Resenha: 1984 - Queria Estar Lendo

Resenha: 1984

Publicado em 5 de jan. de 2018

Resenha: 1984

1984, cedido para o blog em parceria com a editora Companhia das Letras, foi o último livro escrito por Gearge Orwell, publicado apenas sete meses antes da sua morte. Um romance que, na época, especulou sobre um futuro que parecia tão próximo - e que acabou se tornando atemporal ao tratar de uma ameaça que continua tão real.

Na Oceania, um regime totalitário tomou conta, liderado pelo chamado Grande Irmão ("Big Brother"). O regime controla a população e os despiu de qualquer individualidade, com o objetivo claro de obter cada vez mais poder. Nesse cenário, conhecemos Winston, o protagonista. Mesmo inserido na cadeia de comando do regime, Winston preserva um instinto rebelde que aflora ao longo das páginas.

No livro, Winston finalmente se rebela contra o regime depois de conhecer Julia, uma colega de trabalho por quem acaba se apaixonando. Quando os dois iniciam uma relação - algo proibido - Wonston finalmente é levado a agir.

Existe a verdade e a inverdade, e se você se agarrar a verdade mesmo contra todo o mundo, você não será louco.

A respeito dos três personagens que mais se destacaram para mim - Winston, Julia e O'Brien - eles não deixaram realmente uma grande marca. O'Brien é uma personagem de quem não posso falar muito sem spoilers, mas foi o que mais me passou a sensação de "estar aqui apenas como artifício de plot", sem uma história própria que importe de verdade.

Já Winston e Julia foram um pouco mais complexos, mais tridimensionais, embora não tenha morrido de amores por nenhum deles. O protagonista, inclusive, me irritou em alguns momento, com atitudes misóginas em relação a Julia e a forma como tão facilmente a silenciava. Também não ajudou muito que ele fosse a epítome do "homem hétero branco de classe média" com a única diferença de que fazia parte de uma sociedade totalitária. Coloca-lo como um perdedor, como uma forma de aproximá-lo do público também não fez muito por mim. Eu simplesmente não me importo com ele - mesmo sabendo que fazer com que nos importemos com ele era um dos objetivos do livro. Mas respeito e aprecio a jornada dele dentro do livro.

Resenha: 1984

No fim, a personagem por quem mais senti simpatia foi Julia, que me lembra muito uma manic pixie dream girl, servindo para nada mais do que ser o estopim da rebeldia de Winston. Embora carismática, com espaço e certa voz, Julia também é bastante um artifício de plot que facilmente poderia ter sido substituído por outro propulsor.

No entanto, a história que eles contam é completamente relevante.

Quando George Orwell escreveu 1984, o mundo se encontrava em uma persistente tensão. Com o fim da Segunda Guerra Mundial ainda tão recente, os maiores medos da população eram uma guerra nuclear e governos totalitários, uma realidade que o autor explora bastante, especialmente ao definir uma data distante (o livro foi originalmente publicado em 1949), embora perto o suficiente para nos deixar agitados.

Nós somos diferentes das oligarquias do passado porque sabemos o que estamos fazendo. Os Nazistas Alemães e os Comunistas Russos chegaram muito perto dos nossos métodos, mas nunca tiveram coragem de reconhecer seus motivos. Eles fingiram, e talvez até acreditaram, que tomaram o poder de forma involuntária e por um tempo limitado, e que logo a frente estava um paraíso onde os seres humanos seriam livres e iguais. Nós não somos assim. Nós sabemos que ninguém nunca toma o poder com a intenção de abdicá-lo. Poder não é um meio; é um fim.

 

E mesmo que já tenha se passado mais de 30 anos da data estipulada por Orwell, a realidade descrita por ele - de um regime que encontra uma forma de "desativar" a nossa humanidade, controlando-nos e transformando-nos em coletivos, cujos desejos estão subjugados ao Partido - ainda é bastante real. Sempre que leio distopias me pergunto quais as chances de isso de fato acontecer, e com 1984 minha resposta foi: muito provável.

Resenha: 1984

Desde uma terceira guerra mundial, até um regime totalitário que usa lavagem cerebral para controlar e padronizar os cidadães, tudo na história fala tanto de realismo que é difícil não temer pelo nosso futuro. Acredito que é isso que torna o livro tão atemporal, o fato de basear-se na busca única e exclusiva de poder e verdade.

O Partido é um regime assustador, que exige total obediência da população, em ação e pensamento, e para tal usa a lavagem cerebral e o constante monitoramento para, inclusive, controlar a memória das pessoas. Em casos onde qualquer fragmento de memória vai contra a "verdade" do regime, esse fragmento é substituído por uma "verdade inventada", ou seja, uma mentira. Ao manipular e negar a verdade a população, o "Grande Irmão" conquista aquilo que busca: uma sociedade complacente.

Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando em um rosto humano - para sempre.

 

E por mais "Black Mirror" que seja, ainda soa tão real e próximo. Porque esse controle da verdade e da população é o cerne da questão. Apesar do título datado, muita coisa em 1984 parece plausível, especialmente hoje em dia, com as tecnologias que temos - e não precisamos ir muito longe para vermos a verdade sendo manipulada de forma a alienar a população. O título pode não ser mais uma espécie de "calendário do juízo final", mas certamente ainda fala de algo tão, ou mais, possível do que na época em que foi escrito.

