A Rainha Vermelha não me impressionou, de fato. Tão fato que deixou
as minhas expectativas para com o segundo livro muito baixas; Espada de
Vidro me impressionou. E muito. Foi uma das minhas melhores
leituras em muito tempo. Foi eletrizante, desesperador e absolutamente bem
trabalhado. Victoria Aveyard enfim mostrou a que veio!
Mare é uma fugitiva. Depois de escapar das garras tiranas de Maven, ela já não sabe mais qual o seu lugar; só sabe que não é Prateada nem Vermelha, mas uma sanguenova. Determinada a ajudar e proteger outros como ela - porque existem centenas deles perdidos em Norta - Mare se une à Guarda Escarlate e prepara o que pode ser o início de uma grande revolução.
Todo mundo
pode trair todo mundo; Mare não confia em mais ninguém, nem nela mesma. Mas
ainda há Vermelhos e Prateados que não se curvam ao governo de Maven e de sua
horrenda mãe, Elara. Vermelhos e Prateados subjugados pelo poder daqueles que
reinam sobre o seu país. Caídos que se erguerão, como a aurora.
O desenvolvimento dessa obra é de cair o queixo. Espada
de Vidro compensou a rapidez e não total fluidez do primeiro volume da série.
Neste livro, a Victoria conseguiu pegar cada mínimo detalhe, cada intrincado
medo dentro da mente de cada personagem e dar voz a eles de tal maneira que
você se sentia inserido dentro desse mundo pavoroso.
O que pode ser o estopim
de uma guerra ou o fim de uma luta contra a tirania é também o pavor do
desconhecido e o que as ações de Mare no primeiro volume trarão para ela nessa
sequência. A traição, principalmente, cai sobre os ombros da protagonista e em
cada passo que ela dá rumo a um destino incerto.
Mare está traumatizada; pela
punhalada nas costas que recebeu do príncipe e agora rei, pelas coisas
terríveis que teve de enfrentar na arena para escapar viva, pela própria força
e coragem. Mare é destemida e impulsiva e absolutamente feroz, e usa essas
dores como o seu gatilho para continuar lutando.
Ela não é o tipo de
protagonista altruísta, tampouco a heroína pensando no bem de uma
maioria. Ela foi injustiçada, e ela quer vingança. Ela quer sangue
prateado derramado no chão, tal como o vermelho pingou por tantos anos. Mare
quer que os tiranos paguem pela dor que causaram, quer que a elite se curve
diante dos oprimidos.
A garota que vejo é, ao mesmo tempo, familiar e estranha - Mare, Mareena, garota elétrica, rainha vermelha - e ninguém ao mesmo tempo. Não é prateada. Não é vermelha. Não é humana. Um símbolo da Guarda Escarlate, um rosto num cartaz de procurados, a perdição de um príncipe, uma ladra... Uma assassina. uma boneca que assume qualquer forma, menos a própria.
Ela enxerga, nos sanguenovos, uma maneira de alavancar o
poder dos Vermelhos. Com uma lista de nomes especiais em mãos, Mare parte em
busca de salvar outros como ela, Vermelhos que nasceram agraciados com dons
Prateados. Pessoas comuns que podem fazer a diferença em uma frente de batalha;
ela é movida por essa sede insaciável de poder, mas não está tão ciente disso
quanto as pessoas ao seu redor. A traição remexeu tanto em sua mente que a
vingança se torna o seu único caminho, a única maneira de encontrar a paz.
Eu amo isso! Amo como a Victoria não escondeu a Mare dentro de interesses
heroicos; amo como ela deixou a personagem ser totalmente humana e
absolutamente perigosa como uma arma. Mare é a própria arma, é uma
tempestade se arrulhando em volta de um mundo manchado por sangue vermelho, uma
voz esperando o momento de gritar.
Ela é um perigo para si mesma e para os
outros exatamente por trabalhar em cima dessa frieza, essa necessidade de se
fazer útil para impedir que outros vivam o que ela viveu.
Os seus poderes são
imensuráveis e crescem de acordo com a sua vontade de lutar; ela sabe usar o
que tem. Sabe lutar com aquilo que a torna tão indestrutível. Mare não confia
em ninguém, não tenta confiar em ninguém. O seu coração é de pedra e ela
fortifica essa muralha conforme a leitura avança e novas atrocidades surgem
diante dos seus olhos.
A Guarda Vermelha. O reinado de Maven. Os sanguenovos
que a seguem. Tudo isso é parte de Mare e parte do seu ódio e da sua força; ela
é o tipo de líder que uma rebelião precisa, mas também o tipo perigoso de rosto
a ser seguido e adorado.
- Vejo o que você pode se tornar: não apenas um relâmpago, mas uma tempestade. A tempestade que vai engolir o mundo inteiro.
