Resenha: Garota, 11 - Amy Suiter Clark - Queria Estar Lendo

Resenha: Garota, 11 - Amy Suiter Clark

Publicado em 20 de out. de 2021


Garota, 11 é o primeiro livro de Amy Suiter Clarke. Publicado no Brasil pela editora Suma - que nos cedeu o exemplar para resenha - o thriller investigativo tem os dois pés no universo do true crime e uma narrativa atual.

Se você se interessou por Garota, 11, pode gostar de:


Elle Castillo é uma ex-assistente social que se tornou podcaster de true crime em busca de ajudar a solucionar casos arquivados de violência contra crianças. Depois de 4 temporadas de sucesso, que resultaram na reabertura dos casos (e até mesmo conclusão deles), Elle se sente confiante o suficiente para abordar um dos casos que é a sua obsessão no podcast: o Assassino da Contagem Regressiva.

Vinte anos atrás, o ACR assassinou 8 garotas, sempre uma mais jovem que a anterior. Mas desapareceu depois que sua vítima mais recente, de 11 anos, conseguiu escapar. Todos acreditam que o ACR morreu no incêndio que tomou conta do local de cativeiro, mas Elle não acredita nisso.

Como em todos os casos, as vítimas se estendem muito além daquelas que foram mortas. Suas famílias, amigos e comunidades sofreram um mal irreparável.


Munida de seu instinto investigativo e da ajuda de sua produtora, Elle começa a 5 temporada do Justiça Tardia, seu podcast, conversando com parentes das vítimas e antigos investigadores do caso, em busca da pista que pode ajudar a solucioná-lo.

E a pista chega no formato de um ouvinte, que garante a ela que sabe a identidade do ACR. No entanto, quando Elle chega no local combinado do encontro, acha o ouvinte morto. O que coloca em ação uma sequência de eventos que leva ao ressurgimento (ou aparecimento de um imitador) do ACR e coloca Elle na sua mira.


Eu estava completamente empolgada para ler Garota, 11 assim que a editora Suma anunciou o lançamento. Meu interesse por true crime vem desde os meus 11/12 anos e ao longo dos anos já consumi muitos documentários, artigos, séries, livros e podcasts sobre o assunto. Sendo assim, dá pra imaginar como fiquei quando descobri que o livro trataria desse universo, né?

E a Amy Suiter Clarke não deixa nada a desejar nesse quesito. Como o livro é dividido entre o presente e as descrições do podcast Justiça Tardia, eu realmente sentia que estava escutando um dos meus podcasts preferidos. Além disso, muitas das discussões que a autora levanta ao longo do livro são coisas faladas na comunidade de TC - embora eu ache que deveríamos discutir mais sobre isso.

Em Garota, 11 vemos discussões sobre como o crime afeta as famílias e todos os entes queridos, sobre como a mídia banaliza os crimes, sobre como as vítimas são esquecidas e a notoriedade entregue ao agressor. 

Ser uma mulher que se expressa online significa lidar com insultos constantes pelas coisas que se faz ou diz, não importa quão insignificantes ou inocentes.


Discussões sobre a falsa sensação de segurança que desenvolvemos ao esmiuçar a vida das vítimas em busca de pontos que nos assegurem que nós jamais seriamos a vítima - enquanto ignora que a única coisa que nos impede de ser uma vítima é a escolha do agressor - e muito mais.

Nesse quesito, não tenho do que reclamar. Além de escrever muito bem, Amy levantou questões que, ao meu ver, deveríamos discutir muito mais - especialmente no que fala sobre a obsessão da sociedade com true crime e a ética envolvida nesse tipo de narrativa.

Poderiam narrativas de true crime incentivarem assassinos? Estariam essas narrativas encorajando criminosos ou auxiliando eles a cometerem seus crimes? O quanto essas narrativas realmente ajudam as vítimas e seus casos? Seriam essas narrativas as culpadas por glorificar assassinos? Qual a responsabilidade de narrativas de true crime em uma sociedade que já está tão saturada pela violência que acaba dessensibilizada a ela?

Embora mencionassem seu nome de maneira superficial. Para todas as outras pessoas, ela era simplesmente mais uma garota jovem a desaparecer nos subúrbios de Minnesota.


A autora não entrega respostas em Garota, 11 - até mesmo porque elas não existem - mas nos convida a pensar sobre o assunto, o nosso papel ao consumir e encorajar esse tipo de narrativa, e a nossa motivação para com elas. E eu simplesmente amei isso!

