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Controle remoto: Pinóquio, de Guillermo del Toro

Publicado em 12 de dez. de 2022

Controle remoto: Pinóquio, de Guillermo del Toro

Lançado na Netflix na última semana, este filme com animação em stop-motion re-imagina a história do clássico da literatura na Itália fascista, e com incríveis doses de realismo mágico. Pinóquio, de Guillermo del Toro, roubou meu coração.

A história, narrada pelo Grilo Falante (Ewan McGregor) nos leva até uma pequena cidade no interior da Itália. Um escultor chamado Gepeto (David Bradley) e seu filho, Carlo (Alfie Tempest), vivem ali em harmonia e felicidade. Até que a Grande Guerra causa a perda abrupta do menino, e leva o escultor a uma espiral de depressão e luto.

Perdido nela, ele cria um boneco de madeira; esse mesmo boneco é encantado por uma releitura (maravilhosa visualmente) da Fada Azul (Tilda Swinton) e ganha vida. Esse menino de madeira é Pinóquio; animado e curioso, ele transforma toda a existência de Gepeto em poucos minutos.

O problema é que o cenário é o da Segunda Guerra Mundial, e há mais problemas nas ruas daquela pequena cidadezinha do que o escultor e o menino de madeira podem imaginar.

Guillermo Del Toro é meu diretor favorito há tanto tempo que não consigo mais contar. Com seus excelentes filmes que dão beleza ao bizarro e ao monstruoso, e histórias sensíveis sobre temas sombrios, ele se consagrou como um dos meus artistas favoritos de todos os tempos. E esse filme entrega tudo o que promete.

Controle remoto: Pinóquio, de Guillermo del Toro

Pinóquio, de Guillermo de Toro, é visualmente impressionante. A animação em stop-motion é uma das técnicas mais bonitas que o cinema já apresentou; é de encher os olhos acompanhar os movimentos dos bonecos e saber que aquilo foi feito frame por frame, com minúsculas modificações em bonecos reais.

Combinando o stop-motion ao visual belíssimo e macabro dos cenários e personagens, Del Toro e sua equipe entregam um filme espetacular.

O que foram aqueles detalhes nos personagens da fantasia? A "Fada Azul" e sua irmã, os monstrinhos sombrios do outro lado, o próprio Pinóquio. É tudo tão lindo que me deixa sem palavras, honestamente. São intrincados detalhes criando um conjunto visualmente belíssimo; você precisa ver e viver a sensação para entender do que eu estou falando.

A releitura de Pinóquio muito me interessou, porque o original não é um pelo qual eu me interessei em algum momento. Não gostava da animação da Disney, também; mas a história de um menino de madeira que sonha em se tornar real para conquistar o amor do seu pai e criador é muito tocante, e aqui a releitura faz excelentes reviravoltas.

Controle remoto: Pinóquio, de Guillermo del Toro
Controle remoto: Pinóquio, de Guillermo del Toro

A começar pela ambientação. A Segunda Guerra Mundial é sombria. A partir do momento em que o fascismo ganha peso na Itália, as sombras ficam mais marcantes, as cores deixam de ser tão vibrantes, os personagens parecem mais soturnos. O luto também é retratado de maneira chamativa no visual, através do brilho nos olhos do Gepeto, da sua postura, da relutância em se abrir para esse menino vibrante e alegre.

Pinóquio, de Guillermo Del Toro, é um filme sobre luto. As fases dele, as marcas que deixa; o fardo, que é uma palavra tão importante na história, e como ele se conecta ao sentimento de perda - aquele sentimento que nunca desvanece por completo.

É também uma história sobre amor; sobre preencher esse vazio deixado pelo luto. Ele pode nunca se dissipar, mas pode ser compreendido. Pode ser abrandado. Pinóquio e Gepeto vivem suas jornadas de dor e alegria à sua maneira, de acordo com os caminhos que trilham. Porque esse filme é, acima de tudo, a história de um pai e de um filho.

O Grilo Falante, outras presenças ilustres, outras terríveis (como os fascistas) ajudam a mover a história. A partir de certo ponto, o filme dá uma guinada em direção a outro assunto sensível, em relação à guerra e ao molde que cria na cabeça de uma criança, em como a propaganda e o militarismo funcionam para destruir a inocência e o potencial de empatia da juventude, que tudo que eu conseguia fazer era chorar.

A cena das trincheiras me destruiu. Porque foi tão simples e tão, tão sensível, tão bem executada. Não precisou escancarar o que estava querendo dizer; as entrelinhas disseram tudo, e por isso esse filme é tão impecável. Pelo visual, pela narrativa, por seus personagens e pelas mensagens que carrega.

Pinóquio, de Guillermo Del Toro, é uma obra prima. Uma das muitas já assinadas por esse diretor, criador e gênio do cinema mundial. Se ainda não assistiu, corre lá na Netflix para conferir e se emocionar.


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