A Victoria arrasou completamente no crescimento dos
seus medos e angústias, e estou ansiosa, especialmente pelo final do livro, para
ver como os traumas se abaterão sobre Mare no próximo volume.
O Cal, pra mim, não fede nem cheira. Foi forçado a abandonar tudo que conhecia,
se tornou um assassino aos olhos de todo o reino e precisa se curvar a uma
rebelião Vermelha para escapar da fúria Prateada. A autora
trabalha perfeitamente seus pavores e sua determinação, mas a fidelidade ainda
prateada que nunca vai abandonar a mente de Cal - e isso pode se tornar um grande problema nos livros.
- Sou o seu rei legítimo, filho de uma família prateada secular - ele afirma, fervendo. - A única razão para você ainda respirar é o fato de eu não ser capaz de queimar o oxigênio desta cela.
Mare pensa, diversas vezes, em
como aquela não é a guerra dele, em como vai perdê-lo no instante em que a
rebelião acabar. Não vejo, de forma alguma, Cal permanecendo ao lado dos
Vermelhos quando a guerra realmente estourar. Ele pode ser um exilado, mas sua
herança ainda grita prata. Ele ainda é um príncipe da elite. Ainda é um filho
dos opressores.
Cal e Mare são fogo e raio, são opostos que se atraem e
se entendem por terem sofrido a mesma dor de perda e traição, mas não estão
destinados a pertencerem um ao outro. Victoria não força nenhum tipo de
romance, graças aos céus! Não vejo nenhum traço de química entre eles.
Outros rostos ganham grande destaque no segundo volume;
Farley, a rebelde Vermelha, cujo passado se intrinca à existência da Guarda
Escarlate. Ela é furiosa e uma guerreira nata, mas suas emoções transparecem
conforme a história avança e sua humanidade se sobressai à postura
indestrutível.
Farley é uma mulher quebrada, mas pronta para se reconstruir com
o apoio de pessoas boas à ela. Ela perdeu muito e ganhou um pouco em troca, e
se mostra grata a isso conforme as páginas avançam. Farley é um sorriso esquecido
que pode ser recuperado. Shade, o irmão de Mare, é outro personagem muito
importante à história.
Sua presença radiante oposta à fechada da irmã dá um
pouco de vida às missões e às cenas soturnas protagonizadas por Mare. Ele é o
sol e ela é a noite. Shade é o protetor querido, um abraço familiar, e Mare,
apesar de fria, o ama profundamente. Duas cenas envolvendo os dois, em
especial, me fizeram chorar igual uma criancinha. A cena final me quebrou em
mil pedaços.
É o guerreiro presente e corajoso em
meio a um bando de sanguenovos e seus poderes especiais. Um humano simplório
destemido a ponto de entrar em uma batalha de prateados e sanguenovos com
apenas uma arma em mãos.
Eu tinha medo que Kilorn acabasse ganhando aquela
típica vaga de "melhor amigo apaixonado da protagonista", mas ele
está longe disso. Ele também é uma causa, também tem uma história e um gatilho
que o move para essa luta. Ele está ali ao lado da Mare porque quer, porque sabe
que ela precisa dele. O seu amor é só um detalhe, não é um motivo.
Outros sanguenovos têm bastante importância na trama, como a querida Nanny e sua habilidade de mudar de forma, Gareth e seu poder telecinético, a perigosa e indestrutível Cameron, que chega aos quarenta e cinco do segundo tempo para acrescentar um coeficiente de tensão absurdo na história. Jon, que vê o futuro e as terríveis coisas escondidas nele. A parte das descobertas e do desenvolvimento desses sanguenovos foi bem escrita pela Victoria; ainda que eu queira saber mais a fundo sobre a sua existência, adoro como eles são a própria arma, como são parte das duas castas existentes em Norta e ao mesmo tempo, uma nova opção.
Por fim, falando do outro lado da moeda, temos Maven. O
traidor de sangue prateado e frio, absolutamente perigoso e instável. Guiado
pela mãe, a fria rainha Elara, e pela própria crueldade, Maven é um
obstáculo na guerra. Mare tem o coração dividido pelo garoto amável que
ele era e pelo rosto medonho que ele se mostrou ser. Maven não aparece muito,
mas a sua presença está em toda cena, em cada cidade, em cada sanguenovo
resgatado ou perdido. Maven ainda é uma sombra, mas uma sombra que engole os
passos de Mare a cada segundo. Mare quer derrubá-lo, quer matá-lo, quer se
vingar por todo o medo que ele impôs à ela, mas ainda existe uma faísca, um
resquício de esperança.
Vejo Maven em cada forma retorcida, em cada contorno escuro. Ele me disse uma vez que era a sombra da chama. Agora tenho medo de que tenha virado a sombra da minha mente; pior que um caçador, pior que um fantasma.
