Forward foi o livro do Intrínsecos de Setembro, para o aniversário de três anos do clube, e não poderia ter sido uma leitura mais incrível e instigante. Um deleite da ficção científica, essa coletânea traz cinco histórias de cinco mentes brilhantes do gênero, questionando avanço tecnológico e humanidade da melhor maneira possível.
Se você curte ficção científica, conheça:
Essa antologia foi criada pelo Blake Crouch, autor de Recursão - que também assina um dos contos - e reúne cinco dos maiores nomes da literatura de fantasia e ficção científica da atualidade: N.K. Jemisin, Veronica Roth, Amor Towles, Paul Tremblay e Andy Weir.
Summer Frost - Blake Crouch
O conto que abre essa coletânea explora realidade virtual e inteligência artificial em seus extremos. A protagonista, Riley, é uma programadora trabalhando em uma NPC de um novo jogo de mundo aberto, com exceção do fato de que a inteligência dessa NPC se sobressaiu e a tornou especial o suficiente para estudos paralelos - até se tornar uma IA revolucionária e espetacular por sua existência.
Eu fiquei vidrada no desenvolvimento desse conto. Tem um pouco de mistério para entender mais da Max - a NPC em questão - e seu relacionamento com sua criadora. Tem um pouco de drama porque a vida da Riley começa a descarrilhar ao mesmo tempo em que os estudos e avanços da Max se tornam gigantescos. Tem terror, porque o tempo todo temos a sensação de que a inteligência artificial está indo longe demais simplesmente por existir; mas é errado, no fim das contas? Ou pessoas que podem usá-la para o mal é que são realmente ruins?
Brilhante e aterrorizante em todo o desenrolar da história, Summer Frost foi uma abertura excelente para o que essa antologia propõe, que é estudar os avanços da tecnologia como a conhecemos, mas levando-as a extremos que podem se tornar perigosos e incontroláveis ou mesmo grandiosos demais para o mundo que os conhecem como tão ínfimos.
Pele de emergência - N.K. Jemisin
Abram alas para a rainha da fantasia e da ficção científica e da minha vida que é N.K. Jemisin. Pele de emergência acompanha uma IA enviada a um planeta chamado Tellus; lá, essa criação precisa seguir as direções das vozes artificiais em sua mente para recuperar alguma coisa que pode salvar seu planeta natal.
Esse conto envolve apocalipse, recomeço e questões de raça; Jemisin tem uma narrativa afiada e extremamente enervante, do tipo que você não consegue parar até o fim. O conto explora esse planeta, que deveria estar destruído mas sobreviveu e segue em grandes avanços, e os motivos que levaram o povo do planeta natal da IA a abandonar o lugar.
Eu gostei demais de como esse conto aponta o dedo para diálogos sobre superioridade de raça e inteligência, como bate de frente com racismo e misoginia de maneira certeira. Jemisin é uma voz em bilhões e eu tenho muito orgulho de gritar o quanto sou devota das histórias dessa mulher.
Arca - Veronica Roth
A história da Roth fala sobre a nossa Terra prestes a encontrar a extinção. Há vinte anos, um cometa tomou curso para o planeta e a humanidade passou a se preparar para o fim de tudo, construindo arcas para evacuar pessoas em direção a um novo planeta e construindo estações de pesquisa para garantir que a maior parte da vida animal e vegetal fosse catalogada e colocada em duas arcas. Samantha, a protagonista, é uma horticultora e está em seus estágios finais de estudo e catalogação.
Eu não achei que fosse chorar com esse conto, mas chorei. O tom que a Veronica Roth estabelece para essa história é mórbido desde o princípio, e fala muito sobre luto e perda e sobre aquele peso que nunca passa realmente, não importa quanto tempo se passe. É uma história triste e sensível sobre o fim de tudo, ainda que haja tantos preparativos para um recomeço.
Samantha e sua relação com as orquídeas, que ela ajuda um velho doutor a estudar, são dois pontos dolorosos de acompanhar. Eu não sabia o que encontraria nesse conto e ele acabou se tornando um dos meus favoritos ao fim. E que fim!
