Resenha: Eu te darei o Sol - Queria Estar Lendo

Resenha: Eu te darei o Sol

Publicado em 15 de set. de 2015


Sempre fico abismada com a força que os livros possuem. Eu os escrevo, eu os leio, eu os devoro e eu os vivo, e ainda assim, ainda assim aparecem histórias que conseguem me tocar de tal maneira que não existe mais nada na minha cabeça além do que os personagens me contaram e de como eles me contaram. Eu te darei o Sol foi um desses livros.
Sinopse: Noah e Jude competem pela afeição dos pais, pela atenção do garoto que acabou de se mudar para o bairro e por uma vaga na melhor escola de arte da Califórnia.Mal-entendidos, ciúmes e uma perda trágica os separaram definitivamente. Trilhando caminhos distintos e vivendo no mesmo espaço, ambos lutam contra dilemas que não têm coragem de revelar a ninguém.Contado em perspectivas e tempos diferentes, EU TE DAREI O SOL é o livro mais desconcertante de Jandy Nelson. As pessoas mais próximas de nós são as que mais têm o poder de nos machucar.
Noah e Jude são gêmeos. Quando estamos vendo a história pelos olhos de Noah, Jude não poderia ser mais diferente dele; aos treze anos, o menino é introspecto, excluído e bem esquisito, com um mundo cheio de paletas de cores que ele pinta em sua mente enquanto vive. Tudo que ele encontra é arte. Sua mãe, uma mulher complexada e meio fora da caixinha, quer colocar os filhos numa renomada escola de artes - mas fica claro o seu favoritismo por Noah, uma vez que, ainda que talentosa, Jude não tenha toda a atenção que a mãe dedica ao filho. Quando vemos a história pelos olhos de Jude, três anos depois, no entanto, Noah não é mais o artista cuja mente está sempre voando através do imaginário, e a normalidade faz parte dele. Jude não tem mais isso. Por conta de uma tragédia que a persegue todos os dias e pelo arrependimento e a vontade de consertar as coisas que sempre se quebram quando ela as toca, Jude está tentando mudar o seu presente para que seu futuro seja menos preto e branco; para conhecer a história desses dois irmãos, um mundo de telas e estátuas e cores não é o suficiente, já que uma imagem vale por mil palavras.
Talvez uma pessoa seja feita de várias pessoas. Talvez estejamos acumulando novas personalidades o tempo todo. Carregando-as ao fazermos nossas escolhas, boas e más, enquanto erramos, organizamos, perdemos a cabeça, encontramos nossa cabeça, desabamos, nos apaixonamos, sofremos, crescemos, nos retiramos do mundo, mergulhados no mundo, ao criarmos coisas e destruirmos coisas.
Noah e Jude buscam a aprovação dos pais de maneiras diferentes. Noah e Jude estão vivendo amores complicados de maneiras diferentes. Noah e Jude são tão semelhantes e tão diferentes.


A narrativa do Noah é gostosa e inocente e absolutamente cheia de vida. Ele é um artista, um artista solitário com várias artes em sua cabeça, pinturas que ele cria em meio a uma conversa civilizada, quadros que ele colore conforme olha para alguém, mundos que ele cria quando observa o garoto que acabou de se mudar para a casa ao lado da sua, o garoto que vai roubar o seu coração; Noah e Brian são parecidos pelas estranhezas, mas aquele receio de se revelarem apaixonados e se deixarem amar existe muito fortemente, o que faz Noah se questionar o tempo todo. Brian está mesmo amando ele ou é só outra fantasia da sua cabeça? É ok amá-lo tanto quanto está amando ou é tão bizarro que ele deveria sentir vergonha? A história de um adolescente de treze anos e meio se descobrindo apaixonado por um rapaz, especialmente na cidade onde o Noah vive, especialmente com os seus medos e suas hesitações que foi lindamente bem trabalhada pela Jandy. Você sente pelo Noah e junto com o Noah e quer abraçá-lo e chorar com ele e sorrir com ele, e tudo ao mesmo tempo de novo quando chega um capítulo novo dele. Sua arte é viva, seus quadros são inspiradores, e ele tem um jeitinho único de contar a história, com muito humor e sagacidade e medo. Um medo real e espontâneo e apaixonado.
Ele está perto o suficiente para que eu possa tocá-lo, perto o suficiente para que eu possa contar suas sardas. Estou com um problema com as mãos. Como é possível que todas as pessoas pareçam saber exatamente o que fazer com elas? Bolsos, lembro, aliviado, bolsos, amo bolsos! Guardo as mãos em segurança nos bolsos, evitando os olhos dele. Os olhos dele têm aquela coisa.
Jude, por outro lado, já passou da adolescência, já viveu a maior tragédia que poderia acontecer à sua família, e agora nos conta o que está acontecendo no presente dela. Noah não é o mesmo garoto de antes, ele parou de pintar e parou de amar e parou de ser estranho. Jude é a estranha. Jude é a artista. Jude é a garota perdida sem rumo que precisa muito se encontrar; ela precisa ganhar o perdão de uma pessoa muito importante para ela, para que essa "pessoa" pare de assombrá-la e quebrar suas artes por alguma coisa que ela fez. Para isso, Jude procura ajuda de um escultor de pedras, o famoso Guillermo Garcia, e junto dele, encontra o moço inglês que faz todas as suas estruturas tremerem gloriosamente. Mas ela criou uma barreira anti-meninos depois de vários tumultos do seu passado, e não vai deixá-la cair fácil assim, certo? Erradíssima. Oscar, o rapaz com sotaque inglês e jaqueta de couro e um jeito de se encostar em paredes digno de James Dean vai testar completamente o autocontrole da garota. O romance deles é bem mais discreto e quase inexistente, mas está ali e é tão palpável que me fez querer mordê-los!
- Eu abdiquei de praticamente todo o mundo por sua causa. O sol, as estrelas, os oceanos, as árvores, tudo. Desisti de tudo por você.
A escrita da Jandy é inesquecível, e ela entrou para a minha lista de autoras que eu quero ser quando crescer. Jude e Noah são tão reais, tão vivos. Eles são adolescentes e crianças perdidas, pessoas precisando de amor e de encontrar o seu caminho, eles são gêmeos separados por sentimentos e traições que disputam pelo mundo e por tudo dentro dele, são irmãos que se amam tanto quanto o sol e as estrelas. Além do romance, eles vivem várias conturbações com a família - Noah e o pai, que nunca se encontram emocionalmente, e Jude e sua mãe, que agem como desconhecidas.

