Nos últimos dias surgiu toda uma discussão lá no Twitter sobre o livro "Uma Vida Pequena" de Hanya Yanagihara. O ponto central é que o livro é bem pesado e tem diversos gatilhos, especialmente envolvendo abuso sexual e pedofilia.
O que me lembrou também toda a discussão que surgiu quando Nona Casa, da Leigh Bardugo, foi lançado.
Assim, a discussão descambou para dois pontos:
- É irresponsável influenciadores literários indicarem livros pesados?
- Temos que avisar sobre todos os gatilhos dos livros na hora de indicar?
E eu queria deixar aqui a minha opinião (que graças a deus é também a opinião da Nizz e da Duda) como blogueira, leitora e também escritora.
1 - É irresponsável influenciadores literários indicarem livros pesados?
Não.
Explico: não vejo problemas em influenciadores indicarem livros pesados e cheios de gatilhos se o fizerem com responsabilidade. E essa é a palavra-chave: responsabilidade.
Isso quer dizer que o influenciador pode sim indicar o livro, mas sempre avisando dos gatilhos - especialmente os mais comuns como abuso físico, psicológico, emocional e sexual, pedofilia, depressão, ansiedade, automutilação.
É mais do que necessário repassar essa informação, especialmente porque ainda existe uma resistência muito grande sobre incluir ela na ficha catalográfica do livro (ou em qualquer parte dele, para servir de alerta).
"Ah, mas nem todo mundo lê os alertas do blogueiro"
Então, aqui entra novamente a parte da responsabilidade. A sua responsabilidade para com as suas leituras.
Eu conheço alguns dos meus gatilhos (e digo alguns porque recentemente descobri que uma coisa muito nada a ver era um gatilho pra mim, o que me fez entender que a gente nunca sabe ao certo tudo que pode nos deixar mal e precisamos prosseguir com cautela) e, por isso, sempre que vou pegar um livro, especialmente quando todo mundo está falando que ele é pesado, eu leio diversas resenhas para descobrir quais possíveis gatilhos meus ele aborda. E se eu estou em um momento bom para ler aquilo ou devo passar de vez.
E todo mundo precisa fazer isso.
É também sua responsabilidade estar atento ao tipo de leitura que você faz e ao que não te faz bem. Respeitar os próprios limites é muito importante para não prejudicar (ainda mais) a sua saúde mental.
E não podemos colocar essa responsabilidade sobre os ombros de outras pessoas. O influenciador não vai entrar na sua casa e apontar uma arma para sua cabeça e te obrigar a ler o livro. Assim como ele não vai entrar na sua casa e arrancar o livro das suas mãos porque pode ter um gatilho que te impacte ali. Essa decisão é sua.
E ainda falando em responsabilidade:
2 - Temos que avisar sobre todos os gatilhos na hora de indicar um livro?
Sim e não.
Digo isso porque acho a situação do gatilho complicada. Como disse antes, recentemente descobri que uma situação em específico, que parece super boba, é um gatilho pra mim.
Ninguém me avisou que isso acontecia no livro - diferentemente do que acontece quando é um abuso sexual, por exemplo, que minhas amigas costumam avisar inclusive com o número da página se elas leem antes de mim (bjs Nizz, te amo). Mas nem tinha como ninguém me avisar, porque é uma situação tão comum. Ninguém ia suspeitar.
E as discussões sobre aviso de gatilho escalaram de um jeito que eu realmente me pergunto se não estamos jogando a responsabilidade sobre a nossa saúde mental sobre terceiros.
É aquela velha história: se tudo é prioridade, nada é prioridade. Se tudo é gatilho, então nada é gatilho.
Particularmente, quando leio um livro sempre fico atenta aos meus gatilhos e aquilo que acredito que possa incomodar as pessoas de modo geral, como abusos de qualquer tipo, automutilação, transtornos e doenças mentais, violência, distúrbios alimentares... Que são as situações que comumente afetam as pessoas e costumo avisar.
