Skeeter #6: Sobre Críticas Construtivas - Queria Estar Lendo

Skeeter #6: Sobre Críticas Construtivas

Publicado em 29 de out. de 2019


Sabe, uma coisa que eu vejo muito hoje em dia, especialmente vindo de autores independentes e de seus fieis leitores, é essa ideia de que se alguém vai resenhar negativamente um livro, precisa ser com uma "críticas construtiva". 

E por "crítica construtiva" eu quero dizer que: exigem que, em vez de falar "não gostei por motivo X", esperam que a pessoa diga como melhorar o que não gostou na história.

E eu meio que não entendo isso? 

Inclusive eu queria discutir três pontos aqui sobre essa ideia de "críticas construtivas":


Skeeter #6: Sobre Críticas Construtivas


Primeiro ponto sobre críticas construtivas

Não vejo resenhas como algo feito para o autor. Elas são escritas por leitores para outros leitores - não para massagear e elevar o ego dos autores, ou ajudar eles a se desenvolverem. 

Se você curtiu muito o livro e fez uma resenha positiva e legal, é claro que você pode marcar o autor e dividir com ele - é sempre muito gostoso.

Porém, isso não vai mudar o fato de que a resenha não está aí para orientar o autor. Uma resenha não é uma revisão em que os leitores apontam tudo que poderia ser melhorado e repassam ao autor - até porque, depois de publicado, é muito difícil o livro passar por uma reescrita. 

No máximo uma nova revisão.

Por tudo isso eu acho muito interessante quando os autores cobram de resenhas negativas, que elas sejam "construtivas" - o que, pra mim, é só outra forma de dizer "se você não tem nada bom a dizer, não diga nada", o que não se aplica a resenha de livros.

Como já falei, um leitor resenha para que outro leitor tenha uma ideia geral do livro e possa avaliar se ele é o que está procurando no momento, se não aborda algo com o qual não estamos confortáveis, e até mesmo para dar aquela empolgada - ou desistir de vez - de algum livro encalhado na estante.

E é por isso que eu vejo tanto as resenhas positivas quanto as negativas como extremamente importantes para os leitores. O que me leva ao próximo item.



Skeeter #6: Sobre Críticas Construtivas


Segundo ponto sobre críticas construtivas

Ter liberdade para expressar sua experiência negativas com uma leitura, no entanto, não quer dizer carta branca para xingar o autor ou coisa do tipo. Resenha não serve para denegrir autor, e sim para avaliar a obra em questão. 

Por isso, se o leitor não gostou do livro, é direito dele falar isso e não recomendar com base em seus argumentos. Especialmente já que o nosso gosto literário é muito particular e subjetivo.

O que eu achei péssimo, outra pessoa pode achar maravilhoso. E isso não quer dizer que eu estou errada e ela certa - ou vice-versa. 

Além disso, cobrar uma "resenha construtiva" do leitor, que indique quais melhorias no livro  podem ser feitas, não faz sentido. A maior parte das pessoas nem saberia dizer como o autor poderia fazer melhor, só vai saber dizer que não gostou. 

A maioria das pessoas não tem noção de técnicas de escrita, criação e desenvolvimento e personagem, de cena, de arco. E não é obrigação delas saber. 

Se o autor quer alguém que lhe diga como melhorar sua história o ideal é pagar um revisor, um editor, um preparador de texto, né? Leitor vai avaliar a experiência de leitura, os sentimentos que teve com ela.

E se essa experiência foi negativa, é o que nós, como leitores, temos a dizer. Se eu não gostei de um romance porque achei ele abusivo, é isso que eu vou falar na resenha. E, se por acaso o autor acabar vendo essa resenha, sinto muito - de verdade, porque sei que dói - mas não foi para ele que eu resenhei a história.

E assim chegamos ao último ponto que eu gostaria de discutir.


Skeeter #6: Sobre Críticas Construtivas

Terceiro ponto sobre críticas construtivas

Muito dificilmente o leitor fez uma resenha negativa porque quer acabar com a carreira do autor ou pelo simples prazer de falar mal do que leu. E a ideia de que toda crítica negativa precisa ser "construtiva" parece querer dizer: se você não sabe fazer melhor, então não fale nada.

E não é verdade.

Você não precisa saber - ou querer - escrever um livro para poder criticar um. Experiências de leitura são únicas e compartilhar elas é a forma que a nossa comunidade encontrou para interagir.