Você chegou ao seu destino - Amor Towles
Esse conto explora a possibilidade de inseminação artificial num nível extremo de controle e manipulação genética; aqui, o protagonista visita uma clínica para descobrir que eles podem não apenas ajudar ele e a esposa a conceber, mas também podem determinar como vai ser o futuro e a personalidade da criança que vão ter de acordo com códigos genéticos e, claro, sua preferência.
Eu achei todo o conceito muito Black Mirror no sentido de ser extremamente bizarro e medonho; a ideia de que os pais podem controlar o futuro do filho com uma única escolha é controladora e, conforme o protagonista vai vendo, nem um pouco recompensadora. Não importa qual futuro escolha, sempre existe aquele momento de provação e de desespero e de perdição que todos experimentam na vida.
E aí começam questionamentos que o conto abordou muito bem, tanto em relação ao controle assim como o quanto esse controle não pertence realmente a quem está escolhendo. Não conhecia nada do autor, mas fiquei curiosa pelas obras dele.
A última conversa - Paul Tremblay
Certamente a história mais confusa por mexer com o desconhecido durante quase toda ela. No conto, você é o protagonista, mas não sabe o que está acontecendo. Você acorda em um quarto escuro e a voz de uma mulher te informa de que tem algumas tarefas a cumprir para se sentir mais saudável; o motivo? Ele vai ser revelado lá no final.
Esse conto me deu vibes de Black Mirror também, justamente por trabalhar aquela coisa da tecnologia com o bizarro e o mistério que funciona bem pra construir a tensão durante a leitura. A narrativa dá pequenas pistas do que pode estar acontecendo, até revelar tudo num final pra lá de chocante. Acho que vale a pena manter o mistério do que se trata nesse conto para garantir que a imersão seja completa quando você for ler.
Randomizando - Andy Weir
Por fim, uma história de trambiqueiros futuristas mexendo com física quântica, basicamente. Eu comecei esse conto um pouco confusa, numa Las Vegas que está tentando evitar golpes em cassinos gigantescos e então dois golpistas tentando tirar a sorte grande mesmo assim.
O conto explora bastante da física quântica para leigos, porque usa explicações compreensíveis e fáceis de acompanhar. Como alguém que se formou em faculdade de humanas, te garanto que não tem como se perder aqui. Achei toda a concepção do golpe e de como ele se alia à tecnologia muito interessante, e o desenvolvimento inesperado do final também. É uma história rápida e bem construída.
No geral, Forward foi uma surpresa maravilhosa. Resolvi ler fora da TBR porque eram contos e pareciam interessantes e encontrei histórias intensas, reflexivas e críticas; terminei esse livro querendo conhecer mais dos autores que não conhecia e completamente apaixonada pelas histórias da Jemisin e da Roth, com quem já era familiarizada.
Se você curte ficção científica em seus mais diferentes sub-gêneros, procura Forward porque vai adorar!
Sinopse: Para alguns, a tecnologia é o prenúncio do fim do mundo. Para outros, é apenas o começo. Entre os dois extremos, estão os contos reunidos em "Forward". Encabeçada pelo escritor e roteirista Blake Crouch (Recursão, Matéria Escura) e povoada por N. K. Jemisin (Nós Somos a Cidade), Veronica Roth (série Divergente), Amor Towles (Um Cavalheiro em Moscou), Paul Tremblay (Na Escuridão da Mente) e Andy Weir (Perdido em Marte), a coletânea combina o melhor de cada autor, em narrativas que vão da ficção científica especulativa à ação e ao suspense. Seja em Vegas, seja em uma Terra utópica, a verdade é que nossos dilemas se reeditam infinitamente em torno do que nos faz humanos - paixões, medos, sonhos, ambições... independentemente dos saltos tecnológicos e de qualquer ensaio do futuro. É disso que trata "Forward". É disso que trata a vida.
Título original: Forward
Autores: Blake Crouch, N.K. Jemisin, Veronica Roth, Amor Towles, Paul Tremblay, Andy Weir
Tradução: Braulio Tavares
Editora: Intrínseca
Gênero: Ficção científica
Nota: 4,5
Sempre fui apaixonada pela N.K. Jemisin, vou degustar e conhecer outros autores, obrigada!
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