até você tem o poder de fazer suas próprias escolhas.

Sua relação com as irmãs de criação, as outras Belles, é muito do que guia Camellia entre os momentos mais terríveis e desafiadores. Gostei de como a trama deu atenção para a irmandade entre elas, como existe aquela rivalidade intrínseca pelo que elas foram obrigadas a desejar - o poder - e como existe empatia e amor acima disso. Sua relação com Amber, principalmente, é uma das mais interessantes do livro; abraça exatamente tudo que eu citei, com um desenvolvimento para lá de surpreendente.

O romance apresentado na história talvez tenha sido o mais superficial - ainda que eu entenda sua levianidade e como, na situação de Camellia, se apaixonar venha mais dos momentos rápidos e do proibido, gostaria de ter tido mais momentos para amar o ship tanto quanto amei os personagens. Auguste é filho de um figurão político e dono de uma presença marcante, sarcástica - bem fácil de te conquistar. Sua relação com Camellia envolve provocações e flertes discretos mas, sendo uma Belle, ela é proibida de amar; de sentir.

Quando isso é colocado em jogo, no entanto, os flertes e provocações servem para faiscar alguma coisa que a garota ainda não entende, mas quer entender. A pequena chama rebelde que se estende até outras emoções, com o decorrer da história - raiva, angústia, confusão. Eu espero ver mais do ship no próximo livro porque o potencial está ali.

- Consegue sentir isso? 
- Sim. 
- Amor é quando dois corações batem em uníssono.

PORÉM, por falar em potencial, existe uma segunda possibilidade que eu gosto muito mais: Rémy é o guarda pessoal de Camellia e, embora sua relação envolva mais companheirismo e  construção de confiança, dá pra sentir que algo pode existir ali. É menos explícito que com Auguste, mas é igualmente superficial - pode ganhar outros tons na sequência? Com certeza. E meu coração pede por isso.

Para quem não gosta de triângulos amorosos ou mesmo de romances que roubem demais a atenção da trama, esse livro com certeza é uma boa pedida - o foco está na protagonista, na sua jornada, nos contrastes entre o belo e o terrível.

A sociedade de Órleans é doente, e tal obsessão é perfeitamente representada pela psicopatia da princesa Sophia. Meu sem or eterno, que MEDO dessa guria. Falo psicopata com tranquilidade porque o modo como ela age, com frieza e desesperador controle, faz parecer que estamos lidando com uma crescente ameaça - em muitas cenas eu me vi puxando os cabelos em temor pela Camellia.

Uma coisa que eu adorei nessa sociedade perfeita dela é como, mesmo abraçando a representatividade - com uma protagonista negra e o belo não sendo representado por uma cor de pele padrão -, ainda puxa um espaço para discutir o que é, realmente, beleza. Uma cintura fina? Extremamente fina? Um corpo magro? Um corpo gordo? A tendência do momento representa o que é perfeito ou é só manipulação?

Belles mistura fantasia e realidade para construir uma história que amedronta e abre sua mente. O trabalho da Dhonielle é primoroso; ela pinta um mundo perfeito para descamar, lentamente, os seus muitos defeitos.

Sinopse: Há uma maldição no reino de Orléans. Tempos atrás, o enciumado Deus do Céu castigou todos os cidadãos do reino a nascerem com uma pele acinzentada, olhos avermelhados e cabelos feito palha. Em compensação, a Deusa da Beleza enviou as Belles para ajudar a tornar o mundo bonito outra vez. As Belles controlam a beleza. Por isso, a cada três anos ocorre um festival. Durante essa celebração, uma nova geração de Belles é apresentada ao público e os reis de Orléans elegem a sua favorita. A escolhida passa, então, a viver no palácio real e tem a incumbência de cuidar da beleza de todos da corte, enquanto as outras são enviadas para trabalhar nas casas de chá espalhadas pelo reino. Tudo o que Camélia Beauregard mais quer é ser a favorita da rainha. Mas, com o tempo, a jovem Belle irá descobrir que essa cobiçada posição não é tão glamourosa assim. As regras são muito rígidas. A corte é perigosa e cheia de segredos sombrios. Além disso, é preciso lidar com a Princesa Sofia – uma garota ambiciosa e capaz de qualquer coisa para se tornar a mais bonita de todas… Afinal, beleza é poder. Belles é uma fantasia tão encantadora quanto perturbadora. Com uma escrita ornamentada, Dhonielle Clayton presenteia os leitores com um mundo onde o preço da beleza é levado ao limite, revelando o lado mais obscuro das pessoas.

Título original: The Belles
Autora: Dhonielle Clayton
Editora: FreeForm Books | Plataforma21 (Brasil)
Gênero: YA | Fantasia
Nota: 4
SKOOB

8 comentários:

  1. Oi Nizz!
    AAAAAA EU QUERO! Eu leria esse livro só pela protagonista negra. Aml demais tematicas que fogem do padrao. Mas esse lado meio distopico me chama mais atençao. Ja queria ler. Agora que sei que nao foca em romance ou triangulo, quero ainda mais.

    Abraços
    David
    http://territoriogeeknerd.blogspot.com/

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  2. Oi, Denise! Que livro lindo!
    Não é o tipo de enredo que eu me desmancharia toda para conseguir ler mas entendo totalmente o apelo. O mais legal é que a personagem é negra e a autora não foca em romance.
    Anotei a dica.
    Beijo

    http://www.capitulotreze.com.br/

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  3. não conhecia, mas até eu quis conhecer um pouco sobre, achei bem interessante. bjs bjs https://beperes.blogspot.com/

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  4. Oi Denise! Eu achei a história interessante a fui enganada pelo título que me passou a impressão de ser algo superficial e não uma trama com essa profundidade. Dica anotada. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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  5. Anônimo5.3.19

    Oi, Denise!

    Que demais, adorei a proposta do livro e saber que há representatividade e críticas tão necessárias. Assim como você, eu também ficaria irritada com a personagem, rs.

    Beijocas,
    Rafa

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  6. Oi De! Que edição lindíssima, eu não me incomodo tanto com triângulos quando bem desenvolvidos, mas achei interessante o foco estar na jornada. Vou tentar a edição em português depois!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  7. ESSA EDIÇÃO ESTÁ LINDA!!!!
    Oi De,
    Quero ler a obra, estou começando a ler mais fantasia e me soltando nesse universo. E como a Cida, pela sinopse achei que seria algo mais superficial por esse foco na beleza e tal.
    beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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  8. Oi, Nizz!
    Essa edição é linda! Amei esse mapa todo em rosa.
    Sendo sincera, nunca fui muito conquistada por essa premissa. Então, por agora, vou passar...
    Beijos
    Balaio de Babados

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