Resenha: Água Fresca para as Flores - Valérie Perrin - Queria Estar Lendo

Resenha: Água Fresca para as Flores - Valérie Perrin

Publicado em 18 de fev. de 2023

Resenha: Água Fresca para as Flores - Valérie Perrin

Água Fresca para as Flores foi o sexto livro da minha jornada por 12 países em 12 no ano passado. A história de Valérie Perrin, da França, é sobre a vida e a morte. Sobre o luto, e as fases dele. E sobre umas coisinhas incômodas e crescentes. Hoje a resenha é para falar sobre essa história.

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Violette Touissant mora em um cemitério. Ela é a zeladora. Responsável por cuidar das lápides, por vender flores a quem procura. E por oferecer um espaço em sua casa para aqueles que querem conversar, confidenciar coisas ou simplesmente sofrer pela perda.

A perda é uma velha amiga na vida de Violette. Ela conheceu muito da dor durante sua vida. Escolheu a solidão desse emprego porque se sentia bem ali. Durante o desenrolar da história, vamos conhecer seu passado, seu presente e as histórias que se entrelaçam à sua, ali, em meio aos fantasmas.

Água Fresca para as Flores não foi nada do que eu estava esperando. E eu digo isso positiva e negativamente O livro de Valérie Perrin tem uma estrutura curiosa. Ele vai de drama para suspense de maneira inesperada. Intercala narrativa presente a passados diferentes. Vai até mesmo para um diário, uma vez que apresenta a personagem que se confidencia através dele.

É melhor chorar por você 
do que nunca ter te conhecido.

No entanto, do começo ao fim, essa é uma história de luto. Sobre a dor da perda, das lembranças que ficam para sempre. A superação que acontece gradativamente. Aquela dor fantasma que permanece, mesmo depois de tanto tempo. Água Fresca para as Flores é um livro estranho. Triste e feliz.

A vida de Violette Touissant é de uma rotina em partes repetitiva, em partes surpreendente. Apesar da monotonia do cemitério, ela nunca está realmente sozinha. Tem quem visite os túmulos sempre. Tem aqueles que aparecem de vez em quando. Aqueles que estão sofrendo durante os enterros, ou que procuram consolo numa conversa durante as visitas. Violette está ali para tudo.

A casinha com a sua horta, suas flores e sua solidão é seu lar. Quando conhecemos sua história, entendemos aos poucos porque ela se tornou essa mulher solitária.

Resenha: Água Fresca para as Flores - Valérie Perrin

A beleza de Água Fresca para as Flores está justamente na surpresa. Eu não sabia o que esperar da trama, e a surpresa me conquistou. A sinopse fala um pouco, e entrega um pouco demais, na minha opinião. O importante a saber sobre esse livro é que ele vai falar sobre a vida e a morte e o que há entre elas.

Com uma narrativa em partes poética, em partes direta, a autora tece histórias entrelaçadas por ironias do destino. Fala sobre a tragédia da perda, sobre a dor do luto, sobre a vontade de viver e não apenas sobreviver. Tem, inclusive, espaço para uma reviravolta envolvendo o próprio gênero do livro. Não apenas um drama, ele também tem alguns traços de suspense. Uma coisa que acontece lá na metade da história move essa reviravolta.

A saudade, a dor e o insuportável podem nos fazer ressuscitar e sentir coisas que superam a imaginação.

As tramas paralelas foram boas. De novo, prefiro não comentar muito a respeito, porque a graça está justamente no inesperado. Conforme essas histórias secundárias aparecem, elas se entrelaçam à principal e formam uma rede instigante.

Um detalhe sobre ela que não me agradou, no entanto, foi o quanto a personagem pareceu estagnada. Não na questão do luto, mas do desenvolvimento em todos aqueles anos - e na história. Valérie não escreve uma história de superação. Na verdade, prende sua protagonista a uma dependência emocional de servidão e de existir para outras pessoas a partir do momento em que ela encontra alguém para "seguir em frente". Nunca é por ela.

Em relação a outro plot secundário, detestei. O "romance impossível" proposto ali foi ridículo. Envolvia traição, e mais me causou desgosto do que angústia pelo drama. Um dos lados desse romance, aliás, era ridiculamente babaca, então eu só queria pular todas as partes deles.

Uma coisa sobre os homens desse livro, aliás, é a babaquice. Não tem um grama de empatia ou sentimento bom em qualquer personagem masculino. O único que não é realmente babaca acaba não oferecendo grandes coisas para a trama ou para a personagem com quem ele se relaciona, o que torna toda a questão do romance insossa e fraca. Não traz emoção.

Resenha: Água Fresca para as Flores - Valérie Perrin

Minha edição é do Intrínsecos, mas a tradução de Carolina Selvatici, que foi para a versão final, é excelente. Todo o trabalho gráfico e de diagramação estão ótimos também.

Ninguém nunca nos diz que podemos morrer de tantas vezes que nos sentimos chegar ao nosso limite.

Água Fresca para as Flores fala sobre o luto de maneira nua e crua. Expõe as partes mais dolorosas dele. Mas também mostra que elas se anuviam. Que as lembranças boas fazem com que elas se silenciem. Uma pena que escorregue em romances xoxos e personagens planos no meio do caminho.

Sinopse: Os dias de Violette Toussaint são marcados por confidências. Para aqueles que vão prestar homenagens aos entes queridos, a casa da zeladora do cemitério funciona também como um abrigo diante da perda, um lugar em que memórias, risadas e lágrimas se misturam a xícaras de café ou taças de vinho. Com a pequena equipe de coveiros e o padre da região, Violette forma uma família peculiar. Mas como ela chegou a esse mundo onde o trágico e o excêntrico se combinam? Com quase cinquenta anos, a zeladora coleciona fantasmas ― uma infância conturbada, um marido desaparecido e feridas ainda mais profundas ―, mas encontra conforto entre os rituais e as flores de seu cemitério. Sua rotina é interrompida, no entanto, pela chegada de Julien Seul, um homem que insiste em deixar as cinzas da mãe no túmulo de um completo desconhecido. Logo fica claro que essa atitude estranha está ligada ao passado difícil de Violette, e esse encontro promete desenterrar sentimentos há muito esquecidos. À medida que os laços entre os vivos e os mortos são expostos, acompanhamos a história dessa mulher que acredita de forma obstinada na felicidade, mesmo após tantas provações. Com sua comovente e poética ode ao cotidiano, Água fresca para as flores é um relato íntimo e atemporal sobre a capacidade de redenção do amor.

Título original: Changer l'eau des fleurs
Autora: Valérie Perrin
Editora: Intrínseca
Tradução: Carolina Selvatici
Gênero: Ficção
Nota: 3


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