Resenha: Maré de Mentiras - Roberto Campos Pellanda - Queria Estar Lendo

Resenha: Maré de Mentiras - Roberto Campos Pellanda

Publicado em 3 de abr. de 2023

Resenha: Maré de Mentiras - Roberto Campos Pellanda

Maré de Mentiras é o primeiro volume da série Mar Interno, do autor Roberto Campos Pellanda (que fechou parceria com a gente). Nesta fantasia adulta, política e conflitos bélicos cercam o cenário por todos os lados, enquanto três protagonistas lutam em suas jornadas que, eventualmente, podem acabar coincidindo.

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Theo é um ladrão. Anabela é uma princesa órfã. E Asil é um comandante reformado marcado por remorso. Não há nada que conecte suas histórias, com exceção do mundo em que vivem. Por causa de uma guerra santa que terminou em vitória para Sobrecéu, a mais poderosa cidade marítima, as tensões crescem entre os países e as rotas comerciais ao redor desse proeminente território.

O duque de Sobrecéu está morto, e cabe a seu filho liderar. Anabela, a irmã mais nova, sente que o perigo está em crescente, mas ainda não sabe o que se aproxima.

Theo vê sua amiga e parceira de crimes, Raíssa, ser sequestrada por um grupo estranho. Em busca dela, ele acaba se envolvendo em uma situação muito maior do que um simples resgate. Uma trama que pode acabar coincidindo com a salvação do seu próprio mundo.

E Asil, mesmo distante de todos os conflitos, é empurrado em direção a eles quando o governante de uma grande nação do Oriente o procura para liderar suas forças. O problema é que Asil não confia nele; e, acima de tudo, tem preocupações maiores. Visões de uma garota em meio a um incêndio, garota essa que parece depender dele.

Resenha: Maré de Mentiras - Roberto Campos Pellanda

Maré de Mentiras é uma excelente história de fantasia. Tem tudo para se tornar favorito de quem adora histórias políticas, recheadas de intrigas da corte, aventuras em alto-mar e reviravoltas fantásticas de tirar o fôlego.

Com uma narrativa rica em detalhes que nunca fica enfadonha, o autor conta a história desse mundo e dos conflitos que se desenvolvem nele. Narra as jornadas dos seus protagonistas, e daqueles ao redor dos personagens, com muito cuidado. Tem um timing excelente para inserir cliffhangers entre os capítulos, então é constante a sensação de "preciso ler só mais um capítulo" no decorrer do livro.

Maré de Mentiras tem traços de uma fantasia robusta em pesquisa e inspiração histórica. A construção desse universo é cheia de informações que o tornam quase real; desde as questões políticas na corte de Sobrecéu, às intrigas em conselhos mercantis, os problemas traumáticos de comandantes de guerra, e as questões religiosas que atormentam a região.

Mas temo histórias antigas que criam vida e temo coisas que não pertencem a esse mundo.

A religião, aliás, é uma grande bússola de parte do conflito. Não apenas pelas cicatrizes deixadas pela Guerra Santa, mas porque toda a questão com a fé ainda move nações - e, quem sabe, até mesmo o destino do mundo.

É uma crescente de problemas que dá à fantasia um tom mais pé no chão. E o jeito com que a parte fantástica aparece na trama também é muito suave, lento e gradual. Afinal de contas, não estamos falando de uma alta fantasia, mas de um livro mais voltado para o cotidiano e os problemas humanos de um mundo onde as possibilidades fantásticas são muitas, mas ainda não são tão exploradas.

Resenha: Maré de Mentiras - Roberto Campos Pellanda

Mas, ainda é uma fantasia. E quando ela finalmente começa a mostrar o seu lado "extranatural", quando saímos da política e das navegações e de uma possível nova guerra santa para um conflito envolvendo um mal maior que vem de outro mundo, aí as coisas ficam boas demais.

Eu gostei de como Maré de Mentiras trabalhou esse arco principal entre seus três protagonistas. No começo, não parece realmente que as histórias deles vão se cruzar. Mas, de repente, elas começam a caminhar em uma mesma direção.

Se você gostou de histórias como O Aprendiz de Assassino e O Caminho dos Reis, com certeza vai gostar dessa.

Em relação aos personagens, eu me conectei muito aos três pontos de vista principais. Theo, Anabela e Asil são ótimos, com personalidades marcantes de acordo com suas histórias de vida.