O medo de ter perdido completamente aquele garoto
bondoso e doce, de ter entregado o seu coração a alguém que não pode voltar a
existir, tudo isso pesa muito sobre a Mare. E estamos tão incertos quanto ela a
respeito das intenções de Maven - ele é mesmo só um rei cruel, só um tirano
controlador, ou ainda existe um pedaço de Maven que pode ser salvo? Uma luz
dentro dele que não foi engolida pela própria escuridão? O final não deixa
dúvidas de que o próximo volume pode responder essas perguntas, e eu tenho
TANTO MEDO DO QUE PODE SER A RESPOSTA.
A escrita fluida transforma as quase 500 páginas em um
borrão. Você lê e devora e de repente acabou o livro e precisa de mais, muito
mais. A Seguinte caprichou primorosamente nessa edição - a capa metálica é o
tipo que você quer ficar tocando e olhando para sempre. A diagramação está
perfeita e não encontrei nenhum erro de revisão; é uma edição linda da capa até
a contracapa.
Se por acaso leu Rainha Vermelha e se decepcionou, vá correndo para Espada de
Vidro. Se por acaso leu Rainha Vermelha e amou, vá correndo para Espada de
Vidro. Se por acaso ainda não leu o primeiro volume, compre os dois correndo e
termine Espada de Vidro. O final não é tão chocante quanto me venderam, mas é
impactante.
Um marco para a jornada de libertação da Mare e um passo para uma
história muito mais densa e perturbadora, com certeza. Já estou separando o
dinheiro para comprar o próximo livro assim que ele for para as livrarias; que
os deuses abençoem Victoria Aveyard para que a história de Rainha Vermelha
continue tão grandiosa quanto se mostrou.
Sinopse: O sangue de Mare Barrow é vermelho, da mesma cor da população comum, mas sua habilidade de controlar a eletricidade a torna tão poderosa quanto os membros da elite de sangue prateado. Depois que essa revelação foi feita em rede nacional, Mare se transformou numa arma perigosa que a corte real quer esconder e controlar.Quando finalmente consegue escapar do palácio e do príncipe Maven, Mare descobre algo surpreendente: ela não era a única vermelha com poderes. Agora, enquanto foge do vingativo Maven, a garota elétrica tenta encontrar e recrutar outros sanguenovos como ela, para formar um exército contra a nobreza opressora. Essa é uma jornada perigosa, e Mare precisará tomar cuidado para não se tornar exatamente o tipo de monstro que ela está tentando deter.
Título: Glass Sword
Autora: Victoria Aveyard
Editora: Seguinte
Autora: Victoria Aveyard
Editora: Seguinte
Tradução: Cristian Clemente
Gênero: Fantasia | Distopia
Nota: 5
SKOOB
Gênero: Fantasia | Distopia
Nota: 5
SKOOB
Se você gostou dessa continuação, vai gostar de conhecer a série Six of Crows, da Leigh Bardugo.
Oi Denise,tudo bem?
ResponderExcluirJá li o primeiro livro, e gostei bastante.
Estou doida para ler o próximo logo.
Ler sua resenha me fez querer o mais rápido possível o livro.
Beijos.
@saymybook
http://saymybook.blogspot.com.br/
Oi Denise,
ResponderExcluirNossa esse livro foi arrebatador mesmo :O
Foi uma história que ficou gravada aqui na minha mente.
E caramba, esse segundo é totalmente uma distopia bem elaborada, a personagem, a trama, as mortes tudo.
Gostei muito também.
Só não gostei de uma das mortes que você provavelmente sabe quem é sem eu citar.
Arrasou meu coração.
Bjs
Diário dos Livros
Siga o Twitter
Oi Denise!
ResponderExcluirEu não li Rainha Vermelha, mas ainda quero muito ler, engraçado que esse pelo que parece quebra a maldição do segundo livro, pq geralmente o segundo nunca é melhor que o primeiro rsrsrsrs
Achei sua resenha completíssima! parabéns
Bjs, Michele
O que tem na nossa estante
Oooi! Tudo bem?
ResponderExcluirEu nunca tive muita vontade de ler Rainha Vermelha. Normalmente não deixo críticas ruins me impedirem de ler um livro, se eu realmente quiser conferir a história. Mas a sinopse desse não me chamou a atenção. Junte isso com o fato de que ninguém que eu conheço ou acompanho em blogs e canais gostou, e você já deve imaginar que decidi não ler mesmo. Por isso nem liguei de ler a resenha, mesmo se tratando de uma continuação. Que bom que você gostou desse, mas mesmo a opinião positiva e mega empolgada não foi o suficiente pra me fazer reconsiderar.
Beijinhos, te espero lá no http://amendoasefelpices.blogspot.com.br/
Amei o primeiro livro, A Rainha Vermelha, estou doida pra ler esse e essa resenha me deixou ainda mais ansiosa em conferi essa continuação.
ResponderExcluirQual a cena de Mare com Shade que te fez chorar como criancinha? Não estou lembrada.
ResponderExcluir