Alguns livros vão além de seu tempo. Eles existem e vão ser importantes para sempre. Essas obras atemporais falam sobre temas importantes, têm críticas que precisam ser discutidas, dão voz a situações que precisamos ver em destaque mais vezes. O ódio que você semeia, best-seller da Angie Thomas, é esse tipo de história; atemporal, importante e que sempre será necessária.
O livro acompanha a adolescente Starr. Ela e Khalil, seu melhor amigo, saem de uma festa e são parados por uma viatura da polícia durante a noite. Starr aprendeu desde cedo como uma pessoa negra deve se comportar frente a um policial: sem movimentos bruscos, mãos onde ele possa ver. A triste realidade do que o ódio e o julgamento podem fazer por causa da cor da sua pele. Um movimento errado, uma suposição e Khalil é assassinado, deixando para trás o trauma na garota e o peso da injustiça. Starr é a única testemunha do crime, e precisa aprender a própria voz para clamar justiça antes que as investigações levem a culpa para cima do garoto.
Khalil foi silenciado, mas vamos nos juntar e fazer com que nossas vozes sejam ouvidas em seu nome.
O impacto que essa leitura trouxe é difícil de explicar. Não é um livro fácil, não é uma história simples. É a realidade nua e crua, é a ficção falando sobre o mundo em que vivemos, expondo os muitos lados dele - e um desses lados é corroído pelo ódio, pela discriminação, pelo preconceito. Starr vive a mesma realidade que muitos outros jovens.
Khalil foi assassinado pela mesma realidade que a de muitos outras vítimas. A narrativa simpática e bem humorada de Angie bate de frente com os acontecimentos pesados que a trama explora, e aí está o ponto-chave do livro, o que o torna tão profundo: é verdadeiro. É verídico. Existe como tudo que aconteceu nele, como todos que viveram nele.
Starr é uma das melhores protagonistas que já li. Ela tem muita presença em cena, cheia de atitude e bom humor, dedicada à família e presente pelos amigos. É uma garota doce, gentil, enfezada e brusca. Ela vive grandes dilemas dentro da narrativa e tem alguns arcos de crescimento absurdamente bem trabalhados; Starr experimenta duas realidades todos os dias: a do seu bairro, pobre e marginalizado, mas cheio de pessoas com quem ela se importa, carregado de memórias que fizeram dela quem é, e a da sua escola, particular e elitista, onde Starr é 1 entre poucos alunos negros.
Mas tudo está muito bem no dia a dia dela, conciliando a realidade da família com a da escola - onde ela é um pouco menos expressiva, com medo que as amigas e os conhecidos julguem seu comportamento como o "da garota negra que veio do gueto", certa de que se controlar e esconder alguns detalhes sobre sua casa e sua vivência não é ruim.
Às vezes, você pode fazer tudo certo, e mesmo assim as coisas dão errado. O importante é nunca parar de fazer o certo.
Aí Khalil é assassinado e toda a tormenta começa. Starr vive o medo, a tormenta, o luto e a raiva tudo em intervalos bem intercalados. Ela não pode descarregar suas emoções com as amigas da escola porque Maya e Hailey não sabem sobre o assassinato - e, quando elas descobrem, é através dos olhos do policial branco, aparentemente "injustamente" acusado.
E, do lado da família, do bairro e da sua própria consciência, Starr vê sua raiva dando lugar à sede por justiça. Essa justiça pede que Starr fale, que erga sua voz, que mostre o crime e o responsável por ele, que mostre ao mundo que Khalil era só um garoto e que nada, absolutamente nada justificaria sua morte. Mas, claro, a vida não é fácil e encontrar justiça menos ainda.
Eu amei a interação da Starr com a sua família, e como eles foram o alicerce para ela encontrar sua coragem e aceitar seus medos como parte dela. Seu pai, Maverick, principalmente, foi um personagem chave para o crescimento da garota. O relacionamento deles foi tão natural e emocionante, cheio de altos e baixos, mas construído em cima de um amor incondicional que nada poderia quebrar. Sua mãe, Lisa, é o coração da família, mas também uma parte bem racional dela.
Eu amei a interação da Starr com a sua família, e como eles foram o alicerce para ela encontrar sua coragem e aceitar seus medos como parte dela. Seu pai, Maverick, principalmente, foi um personagem chave para o crescimento da garota. O relacionamento deles foi tão natural e emocionante, cheio de altos e baixos, mas construído em cima de um amor incondicional que nada poderia quebrar. Sua mãe, Lisa, é o coração da família, mas também uma parte bem racional dela.
Ela e o marido têm um relacionamento lindo, um elo que equilibra todos os perrengues pelos quais a Starr e os outros dois filhos passam - os irmãos da Starr, inclusive, são maravilhosos. Seven é o mais velho, o primeiro filho do Maverick e praticamente adotado pela Lisa como seu, já que a mãe está em um relacionamento perigoso e deu as costas aos filhos - e Sekani ainda é a alma inocente em toda a situação.
Ele é muito ativo e cheio de comentários afiados, mas em relação à realidade que a família vive, ao pesadelo que a Starr enfrentou e vem enfrentando, ainda é ingênuo. E não dá pra deixar de citar o tio Carlos que, apesar de não dividir mais a realidade do bairro com eles, divide seu coração com todo mundo, especialmente a Starr. Ele ajudou a Lisa a criá-la e está ali pela garota nos momentos em que ela mais precisa.
