A origem do mundo – A história cultural da vagina ou A vulva vs. o patriarcado é uma HQ da sueca e ativista feminina Liv Strömquist publicada no Brasil pela Companhia das Letras, que nos cedeu um exemplar para resenha.
Sinopse: Por que as sociedades alimentaram uma relação tão esquizofrênica com a vagina ao longo dos séculos? Por que a menstruação é um tema apagado de nossa cultura quando costumava ser algo sagrado para os povos ancestrais? A origem do mundo escancara interditos e desafia mitos e tabus. Um livro genial, catártico e absolutamente necessário. Se “o pessoal é político”, como dizia o slogan da segunda onda feminista, iniciada nos anos 1960, Liv Strömquist criou um livro radical. Com humor afiado, a artista sueca expõe as mais diversas tentativas de domar, castrar e padronizar o sexo feminino ao longo da história. Dos gregos antigos a Stieg Larsson, das mulheres da Idade da Pedra a Sigmund Freud, de Jean-Paul Sartre a John Harvey Kellogg (o inventor dos sucrilhos), da fábula da bela adormecida a deusas hindus, de livros de biologia ao rapper Dogge Doggelito, A origem do mundo esquadrinha nossa cultura e vai até o epicentro da construção social do sexo. Para Liv, culpabilizar o prazer é um dos mais efetivos instrumentos de dominação — graças à culpa, a maçã é venenosa e o paraíso mantém seus portões fechados. Uma crítica hilária, libertadora e instrutiva sobre o sexo feminino.
Com uma característica feminista bem presente, o livro se
propõe a discutir a vagina e como ela é abordada na sociedade. A começar pelo
seu nome, que cientificamente é inadequado, já que a vagina é na verdade o
canal interno que faz parte do sistema reprodutor feminino, e não ele como um
todo. Pelo correto, quando nos referimos a parte exterior do órgão feminino,
deveríamos chama-lo de vulva. Mas não é isso que aprendemos, mesmo em livros
escolares.
Essa é apenas uma pequena ponta do iceberg que notamos quando decidimos falar sobre o sexo feminino, a ineptidão de retratá-lo. Seja pela forma incorreta de chama-lo, por sua ausência na representação gráfica ou até mesmo pela maneira com que nos negamos a discutir sobre ele. Aliás, sobre ela. Sobre a vulva.
Essa é apenas uma pequena ponta do iceberg que notamos quando decidimos falar sobre o sexo feminino, a ineptidão de retratá-lo. Seja pela forma incorreta de chama-lo, por sua ausência na representação gráfica ou até mesmo pela maneira com que nos negamos a discutir sobre ele. Aliás, sobre ela. Sobre a vulva.
Mas o que hoje é um grande tabu e motivo de repúdio, já
foi de interesse de muitos. E é claro que da maneira mais distorcida possível,
dentre as pessoas que poderiam vir a serem interessadas – muitas vezes até
demais – na vulva, obviamente esse papel cabia aos homens. Pois que desgraça
seria se as mulheres se interessassem – ou tocassem?! Que absurdo! – pelo seu
próprio sistema reprodutor, não é mesmo? Foram os homens que estudaram a vulva
e suas particularidades, e em muitos casos cometeram atrocidades em nome dos
seus estudos.
Não é uma surpresa que a maneira como reagimos como sociedade – principalmente nós, mulheres – em relação ao sistema reprodutor feminino seja tão complexa e deturpada. Em pleno sexo XXI os homens ainda desconhecem a existência do clitóris, ou sua localização e até mesmo sua extensão e função. O mais bizarro disso? Até pouco tempo atrás, nem mesmo os médicos compreendiam o tamanho do clitóris. Por que seria isso? Por que um órgão tão importante para o prazer feminino poderia ser tão pouco estudado e compreendido pela própria medicina? Talvez porque o prazer feminino nunca foi relevante em nossa sociedade.
Mas esqueçam o prazer feminino – os homens com certeza já
esqueceram! -, vamos falar de algo ainda mais arbitrário: a forma como nós
renegamos nossa vulva/vagina. As mulheres possuem muitos complexos em relação
ao seu corpo de um modo geral, pois somos nós que sofremos com padrões
estéticos impostos e pelos quais somos cobradas desde nosso nascimento (pobres
bebês recém-nascidas que já precisam ter suas orelhas furadas em nome da
estética). Tanto o homem fez, ao longo da história da humanidade, que conseguiu
fazer com que as mulheres sentissem aversão a sua vulva/vagina.
Enquanto o homem é extremamente apegado ao seu pênis e
acha que o mundo gira em torno dele – e aqui eu gostaria de mandar um grande
“vai a merda” a Freud e sua “inveja do pênis” -, a mulher desconhece sua vulva
e tem nojo da mesma. O pênis é um troféu, mas a vulva a algo do que se
envergonhar. O sexo da mulher é e sempre foi ligado a algo sujo, pecaminoso e
nojento. Mas o pênis, que serve para as mesmas funções escatológicas, não é
visto dessa forma. Para além dessa questão social, a vulva agora tem sido
motivo de desgostos femininos quanto a seu formato e tamanho. O número de
cirurgias plásticas para diminuir o tamanho dos lábios vaginais não para de
aumentar.
