Resenha: O Beijo Traiçoeiro - Queria Estar Lendo

Resenha: O Beijo Traiçoeiro

Publicado em 14 de nov. de 2017

Resenha: O Beijo Traiçoeiro


O Beijo Traiçoeiro foi um dos lançamentos do mês de Outubro da Editora Seguinte. Cedido em cortesia para essa resenha, o livro fala sobre espionagem e traições políticas em um cenário inspirado nos clássicos de Jane Austen.

Sinopse: Com sua língua afiada e seu temperamento rebelde, Sage Fowler está longe de ser considerada uma dama — e não dá a mínima para isso. Depois de ser julgada inapta para o casamento, Sage acaba se tornando aprendiz de casamenteira e logo recebe uma tarefa importante: acompanhar a comitiva de jovens damas da nobreza a caminho do Concordium, um evento na capital do reino, onde uniões entre grandes famílias são firmadas. Para formar bons pares, Sage anota em um livro tudo o que consegue descobrir sobre as garotas e seus pretendentes — inclusive os oficiais de alta patente encarregados de proteger o grupo durante essa longa jornada. Conforme a escolta militar percebe uma conspiração se formando, Sage é recrutada por um belo soldado para conseguir informações. Quanto mais descobre em sua espionagem, mais ela se envolve numa teia de disfarces, intrigas e identidades secretas. E, com o destino do reino em jogo, a última coisa que esperava era viver um romance de tirar o fôlego.
O arco principal da história acompanha a jovem Sage. Em uma releitura bastante óbvia e familiar do início de Mulan, nós contemplamos o esforço da família dela em levá-la à casamenteira da cidade para que a mulher arranje um marido à garota - e claro que a Sage estraga tudo agindo de maneira que nenhuma dama deveria agir. Eis que a casamenteira surge com uma proposta: Sage é perspicaz e afiada para detalhes e, em troca de prestígio e de um emprego, vai disfarçada como pretendente para acompanhar a casamenteira no evento que une jovens nobres, de modo a espionar tudo o que vem acontecendo por trás dos panos. Do outro lado da história, seguimos a guerra através de Alexander Quinn, um soldado do reino em que Sage vive. Alexander comanda uma companhia para proteger essas jovens damas, ao mesmo tempo em que investiga um possível cerco militar que se ergue nas fronteiras com um reino inimigo.

Odiava se sentir como a soma de suas posses, e não como uma pessoa.

Mais uma vez, toda uma história se torna problemática por causa de como a narrativa trata a protagonista e desenvolve sua história. Dadas algumas resenhas gringas, eu já sabia o que esperar - e ainda assim todo o arco da Sage me foi de extremo mau gosto, especialmente no momento atual da literatura jovem.

Você tem uma história onde pode quebrar padrões e desenvolver um grande arco de empoderamento feminino, e o que você faz? Isso mesmo, trata todas as outras personagens femininas como descartáveis aos olhos da protagonista só porque elas não concordam ou agem de acordo com a aura rebelde da personagem principal.


Resenha: O Beijo Traiçoeiro

A narrativa trata Sage como a única mulher realmente digna de alguma atenção por parte dos leitores. Dentro da história, Sage é diferente das outras garotas, ela foge de arquétipos esperados dentro da sociedade ambientada - aquela aristocrática bem típica de romances históricos - mas em nenhum momento isso soa como positivo porque, aos olhos da Sage e, consequentemente, a mensagem passada aos leitores, é como se todas as outras mulheres fossem frívolas, mesquinhas e intragáveis.

O livro anuncia isso clara e abertamente sempre que a Sage interage com uma das noivas, ou mesmo com a casamenteira - a personagem mais "respeitada" pela protagonista. De acordo com a Sage, você se sentir bem com a ideia de casar, você gostar de vestidos e maquiagens e de se portar de acordo com as regras é ruim. Existe uma coisa chamada: você pode querer o que bem desejar pra sua vida sem desmerecer a escolha das outras mulheres. O livro não soube usar isso.



