Resenha: Espero Por Você - Queria Estar Lendo

Resenha: Espero Por Você

Publicado em 21 de jun. de 2017

Resenha: Espero Por Você

A resenha de hoje é do livro Espero por Você, o primeiro de uma série new adult de mesmo nome da autora Jennifer L. Armentrout (publicado pelo pseudônimo de J. Lynn) e cedido para o Queria Estar Lendo em parceria com a editora Novo Conceito. Então senta que lá vem coisa grande!
Sinopse: Algumas coisas valem a pena esperar. Algumas coisas valem a pena experimentar. Algumas coisas não devem ser mantidas em silêncio. E, por algumas coisas, vale a pena lutar. Avery Morgansten precisa fugir. Ir para uma faculdade a centenas de quilômetros de casa foi a única forma que encontrou para esquecer o acontecimento fatídico que, cinco anos antes, mudara a sua vida para sempre. O que não estava em seus planos era atrair a atenção do único rapaz que pode mudar totalmente a rota do futuro que Avery está tentando construir. Cameron Hamilton tem um metro e noventa de altura, impressionantes olhos azuis e uma habilidade notável para fazer com que Avery deseje coisas que ela acreditava terem sido roubadas irrevogavelmente dela. Envolver-se com ele é perigoso. No entanto, ignorar a tensão entre eles — e despertar um lado dela que nunca soube que existia — é impossível. Até onde ela estará disposta a ir e o que fará para esquecer o passado e viver aquela relação intensa e apaixonada, que ameaça ruir todas as suas certezas e fazê-la conhecer um mundo de sensações que julgava estar negadas para sempre?
A história nos é apresentada pelo ponto de vista de Avery, uma garota que mudou-se dos arredores de Huston, no Texas, para uma cidade universitária na West Virgínia para cursar a universidade o mais longe de casa possível. Isso porque ela tem um segredo e escapar da casa dos pais e da cidade que a julga mentirosa é a única forma que encontra para lidar com isso.

No seu primeiro dia de aula, ansiosa e nervosa, quase tento um ataque de pânico nos corredores da universidade, atrasada para a sua primeira aula, Avery acaba dando de cara -- literalmente -- com o cara mais gato e comentado da universidade. E a partir daí parece que existe uma conspiração cósmica para unir os dois, pois Cam -- o cara gato -- e ela começam a se esbarrar em todas as esquinas.

A princípio, receosa e sem saber lidar com os próprios demônios, Avery poda qualquer tentativa de avanços de Cam, até que acaba se entregando em uma amizade que, rapidamente, transforma-se em algo mais. E é aí que mora o perigo, porque Avery não sabe como vai conciliar sua relação com Cam, a forma como se sente a respeito dele e seus medos e traumas.

A história é bem clichezinha, com a menininha virginal e cheia de segredos que acaba se apaixonando pelo gostosão da universidade, que também calha de ter um segredo e abre mão de poder ter a mulher que quiser e quando quiser para ter só a mocinha, porque ela é "tão diferente de todas as outras". Ok, clichê notado, mas não me importei já que, para mim, a originalidade mora nos detalhes. Pena que Espero por Você não tem muitos detalhes.

Desde o começo do livro fica muito claro quais são os segredos de Avery: ela é vítima de violência sexual e uma suicida -- por mais que ela diga que não pensa em se machucar novamente, depressão não é algo cujos impulsos podemos controlar tão facilmente, especialmente sem atendimento profissional. A forma como a Jennifer L. Armentrout demora para nos deixar saber com todas as palavras o que aconteceu a Avery me deixou um pouco irritada, porque não era como se as "pistas" que ela estava nos dando fossem muito discretas, senti minha inteligência sendo questionada nessa hora.

Fora isso a história é bem comum e até um pouco lenta, seguindo o dia a dia de Avery na nova cidade e como ela lida com Cam, dividindo o relacionamento deles em três etapas: "não quero saber de você", "ok, podemos ser amigos" e "ok, por que um cara como você quer namorar uma garota como eu?", que são levados de forma fluída e sem muitos problemas.

Não existe nada de UOU ou super original ou algum detalhe que realmente te encanta, mas é um livro bom. Até o momento em que os dois se envolvem, porque isso traz intimidade e Avery não sabe como vai reagir a intimidade. Qualquer expectativa divertida e gostosa que ela pudesse ter é rapidamente mascarada por sua agressão.

