Resenha: A Cidade do Sol - Queria Estar Lendo

Resenha: A Cidade do Sol

Publicado em 3 de out. de 2013

Resenha: A Cidade do Sol


Talvez vocês possam ficar entediados por eu trazer uma resenha de um livro que há muito já passou seu burburinho, mas a verdade é que A Cidade do Sol vai figurar para sempre entre os meus livros mais queridos e essa resenha tem por intuito - além de possivelmente despertar a curiosidade em quem ainda não o leu ou não conhece - registrar uma homenagem a um livro que tanto me fez sentir, identificar e almejar entender e manejar as palavras como fez o senhor Hosseine.


Sinopse: 
Mariam tem 33 anos. Sua mãe morreu quando ela tinha 15 anos e Jalil, o homem que deveria ser seu pai, a deu em casamento a Rashid, um sapateiro de 45 anos. Ela sempre soube que seu destino era servir seu marido e dar-lhe muitos filhos. Mas as pessoas não controlam seus destinos. Laila tem 14 anos. É filha de um professor que sempre lhe diz: "Você pode ser tudo o que quiser." Ela vai à escola todos os dias, é considerada uma das melhores alunas do colégio e sempre soube que seu destino era muito maior do que casar e ter filhos. Mas as pessoas não controlam seus destinos. Confrontadas pela história, o que parecia impossível acontece: Mariam e Laila se encontram, absolutamente sós. E a partir desse momento, embora a história continue a decidir os destinos, uma outra história começa a ser contada, aquela que ensina que todos nós fazemos parte do "todo humano", somos iguais na diferença, com nossos pensamentos, sentimentos e mistérios.
Confesso que sou o tipo de fã que mal teria coragem de pedir uma foto com seu ídolo se, por um acaso da vida, o encontrasse na rua. Mas se fosse Khaled, eu faria questão de agradecê-lo por ter escrito esse livro e ter me dado a oportunidade de conhecer duas das pessoas mais incríveis do mundo - Laila e Mariam serão para sempre, pessoas reais.


Ganhei o livro no meu aniversário de 17 anos e meu pai só o comprou porque eu já havia lido O Caçador de Pipas e saia por ai declarando o meu amor ao livro para quem quisesse ouvir. Eu não botei muita fé, de verdade. Não sou a maior fã da capa e o título não me agradava nem um pouco - preconceito puro, já que a capa tem tudo a ver com o livro. O título é que foi uma tradução meio mal lavada, mas dá para levar, mesmo que deixe a gente desejando desesperadamente que pudessem surtar e fazer uma edição especial com a tradução literal: Mil Sóis Esplendidos.  Até porque o título sai de um poema que fala de Cabul como a cidade dos mil sóis esplendidos.

“Não se podem contar as luas que brilham em seus telhados, Nem os mil sóis esplêndidos que se escondem por trás de seus muros.”(Saib-e-Tabrizi)

Gosto de encarar a obra de Hosseine como 3 peças separadas, a primeira que conta a história de Mariam na juventude, a segunda que nos leva até Laila e a terceira, o ponto de virada onde as duas se encontram. Na primeira história nós conhecemos Mariam - de longe a melhor personagem do Khaled - uma garota que vive reclusa em uma vila com sua mãe, solteira. Mariam ansia pelas visitas do pai, sempre, e dedica a ele amor e carinho incondicionais, tudo aquilo que despreza a sua mãe. Ela sempre acreditou que, se pudesse morar com seu pai, sua vida seria perfeita e ela jamais conheceria a dor. Mas quando sua mãe morre e ela, finalmente, pode estar onde sempre quis estar, ela se surpreende com a rapidez com que seu pai se desfaz dela.


Toda a inocência e ingenuidade da menina de 15 anos começa a ser derrubada, junto de seus sonhos e planos. A mágoa e a dor da personagem, confesso, foram as minhas próprias. Embora essa primeira parte tenha me deixado em um estado de esperança - falsa, pois eu já sentia a verdade por detrás de tudo - ainda me fez ler tudo com a respiração presa.
– Vou ser mãe – disse ela, em voz alta. E começou a rir sozinha, repetindo aquela frase, saboreando aquelas palavras. Quando pensava no bebê, seu coração crescia no peito. Crescia e crescia até que todas as tristezas, as dores, a solidão e o sentimento de inferioridade que haviam povoado a sua vida desapareciam por completo. Foi para isso que Deus a trouxe até aqui, fazendo-a atravessar o país de um lado a outro. Agora sabia disso.
Na segunda parte conhecemos Laila, uma garota de 14 anos, e seu melhor amigo Tariq. Aos meus olhos a loirinha foi sempre cheia de vida, destinada a coisas grandiosas, a um futuro brilhante. A narração nessa parte do livro me mostrou um Afeganistão esplêndido, digno de seus mil sóis, e foi o que me fez estremecer de saudades quando a decadência da guerra e do regime talibã se instaura.

Laila sempre ouviu que poderia ser o que quisesse de seu pai, um professor universitário que se orgulhava de uma filha como ela. Laila sempre sentiu que podia ser o que quisesse. Mas Laila logo aprende que a vida nos dá o que quer, e nem sempre o que pedimos.  Quando a guerra chega a sua casa, ela se vê perdida e a mercê de outras pessoas e, é em Mariam, que ela encontra uma espécie de anjo da guarda.

O tempo podia esticar ou encolher, dependendo da presença ou da ausência de Tariq.