- Ter coragem não quer dizer que você não esteja com medo, Starr. Quer dizer que você segue em frente apesar de estar com medo.
Tudo que a Starr era e se tornou dentro do livro aconteceu por causa do apoio da família. Acho que foi o primeiro livro que li em que isso foi 100% trabalhado, que a família era mais do que personagens coadjuvantes ao lado da protagonista, mas parte do protagonismo dela. Chorei e ri abertamente com eles em vários momentos da trama, e com certeza me apaixonei pelo amor que saltou das páginas entre eles.
Quanto aos outros personagens que aparecem, há muitos nomes a serem citados, uma vez que todos ganham importância na trama. Chris, namorado da Starr, vive algumas realizações importantes com ela - a relação entre os dois tem alguns receios, uma vez que Starr vive hesitações a respeito da cor de suas peles, do julgamento alheio, do que seu pai e as outras pessoas pensarão ao ver um garoto branco com uma garota negra. Foram dúvidas e questionamentos legais e bem trabalhados dentro do psicológico e emocional da personagem, e eu amei os dois. Chris é um bobão apaixonado muito gentil e atencioso.
Qual é o sentido de ter voz se você vai ficar em silêncio nos momentos que não deveria?
Toda a questão em cima do julgamento do policial e do clamor por justiça desenvolve uma tensão interessante no livro. O que esse crime ergueu sobre a sociedade, sobre os olhos de quem não assistiu, mas ouviu sobre a história, tudo gera desconforto para o leitor, mas é um desconforto bem-vindo porque traz empatia. Nos faz pensar, questionar e, principalmente, entender. É um livro importante porque não é fácil, não é gentil. É engraçado, é simples e é questionador. É um soco no estômago porque aconteceu. Porque é real. Impõe situações horríveis do dia a dia, discute o alcance do preconceito, critica a visão de uma maioria sobre as minorias, e está muito certo em fazer tudo isso.
Engraçado. Os senhores de escravos também achavam que estavam fazendo a diferença na vida dos negros. Que os estavam salvando do "jeito selvagem africano". Mesma merda, século diferente. Eu queria que pessoas como eles parassem de pensar que gente como eu precisa ser salva.
Queria ficar falando sobre como essa história me impactou, sobre como a jornada da Starr e dos outros personagens, do bairro em que ela vive, da voz que ela carrega, como tudo isso foi importante e magistral, mas esse é um livro difícil de descrever. É uma trama complexa que precisa ser lida. Precisa.
Vou terminar essa resenha com uma frase do livro, porque ela destrincha tudo o que esse título e essa obra trazem para o público: The Hate U Give Little Infants Fucks Everybody, ou "o ódio que você passa pras criancinhas fode com todo mundo."
Sinopse: Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial. Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo. Seja obediente. Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto. Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início. Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.
Título original: The Hate U Give
Autora: Angie Thomas
Editora: Galera Record
Gênero: Young adult
Nota: 5+
Oi, Denise!
ResponderExcluirPrimeiro a gente grita QUE HINO e depois lê essa maravilha!
Gente, nossa... deu vontade de fazer churrasco com os olhos da Hailey. Pelamor da deusaaaaa!
Aaaa família da Starr é um amor! Adorei porque é uma família bem normal e, ao mesmo tempo, perfeita.
Beijos
Balaio de Babados
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Oiii Denise
ResponderExcluirComo eu preciso e quero ler esse livro, só escuto elogios por onde leio sobre ele e o impacto que a história vem tendo em todo mundo que lê é surreal, é uma mensagem forte, brutal, realista, com certeza vou ler e acho que todo mundo deveria reservar um lugar para livros assim na estante
Beijos
aliceandthebooks.blogspot.com
Olá, Denise.
ResponderExcluirMeus parabéns pela resenha. Está maravilhosa. Devorei suas palavras e preciso desse livro. Já acrescentei na minha lista. Infelizmente é com dor no coração que digo que acredito que as coisas nunca irão mudar. Eu sinceramente já perdi a esperança nesse sentido. Eu sou noveleira e acabei de assistir Novo Mundo e tudo o que foi mostrado ali infelizmente ainda acontece hoje, anos e anos depois.
Prefácio
Eu quero muito ler este livro, está na minha wishlist, tenho-o em ebook mas queria mesmo ler em físico! Desde que vi o original pela primeira vez, fiquei logo a namorá-lo.
ResponderExcluirMRS. MARGOT
Não conhecia o livro então adorei a resenha para conhecer pois realmente parece ser um livro ótimo.
ResponderExcluirBjs
https://eternamente-princesa.blogspot.com.br
Deniiise, já pode parar com essas resenhas maravilhosas... Que nada, CONTINUAAAA
ResponderExcluirQuero muito ler e ver, apenas <3
"Qual é o sentido de ter voz se você vai ficar em silêncio nos momentos que não deveria?" já me ganhou no quote, hahah
Bjs
http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com
Oii, parabéns pela resenha! Já li e afirmo que esse livro é realmente necessário.❤❤
ResponderExcluirOii, parabéns pela resenha! Já li e afirmo que esse livro é realmente necessário! ❤❤
ResponderExcluirAss.: Luiza Lastenia
Gente esse livro é muito horrível eu comprei só gastei meu dinheiro
ResponderExcluirSinto muito por vc não ter conseguido aproveitar essa leitura super importante, atual e extremamente fluída ¯\_(ツ)_/¯
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