Resenha: Fale! - Queria Estar Lendo

Resenha: Fale!

Publicado em 26 de jul. de 2016

Resenha: Fale!

Eu pensei muito antes de começar essa resenha de Fale! simplesmente porque ele se tornou rapidamente um dos meus livros favoritos. 

Sinopse: “Fale sobre você... Queremos saber o que tem a dizer.” Desde o primeiro momento, quando começou a estudar no colégio Merryweather, Melinda sabia que isso não passava de uma mentira deslavada, uma típica farsa encenada para os calouros. Os poucos amigos que tinha, ela perdeu ou vai perder, acabou isolada e jogada para escanteio. O que não é de admirar, afinal, a garota ligou para a polícia, destruiu a tradicional festinha que os veteranos promovem para comemorar a chegada das férias e, de quebra, mandou vários colegas para a cadeia. E agora ninguém mais quer saber dela, nem ao menos lhe dirigem a palavra (insultos e deboches, sim) ou lhe dedicam alguns minutos de atenção, com duvidosas exceções. Com o passar dos dias, Melinda vai murchando como uma planta sem água e emudece. Está tão só e tão fragilizada que não tem mais forças para reagir.Finalmente encontra abrigo nas aulas de arte, e será por meio de seu projeto artístico que tentará retomar a vida e enfrentar seus demônios: o que, de fato, ocorreu naquela maldita festa?Um romance de estreia extraordinário; uma obra-prima vencedora (e finalista) de inúmeros prêmios sobre uma jovem que opta por calar em vez de dizer a verdade. Fale! encantou tanto leitores quanto educadores, alunos e professores. Um romance transformador, corajoso, capaz de fazer refletir sobre temas fundamentais -- porém espinhosos como o bullying -- do cotidiano dos adolescentes.

Desde o momento em que li Garotas de Vidro, da Laurie Halse Anderson, fui tomada pelo desejo de ler Fale!, que eu sabia que já tinha sido publicado pela editora Valentina por causa do projeto Fale! contra o Abuso. Não deu outra, assim que tive a oportunidade, comprei o livro.

Que leitura maravilhosa.

O livro conta a história da Melinda Sordino, uma menina de 14 anos que acaba de entrar no ensino médio carregando uma grande culpa: ela chamou a polícia e acabou com a festa de verão de um dos veteranos do colégio.

Estou a fim de confessar tudo, de passar a culpa, o erro e a raiva para outra pessoa. Tem um monstro nas minhas entranhas, posso até ouvi-lo arranhando minhas costelas.
Hostilizada pelos colegas, abandonada pelas melhores amigas e com a culpa tomando proporções gigantescas, Melinda se perde dentro de si mesma. Perde a voz, a vontade de continua a seguir em frente, a capacidade de se defender. O livro segue o primeiro ano de Melinda e podemos ver o quão rapidamente ela emudece, como seu relacionamento consigo mesma se deteriora, como a depressão e a culpa tomam conta de seus pensamentos, e como ela precisa aprender a se impor e a defender a si mesma.


Resenha: Fale!

Angustiante é a palavra-chave aqui, porque o leitor sabe exatamente o que aconteceu com Melinda, o que fez com que ela chamasse a polícia naquela festa. Nós sabemos exatamente porque ela evita o Troço nos corredores do colégio e porque ela precisa de um canto só dela. Porque ela está indo mal na escola, porque ela está faltando às aulas, porque ela não está falando e porque as aulas de artes são seu único refúgio.

Desde o momento em que você pega o livro, você sabe que Melinda foi vítima de violência sexual. Todos os indícios estão ali, mas nenhum personagem no livro é capaz de enxergar. E isso é angustiante.

O prof. Freeman acha que preciso encontrar os meus sentimentos. E por acaso poderia deixar de encontrá-los? Eles estão me devorando viva, como uma infestação de pensamento, vergonha, erros.
O relacionamento de Melinda com os pais é distante, eles são emocionalmente negligentes e falham em perceber as mudanças que acontecem com a filha -- o fato dela se cortar, se isolar das pessoas, parar de falar, ir mal na escola (quando era uma aluna nota A no ginásio). E Melinda queria poder falar com eles ou com Rachel, sua ex-melhor amiga, mas ela tem medo. A culpa corrói. Ela para de falar porque tem medo de abrir a boca e deixar escapar a verdade.


Resenha: Fale!

Na escola não é muito diferente, com as amigas distantes, encaixando-se em novas tribos, e os orientadores e professores pouco interessados em ajudar os alunos a passarem pelo ensino médio, ninguém percebe o grito mudo de ajuda que ela dá.

Eu sobrevivi. Estou aqui. Abalada e confusa, mas estou aqui.
Passei a maior parte do tempo segurando as lágrimas. Ver a Melinda escorregar para dentro da depressão e depois nadar para fora dela, tentando se salvar, foi uma das coisas mais marcantes que já li. Nada de romantizar violência, depressão e ansiedade. Apenas a verdade nua e crua: as dificuldades, o sentimento agonizante de não ser dona nem mesmo do próprio corpo e de estar tão doente que não vê mais ponto em viver, embora não queira morrer.

