Resenha: Mundo Novo - Queria Estar Lendo

Resenha: Mundo Novo

Publicado em 24 de out. de 2017

Resenha: Mundo Novo (Mundo Novo #1)

Mundo Novo trata de uma distopia onde a ordem no mundo é dada por adolescentes. O primeiro livro de uma trilogia escrita por Chris Weitz, foi lançado no Brasil pela Editoria Seguinte (que cedeu um exemplar para a resenha) e nos deixa ansiosos pela continuação da história.
Sinopse: Neste mundo novo, só restaram os adolescentes e a sobrevivência da humanidade está em suas mãos. Imagine uma Nova York em que animais selvagens vivem soltos no Central Park, a Grand Central Station virou um enorme mercado e há gangues inimigas por toda a parte. É nesse cenário que vivem Jeff e Donna, dois jovens sobreviventes da propagação de um vírus que dizimou toda a humanidade, menos os adolescentes. Forçados a deixar para trás a segurança de sua tribo para encontrar pistas que possam trazer respostas sobre o que aconteceu, Jeff, Donna e mais três amigos terão de desbravar um mundo totalmente novo. Enquanto isso, Jeff tenta criar coragem para se declarar para Donna, e a garota luta para entender seus próprios sentimentos - afinal, conforme os dias passam, a adolescência vai ficando para trás e a Doença está cada vez mais próxima.
Em suma o livro se passa em uma Terra pós-apocalíptica, em que todos os adultos e crianças morreram vítimas de uma doença que, por algum motivo, não ataca os adolescentes. Além de estarem sozinhos, não há mais eletricidade nem todo o conforto do Antes, o mundo moderno. A história começa em Nova York, com um grupo de adolescentes que ocupou o Washington Park e precisa lutar pela sobrevivência buscando comida e proteção através de armas de fogo. Essa rotina diária muda quando um pequeno grupo, liderado por Jeff, decide ir até a Biblioteca Pública de Nova York para encontrar um artigo científico que pode conter as respostas que eles querem sobre a Doença.

Resenha: Mundo Novo (Mundo Novo #1)

Esse mundo pós-apocalíptico foi surpreendentemente bem construído. O autor colocou em questão tudo que faz falta e como a maneira de viver em uma Nova York decante habitada por adolescentes é bem real. Há facções, há jovens usando armas e matando uns aos outros, grupos corruptos, muito perigo e destruição. Cada lugar que é citado há uma história por trás, como o que ocorreu com a doença generalizou e o que veio depois, que grupo habita aquele lugar e por quê. Creio que se uma catástrofe acontecesse na Terra, haveria grandes de chances de Nova York ficar extremamente semelhante às descrições do livro.

“- American Apparel” – diz Donna. 
- Superdry – diz Peter. 
- McDonald’s – diz Donna. 
- Foot Locker – diz Crânio. 
É difícil acreditar que toda essa porcaria realmente importava e que essas palavras provocavam alguma coisa em nós. Agora nós as repetimos como se estivéssemos evocando antepassados. Como se as lojas fossem santuários de mil pequenas divindades e ainda exigissem um tributo. Como se fossem os mil nomes de nosso deus morto.”
Um dos narradores e protagonistas é Jeff, que aparentemente agora é o novo líder do local já que seu irmão mais velho, Wash, alcançou os 18 anos e morreu da doença, pois ela só não ataca quando se é adolescente. Jeff é um personagem sincero e sensato, ele busca compreender as coisas e fazer as melhores escolhas sem ser aquele personagem chatinho e certinho. Você entende a situação em que ele está e também entende que ele precisa ponderar sobre tudo, afinal, é o fim do mundo, e más escolhas podem levar a níveis catastróficos, ainda mais quando se é responsável por outras pessoas.

Resenha: Mundo Novo (Mundo Novo #1)