Theo é astuto e ansioso. Anabela é curiosa e cautelosa. E Asil é intenso e solitário.

Aos poucos, outros detalhes escondidos dentro deles pelas suas vivências, e também pelas escolhas que fazem no decorrer da trama, começam a desabrochar. A coragem de Anabela foi um dos que mais me conquistou. Sua conexão com a irmãzinha, Júnia, e sua lealdade ao país - mas sua igual curiosidade e anseio de conhecer o que o mundo tem a oferecer - fazem dela uma protagonista muito interessante.

O jeito com que ela lida com os conflitos que aparecem, sempre astuta e cuidadosa, mostram que uma poderosa líder pode estar nascendo em seus passos.

Lembre-se: um inimigo que não tem nada a perder é sempre o mais perigoso.

Theo, por outro lado, coitado, vive o caos. O tempo todo. Ele não tem um minuto para respirar porque tudo sempre está acontecendo com ele. E funciona bem demais para deixar os seus capítulos energéticos e carregados em ação e reviravoltas. Quando você acha que ele vai ter um pouco de paz, puf, vem outra reviravolta.

Gostei muito da lealdade dele com a Raíssa e com o seu mantra de "nunca se envolver demais" com nada ao seu redor. É ele por ele mesmo, e por Raíssa. Porém, quando a situação escalona além do que Theo pode controlar, e coloca na frente dele uma decisão que vai mudar a sua vida toda, foi emocionante acompanhar o desenrolar de uma personalidade muito mais decidida e cheia de bravura.

Asil, por fim, me ganhou por ser um grande sofredor. É meu tipo favorito. Em muito ele me lembrou o Dalinar, de O Caminho dos Reis: é um grande comandante de guerra, é respeitado e temido, carrega terrores do passado, e tem um coração de ouro.

Personagens poderosos e que temem o poder que carregam são muito interessantes. E toda a jornada do Asil, diferente da Anabela e do Theo, envolve conviver com os terrores do seu passado para tentar resistir ao presente - ainda mais com a crescente de um novo conflito que ele não quer viver.

Resenha: Maré de Mentiras - Roberto Campos Pellanda

Maré de Mentiras é muito sobre política, sim, mas também sobre seus personagens.

O ritmo do livro segue o de uma montanha-russa; tem seus momentos calmos, e então grandes picos de acontecimentos, reviravoltas e ação, seguidos por mais momentos calmos. As explicações são coerentes e se encaixam em tudo que nos é apresentado. E, quanto mais o mundo se expande, e mais entendemos sobre as possibilidades que oferecem, maior parece o risco que todos estão prestes a sofrer.

Roberto Campos Pellanda com certeza entrou para a minha lista de autores que vou acompanhar sempre. Maré de Mentiras me ganhou em criatividade, profundidade e carisma, e seu fim deixou um vazio que eu vou esperar ansiosa para preencher com o próximo volume da série.

Sinopse: Anabela Terrasini vive em Sobrecéu, a mais poderosa das cidades marítimas. A vida previsível que ela leva chega ao fim com a notícia: o pai, o duque de Sobrecéu, está morto. No vazio de poder, em meio a conspirações que transformam velhos aliados em inimigos, Anabela compreende que o perigo que ela — e Sobrecéu — correm é muito real. Theo, o garoto sem sobrenome, vive sob o mantra: Nunca se envolver e nunca tomar partido. Mas quando a pequena Raíssa, uma menina muda que é a sua companheira de golpes nas ruas de Valporto, é sequestrada, Theo decide tomar para si a missão de resgatá-la. Na jornada, talvez ele encontre mais do que imagina e descubra que é hora de enterrar o passado — e o seu mantra — de uma vez por todas. Em Tássia, o comandante reformado Asil Arcan vive assombrado pelo conflito perdido vinte anos antes. Para Asil, a conta dos mortos é sua — e apenas sua. Em meio à miséria de uma existência sem sentido, ele passa a ser atormentado por estranhas visões: em um salão em chamas, uma menina pede por socorro. E se o chamado for verdadeiro? E se, junto com ele, houver também a chance de um recomeço?

Título original: Maré de Mentiras
Autor: Roberto Campos Pellanda
Editora: Avec
Gênero: Fantasia adulta
Nota: 5


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