Quanto mais Melinda acredita que pode esquecer tudo, esquecer aquele dia, mais ele a afeta. É um relato tão honesto e ao mesmo tempo tão ingênuo; é tocante e emocionante e por boa parte do tempo tudo que eu quis fazer foi entrar no livro e abraçar a Melinda, que é uma representação universal das vitimas de violência sexual.


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Fale! voltou a marcar dentro de mim duas ideias primordiais:
1. Se não fosse você, seria outra pessoa. Essa violência só acontece porque o agressor decidiu agir e não por algo que a vítima fez;
e 2. Você precisa falar sobre isso. De verdade. Por mais que doa. Confie. Porque você pode até ter sido a primeira, mas o silêncio vai permitir que você não seja a última.

Eu honesta e sinceramente acho que Fale! é o tipo de livro que salva vidas, lava almas.

Mordo o lábio inferior, mantendo-o entre os dentes. Se me esforçar bastante, talvez possa me devorar inteira.
Essa edição da Editora Valentina é a tradução da edição comemorativa de 10 anos do livro -- que foi lançado pela primeira vez, nos EUA, em 1999. Além de trazer um guia para discussão em sala de aula no fim do livro -- porque ele é uma leitura paradidática nas escolas do EUA e eu, particularmente, acho que deveria ser em todo lugar -- ele também traz um poema no começo. O poema é um compilado de palavras e frases que Laurie recebeu em mensagens de leitores desde que lançou o livro. Mensagens de outros sobreviventes de violência sexual que se identificaram com a Melinda e que se sentiram confortáveis o suficiente para contar isso a autora.

Porque a Laurie tem esse poder -- que podemos testemunhar em Garotas de Vidro também -- de tratar sobre assuntos que são tabu, de tratar sobre a dor emocional e as batalhas silenciosas que as pessoas a nossa volta estão lutando sem que a gente nem se dê conta, de uma forma tão sensível e tocante, com um imenso respeito.


Resenha: Fale!

Transformador, transcendente e atemporal, acredito que Fale! deveria ser lido e discutido com todo adolescente entre a idade de 11 e 15 anos.

Mas se você já passou dessa idade, pode mergulhar nele também. O sentimento sobre o qual a Laurie fala é universal e libertador.

Título original: Speak!
Autora: Laurie Halse Anderson
Gênero: YA - sicklit (?)
Editora: Valentina
Nota: 5+

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8 comentários:

  1. Oi Bibs!

    Uma amiga leu e tb amou, de fato parece ser um livro lindíssimo, que eu ainda quero ler. As fotos ficaram lindas, parabéns!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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    1. Oi, Mi!
      O livro é maravilhoso sim, confie na sua amiga. Quando tiver uma oportunidade, leia! E obrigada <3

      bjs

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  2. Oi Bibs!
    Gostei de Garotas de Vidro também e fiquei com muita vontade de ler Fale! Gosto da forma como a autora trata esses assuntos.

    Beijos,
    Epílogos e Finais

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    1. Oi, Bianca!
      Se você curtiu Garotas de Vidro, vai amar esse! Leia assim que tiver a oportunidade. A Laurie é realmente maravilhosa para tratar de assuntos delicados.

      bjs

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  3. ooooi, tudo bem? :D
    Fui em um evento da Valentina o qual a editora falou bastante sobre este livro. Parece ser muito bom!
    Essas tramas são tão realistas e tão cheias de emoções.
    Mexe mesmo com a gente, né?

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    1. Oi, Dani!
      Mexe, e muito. Realmente me abalou e emocionou em cada página, especialmente com a ingenuidade e a simplicidade do texto. Vou guardar ele pra sempre.

      bjs

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  4. Nossa, que edição espetacular a da Valentina! Singelo e delicado, semelhante à situação frágil em que a personagem se encontra. Um livro certamente válido, principalmente pra ser divulgado nas escolas, onde esses assuntos polêmicos podem ser discutidos mais abertamente, além de sua importância. Imagino o quão devastador deva ser pro leitor acompanhar a protagonista se aprofundando na depressão por algo que não teve culpa, e todo o medo e as lembranças a invadindo. Adorei a sua resenha, transmitiu super bem o significado do livro!

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Carol!
      A edição da Valentina está linda mesmo, as informações para discussão no fim e para as denúncias, reforça MUITO a ideia de que você não está sozinha. Eu amei muito.
      Não consigo nem encontrar palavras para explicar quão importante seria ter esse livro discutido abertamente nas escolas. Tudo que é tabu hoje em dia, é porque a gente não fala sobre, porque a gente esconde, tem medo de tocar no assunto. Quanto mais discutido, mais as chances de salvarmos alguém de ser vítima de um crime desses ou deixar passar em branco.
      Fico feliz que tenha gostado da resenha <3

      bjs

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