No entanto, alguns pontos do livro me desapontaram. Tanto na parte de thriller como na discussão ética.


O primeiro foi o quão fácil foi descobrir tudo. Classifiquei 3 acontecimentos maiores no livro, e todos eles eu consegui descobrir muito antes de aparecerem. Porque era como se a autora colocasse uma placa neon sobre a informação assim que ela aparecia.

Foi muito fácil descobrir a vítima ideal do ACR, quem ele era e a história trágica do passado de Elle, o que tira muito da diversão do livro. Afinal de contas, porque você vai ler um thriller se antes das 100 páginas já descobriu todos os segredos dele?

O fato de ter vivido um trauma não faz de mim uma imprestável.


E preciso dizer que não era algo que eu estava ativamente tentando descobrir. Eu não estava analisando cada uma das informações pra descobrir antes da autora me contar. Mas eu lia o parágrafo e ela entregava uma informação e você já sabia o que isso significava, devido ao contexto e os recursos comuns de thrillers do tipo, o que foi bem anticlimático.

Uma vez que é um livro focado na comunidade de true crime, é de se esperar que as pessoas que pertencem a ela tenham interesse em lê-lo. E também é de se esperar que as pessoas dessa comunidade leiam muito thriller. O que faz com que seja mais fácil perceber as respostas.

Acredito que quem não lê/assiste thriller com frequência - o que não é o meu caso - até possa não perceber o que está acontecendo antes da grande revelação. Mas, pra mim, foi tudo muito anticlimático.


O outro ponto é a mensagem principal discutida no livro. A Elle sempre diz como o Justiça Tardia é feito para buscar justiça para as vítimas, é orientado pelas vítimas e existe para honrar suas memórias. Algo que se perde um pouco quando se trata do ACR, devido a obsessão dela. E é compreensível, dado a forma como a Elle está obcecada com o caso.

No entanto, pra mim, Amy Suiter Clarke acaba se contradizendo quando resolve dar um POV para o assassino a partir da parte 3. Se em Garota, 11 seu intuito era reforçar a necessidade de narrativas de true crime não humanizarem ou glorificarem agressores, de não darem o reconhecimento que eles tanto desejam ao cometer seus crimes, então ela também não deveria ter feito isso.

As informações que ela nos passou através do POV do assassino foram importantes para compreendermos quem ele era, mas ao mesmo tempo, construíram um certo volume de empatia. Porque quem não se solidarizaria com uma criança negligenciada, abusada? No formato de livro que ela escreveu, com a proposta que ela tinha, existiam outras formas de entregar essa informação - só eu pensei em pelo menos duas.

Então foi um ponto de decepção, pra mim, já que soou bastante incoerente com o que ela queria dizer e o que passou o livro inteiro tentando entregar.

De forma geral, Garota, 11 é um bom livro. Talvez eu tenha ido com muita sede ao pote? Talvez. Só tenho a mim mesma para culpar pelas altas expectativas. Talvez vocês, sabendo o que sabem agora, possam aproveitar ele muito mais.

Garota, 11 é definitivamente uma leitura interessante para quem quer conhecer mais do universo de true crime ou começar a ler thrillers. Ele é bem escrito, tem um excelente ritmo e se você não pegar as deixas, realmente vai se surpreender com os caminhos dele.

Sinopse: Elle Castillo é a apresentadora de um podcast popular sobre crimes reais. Depois de quatro temporadas de sucesso, ela decide encarar um caso pelo qual sempre foi obcecada ― o do Assassino da Contagem Regressiva, um serial-killer que aterrorizou a comunidade vinte anos atrás. Suas vítimas eram sempre meninas, cada qual um ano mais jovem que a anterior. Depois que ele levou sua última vítima, os assassinatos pararam abruptamente. Ninguém nunca soube o motivo. Enquanto a mídia e a polícia concluíram há muito tempo que o assassino havia se suicidado, Elle nunca acreditou que ele estava morto. Ao seguir uma pista inesperada, no entanto, novas vítimas começam a aparecer. Agora, tudo indica que ele está de volta, e Elle está decidida a parar sua contagem regressiva.

Título original: Girl, 11
Autora: Amy Suiter Clarke
Tradução: Helen Pandolfi
Editora: Suma
Gênero: Romance policial | Thriller
Nota: 3

Resenha: Garota, 11 - Amy Suiter Clark

Resenha: Garota, 11 - Amy Suiter Clark

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário, sua opinião é sempre muito bem-vinda!



@QueriaEstarLendo