O Diário de Nisha, de Veera Hiranandani publicado por aqui pela editora DarkSide Books - que nos cedeu um exemplar para a resenha - conta uma história bastante atual sobre encontrar seu lugar em um mundo dividido pela guerra.
Sinopse: Nisha não é de falar muito. Quietinha e reservada, prefere observar as pessoas ao seu redor e anotar os detalhes do cotidiano em seu diário, onde pode ser ela mesma. E ser ela mesma não é nada fácil no epicentro da Partição da Índia, que, após séculos de tensão religiosa, atinge seu ápice criando dois estados independentes do governo britânico: a Índia (maioria hindu) e o Paquistão (maioria muçulmana). Parte hindu e parte muçulmana, Nisha não sabe muito bem a qual lugar pertence, e não entende os desdobramentos políticos deste momento tão crucial da história. Por que hindus e muçulmanos estão brigando tanto entre si? Por que milhares de pessoas precisam abandonar seus lares? E por que tantas acabam morrendo ao atravessar as fronteiras? Com as tensões criadas pela separação, o pai de Nisha decide que é perigoso demais para eles permanecerem no lugar que, agora, se tornou o Paquistão. É neste cenário turbulento que Nisha e sua família — o irmão Amil, a avó e o pai — embarcam no primeiro trem, rumo a um novo lar.
Nisha começa seu diário no dia do seu aniversário de 12 anos, escrevendo para sua mãe - morta quando ela e o irmão gêmeo nasceram. A garota indiana, filha de pai hindu e mãe muçulmana, leva uma vida calada, porém feliz. Nisha não fala muito - acha bem mais fácil escrever, porque pode apagar suas palavras se não saírem como gostaria - mas ama ir a escola, brincar com o irmão Amil e cozinhar com Kazi - o cozinheiro da família.
Até o dia em que ela descobre que a Índia está se libertando da Inglaterra, tornando-se um país independente. Mas o que deveria ser motivo para alegria, traz mais preocupações para a família da garota. Isso porque o ano é 1947, e junto da emancipação, a Índia acaba dividida em dois países: a Índia dos hindus e sikhs, e o Paquistão dos muçulmanos.
A verdade mais verdadeira é que não conheço outras crianças cujos pais tenham religiões diferentes. Deve ser uma coisa estranha sobre a qual ninguém quer falar. Acho que somos hindus porque papai e dadi são. Mas você ainda é parte de mim, mamãe. Para onde vai essa parte?
E a cidade onde Nisha mora, agora, com a família, faz parte do novo país, Paquistão.
Com a segurança da família ameaçada, a jovem garota precisa abandonar tudo que já amou - inclusive Kazi, uma vez que ele é muçulmano - e embarcar em uma perigosa jornada ao lado do pai, do irmão e da avó para cruzar a fronteira e encontrar a segurança.
O Diário de Nisha é uma história muito tocante e, infelizmente, ainda tão atual. Veera Hiranandani se inspirou na travessia feita pelo seu pai e a família dele na mesma época, e na dualidade de viver duas culturas tão diferentes - ela é filha de mãe judia e pai hindu - para contar a delicada história de Nisha.
Por favor, lembrem-se de nós. Lembrem-se de como era quando a Índia ainda era uma só.
Confusa com os motivos que a obrigam a abandonar seu lar e as pessoas que ama, Nisha se vê obrigada a deixar a inocência da infância para trás e encarar a realidade do mundo, onde as pessoas são separadas por conta da religião, sem importar os laços de amor.
Constantemente Nisha se pergunta a razão dessa divisão, sendo que antes sua família vivia de forma harmoniosa ao lado de muçulmanos e sikhs na cidade. Além de não entender porque ser metade muçulmana e metade hindu seria uma coisa ruim.
Foi uma leitura bastante emotiva, que eu não estava esperando, para ser sincera. O Diário de Nisha me tocou como O Menino do Pijama Listrado já tinha feito, porque conta sua história pelo ponto de vista de uma criança que tenta fazer sentido com o que vê, o que sente e o pouco que os adultos lhes contam. O que acaba trazendo uma verdade e honestidade emocionante para o texto.
A meu ver, O Diário de Nisha é uma história atemporal, por lidar com o preconceito, a dificuldade em aceitar a diversidade, e as barreiras que surgem quando religião e política se cruzam. Um verdadeiro testemunho sobre a crueldade da guerra e paradoxo da liberdade.
Vocês não podem nos separar. Não podem apartar o amor.
Ao mesmo tempo em que Nisha vê seu povo libertando-se do domínio inglês, essa liberdade vem a um alto preço: a separação dos países, de famílias, a eclosão na tensão secular entre grupos religiosos diferente e, por fim, a matança que acabou com mais de catorze milhões de pessoas foram mortas.
O Diário de Nisha foi uma leitura rápida, fluida e surpreendente. Uma imersão em uma cultura diferente, em um conflito que pouco eu conhecia, e uma viagem contínua, página após páginas. Uma leitura que eu definitivamente recomendo.
Título original: The Night Diary
Autora: Veera Hiranandani
Tradutor: Débora Isidoro
Editora: DarkSide Books
Gênero: Ficção infanto-juvenil
Nota: 5
SKOOB
Oie
ResponderExcluirEsse livro está na minha lista de compra. Parece ser uma história incrível. Quero muito ler.
Beijinhos
https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com
Oie Bianca.
ResponderExcluirAinda não sabia muito sobre esse livro.Gostei da sinopse e pela comparação com "O menino do pijama listrado" já dá para perceber que mexe bastante com a gente.
Gostei da indicação
Beijos
Meu mundinho quase perfeito