 Donna é uma personagem que me intrigou muito, mas não positivamente. Os capítulos com seu ponto de vista são intercalados com os do Jeff. Ela é uma personagem que supostamente deveria ter uma alma revoltada, mas seus grandes motivos para isso foram ter perdido a evolução tecnológica, a eletricidade e as redes sociais tão acessíveis pelo iPhone. Até certo ponto, eu compreendo, porque ninguém quer perder toda essa facilidade e conforto que temos hoje, certo? Mas parece que ela se preocupa mais com isso tudo do que com garantir a própria sobrevivência e dos amigos. Muitos dos adolescentes perceberam que o melhor era deixar aquela vida para trás e seguir em frente para se manterem vivos. Donna não.
“- O que são os animais? São matéria construída em modelos funcionais pela execução de um código. C, G, T, A. – Ele engole. – DNA. Quando você come algo, é informação comendo informação. 
O cheiro do porco se infiltra na minha mente. [...] 
Em seguida, um momento antes que a parte que chamo de “eu” possa dizer isso, percebo que estou olhando para uma coxa humana cozida.”
Além de que essa alma revoltada dela é nada menos do que jogar a própria raiva nos outros e ser agressiva e bem, bastante preconceituosa, ainda mais quando se trata de outras meninas. A primeira descrição que temos de Donna no primeiro capítulo de Jeff é feminista, e talvez essa tenha sido a intenção do autor, mas o que ele criou foi uma personagem durona que julga as pessoas que são diferentes dela, principalmente as outras meninas. Principalmente se a menina for bonita e nas palavras dela, tiver peitões, lábios cheios e cílios grandes, para Donna isso significa que ela é uma megera. A personagem é mesquinha, egoísta e fútil, e julga os outros por serem exatamente assim. Alguns personagens de outras histórias possuem essas características, mas de forma bem construída.

Resenha: Mundo Novo (Mundo Novo #1)

Pode-se perceber ao longo da história que o autor tem alguns problemas com personagens femininas. Na concepção dele, de acordo com os diálogos e descrições, as meninas são seres fúteis que se preocupam somente com aparência, maquiagem e sabotar outras meninas. Isso me incomodou bastante, pois ele deixou uma linha muito forte entre meninos e meninas. Entendo que isso é algo ainda feito atualmente, infelizmente, mas ele apoiou demais nessa separação de gênero. Coisas de meninos e coisas de meninas, totalmente diferentes e separadas. Talvez, talvez essa fosse a intenção dele, como uma crítica a isso e à futilidade que a tecnologia trouxe para nossas vidas. Mas não dá para ter certeza.
“Eu não acreditava muito nisso. Tenho uma teoria, que chamo de Teoria do Raio da Besteira. Ou seja, a exatidão do relato de alguém é inversamente proporcional à sua distância no espaço e no tempo. Então, se alguém fala sobre algo que aconteceu ontem, vai ser mais preciso do que se falar sobre algo que aconteceu há uma semana. E se conta algo que aconteceu há dois quilômetros de distância, vai ser menos preciso do que se aconteceu na casa do vizinho.”
Resenha: Mundo Novo (Mundo Novo #1)

Os personagens secundários são muito interessantes e participativos na história. Por exemplo, o Crânio, que é um garoto superdotado que faz as coisas funcionarem no Washington Park, além de perceber coisas ao seu redor que os outros não veem. Há também a Minifu, que veio da China com a família e por ter um porte pequeno, muitos não a levam a sério, mas é uma excelente lutadora. Cada um é visto de uma forma por fora e se mostra além disso, o que contribui para a boa construção da história.

A leitura é bem rápida, o livro tem pouco mais de 300 páginas e flui muito bem. A capa é linda e muito característica da história, com esse laranja fosforescente e o título como em grafite com desenho dos personagens na frente e no verso.

Em nenhum momento senti que cenas estavam sendo colocadas no enredo somente para ocupar páginas, cada acontecimento aconteceu naturalmente (apesar de os personagens terem tido muita sorte em algumas partes). Tirando o machismo colocado pela péssima imagem feminina que o autor fez de algumas adolescentes (e da construção da Donna), a história é ótima.

Alguém já leu algo parecido ou tem interesse de conhecer essa trilogia?

Título original: The Young World, The Young World #1
Autora: Chris Weitz
Editora: Seguinte
Gênero: YA
Nota: 3,5

Saiba mais: Skoob | Amazon | Submarino 

4 comentários:

  1. Oi, Camila!
    Pena que esse machismo está presente na história. Eu conheço umas pessoas que gostam do livro e estava pensando em dar uma chance.
    Beijos
    Balaio de Babados

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    Respostas
    1. Oi Lu, me metendo no teu coment só pra dizer que apesar da visão meio deturpada que ele dá pra Donna nesse primeiro livro, a história vale muito a pena a leitura. Eu ao menos adorei! hahaha

      Att.,
      Eduarda Henker

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  2. Olá, Camila.
    Eu lembro que quando vi sobre ele na outra coluna eu me interessei bastante. Até porque o enredo lembra muito Gone, que amei. Mas acho que vou ficar com raiva com essa coisa do machismo. Mas ainda assim é uma história que me interessa. Já a capa não gostei tanto hehe.

    Prefácio

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  3. Oi, Camila. Eu me interessei muito pela história porque ela me lembrou bem meus mangás japoneses, então imagino que iria gostar. Mas o fato da personalidade de Donna ser um pouco agressiva me incomoda, provavelmente não gostarei dela nem um pouco, mas adoraria entender melhor esse Mundo Novo.
    Beijos
    http://www.leitoraencantada.com

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