A Segunda Guerra Mundial - ou Segunda Grande Guerra,
termo que eu prefiro, já que não envolveram todos os países - já foi contada
por diversos livros históricos, romances, mas eu nunca havia pensado que em
geral os aspectos contados não consideram uma ótica feminina real. E é isso que
a escritora bielorrussa, Svetlana Aleksiévitch, se propõe a fazer em A Guerra não tem Rosto de Mulher.
Sinopse: A história das guerras costuma ser contada sob o ponto de vista masculino: soldados e generais, algozes e libertadores. Trata-se, porém, de um equívoco e de uma injustiça. Se em muitos conflitos as mulheres ficaram na retaguarda, em outros estiveram na linha de frente. É esse capítulo de bravura feminina que Svetlana Aleksiévitch reconstrói neste livro absolutamente apaixonante e forte. Quase um milhão de mulheres lutaram no Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, mas a sua história nunca foi contada. Svetlana Alexiévitch deixa que as vozes dessas mulheres ressoem de forma angustiante e arrebatadora, em memórias que evocam frio, fome, violência sexual e a sombra onipresente da morte.
O livro foi publicado em sua versão original, russo, no ano de 1985 e só em 2016 a Companhia das Letras publicou a versão em português. Suas 352 páginas recolhem e remontam o cenário vivido por diversas sobreviventes de um dos períodos mais obscuros da história da humanidade.
É impressionante como desde o começo o livro me fez
questionar que as visões da guerra, o sentimento vivido. Os filmes
a que assistimos e que remontam guerra, qualquer uma que seja, em geral mostram
um aspecto extremamente masculino, um forte heroísmo até. As guerras são
basicamente feitas somente por homens em todo o nosso imaginário. Parafraseando
uma personalidade pública por aí, não tenho dados mas tenho convicção, de que a
expressão “soldada” (quantas vezes vocês já leram essa palavra? aposto que
poucas) deve ter surgido recentemente em nosso vocabulário.
O fato é que Svetlana Aleksiévitch, com sua magnífica
obra, foi capaz de mudar completamente a minha percepção sobre o que é uma
guerra de fato. Antes dessa obra, quando pensava em guerra, pensava muito mais
em heroísmo, soldados sujos mas jamais feridos gravemente, ou talvez com um
tiro somente, algo bem em linha com aquilo que nos é vendido nos filmes.
Entretanto, a guerra é horrível e esse livro é capaz de mostrar essa face mas não
somente essa.
Antes de começar a obra, Svetlana começa expondo suas
razões para escrever a obra e como foi feito o processo de coleta dos dados. É
um livro histórico, portanto essas informações são bastante importantes. Depois
disso, são diversos capítulos divididos por temas comuns aos depoimentos. Ela
organiza em temas e subtemas, cada subtema é um depoimento de uma mulher
diferente, finalizando a maioria deles com os nomes das entrevistadas e seus
antigos cargos no exército soviético.
É importante dizer que toda a visão que o livro trás da
segunda guerra é com base em relatos de integrantes do exército vermelho,
portanto, sob a visão soviética.
As histórias contadas trazem uma visão real da guerra. Elas falam não só sobre vitórias e derrotas, falam também sobre o amor e a
importância dele para que fossem capazes de suportar tudo o que se passava.
Nenhuma delas fala sobre armamentos, não da maneira como estamos acostumadas, e
em todo o livro um tema permeia os capítulos: a morte. A morte neste
livro é a coisa mais verdadeira que eu já li. O retrato da pequenez a qual nos
resumimos.
Outras coisas que jamais imaginaríamos também são postas às
claras, como as vestimentas. Esse foi inclusive o motivo que sugiro ali em cima
que a palavra soldada deva ser relativamente nova, porque simplesmente não
haviam roupas para mulheres no exército. Elas eram obrigadas a usar roupas
masculinas e jamais pude imaginar o quanto isso pode ser devastador para a
autoestima de uma mulher.
Não quero me alongar muito mais para não dar muitos
spoilers, mas deixo abaixo uma das quotes que mais me tocou durante o livro:
Sabe o que pensávamos na guerra? Sonhávamos: ‘Bom, rapazes, se sairmos vivos… Como serão felizes as pessoas depois da guerra! Como será feliz, como será bonita a vida. Essas pessoas que tanto sofreram vão ter pena umas das outras. Vão amar. Serão outras pessoas’. Não tínhamos dúvida. Nem um tiquinho. Meu bem… as pessoas se odeiam tanto quanto antes. Matam de novo. Isso para mim é o mais incompreensível...E quem são? Nós… Somos nós…
Título original: U voyny ne zhenskoe litso, War Does Not
Have a Woman's Face
Autora: Svetlana Aleksiévitch
Editora: Companhia das Letras
Tradução: Cecília Rosas
Tradução: Cecília Rosas
Gênero: Não-ficção | Biografia
Nota: 5
Eu ainda vou ler esse livro. Já está separadinho aqui para ser encaixado em alguma TBR...
ResponderExcluirBeijos
Balaio de Babados
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