E aqui eu faço um adendo, rapidamente, apenas para
refletirmos sobre como o homem precisa ser forte, musculoso e viril. Enquanto a
mulher deve ser frágil, dócil e inocente. O pênis deve ser grande, grosso e
imponente. E a vulva pequena e delicada. Reforçando o estereótipo do homem
invasor e da mulher vítima. Ativo e passivo. O possuidor e o ao ser possuído. O
pênis e o buraco.
São essas reflexões que nos fazem enxergar nossos corpos
e a sociedade como um todo por um ângulo totalmente novo e muito mais complexo.
Nada é por acaso. A forma como vivemos e nos comportamos hoje não é
coincidência, tudo faz parte de uma junção de fatores e de escolhas que não
foram feitas por nós (pessoas dos dias atuais), mas que principalmente não
foram feitas por ou para as mulheres.
Quando um bando de homens brasileiros faz uma russa ficar
falando coisas como “buceta rosa”, isso não é algo nascido do além. Não é uma
coisa que eles pensaram por si só. É uma construção da sociedade e,
infelizmente, não é nova. Mas situações como essa precisam acabar, e
construções sociais se criam e se fomentam a cada dia, só é preciso querer, é
preciso fazer algo a respeito. Porque a vida não foi sempre assim, essas
construções foram criadas, a ferro e fogo e muito empenho, para que fossem
assim.
Antigamente, e eu estou falando de tempos relativos ao
primórdio da humanidade, a sociedade era muito diferente do que entendemos
hoje. A vulva, por exemplo, era algo sagrado. Afinal, era dela que nascia a
vida. As mulheres eram vistas de maneira diferenciada, relacionadas ao sagrado
e ao religioso por serem elas detentoras da vida, e uma vulva com lábios
grandes era algo a ser admirado, jamais envergonhado.
A origem do mundo nos conta, em seus quadrinhos cheios de
conteúdo e tão necessários de se ler, sobre como desde então o tempo passou e o
patriarcado foi decidindo, ano após ano, como as mulheres deviriam se sentir
sobre sua própria vulva. E como nós fomos permitindo. Mas não mais, não mais.
Título original: Kunskapens Frukt
Autora: Liv Strömquist
Editora: Quadrinhos na CIA
Gênero: HQ
Tradução: Kristin Lie Garrubo
Tradução: Kristin Lie Garrubo
Nota: 4,5
Oi, Eduarda
ResponderExcluirSoa bizarro o título mas achei muito legal o contexto da HQ, até porque a gente ainda tem tanto tabu envolvendo a vulva e a vagina, principalmente porque nosso histórico sobre a evolução do tema é péssima. E eu acho interessante citar esse apego que os homens tem ao pênis, que chega a ser ridículo, se preocupam com tamanho, grossura, e tantas outras coisas que chega ser desnecessário, e praticamente vivem em função de saber se nós gostamos, sendo que boa parte da população confunde Ponto G com clitóris, que Jesus amado, não tem nada a ver.
É um livro necessário, até porque muita mulher não se sente bem em descobrir o próprio corpo, seja por n motivos. Eu adoraria ler!
Beijo
http://www.suddenlythings.com/
Oie
ResponderExcluirNão conhecia esta HQ mas gostei bastante do assunto abordado que é pouco visto nos livros.
Beijinhos
diariodeincentivoaleitura.blogspot.com
Oi Eduarda, eu adorei o título!! E gostei do tema, o livro abordar a diferença de vagina e vulva é interessantíssimo. Discutir esses tabus nunca é demais! Adorei a indicação!
ResponderExcluirBjs, Mi
O que tem na nossa estante
Oi, Eduarda!
ResponderExcluirMenina, já quero essa HQ! Ela me lembrou muito um livro que li na época do ensino médio chamado Sexo Através dos Séculos. Esse livro tem mais a ver com a relação homem-mulher, mas tem algumas partes que falam sobre a questão do prazer feminino e famigerada vagina hahahaha
Beijos
Balaio de Babados
Oie Eduarda =)
ResponderExcluirEsse é aquela típica HQ que dá um tapa lindo na cara de nossa sociedade hipócrita.
Vivemos com vergonha de falar de sexo, menstruação e de conhecer o nosso próprio corpo pelos absurdos que crescemos ouvindo. Já quero essa HQ!
Beijos;***
Ane Reis | Blog My Dear Library.
Não é o tipo de material que costumo ler, mas parece bem divertido apesar do assunto sério =D
ResponderExcluirAdorei a resenha!
Oi Eduarda,
ResponderExcluirQue resenha maravilhosa. E a capa dessa HQ é ótima.
Adorando esses lançamentos da Cia, tenho muita vontade de ler aquele outro tb, Viva a vagina.
A edição parece estar linda e o conteúdo também.
Não deveríamos sentir vergonha do nosso corpo. O corpo feminino é uma obra de arte.
até mais,
Nana - Canto Cultzíneo
Que livro doido, começando pelo tìtulo. Gostei dos questionamentos levantados, muito relevante. Quero muito ler esse livro e em HQ deve ficar bem divertido.
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