Mas acredito que o maior problema que vem dessa ideia de "crítica construtiva" é que muita gente se sente na liberdade - e dever - de arrumar briga e perseguir leitores cujas opiniões não foram "construtivas" ou positivas o suficiente.

Além de demonstrar uma característica péssima da pessoa - eu, particularmente, não leio autores que ficam arrumando briga com leitores e blogueiros por conta de resenhas - ainda demonstra uma falta de profissionalismo bem grande.

É importante estar ciente do nosso poder. De que hoje temos plataformas gigantes - como o Youtube, Instagram, Skoob - que mudam a forma como consumimos as coisas e facilitam muito na hora de difundir nossas opiniões e formar comunidades, criar autoridades.

É importante pensar nas palavras que usamos e avaliar bem nossa experiência de leitura antes de opinar na internet. Em uma época de influencers digitais, a nossa opinião pode significar muito para alguém e, por isso, a forma como nos expressamos é importante. Usar as palavras certas e comunicar nossas ideias de forma clara é indispensável.

Mas, novamente, isso não quer dizer que estamos proibidos de dizer "não gostei desse livro". A sensibilidade é tão importante quanto a honestidade, e dá para fazer os dois sem ofender ninguém, e sem exigir um trabalho que não cabe aos leitores.

Mais do que "resenhas construtivas" precisamos de respeito. Resenhas negativas não são feitas por pessoas insensíveis para desanimar autores, acabar com carreiras ou porque alguém "não leu direito". São uma expressão válida. E nem por isso deixam de ser construtivas.

No fim, acho que é só isso que tenho para reforçar mesmo: resenhas não foram feitas para autores. E as opiniões construtivas que eles precisam para desenvolver-se como escritores devem vir de outros profissionais do livro, não de leitores.


5 comentários:

  1. Ótimo post!
    Essa semana mesmo, tinha uma autora que achou ruim uma resenha negativa, e uma galerinha (amigos da autora, não sei) começaram a atacar a blogueira que fez a resenha, ficou sabendo? Pois é, concordo pleplenamente com você, já cheguei a ouvir de uma autora nacional "que a literatura nacional não vai pra frente, porque tem blogueiro que crítica" e se for pra fazer crítica negativa de livro nacional, é melhor não fazer. Olha, eu sou assim como você, fujo de autores assim, e expresso minha opinião sim, já que criei um blog/insta literário pra isso. Claro que sem ofender o autor, afinal ele também é um ser humano, dedicou seu tempo a uma obra. Mas isso naonão significa que devo mentir para meus seguidores, dizendo que amei uma obra que não gostei.

    Bjs!

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  2. Oi, Bibs!
    Super adorei suas ponderações. Eu sou daquelas que vai atrás de mais resenha negativa do que positiva, pra ver se os pontos que desagradaram a pessoa podem me desagradar. Quase sempre é 100% certeza.
    E eu não tenho problemas com resenhas negativas. Como você disse, a resenha é pro leitor, então sorry not sorry. Se eu não passo pano para autores que gosto (sim Kristoff e Contreras, eu estou falando de vocês), quem dirá para aqueles que logo na primeira experiência foi tudo péssimo.
    Beijos
    Balaio de Babados

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  3. Oi Bibs, tudo bem? Eu concordo com vc, mas acho também que tem um pessoal que gosta de usar termos como "lixo" que na minha opinião como leitora não são agradáveis, a pessoa está mais preocupada em detonar do que me explicar porque não gostou. Mas liberdade de expressão acima de tudo!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  4. Oi, Bibs!
    Concordo com você e acho que tem gente errada dos dois lados. Existem escritores que cobram, brigam e até pedem pra retirar a resenha negativa do ar, mas também existem blogueiros que perdem a mão quando falam mal do livro. Precisa existir o bom senso dos dois lados, né?
    Eu não deixo de escrever resenhas negativas, mas tento fazer isso com tato. Eu mostro os pontos que achei positivos, explico os motivos de não ter gostado sem ofender o autor. Principalmente quando estamos falando de autor brasileiro, né? Que as chances de passarem pelo blog são bem maiores.
    O importante é ser sincero nas resenhas, sem perder a educação.
    Beijinhos,

    Galáxia dos Desejos

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  5. Uhul. Arrasou no post. Temos o direito de não gostar de alguma história e falar sobre isso. Eu tento sempre ressaltar tudo de positivo que o livro possui, mas isso não quer dizer que eu não vá citar os pontos que, a meu ver, poderiam ser diferentes, coisas que não gostei. Como você disse, escrevemos resenhas para outros leitores, não para os autores.

    Vidas em Preto e Branco

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