Resenha: Objetos Cortantes - Queria Estar Lendo

Resenha: Objetos Cortantes

Publicado em 13 de mar. de 2019

Resenha: Objetos Cortantes

Objetos Cortantes é minha primeira leitura da autora Gillian Flynn, e que maneira de começar a acompanhar uma autora! O elogiado thriller, que inclusive ganhou adaptação em minissérie pela HBO, é de uma simplicidade cruel, e talvez por isso funcione tão bem.

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Na história, acompanhamos a jornalista Camille; seu editor chefe pede que ela vá cobrir uma matéria em sua cidade natal, onde duas garotinhas foram mortas no que parece o nascimento do caso de um assassino em série. O problema é que voltar para Wind Gap traz mais do que um furo jornalístico para Camille. É reviver seu passado turbulento e sombrio e todas as relações perturbadoras que a tornaram a mulher quebrada que ela é - é revisitar sua casa e reencontrar sua mãe e todos os demônios que assombram a sua infância.

A genialidade da trama me fisgou na minissérie, e a adaptação não passou longe do que a obra oferece, seguindo um nível de fidelidade que me agradou e, inclusive, acrescentou detalhes para tornarem Objetos Cortantes mais tenso e sombrio do que já era no livro.

Resenha: Objetos Cortantes

Com uma narrativa crua e rápida, Gillian Flynn apresenta Camille em meio à sua rotina tediosa e suficientemente confortável para logo em seguida jogá-la de volta à isolação da cidadezinha em que nasceu. Wind Gap é um reduto sulista com pouco mais de dois mil moradores, lugarzinho tranquilo que esconde os muitos olhares de julgamento e sussurros ofensivos que tem a oferecer realmente.

O modo como a autora desenvolve a protagonista e as personagens femininas ao seu redor é magistral. Já tinha ouvido elogios a esse detalhe na narrativa da Flynn, no fato de ela mostrar mulheres perturbadas sem medo de construí-las e desconstruí-las visceralmente - e comprovei isso através das três personagens que encabeçam essa história. Não só Camille, mas sua mãe, Adora, e sua meia-irmã, Amma.

- Assim é Wind Gap. Todos conhecemos os segredos dos outros. E todos os usamos.

No passado, Camille perdeu a irmãzinha caçula pela condição frágil de saúde - e a ruptura que isso causou não só em seu psicológico, mas também na relação já conturbada com a mãe a acompanhou até os dias atuais. Agora, confrontar Adora mais uma vez faz muito para desestruturar e cutucar os pontos que Camille tem de vulnerabilidade.

Onde a protagonista é dúvida e anseios, Adora é um enigma. Centrada, resiliente, uma dama sulista em todo o seu ser, ela esconde crueldade nos olhares enviesados para as filhas. Uma mulher multifacetada interessante de acompanhar justamente porque fica difícil entender quem ela é, realmente. Um monstro de fato ou uma figura incompreendida?

O quanto dos seus olhares afetam Camille ou a fazem buscar aprovação, o quanto das suas falas irritam Camille ou a fazem mesurar os próprios atos, tudo isso é devidamente encaixado na trama para mostrar a relação conturbada que existe entre as duas. Mãe e filha, sim, mas longe de ser uma família amorosa, longe de ser uma família.

Resenha: Objetos Cortantes

Do outro lado, Amma é óbvia em suas duas caras. A menininha perfeita que ama e obedece Adora e a garota rebelde que foge de casa para participar de festas, para viver uma vida dúbia regada a prazeres que não deveriam fazer parte dela, não tão jovem. Não quando o esperado é que a inocência deveria prevalecer sobre sua mente.

Com Camille, Amma é tão indiferente quanto obsessiva. Se por um lado parece a irmã mais nova que idolatra, na cena seguinte parece o olhar raivoso que a quer distante. Junte isso aos problemas com a mãe e vai entender porque a relação familiar dessas três é tão sinistra e instigante de acompanhar.

E é com ela que Gillian molda a história; que nos apresenta Wind Gap realmente, o passado e o presente. Que fala sobre os crimes horrendos que as garotinhas da cidade sofreram e as mil possibilidades do porque eles aconteceram. Ela nos mostra personagens secundários igualmente cinzas, nomes que não dá para saber até que ponto se pode confiar. Homens amargurados, mulheres solitárias, garotas invejosas, crianças amedrontadas. É um leque que ajuda a construir toda a tensão da parte investigativa - e, quando a resposta se apresenta, é para chocar.

Algumas vezes se você deixa as pessoas fazerem coisas a você, na verdade você está fazendo a elas.

Tendo assistido a série antes, deu para pegar os pontos e os momentos em que a revelação se torna óbvia; e preciso dizer que gostei mais de como a adaptação ministrou esse momento, entregando uma cena final muito mais chocante e assombrosa do que a do livro - não tira o mérito do original, claro, só acrescenta.

Resenha: Objetos Cortantes

Objetos Cortantes é uma leitura carregada em sombras e personagens perturbadores; usa uma investigação como pano de fundo para falar sobre relações abusivas e obsessivas, sobre o que é amor e o que é doença, sobre o quanto o passado pode marcar sua mente até se tornar impossível fugir dele.

Sinopse: Com reviravoltas surpreendentes, Sharp Objects: Objetos cortantes narra o retorno da repórter Camille Preaker, recém-saída de um hospital psiquiátrico, à sua cidade natal para investigar o brutal assassinato de uma menina e o desaparecimento de outra. Desde que deixou a pequena Wind Gap, no Missouri, oito anos antes, Camille quase não falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã que praticamente não conhece. Hospedada na casa da família, a jornalista precisa lidar com as memórias difíceis de sua infância e adolescência. E à medida que as investigações para elaborar sua matéria avançam, Camille passa a desvendar segredos perturbadores, tão macabros quanto os problemas que ela própria enfrenta.

Título original: Sharp Objects
Autora: Gillian Flynn
Editora: Intrínseca
Tradução: Alexandre Martins
Gênero: Thriller
Nota: 5
SKOOB



3 comentários:

  1. Olá, Denise.
    Eu li dois livros da autora, Garota Exemplar e Lugares Escuros e gostei muito de ambos. Nos dois fui surpreendida pela autora. Esse está na minha lista também e assim que der vou comprar ele. Concordo sobre as personagens femininas da autora, ela sabe o que faz hehe.

    Prefácio

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  2. Oi, Denise
    Eu ouvi falar muito do livro principalmente depois da série mas não me sinto com vontade de ler, mais por ser suspense mesmo. A leitura geralmente não flui, eu prefiro evitar. O bom é que a obra agrada os amantes do gênero.
    Beijo
    http://www.capitulotreze.com.br/

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  3. A leitura não prende muito o leitor. Tem altos e baixos. A personagem principal é muito crítica, pois descreve todos e tudo, destacando os pontos negativos. Mesmo sendo uma mulher adulta, submete-se à mãe com muita facilidade, embora saiba tratar-se de uma megera. Pensei ter descoberto o assassino na metade do livro e isso foi se confirmando até o fim. No entanto, o final é surpreendente.

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