Eu fiquei bastante irritada com a maneira com as poucas personagens femininas foram desenvolvidas. Sage, como já dito, é um poço de ego e julgamento mesquinho. Para quem se diz tão à frente de seu tempo, ela com certeza age como uma criança birrenta na maior parte das cenas. A casamenteira foi minha favorita só porque estava ali para sacudir os ombros da Sage e mandar uns belos "escuta aqui, garota, acorda que o mundo não gira em torno de ti.". Aí tinha o arco das pretendentes; tão relevante que eu não consigo lembrar do nome de uma das noivas que estava ali só para encher o saco da Sage e fazer toda a história de "ai olha como eu sofro por ser diferente das garotas sem graça e submissas à sociedade".

A autora tinha tanto potencial para trabalhar essa história, tantos caminhos para seguir e mostrar as diferenças entre as garotas sem criar uma desgraça de rivalidade sem sentido. Eu tô bem cansada de ler histórias que, para "empoderar" uma personagem feminina, inferiorizam as outras que "fogem" o esteriótipo de "mulher forte". Estamos em 2017, gente. Chega de escrever mulheres se odiando, pelo amor da Eva Green!



A parte política e estratégica se desenvolveu muito bem, para a salvação da minha leitura. Como a gente teve uma gama de personagens masculinos muito maior, claro que os arcos deles foram mais interessantes e bem construídos; Deus me livre escrever mulheres e fugir de esteriótipos, né nom? Vamos seguir a fórmula de filmes de patricinhas dos anos 90, com certeza vai dar certo. Enfim.

- Enquanto os ferreiros dobram o ferro à vontade deles, casamenteiras dobram as pessoas às vontades delas.

Alexander Quinn é o capitão do regimento responsável pela proteção das garotas, e toda a questão da guerra e das tramoias políticas fica por conta dele. Outros nomes como Ash Carter, o misterioso Rato e o soldado Casseck são de vital importância para que a história ganhe rumo; o livro até tentou desenvolver um mistério envolvendo alguns personagens, mas estava tão óbvio que eu fiquei me perguntando se era realmente a intenção da autora tornar tudo tão "na cara" ou se foi preguiça de desenvolver uns caminhos mais difíceis de decifrar. Foi como The Kiss of Deception, só que nesse caso eu já sabia quem era quem desde o começo e só fiquei entediada por isso perdurar nas 200 páginas que se seguiram.


Resenha: O Beijo Traiçoeiro

Toda a questão do cerco e das legiões inimigas deu uma tensão interessante à trama. Por ser um livro grande, de ritmo lento, ele usa todo o espaço necessário para fazer a ameaça ao reino e aos personagens crescer de maneira verossímil, tornando o medo pelo que vem pela frente bastante real. As investigações da Sage e dos outros personagens acabavam colidindo devagar, encaixando-se num quebra-cabeça que culminou em revelações interessantes sobre os andares do conflito próximo deles. O final foi bem fechado - deixou algumas pontas soltas para a continuação, mas é satisfatório para quem queria ver um closer na história principal (eu, no caso).

Representamos vários papéis ao longo da vida... isso não faz com que todos sejam mentira.
Quanto ao arco individual dos personagens masculinos, fora aquele mistério, eu gostei bastante do que li. Quinn passa por uns dilemas interessantes no decorrer do livro, uma vez que é o comandante da legião e responsável por tudo que vier a acontecer com os soldados e as garotas - e até mesmo com o irmãozinho, Charlie, que serve de pajem e escudeiro do próprio Quinn. Os personagens masculinos são carismáticos, têm seus momentos egocêntricos, mas, diferente do arco feminino (você me fez gostar mais do arco dos personagens masculinos, livro, olha como isso é errado!), equilibram isso com simpatia e receio. São personagens reais, convencem fácil.