No começo a reação dela é bem normal, parece até que a autora se esquece de que ela foi agredida no passado e que esse trauma nunca foi tratado (muito pelo contrário, foi é reprimido). Mas ok, porque tudo entre eles funciona super bem porque ela confia muito no Cam (!). E aqui eu preciso dizer que existem dois "o pior" nessa história que envolvem justamente a forma como a autora decidiu abordar o tema da agressão sexual e suas consequências na vida da vítima.

Como eu já disse, Avery nunca lidou com o trauma do que lhe foi feito. Ela virou uma párea na sua cidade natal e reprimiu a experiência ao máximo, até viver "como se nada tivesse acontecido". E sabemos que essa repressão toda só fez com que tudo piorasse, uma vez que ela tentou se suicidar em decorrência de como o crime foi tratado. Então não é como se ela fosse aprender a lidar com o que aconteceu em seu passado do dia para noite. Já começa me chateando que Avery nunca teve um problema com Cam, ela sempre confiou muito nele (tipo, basicamente desde o momento em que se conheceram! Ela nunca questiona a perseguição e a pressão dele) desde o começo e parece que isso é tudo que ela precisava para não se sentir ameaçada pela presença dele -- o que, se você já leu qualquer coisa a respeito das consequências psicológicas e emocionais de uma violência sexual, sabe que não funciona exatamente assim.

Resenha: Espero Por Você

Mas "o pior" número 1, para mim, é o "ultimato" do Cam quando eles tentam fazer sexo e a Avery meio que surta porque a experiência leva ela de volta a sua agressão. Nesse momento da história o "mocinho" (que até agora era bem whatever brega pra mim), sabendo da tentativa de suicídio dela e desconfiando de que ela tinha sofrido algum tipo de agressão sexual, decide que é OK pressioná-la a falar e, quando ela não fala, acha OK gritar porque Avery não quer/consegue contar o que está acontecendo e "claramente não confia nele como ele confiou nela" ao contar o seu segredo sórdido do passado -- que em uma escala de 0 a 10, tira o número 3 em comparação com o que a Avery sofreu.

Mas não é só isso, porque além de ser deixada porque não consegue colocar em palavras o crime que cometeram contra ela, toda a cena faz parecer que aquilo é sobre o Cam e como ela não confia nele -- quando na realidade é tudo sobre a Avery e como ela aprendeu ao longo de cinco anos que ninguém vai acreditar nela se ela falar a verdade e como todo mundo, inclusive as pessoas que ela ama, vão julgá-la e tratá-la diferente ao saberem sobre seu segredo -- a narrativa ainda explora a ideia de que o rompimento é realmente culpa da Avery e da incapacidade de confiar no Cam com seu segredo mais íntimo e infame. E eu entendo completamente que dentro da coerência de personagem, isso é algo que Avery pensaria, ou seja, que o rompimento é culpa dela e que ela deveria ser capaz de falar aquilo se ela realmente confia no Cam, mas não entendo porque em nenhum momento a narrativa, seja através de diálogos ou do andamento de cenas, não corrigiu isso. A narrativa nunca deixa claro para o leitor que não, não era culpa da Avery e que falar sobre algo do tipo, que você reprime por cinco anos, que você aprende a ter vergonha, que te expõe, uma experiência que foi humilhante em tantos níveis, não é algo fácil, não é algo que você conta só porque estão te pressionando a isso.

*Aliás, a narrativa faz muito disso, de não explicar que as reação da Avery não são, necessariamente reais, passando a ideia de que sim, a vítima que não denunciou o agressor tem culpa caso ele ataque outra pessoa, e é claro que você sabe quais caras representam uma ameaça para o seu bem estar físico, então é claro que você é capaz de dizer que o cara bêbado que te agarrou por trás em uma festa enquanto você dançava com sua amiga e não te largava por mais que você gritasse para ele te largar não era realmente uma ameaça. Você só estava exagerando. Não é como se ele não tivesse se afastado (depois que o seu amigo/namorado prensou ele na parede com porrada).

