Duna foi meu clássico escolhido para Setembro, em preparação ao lançamento da nova adaptação. Escrito por Frank Herbert e publicado pela Editora Aleph em uma edição luxuosa, esse livro é, realmente, um calhamaço espetacular em questão de política e construção de universo.
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Duna conta a história da família Atreides e de todos os desdobramentos ao redor dela; eles foram escolhidos pelo imperador para comandar o planeta Arrakis e seu processo de extração de especiarias - uma substância tão preciosa quanto o petróleo é para o mundo que conhecemos - o que causou discórdia nos Harkonnen, antigos responsáveis pela região.
Com o duque Leto, chefe da família Atreides, jurado de morte e perseguição de maneira silenciosa, o que se desenrola nessa história é uma complexa trama de política e sobrevivência, além de despertar também uma antiga profecia.
O clássico de Frank Herbert não é um marco da ficção científica à toa, e nota-se isso desde as primeiras páginas. Com um prefácio escrito por Neil Gaiman, é perceptível o quanto esse livro inspirou e segue inspirando dentro do gênero; histórias como Star Wars muito beberam da influência de Duna, tanto em questão de universo quanto de desenrolar político e tramas paralelas bizarras.
Esse livro tem um que de "messias da profecia" ao mesmo tempo em que lida com uma galáxia diferente, planetas que demandam provação daqueles que os habitam e personagens multifacetados. Arrakis é uma terra inóspita e mortífera; suas areias contém uma preciosa especiaria, da qual os Atreides ficaram responsáveis, junto a todo o sistema político.
Duna é um livro 110% político, e a força dele está justamente nisso. Tanto quanto fala do império que comanda tudo e todos quanto na disposição das Casas, nas disputas silenciosas e na trama de traição e derrubada que movem os inimigos dos Atreides contra eles. Também tem a questão com os fremen - o povo que vive em Arrakis há muito tempo e se tornou parte do deserto, sobrevivendo em meio a ele como mais ninguém consegue - e as lendas a respeito do Escolhido deles.
Eu gostei demais do desenvolvimento e diálogos e estratégias políticas que apareceram no decorrer da história. Frank Herbert constrói um sistema complexo e corrupto e perigoso, com os poucos ainda honrados sofrendo por isso. Não sei se é o caso, mas o Martin parece ter puxado um pouquinho de influência da disputa Atreides x Harkonnen para as casas de Westeros. Eu me senti lendo a derrocada dos Stark quando os Lannister resolveram armar para cima deles.
- Você fala da lenda e busca respostas. Cuidado com as respostas que quer encontrar.
O esquema e a tensão que permeiam a história principal porque a gente sabe que os Harkonnen estão planejando um golpe, que querem matar o duque Leto (pai de Paul) e tomar o poder através da força, desestruturando todo o sistema recente que estava sendo construído em Arrakis. Mas tem a questão da profecia, e sempre parece que tudo que acontece está empurrando a trama para que ela aconteça.
A profecia em si aparece de diferentes formas através da história, e importa para ela o tempo todo. Tem um misticismo por trás da figura do Escolhido e eu gostei demais de como o autor desenvolveu essa parte; você sabe que está ali e que é real, mas não sabe exatamente como vai surgir.
Paul é nosso protagonista, ainda que o livro dê visão para dezenas de outros personagens. O rapaz é o herdeiro da Casa Atreides, um filho honrado e dedicado que vê sua vida virar de cabeça para baixo com a chegada em Arrakis - e tudo que decorre a partir daí.
Eu não gostei do Paul, preciso dizer isso de cara. Não me senti conectada a ele, aos seus esforços e sacrifícios; em alguns momentos, ele soava abrupto e invencível demais para o meu gosto, e olha que eu sou uma grande fã dos Escolhidos na ficção. Toda a questão do "por que ele é o Escolhido?" foi bem mística e instigante, mas faltou alguma coisa na personalidade dele para me conquistar e ter minha empatia.
O que não foi o caso da Lady Jéssica, sua mãe. Que personagem feminina mais complexa e interessante! Do começo ao fim, ela passa por provações e momentos tensos e reviravoltas inesperadas e mantém a postura impecável e o coração firme. (ela entra para a minha lista de "personagem feminina tão bem escrita que nem parece ter sido criada por um homem cis dos anos 70").
A Chani, parte dos fremen que vai aparecer lá pela metade da história, mas que tem muita ligação com o Paul e com o futuro da história, também entra pra essa contagem.
- Poder e medo. Os instrumentos da arte de governar.
As relações familiares são muito importantes no decorrer da história. Tanto de Paul com seu pai e com a família Atreides num geral, quanto com a mãe e com personagens que vão surgir com o passar do tempo e das tretas.
O antagonista principal é o barão Harkonnen, uma figura perversa e bizarra e interesseira que tem seus momentos de vilão de novela, mas apresenta camadas de profundidade muito bem desenvolvidas com o passar dos acontecimentos. Ele é perturbador e perturbado e a gente sente isso conforme seus planos começam a se desenrolar.
Tem tanta coisa em Duna que é difícil resenhar sem falar demais sobre a história; uma coisa que achei interessante é que o autor não faz segredo do que vai acontecer. Se tem uma traição para rolar, ele fala para que a gente esteja ciente dela vários capítulos antes do acontecimento. Se tem uma morte, ela acontece e pronto. Se tem uma reviravolta, você sabe que ela está vindo pelo tom da narrativa. Gostei porque, apesar de não ter o elemento da surpresa, tem a tensão. E ela é muito bem trabalhada.
O que não ajudou esse livro a se tornar um dos meus favoritos foi o quanto ele era truncado em algumas partes. Vários capítulos passavam sem que eu visse as páginas andando, outros demoravam horas para acabar e eu não aguentava mais lê-los. Esse vai e volta de ritmo narrativo acabou enroscando demais, principalmente no final da leitura - que deveria ter sido a mais descarga de adrenalina, com tudo que estava acontecendo.
Grave isto na memória, rapaz, um mundo é sustentado por quatro coisas... o conhecimento dos sábios, a justiça dos poderosos, a prece dos justos e a coragem dos bravos.
Não estraga a experiência, mas deixou o tijolo de 680 páginas mais pesado em alguns momentos.
Num geral, Duna é uma aula de construção de universo e de jogo político, ainda que não apresente um protagonista não cativante (o que dá para superar assim que você conhece a Lady Jéssica). Gostei o suficiente para procurar pelo resto da trilogia, e quem sabe da série, no futuro. E pra ficar ainda mais ansiosa com a estreia do filme por aqui!
Sinopse: A vida do jovem Paul Atreides está prestes a mudar radicalmente. Após a visita de uma mulher misteriosa, ele é obrigado a deixar seu planeta natal para sobreviver ao ambiente árido e severo de Arrakis, o Planeta Deserto. Envolvido numa intrincada teia política e religiosa, Paul divide-se entre as obrigações de herdeiro e seu treinamento nas doutrinas secretas de uma antiga irmandade, que vê nele a esperança de realização de um plano urdido há séculos. Ecos de profecias ancestrais também o cercam entre os nativos de Arrakis. Seria ele o eleito que tornaria viáveis seus sonhos e planos ocultos?
Título original: Dune
Autor: Frank Herbert
Editora: Aleph
Tradução: Maria do Carmo Zanini
Gênero: Ficção científica
Nota: 4
Olá, Denise.
ResponderExcluirEu li esse livro na minha adolescência. E como não tinha todos na biblioteca acabei não completando a série. E confesso que pouco lembro da história, só lembro que foi bem cansativa a leitura hehe. Mas é uma história que tenho vontade de reler.
Prefácio