Resenha: O Beijo Traiçoeiro

O romance toma pouco espaço da trama - e pode servir de incentivo para quem não quer esse tipo de livro. Não é uma coisa essencial, mas se desenvolve dentro da proposta de ambos os arcos e acaba rendendo momentos fofinhos quando têm que acontecer. A construção de mundo foi um pouco confusa de início. Com o tempo, pelo menos a parte da divisão territorial depois da guerra de conquista ficou mais clara, e o motivo para a nova ameaça também.

A edição do livro é maravilhosa, um trabalho impecável como todos os outros da Seguinte. A capa foi redesenhada aqui para o Brasil e combina bastante com a história.

O Beijo Traiçoeiro acabou sendo uma leitura um pouco traiçoeira também. Mesclou traições e espionagem muito bem, mas deixou a desejar quando prometeu uma protagonista forte e entregou uma imensa falta de sororidade.

Título original: The Traitor's Kiss
Autora: Erin Beaty
Editora: Seguinte
Gênero: Ficção / Aventura
Nota: 3

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8 comentários:

  1. Olá Denise!
    Adorei suas análise do livro! Chocada que a personagem principal não tenha passado a real força do empoderamento feminino.
    Parece ser uma história bem interessante apesar dos pesares. Coloquei na lista para ler mias para frente.
    Parabéns pela resenha, beijos!

    Books & Impressions

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    1. Oi Raissa, tudo bom?
      Guria, pois é! Tinha esperanças de que a autora se sobressaísse nessa parte - até porque estamos em 2017 e a palavra da vez na literatura é empoderamento feminino. Ai vem isso...
      Sim, apesar dos pesares tem os pontos que salvam a trama. Vale a pena dar uma conferida ;)

      Beijos!

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  2. Oi, Denise!
    Só pelas reviews gringas falando sobre ser whitewashing de Mulan, eu desisti de ler o livro que é pra não passar mais raiva nessa vida.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Participe das promoções em andamento e ganhe prêmios maravilhosos

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    1. Oi Lu!
      Menina, pois é! Eu não sabia muito dessa história da releitura, mas quando peguei ler e fui notando as semelhanças fiquei 'hmmm xô dar uma pesquisada' e ai fiquei ??????????????
      Nem considero mais uma releitura porque o que ela tentou fazer com a história é ofensivo pra melhor princesa da Disney.

      Beijos!

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  3. Oi Denise! Poxa que pena que vc não curtiu tanto o livro, com certeza seria melhor a autora ir para um caminho diferente quando se trata de amizades femininas, entendo seu seu ponto de vista. E quanto á edição parece bem bonita mesmo.

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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    1. Oi Mi!
      Pois é, decepção literária sempre dá uma dorzinha no coração. A sorte é que com esse eu não tinha TANTAS expectativas, ai o baque foi menor.
      O livro seria maravilhoso se a autora tivesse tornado o arco da protagonista uma coisa suportável - e se tivesse dado o tom certo de empoderamento pra ela e pras personagens femininas :/

      Beijos!

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  4. Olá, Denise.
    Concordo com tudo o que você disse. Nossas impressões foram muito parecidas. Faltou e muita coisa nessa história. O que num primeiro momento pareceu que ia ser um bom livro sobre empoderamento feminino acabou sendo uma história onde o destaque são os personagens masculinos. E olha que a autora tinha bons personagens em mãos como a casamenteira por exemplo. E do que valeu aquela morte no final? Espero que a história siga outro rumo nos próximos capítulos.

    Prefácio

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    1. Oi Sil!
      ME ABRAÇA. Eu amei sua resenha, me representou demais.
      O livro vendia uma protagonista forte e independente e entregou uma criança birrenta que não sabe nada sobre empoderamento e sororidade; podia ser, sim, a história sobre uma sociedade machista e opressora, mas diminuir personagem feminina pra tornar a sua protagonista forte não faz da sua história empoderadora, meu anjo!!!
      AQUELA MORTE NO FINAL. Se era pra chocar, fez o contrário. Serviu pra manpain e pra mais nada...

      Beijos!

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