No fim do ano, eu resolvi ler um true crime porque percebi que não tinha lido nada do gênero desde o ano passado. O escolhido foi Heidnik - Cordeiro Assassino, escrito por Ken Englade e publicado aqui pela Editora Darkside, no selo Crime Scene.
Se você se interessa por true crime, pode ler:
O livro se divide em duas partes. Na primeira, o autor apresenta um pouco do passado do criminoso Gary M. Heidnik. O assassino e os horrores que ele cometeu no porão da sua casa são inspirações para a criação de vilões como Buffalo Bill, em O Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris.
O primeiro ato também elabora um pouco sobre o modus operandi do criminoso, e sobre o sequestro e o cárcere das mulheres que escolheu como suas "esposas", além de todos os atos hediondos que cometeu. O segundo ato da obra acompanha o julgamento e a sentença proferidos a Heidnik, desde a sua captura.
Cordeiro Assassino, como todos os títulos da coleção Crime Scene, é um livro pesado. Mas aborda a história desse criminoso - que não configura exatamente um serial killer, mas é parte do grupo de criminosos seriais dos EUA - de maneira sensata.
Com sensibilidade, fala sobre as vítimas de Heidnik; suas histórias e o que sofreram nas mãos dele. Fala sobre a irresponsabilidade da polícia em muitas abordagens do caso, o descaso que poderia ter salvado vidas, e a seriedade com que o julgamento se desenvolveu.
Heidnik fundou uma igreja para escapar do pagamento de impostos, e teve uma passagem complexa pelo Exército e por hospitais psiquiátricos. Ele sequestrou e encarcerou sete mulheres no porão de sua casa e as torturou, estuprou e violentou de diversas outras maneiras. Heindik queria esposas para gerar seus filhos. Dessas sete mulheres, duas morreram por causa das torturas.
Cordeiro Assassino estuda o criminoso ao mesmo tempo em que aborda de maneira sensível a vida e a luta dessas mulheres. É uma leitura pesada que não mede palavras para mostrar o pesadelo que elas viveram no porão da casa desse homem. É também uma leitura intensa porque acompanha de perto o que foi o julgamento dele, analisando profundamente a defesa e a acusação.
Heidnik foi condenado à morte pelos seus crimes, mas o caminho que o levou até essa sentença é complexo tal qual o segundo ato do livro explora. Eu não conhecia muito a respeito desse criminoso. Ele é considerado serial pelo seu modo de operar, pelas vítimas seguirem sempre um padrão (mulheres negras, marginalizadas, prostitutas ou portadoras de algum distúrbio de desenvolvimento). É uma leitura que mexe com o estômago, que revolta.
Os crimes da ficção que a vida dele inspiraram servem como alerta e também abordam muito da perspectiva feminina em relação aos "vilões". Não apenas Buffalo Bill, mas Hannibal Lecter também teve inspirações na vida de Heidnik. E ambos personagens têm como protagonistas mulheres que precisam sobreviver aos horrores deles - e conseguem.
Cordeiro Assassino foi uma leitura forte. Como sempre, não é uma recomendação, mas o Crime Scene me interessa pela questão psicológica e pela sensibilidade com que os autores tratam das vítimas e das sobreviventes. Esse foi mais um caso positivo desse estilo de livro.
Sinopse: O militar aposentado Gary Heidnik fundou a seita Igreja Unida dos Ministros de Deus. Para muitos, seria apenas uma malandragem para driblar impostos e arrecadar dinheiro com a fé alheia; para outros, parte essencial de seus delírios psicóticos. Heidnik queria, mais do que tudo, ter muitos filhos e construir uma família de adoradores com seu próprio sangue. Depois de alguns anos no Exército, outros em instituições psiquiátricas, investimentos em ações e muitos fracassos nas relações pessoais, Heidnik cede ao seu narcisismo sórdido e bola um plano: sequestrar várias mulheres, prendê-las no porão e violentá-las para dar origem a sua tão desejada família. Esse ato de violência extrema se concretizou com o sequestro de seis mulheres, e resultou em torturas, abuso sexual e morte de duas das vítimas. Com uma prosa seca e afiada, Ken Englade traça de forma minuciosa e documental os principais movimentos dos crimes e traz um relato direto do processo e do dia a dia do tribunal durante todo o julgamento de Heidnik. Assim, o leitor acompanha as entrelinhas do próprio sistema penal norte-americano. A ressonância do horror chegou também à ficção: Gary Heidnik e seus atos hediondos são uma das inspirações para o vilão James “Buffalo Bill” Gumb, em O Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris, em conhecida adaptação cinematográfica com direção de Jonathan Demme e atuações de destaque de Anthony Hopkins e Jodie Foster. Por um lado, Heidnik foi um sacerdote, um pastor cristão, que conduzia suas ovelhas não para os pastos do Senhor, mas para o abatedouro de seu porão diabólico. Por outro, ele é o próprio cordeiro dado em sacrifício a uma sociedade faminta em condenar, mas incapaz de reavaliar seus estranhos valores.
Título original: The Story of Gary Heidnik
Autor: Ken Englade
Editora: Darkside
Tradução: Diego Gerlach
Gênero: True Crime | Não-ficção
Nota: 5
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