Resenha: Corpo Estranho - Queria Estar Lendo

Resenha: Corpo Estranho

Publicado em 18 de out. de 2016

Resenha: Corpo Estranho

A resenha de hoje é de Corpo Estranho, o primeiro romance de M. T. S. Dorrenberg, lançado pela editora Empíreo nessa Bienal do Livro de São Paulo. O livro foi cedido para o blog pela editora e ficamos mais do que felizes em colocar as mãos em um sci-fi nacional, escrito por uma mulher.

Sinopse: Corpo Estranho, de M. T. S. Dörrenberg, conta a história de Mear, um ciborgue construído para atuar numa exposição em Berlim. Ao conhecer uma mulher chamada O., Mear sai em uma jornada pelo tempo e espaço em busca de respostas sobre a composição do corpo. Ele pode se transformar na figura que quiser, viajar no tempo e entender qualquer forma de comunicação. Essas habilidades têm por finalidade permitir que o ciborgue se desenvolva no mundo humano, iniciando uma geração de novos seres.

Corpo Estranho conta, essencialmente, a história de Mear, um ciborgue construído para uma uma exposição em Berlim. Porém, após conhecer a artista O., uma pessoa que usa intervenções estéticas no próprio corpo como forma de arte, Mear é instigado a ir além daquilo para o qual foi programado.

Embora seus desenvolvedores temam que ele ainda não esteja pronto para toda essa autonomia, Mear não deixa que isso o impeça de seguir em frente. Como um ciborgue, um híbrido de homem e máquina, Mear tem um cérebro humano, mas um corpo de metal que traz N possibilidades, como deslocar-se pelo tempo e espaço. Habilidade que colabora para que Corpo Estranho também conte um pouco sobre a história da arte.


Resenha: Corpo Estranho

Foi impossível não lembrar de AI - Inteligencia Artificial, O Homem Bicentenário e o livro de Bernard Beckett, Gênesis, enquanto lia Corpo Estranho. Assim como toda história que envolve homem e máquina, esse me colocou para pensar sobre a criação da vida artificial, sua autonomia e o que os difere dos seres humanos. Com essa leitura, também achei meio impossível não me questionar sobre as definições de vida e arte e as barreiras que as novas tecnologias vem quebrando cada vez mais rápido. Como tudo é tão volúvel.

Outra coisa que chamou minha atenção, foi como a autora colocou a nossa "dependência" das novas tecnologia como algo que nos transforma em ciborgues, em corpos humanos ligados intrinsecamente a tecnologia -- mesmo que por puro comodismo.

Enquanto Mear viaja pelo tempo e espaço, explorando e refletindo sobre a existência humana, ele se depara com diversos artistas consagrados como Leonardo da Vinci e Goya, que posam como instrutores para o ciborgue. Além dos artistas, ele também pode se comunicar com icônicas obras de arte como o busto de Nefertiti e a Vênus de Willendorf -- aquela estatua do período paleolítico que mostra o ideal feminino de cerca de 22 mil anos atrás -- e, também, a versão digital de Gollum, do Senhor dos Anéis. E esses encontros proporcionam ao leitor um conhecimento mais aprofundado de figuras de grande destaque do passado da arte humana e a quebrar alguns conceitos atuais sobre o que é arte. 

Afinal, tecnologia é arte? Por que não seria? 


Resenha: Corpo Estranho

A diagramação também marcou um momento único para o livro. Ao invés de seguir um padrão Prólogo + Capítulo 1 [...], o livro tem um começo diferente. Inicia por uma festa em homenagem a Mear, e então o prólogo explicando um pouco a origem de Mear e a Introdução, que mostra um pouco do fim de toda a história de autodescobrimento do ciborgue. E vamos nem falar dessa capa maravilhosa que destaca de longe o gênero da leitura.

Achei Corpo Estranho um livro inteligentíssimo, com uma proposta diferente daquelas que estamos acostumados a encontrar no mercado. MTS Dorrenberg é doutora em Comunicação e Semiótica e Pesquisadora do corpo na arte, nas mídias e nas tecnologias humanas e, enquanto lia, senti que ela conseguiu, com sucesso, transpor seu trabalho em uma narrativa atrativa as pessoas leigas no assunto.

O único revés que achei foi que, em alguns momentos e alguns diálogos, ficaram presos demais em explicar obras e artistas. E eu sei que há muito sobre eles para se falar, mas a forma como foi narrado acabou soando didático demais e quebrou um pouco o ritmo da aventura do Mear.


Resenha: Corpo Estranho

No mais, é uma obra bacana que se propõe a discutir temas como gênero, beleza, identidade, arte e o relacionamento entre máquinas e humanos, tudo isso usando a trajetória de Mear, o ciborgue curioso que descobre sobre si mesmo com a ajuda de figuras históricas e desenvolve-se até o ponto de apaixonar-se por O.

Pode ser uma leitura um pouco mais densa para quem está acostumado com coisas mais leves, mas é definitivamente uma indicação para quem quer ler algo "fora da caixa" ou da sua zona de conforto.


Resenha: Corpo Estranho

Título original: Corpo Estranho
Autora: MTS Dorrenberg
Editora: Empíreo
Gênero: Sci-fi - Romance
Nota: 3,5

Saiba Mais: Skoob  |  Submarino  |  Loja da Empíreo

3 comentários:

  1. Oi Bibs!
    Não conhecia o livro e achei a premissa interessantíssima. Gosto muito de ficção científica e das reflexões que o gênero propõe. Esse, pelo jeito, faz muito disso. E que bacana que seja um livro nacional!
    Beijos,
    alemdacontracapa.blogspot.com

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  2. Oi Bibs

    Amei a dica, não conhecia o livro, mas gosto bastante de história da arte e amo o filme A.I. Dica anotada!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  3. Achei um livro bem juvenil e esquemático, sem tensão e com várias soluções forçadas e deus ex machina, como os ilimitados e sempre convenientes poderes do ciborgue Mear. Caracterizações esterotipadas das personagens famosas. O excesso de explanações "teóricas" ao final de cada capítulo alimentando o autoconhecimento do protagonista piora a narração e torna ainda mais previsível o seu desenrolar. Talvez para um leitor novato adolescente, nos seus 12 ou 13 anos, pode chegar a instigar a procura pelos personagens fonte - como foi para mim o livro Sandra na Terra do Antes, de Fausto Wolff, que li com uns 10 anos - mas para alguém com alguma bagagem cultural mais madura vira um amontoado de trívias sobre personagens históricos. Uma pena, gostaria de ter gostado.

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