Para quem fica horrorizado com as matérias sobre a vida das mulheres no Iraque, Afeganistão e outros países da região que sofrem com as guerras, A Cidade do Sol é um ataque emocional. O Khaled consegui descrever tão bem e tão intensamente a vida dessas duas, que eu passei 3/4 do livro chorando. Ele te deixa saborear cada palavra que usa, permite que você extraia dela o real significado e nada passa batido, nenhum sentimento é menos avassalador, nenhuma emoção é menos retalhadora.

Laila e Mariam são tão fortes e incríveis, e você não pode deixar de lembrar que é uma história baseada em fatos reais - elas não existiram, mas as situação enfrentadas são sim, reais. O que Laila teve que enfrentar e levar adiante seria algo que eu jamais conseguiria aceitar, me senti enojada e extremamente revoltada com situações vividas por ela. Como mulher, cada "golpe" que ela recebeu, foi recebido por mim também.

Já Mariam é o tipo de personagem que eu busco quando preciso de forças. Não sei dizer se foi porque A Cidade do Sol foi um dos livros que eu li quando ainda não era tão bookaholic assim, mas eu nunca tinha visto uma personagem como ela. Tão forte e determinada, e ao mesmo tempo em que ela era tão inabalável, você sabia do passado dela. Você sabe o que ela deseja lá no fundo, e apesar dos anos que se passaram - mais de 15! - ainda é possível ver que ela é só aquela garota de 15 anos que precisava desesperadamente ser amada, ser querida, não ser abandonada. Ela só precisava de alguém que lhe permitisse amar e, em troca, amasse-a de volta.

O amor era um erro nocivo, e sua cúmplice, a esperança, uma ilusão treiçoeira. E, onde quer que brotassem essas duas flores venenosas, Mariam as arrancava. Arrancava e jogava fora, antes que criassem raízez.

Senti como um triunfo pessoal quando finalmente percebi que ela consegue e, devastada, aceitei o fim do livro com o pensamento de que nem tudo é mau, que a esperança pode nascer e florescer, mesmo em meio a guerra interminável. Que o que para uns é uma benção, é a maldição de outros. E, acima de tudo, que amar e ser amado não tem preço, que os extremos que enfrentamos pelo sentimento se paga no final, seja como uma palavra, um gesto ou mesmo o silêncio.

As vezes eu sinto que falo, falo e falo do livro, e acabo não falando nada na verdade. Mas a realidade é que eu não consigo falar dessas duas sem me perder, porque não existem palavras. Não sou o Hosseine, não consigo molda-las ao meu bel prazer e, se eu precisasse resumir o livro em uma palavra, Indescritível é sempre a que me tenta.

Nada menos do que seis estrelas, nada menos do que todo o meu amor.

Titulo original: A Thousand Splendid Suns
Autor: Khaled Hosseine
Editora: Nova Fronteira
Nota: 5 +
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12 comentários:

  1. Um dos livros mais emocionantes que já li! Merece ser lembrado sempre... Ótima resenha Bianca, parabéns!

    Bjs, Isabela.
    www.universodosleitores.com

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    1. Não poderia concordar mais, Isabela! *--*
      Obrigada por passar pelo blog!

      xoxo,
      Bianca.

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  2. Eu tenho esse livro aqui, dei de presente para minha mãe e ela gostou muito. Ainda hoje ela insista para que eu leia não só esse, mas todos os livros do autor. Ela é fã de carteirinha!
    Acho que depois dessa resenha fica difícil não querer ler, né?

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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    1. Minha mãe também leu os dois do Khaled - mas isso foi depois de eu empurrar para ela e ainda não conseguimos O Silêncio da Montanha - e adorou. Se você gosta de um bom drama, acredito que não se decepcionará. A trama é incrível, envolvente e emocionante. Espero que possa ler :)

      Obrigada pelo comentário!

      xoxo,
      Bianca.

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  3. Resenha ótima. Me surpreendi e me encantei com o livro. Mais uma vez Hosseine nos mostra a realidade dura e difícil das mulheres muçulmanas, que sofrem por muitas restrições e preconceitos. Este livro nos ensina muito pela benevolência e perspicácia das protagonista. Pois, mesmo em momentos de guerra devemos aceitar (Mariam) e lutar (Laila) para vencermos. Grande livro, entrou para a lista dos meus preferidos!

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    1. Esse é fácil meu livro preferido.
      Amo acima de tudo que o autor fale de como o Afeganistão era antes do Talibã, desenhando a linha entre o que é uma nação com uma cultura diferente da nossa, mas saudável, e uma nação regida pelo medo e preconceito. É um livro muito maravilhoso, amo do fundo da alma!

      bjs

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  4. Resenha ótima. Me surpreendi e me encantei com o livro. Mais uma vez Hosseine nos mostra a realidade dura e difícil das mulheres muçulmanas, que sofrem por muitas restrições e preconceitos. Este livro nos ensina muito pela benevolência e perspicácia das protagonista. Pois, mesmo em momentos de guerra devemos aceitar (Mariam) e lutar (Laila) para vencermos. Grande livro, entrou para a lista dos meus preferidos!

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  5. Não li o livro ainda, mas gostei da sua descrição, você é bastante observadora.gostei

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    1. Obrigada, anony!
      Leia assim que puder, é maravilhoso.

      bjs

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  6. É o tipo de livro que dispensa o filme contando a mesma história.

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    1. Nossa, muito!
      Até porque, se for para fazer uma adaptação que perde a essência, como foi feito com O Caçador de Pipas, melhor nem tocar nas minhas meninas <3

      bjs

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  7. Nossa! Que resenha linda! Comprei e li esse livro, graças a essa resenha que encontrei por acaso. Amei esse livro, e a Mariam. Obrigada por ter me apresentado ele.

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