Como sou capaz de ver as almas das pessoas às vezes, ao desenhá-las, sei o seguinte: a mamãe tem uma enorme alma de girassol, tão grande que mal sobra lugar para os órgãos. Jude e eu temos uma alma em comum que compartilhamos: uma árvore com as folhas em chamas. E o papai tem um prato de larvas como alma.
É toda uma relação verdadeira, que pode existir em qualquer família, e guarda um segredo bem grande que vai se revelando através das páginas; quando cheguei ao fim, não suspeitava muito do que era o tal "acontecimento", mas fiquei surpresa e feliz por como a Jandy conduziu a aceitação e a revelação disso.

A magia desse livro é em como a Jandy consegue criar tanta realidade dentro de uma ficção e misturar isso de tal maneira que você ame os personagens e sinta-se parte deles, de cada um deles e de cada momento que eles vivem. Eu sou apaixonada pela escrita da Rainbow Rowell e da Stephanie Perkins por isso, porque seus romances juvenis são verdadeiros, verossímeis e ao mesmo tempo fantasiosos a ponto de nos deixar mergulhar na ficção e nas pontinhas marcantes de realidade dentro delas. A Jandy fez exatamente isso; ela te dá a narrativa marcante dos gêmeos, ela te dá os acontecimentos e como eles reagem a eles, e em algumas páginas você está caindo de amores porque é tudo tão perfeito e bem detalhado e você só quer sentar no chão e chorar.

Talvez algumas pessoas simplesmente tenham sido feitas para estar na mesma história.
Eu te darei o Sol se tornou um dos meu YA's favoritos de todos os tempos, e com certeza vai continuar assim até o fim deles. Jandy Nelson é uma pintora e escultora de palavras, e eu mal posso esperar para conhecer outras obras de arte criadas por ela.

Título original: I'll Give you the Sun
Autora: Jandy Nelson
Gênero: Young adult
Editora: Novo Conceito
Nota: 5 +

Saiba mais: Skoob Buscapé

4 comentários:

  1. Denise, não me odeie, mas....

    Eu não gostei desse livro, eu sei que ele é bem escritinho, mas achei maçante demais... o problema maior foi que eu sei que o li no tempo errado, por isso não curti nadinha. No entanto, pretendo relê-lo para ver se mudo de opinião.

    xoxo
    Mila F.
    @camila_marcia
    www.delivroemlivro.com.br

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    1. Oi Camila, tudo bom?
      Que isso, cada pessoa tem um gosto pra leitura. Se não tem agradou, tem seus motivos. Talvez tenha sido o momento mesmo :D tentar reler agora pode te fazer mudar de opinião!
      Obrigada pela visita <3

      Beijos,
      Denise Flaibam.

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  2. Depois dessa resenha eu com toda certeza lerei.

    Eu estava super na dúvida se lia ou não, mas agora...

    Ps: Vamos ver se a Camila vai mudar de opinião xD

    Bjs,

    Gi.

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    1. Oi Gisele!
      ASFKJASBNFUABOGUABGAUBASUOGA LEIA, LEIA MESMO, vale tanto a pena! Queria desler pra ler tudo de novo com a mesma emoção <3
      Obrigada pela visita!

      Beijos,
      Denise Flaibam.

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