Resenha: A Menina dos Olhos Molhados - Queria Estar Lendo

Resenha: A Menina dos Olhos Molhados

Publicado em 13 de nov. de 2016


Recebido em parceria com a editora Globo Alt, A Menina dos Olhos Molhados é o mais recente lançamento da autora Marina Carvalho. Com uma mistura de romance e investigação, o livro tem uma narrativa carismática e interessante para quem quer uma leitura leve.

A Menina dos Olhos Molhados fala sobre a vida de Bernardo. Ele é um jornalista investigativo na Folha de Minas e recebe a missão de guiar uma estagiária muito bem indicada a se familiarizar com o lugar; Rafaela é cabeça-dura igual a ele, e a dinâmica entre os dois guia a história em meio às investigações e à rotina do jornal. No início de cada capítulo, no entanto, conhecemos o passado do Bernardo e o motivo para ele nunca mais ter aberto seu coração para nenhuma outra mulher; o porquê de ele ter escolhido se fechar para o amor.

Gosto de observar as pessoas, não de um jeito esquisito ou repugnante. É uma questão de curiosidade, de não perder indícios e fatos.

Durante toda a história, somos guiados pelos acontecimentos através do ponto de vista do Bernardo. Ele é um sujeito comum, boa pinta, com uma história trágica que permanece misteriosa até quase o fim da narrativa - ainda que ele dê pistas do acontecimento dramático e você meio que ligue os pontos com os "antes" em cada capítulo. Se eu gostei do Bernardo? Não. Mas isso atrapalhou a leitura? Não.

As pessoas costumam me achar frio porque, em nome da notícia, não temo encarar situação alguma. Mas só eu sei como me abala constatar que crianças, que deveriam estar na escola ou jogando videogame com os amigos, são usadas pelo tráfico sem que ninguém possa fazer nada a respeito.

Bernardo é o típico egocêntrico com opinião sobre tudo. Sim, é uma primeira pessoa, sim, isso faz parte do desenvolvimento da narrativa, sim, achei ele chato. Não atrapalhou a leitura exatamente por ser parte do crescimento do personagem. Ele é um cara comum com uma vida confortável que de repente perde esse conforto e começa a perceber que a rotina criada podia sofrer uns abalos. Que tudo bem ele abrir o coração de novo. Que tudo bem perceber sua paixonite pela estagiária irritante.


Reconheço que alguma coisa está mudando entre nós. Não que eu saiba definir essa coisa, mas ela é real, vívida e inquietante.

O romance entre os dois não me comprou, mas tem a sua química. Rafaela é uma personagem carismática, com boa presença em cena. Algumas interações entre os dois me incomodaram pela postura birrenta e imatura do Bernardo, justificando as brincadeirinhas desconfortáveis que fazia com ela como "provocações para que a Rafaela reagisse". Não querendo falar nada, mas já falando: tinha que ser homem. 

A menina os olhos molhados, penso. É a segunda vez na vida que encontro uma garota com esse tipo de olhar.

A dinâmica entre os dois se mantém assim por boa parte da história, mas vez ou outra eles vivem uns momentos que quase me fizeram shippar. Acho que se tivesse tido um desenvolvimento maior na amizade - fugindo daquele básico "eu te irrito, você me irrita, de repente estamos apaixonados" - teria me ganhado mais. É um artifício de romances leves que, infelizmente, não ganha minha atenção como fazia antigamente. 

Mas, acima de tudo, quero, como jornalista, apresentar a realidade tal como ela é, para que a sociedade - quem sabe? - resolva tomar partido e pare de encontrar desculpas para não se envolver.

O ponto chave da história e que foi o triunfo desse livro, o motivo das quatro estrelas, foi o background do jornal Folha de Minas. Bernardo é um jornalista investigativo, então ele vive essa vida eufórica e cheia de adrenalina acompanhando casos bombásticos para trazer os melhores furos para suas reportagens. Casos de assédio, assassinato, entrevistas com reis do crime; Bernardo é o cara para essas manchetes. E Rafaela se torna sua acompanhante, uma vez que ela está estagiando com ele. As cenas de entrevistas, dos dois acompanhando as coletivas de imprensa, a visita à favela e a conversa com o chefe do tráfico, tudo isso conquistou a minha atenção e me deixou vidrada, desesperada por mais! A autora soube trabalhar direitinho a tensão e as perguntas e colocou casos bombásticos que combinaram com o clima que as cenas pediam. Foi tudo muito bem orquestrado e desenvolvido e eu me senti assistindo a uma série no estilo Chicago PD ou CSI, só que pelo ponto de vista da mídia.


Outra coisa que me prendeu foram os flashbacks no início de cada capítulo. O passado do Bernardo é mantido às escuras, e só esses trechos te revelam o que foi que aconteceu com ele para tê-lo traumatizado tanto em relação a relacionamentos. Eu já tinha criado uma teoria logo nos primeiros capítulos, e agradeço aos deuses pelos poderes de oráculo, porque ela estava certa!

O final do livro foi um pouco final de novela; previsível e um tanto forçado quanto apressado, mas que divertiu. O Bernardo lá pros últimos capítulos se tornou um belo de um babaca, e o meu maior incômodo em relação às atitudes dele foi como elas pareceram apressadas. Sério, em um momento ele tá decidido a uma coisa, porque é a melhor atitude a se tomar, e logo depois ele arrega? Meu filho.




A edição da Globo Alt está impecável, como sempre. Diagramação e capa são maravilhosas, revisão incrível.

O romance foi agradável, em alguns momentos veloz e fantasioso demais, mas no fim das contas uma história real. Funciona muito bem para quem quer uma leitura leve, com aquele toque de drama que tramas desse tipo sempre oferecem. E quem quer ler boas tramas policias pode acabar se surpreendendo com o conteúdo desse livro!

Título original: A Menina dos Olhos Molhados
Autora: Marina Carvalho
Editora: Globo Alt
Gênero: Romance
Nota: 4

Saiba mais: Skoob | Saraiva

4 comentários:

  1. Oi Denise!

    Eu só li um livro da Marina Carvalho e gostei bastante. Apesar do personagem ser chato, acho o fundo jornalistico que vc descreve bem interessante e achei a capa muito bonita!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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    1. Oi Mi, tudo bom?
      Que bom que a leitura do outro livro foi boa pra ti, flor! Eu tenho muuuuuita vontade de ler O Amor nos Tempos de Ouro, espero fazer isso em breve.
      Quanto à parte jornalística, é incrível mesmo. Dá uma sensação de série policial que é fantástica.
      Obrigada pela visita.

      Beijos.

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  2. Oi, Denise!
    Acho que se fosse eu lendo esse livro teria gostado ainda menos :/
    Não curto mais esses clichês de um irritar o outro até se apaixonarem, acho bem batido, e essas atitudes que vocês descreveu do Bernardo são bem chatinhas também, então não me interessei muito não :(

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    1. Oi Luciana!
      Pois é, acho que esse tipo de clichê já deu pra história desse tipo :/ em alguns casos até funcionam, mas não rolou aqui. E o Bernardo deu umas mancadinhas bem chatas, achei desnecessário.
      Mas o fundo jornalístico e o crescimento da história valem a pena!
      Obrigada pela visita.

      Beijos.

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