O clímax da história chega no momento em que ela finalmente confessa seu passado para Cam, o ponto em que Avery finalmente decide parar de fugir do passado e encarar a sua realidade, parar de deixar que esse trauma defina quem ela é e aceitar que foi algo que aconteceu com ela, mas não quem ela é. E a partir daí seguimos a história em um ritmo lento enquanto ela começa a fazer as pazes com seu passado. E estava se encaminhando para ser uma história onde a minha única reclamação seria, realmente, a forma como o clímax foi escrito.

Mas aí chegamos ao "o pior" número dois, que é basicamente a mensagem que o livro passa. Que você pode ser agredida, tentar se suicidar, reprimir tudo isso por cinco anos e, então, superar tudo com a ajuda do seu namorado. Simples assim, tudo que Avery precisava para seguir com a vida era arrumar um homem, confiar nele e contar tudo para ele, e aí tudo ia ficar bem.

Psicólogo? Terapia? Pra quê isso? É claro que ela não precisa disso (ainda que ela mesma, lá pela metade do livro, chegue a dizer que se os pais tivessem a levado a um psicólogo talvez as coisas não tivessem chegado onde chegaram). O que eu senti quando terminei esse livro foi uma completa e total falta de responsabilidade da autora para com a história que contou e com seus leitores.

Em um mundo onde grande parte dos leitores de new adult são jovens mulheres, onde 1 em cada 5 mulheres vão sofrer algum tipo de violência sexual, passar a mensagem de que você não precisa de ajuda profissional para aprender a lidar com isso é uma das coisas mais irresponsáveis que se pode fazer.

Avery dá a entender que está tudo caminhando para melhor na sua vida porque ela foi "mulher o suficiente", em suas palavras, para pedir ajuda de Cam para lidar com aquilo. Mas Cam não é a ajuda que ela precisa, no máximo ele é um suporte (que, devemos lembrar, pode não estar para sempre ao lado dela). A ajuda que ela precisa é profissional. 

Não basta você falar sobre os seus traumas com uma pessoa em quem confia. Se fosse assim, ninguém precisaria de psicólogos e psiquiatras. As pessoas que você ama e querem te ajudar definitivamente tem um papel a desempenhar no seu tratamento e são importantíssimas para isso, mas não estão preparadas, não tem treinamento para serem tudo que você precisa. Não podem fazer as vezes de médico. A saúde mental é tão importante quanto a física. Você não confiaria que o seu namorado fizesse uma cirurgia de coração em você (nem mesmo se ele fosse médico, uma vez que o emocional pode atrapalhar nesses momentos), então por que permitir que ele seja o seu psicólogo?

Podia ter sido um livro "bom", um três estrelas. Mas a mensagem que a autora deixou realmente me impede de vê-lo dessa forma.

Por tanto, encerro dizendo que, em sã consciência, não posso indicar esse livro. Mas se quiser se aventurar, trate-o somente como uma ficção que passa bem longe das condições ideais para a vida real. E lembre-se: eu avisei.

Título original: Wait for You.
Autora: Jennifer L. Armentrout
Editora: Novo Conceito
Gênero: NA - Romance
Nota: 2

Saiba Mais: Skoob | Amazon | Saraiva

2 comentários:

  1. Oi, Bianca!
    Gente... eu sabia que tinha algo que me impedia de ler esse livro, por mais que o goodreads me indique sempre que procuro por algo parecido com O Acordo.
    Creio que sua resenha foi a única que li até agora que pontue todos esses erros na história.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Sorteio Três Anos do blog A Colecionadora de Histórias

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  2. Nossa, o livro tinha tudo para ter uma premissa incrível e trazer uma ótima mensagem, mas caímos no velho clichê que um 'amor' cura tudo. Não é assim, na verdade, também fico bem infeliz de ver os livros tomarem essa direção, ser abusada sexualmente e possuir traumas é uma coisa grave e tem de ser tratada com profissionais, a pessoa tem que superar com suas forças, não é um carinha que cura tudo. Tenho certeza que ao ler esse livro ficarei com as mesmas opiniões que você, adorei sua sinceridade e a forma como colocou, sua resenha ficou ótima!

    P.S: desculpe o sumiço, estive apresentando um TCC haha!

    http://www.leitorasvorazes.com.br/

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