Resenha: Os Bons Segredos #MulheresdaLiteratura - Queria Estar Lendo

Resenha: Os Bons Segredos #MulheresdaLiteratura

Publicado em 21 de mar. de 2017


Os Bons Segredos foi meu primeiro livro da Sara Dessen. Conhecia pouco da autora, sabia apenas que ela existia porque uma amiga muito querida leu um livro dela e adorou. Sendo assim, quando tive a oportunidade de ler uma de suas obras não pensei duas vezes e me joguei.

Sinopse: Há segredos muito bons para serem guardados — e livros muito bons para serem esquecidos. Sydney sempre viveu à sombra do irmão mais velho, o queridinho da família. Até que ele causa um acidente por dirigir bêbado, deixando um garoto paraplégico, e vai parar na prisão. Sem a referência do irmão, a garota muda de escola e passa a questionar seu papel dentro da família e no mundo. Então ela conhece os Chatham. Inserida no círculo caótico e acolhedor dessa família, Sydney pela primeira vez encontra pessoas que finalmente parecem enxergá-la de verdade. Com uma série de personagens inesquecíveis e descrições gastronômicas de dar água na boca, Os bons segredos conta a história de uma garota que tenta encontrar seu lugar no mundo e acaba descobrindo a amizade, o amor e uma nova família no caminho. 
De acordo com a própria orelha do livro Os Bons Segredos, Sara Dessen é um dos maiores destaques da literatura jovem adulta contemporânea e autora de 12 livros que juntos venderam mais de 7 milhões de exemplares. Óbvio que com um currículo desses fiquei com as expectativas nas alturas para encarar esse livro, algo que geralmente mais me atrapalha do que ajuda a gostar de uma obra.

Os Bons Segredos começa como todo bom YA: Sydney é uma adolescente que está passando por um grande drama familiar. Seu irmão mais velho, Peyton, o menino dos olhos da mãe, se envolveu em um acidente de trânsito ao dirigir alcoolizado o que culminou no atropelamento de um garoto, deixando-o paraplégico. Peyton é considerado culpado - contra fatos não há argumentos - e é preso, mas isso não é suficiente para que seus pais aceitem sua responsabilidade no ocorrido. A mãe de Sydney parece encarar o tempo de Peyton na prisão como um interlúdio, jamais admitindo a culpa do filho no acidente e fazendo de tudo para continuar a vida da mesma maneira de antes.  

Sydney, por outro lado, parece ser a única da família a sentir a culpa pelo acidente do irmão e por isso não consegue se conectar com os pais. Durante toda sua vida, Sydney ficou na sombra do irmão, sendo ofuscada por sua personalidade vibrante e extrovertida, o que não muda quando Peyton vai preso. Todos os esforços de seus pais continuam sendo direcionados para o irmão, mesmo que Sydney sempre tenha sido a filha "modelo" e que não se mete em encrencas. Nesse cenário solitário, Sydney, após o final de um dia de colégio, decide entrar em uma pizzaria que até então desconhecia e lá esbarra na família Chatham, dona do lugar.

A cada instante, havia infinitas chances de caminhos se cruzarem e vidas se chocarem, se unirem ou algo do tipo. Era incrível que fôssemos capazes de viver sabendo que tudo podia ocorrer por puro acaso. Mas qual era a alternativa?
Primeiro entra Mac, o garoto que a anota seu pedido. Depois, Layla, a esfuziante filha do meio dos Chatham. Layla é tudo o que Sydney não é: extrovertida, divertida e aparentemente bem resolvida com a vida. Sem muitos rodeios, Layla diz aquilo que tem pra dizer, doa a quem doer. A amizade entre as duas floresce de maneira inesperada, e estar imersa na família Chatham era o que Sydney precisava para se encontrar. Essa família, até então desconhecida, acaba se transformando no porto seguro de Sydney, com suas pizzas, reuniões barulhentas e a casa sempre cheia de gente. De seu mundo sempre vazio, frio e solitário, Sydney aprende aos poucos a deixar suas barreiras caírem, a deixar Layla e Mac se aproximarem.

Sentia que minha própria vida era entediante e triste na maior parte do tempo, então de certa forma era reconfortante mergulhar na vida de outra pessoa.
Embora o livro não tenha nenhum grande mistério ou reviravolta na trama, é uma leitura agradável. Sara Dessen sabe conduzir a narrativa de maneira a sempre te fazer virar mais uma página - mesmo quando você está morrendo de sono - só para poder acompanhar aqueles personagens um pouquinho mais. Sydney, enquanto protagonista, não é muito interessante ou diferente, mas os personagens que a rodeiam fazem a trama girar. Toda a família Chatham, com sua pizzaria e confusões, coloca um pouco de cor não somente na vida de Sydney mas como em Os Bons Segredos como um todo. Por ser uma personagem bastante introspectiva, Sydney vive muito dentro de sua cabeça - o que pode ser um pouco chato de acompanhar (e digo isso como uma pessoa introspectiva, notem) - e vê-la se conectar com os Chatham e sair de seu casulo realmente vale a pena.

Apesar do desenrolar fraco da história, Sara Dessen consegue tratar de temas como superação e amadurecimento, coisas tão próprias da adolescência, com delicadeza. Essa fase da vida, tão cheia de altos e baixos, é um dos momentos mais difíceis da nossa existência, principalmente com todas as mudanças pelas quais passamos, a sensação de não pertencimento e inadequação que por vezes nos persegue. É isso o Sydney sente na maior parte do tempo, principalmente devido a toda a questão de seu irmão e o fato de que seus pais não parecem conseguir encarar a situação da prisão com a seriedade necessária.

O mais surpreendente não era o choro em si, mas o fato de eu ter chorado na frente de outras pessoas. Na verdade, só desabamos diante de quem sabemos que podem nos reconstruir.
Mesmo que eu tenha lido Os Bons Segredos em questão de dois dias, a história, de maneira geral, deixou a desejar. Enquanto Mac, Layla e os Chatham são personagens interessantes - ainda que pouco desenvolvidos - e faça o interesse na trama aumentar, o mesmo não pode ser dito sobre Sydney. Salvo toda a situação com o irmão e os pais, e sua evidente introspecção, a protagonista me deixou irritada por inúmeros momentos, principalmente por se manter calada em situações que exigiam ação. Claro que não posso obrigar uma pessoa a agir da maneira como eu agiria em certas ocasiões, mas sua passividade e letargia exageradas me deixavam angustiada. 

Não posso negar: Sara Dessen escreve muito bem e trata de temas difíceis com delicadeza, mas toda a trama de Os Bons Segredos poderia ter sido melhor trabalhada e desenvolvida. A sensação que fica, ao virar as últimas páginas, é que faltou alguma coisa que tornasse o livro memorável. Os Bons Segredos é ok para passar o tempo, esvaziar a mente. Dá pra suspirar um pouquinho com o romance juvenil que surge, e até rir com as loucuras de Layla ou da banda de Mac, porém, no geral, poderia ter sido mais.

Título original: Saint Anything
Autora: Sarah Dessen
Editora: Seguinte
Gênero: Juvenil
Nota: 4 

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