Porque acredito que é responsabilidade do leitor, também, conhecer seus limites e saber o que está buscando. Saber que cuidar de si mesmo é não entrar em uma leitura sem conhecer os tipos de alertas referentes a ela. Especialmente se a sua situação é frágil ao ponto de te causar uma crise séria.
"Ah, mas não quero ter que ficar pesquisando o livro antes de ler" ou "Ah, mas não quero estragar as surpresas do livro"
Então você precisa se responsabilizar pelas suas próprias escolhas. Se a prioridade é proteger sua saúde mental, não é possível entrar em uma leitura sem fazer a sua pesquisa.
Se você quer ser surpreendida, precisa levar em consideração que essa surpresa pode não ser boa. E tudo bem, eu também faço isso as vezes, de entrar em uma leitura sem saber nada sobre ela. E essa responsabilidade é 100% do leitor.
E mais: se você tem muito receio e quer ter certeza, pode conversar com alguém que já leu o livro e perguntar especificamente dos seus gatilhos. Ou, ainda, usar sites como o Book Trigger Warning, que lista todos os gatilhos possíveis nos livros. Ele está em inglês e vai funcionar mais para livros gringos, mas pode ser uma grande ajuda (e dá para jogar a lista no Google tradutor para ter uma ideia geral do que diz).
Então, de forma resumida: acreditamos sim que é possível indicar livros pesados, alertando sobre os gatilhos. E também acreditamos que o leitor deve aceitar sua responsabilidade para com sua própria saúde mental e não escolher leituras sem antes estar ciente dos gatilhos e impactos que ela possa causar em si mesmo.
Porque simplesmente não é justo culpar terceiros pelos impactos que nos causam as leituras que nós escolhemos fazer.
Ser responsável é importante, mas o influenciador não é o único que precisa ter isso em mente.
Oi, Bibs
ResponderExcluirEu acho esse apontamento muito importante porque geralmente eu leio livros que sempre tem muitos gatilhos e são pesados. Eu sempre comento sobre isso seja nas resenhas ou no stories, porque mesmo que o conteúdo não seja sensível para mim, pode ser para outra pessoa, e é vital ter a essa responsabilidade como uma criadora de conteúdo. Mas também seria legal se o leitor lesse as informações relevantes antes de ler, porque infelizmente muitos deixam passar e acabam se surpreendendo negativamente. É questão de bom senso também.
Beijo!
https://capitulotreze.com.br/
Oi Bibs,
ResponderExcluirEu super concordo com seu ponto de vista, acho importante avisar sim sobre gatilhos, mas também é responsabilidade do leitor procurar saber mais da obra antes de ler. Muitas vezes acaba sendo ''culpa'' do influenciador sendo que o leitor tem o mesmo peso de responsabilidade.
Bjs
https://diariodoslivrosblog.blogspot.com/
Olá, Bianca.
ResponderExcluirEu acredito que deve sim ser indicado desde que tenha o aviso. Eu já li muitos livros com assuntos pesadíssimos que não me afetou em nada e já li livros que eram de romances considerados leves que fiquei mal. É como você disse o leitor tem que saber o que está buscando. Mas acho que as editoras deveriam se atentar a isso também.
Prefácio
Olá Bianca,
ResponderExcluirAdorei o seu post, é um assunto bem delicado e complicado e que deve sim ser mais debatido.
Eu não costumo ter gatilhos, o que acaba me deixando pouco atenta a certos detalhes e automaticamente não destacando eles em postagens. Sempre falo no geral, como você mesmo disse, o que torna escolha do leitor ler ou não.
Como influenciadores devemos sim nos preocupar e sermos responsáveis, mas nunca sermos culpados por algum acaso não avisar determinado gatilho, até porque eles podem variar de pessoa para pessoa.
Beijo!
www.amorpelaspaginas.com