Resenha: 1984

Por fim, 1984 é uma leitura recomendada para todos. Talvez mais denso do que as leituras que estão acostumados, mas uma boa forma de sair da zona de conforto. A edição da Companhia das Letras está muito bonita - tentei mostrar um pouco nas fotos. O projeto gráfico ficou muito bacana e, no fim, para quem gosta de histórias clássicas contextualizadas, pode ler 3 diferentes posfácios. De toda forma, é uma leitura que devemos fazer ao menos uma vez na vida, especialmente quando estivermos nos sentindo muito confortáveis com a nossa situação.

Sinopse: Romance distópico clássico do autor britânico George Orwell. Terminado de escrever no ano de 1948 e publicado em 8 de Junho de 1949, retrata o cotidiano de um regime político totalitário de modelo comunista. No livro, Orwell mostra como uma sociedade oligárquica é capaz de reprimir qualquer um que se opuser a ela. O romance tornou-se famoso por seu retrato da difusa fiscalização e controle de um regime coletivista-socialista na vida dos cidadãos, além da crescente invasão sobre os direitos do indivíduo. Desde sua publicação, muitos de seus termos e conceitos, como "Big Brother", "duplipensar" e "Novilíngua" entraram no vernáculo popular. O termo "Orwelliano" surgiu para se referir a qualquer reminiscência do regime ficcional do livro. O romance é geralmente considerado como a magnum opus de Orwell. De facto, 1984 é uma metáfora sobre o poder e atuação dos regimes comunistas, Orwell o escreveu animado de um sentido de urgência, para avisar os seus contemporâneos e às gerações futuras do perigo que corriam, e lutou desesperadamente contra a morte - sofria de tuberculose - para poder acabá-lo. Ele foi um dos primeiros simpatizantes ocidentais da esquerda que percebeu para onde o estalinismo caminhava e é aí que ele vai buscar a inspiração: percebe-se facilmente que o Grande Irmão não é senão Stalin e que o arqui-inimigo Goldstein não é senão Trotsky. Explicando que seu objetivo básico com a obra era imaginar as consequências de um governo stalinista dominante na sociedade britânica, Orwell disse: "1984 foi baseado principalmente no comunismo, porque essa é a forma dominante de totalitarismo. Eu tentei principalmente imaginar o que o comunismo seria se estivesse firmemente enraizado nos países que falam Inglês, como seria se ele não fosse uma mera extensão do Ministério das Relações Exteriores da Rússia."

Título original: 1984
Autor: George Orwell
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance distópico
Nota: 4

11 comentários:

  1. Oi Bianca!
    Li esse livro há alguns anos e também gostei. É atual e assustador.

    Beijos,
    Sora | Meu Jardim de Livros

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  2. Estou lendo esse livro nesse exato momento. Por enquanto achei meio parada, espero que melhore nos próximos capítulos.

    Toca da Lebre

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  3. Oie
    SEmpre fui curiosa pelas obras deste autor, mas acho que sempre tive medo de arriscar. Fiquei com vontade de ler.

    Beijinhos
    https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

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  4. Olá, Bibs.
    Sempre vejo o povo elogiando esse livro, mas não sei porque ele não me interessa. Talvez eu leia um dia, mas no momento eu não tenho vontade. Sempre que leio distopias fico pensando no quanto que falta para que aquilo aconteça e esse parece ser um dos que mais tem probabilidade de realmente acontecer.

    Prefácio

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  5. Tenho esse livro na estante e pretendo ler esse ano, parece muito bom =D
    Do George Orwell só li A revolução dos bichos, mas amei e espero gostar de 1984 também XD
    Ótima resenha!

    Beijão
    http://atocadalebre.blogspot.com

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  6. Oi Bibs, 1984 é um dos meus livros favoritos da vida, li pela primeira com 18 anos e a cada releitura eu continuo me surpreendendo. De fato não é uma história simples, é densa, com varias criticas incríveis!! Que bom que vc tb curtiu!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  7. Oi Bibs,
    Que resenha maravilhosa. Desde a faculdade enrolo pra ler esse livro e o outro. Espero que em breve, consiga comprá-lo.
    Distopias sempre me dão medo, talvez seja por isso que não leio tanto hahaha

    bjs
    Nana - Canto Cultzíneo

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  8. Oii Bianca, tudo bem? Amei a sua resenha, eu já li esse livro, e confesso que o final me decepcionou um pouco, esperava algo completamente diferente, mas mesmo assim é um livro bom, ainda mais pela época em que foi escrito.
    - Beijos, Carol!
    http://entrehistoriasblog.blogspot.com.br/

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  9. Olá
    Eu sou louca pra ler os livros do George. Eu amo distopias. Eu acho que tenho um dos livros dele em ebook. Espero que consiga ler em breve.

    Vidas em Preto e Branco

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    Respostas
    1. Se puder, comece com A Revolução dos Bichos, que é um livro bem menor e de leitura mais simples. O 1984 em alguns pontos é cansativo, caso a pessoa não se apegue à história, talvez seja difícil de chegar no final

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  10. N verdade o foco de 1984 é fazer uma análise política, que foi inserida em um romance para que não fosse um texto tão longo e pesado. O foco aqui não são os personagens, mas sim O CENÁRIO. Percebemos isto com as longas descrições da rotina, do cotidiano e do modus operandi do Partido. Perceba que o próprio Winston tem pouquíssimas falas até mais ou menos metade do livro. Orwell abominava o totalitarismo, que tanto o chocou nas guerras em que ele participou, por isto esta obra é um tipo de apelo que ele faz às pessoas, para que não cedam sua liberdade. Por isto que a descrição do cenário ocupa tanto espaço da obra, e o mundo em si é mais importante que os personagens.

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