Resenha: Maus - Art Spiegelman - Queria Estar Lendo

Resenha: Maus - Art Spiegelman

Publicado em 3 de mar. de 2022

Resenha: Maus - Art Spiegelman

Maus foi uma das leituras que escolhi para a Maratona 24h No Sleep, um dos quadrinhos que estava nos meus planos de leitura para o ano. No meu diário de leitura, só consegui descrever essa experiência como devastadora, porque é tudo que resta do emocional quando você a termina.

Art Spiegelman venceu o Pulitzer com esse quadrinho, que retrata a vida de seu pai, Vladek, durante o holocausto. Judeu polonês, Vladek passou por todo o horror do começo ao fim da guerra; sobrevivente de Auschwitz, ele narra sua vida ao filho para que Art possa passar essa história aos quadrinhos. Mesmo com a releitura, desenhando judeus como ratos, nazistas como gatos, americanos como cães e poloneses como porcos, é humano. Terrível e assombrosamente humano.

Maus deveria ser leitura obrigatória para todo mundo. Para todo o mundo. Muito se fala sobre o holocausto, muito se estuda sobre a Segunda Guerra Mundial e, ainda assim, parece que não é suficiente. Ainda tem gente que suaviza os horrores do nazismo, que alega "liberdade de expressão" quando se fala em fascismo, que mostra a suástica com orgulho e não sofre as consequências por isso. É 2022, mas o horror da guerra não acabou. A mancha histórica que o governo do Hitler deixou no mundo segue viva.

Esse quadrinho é uma jornada pela vida de Vladek; do bem sucedido e charmoso rapaz que se apaixona e constrói uma família e vive em paz com seus sogros, esposa e filho ao fugitivo ao prisioneiro e ao sobrevivente. As ilustrações de Art Spiegelman são viscerais e necessariamente tenebrosas.

Os traços mais leves e mais iluminados no começo, quando a guerra ainda não tinha estourado, até as sombras crescentes com a chegada dos alemães na Polônia até, finalmente, a escuridão terrível das prisões e linchamentos e perseguições e campos de concentração.

Ao mesmo tempo em que narra sua história, Vladek também convive com o filho no presente; uma convivência difícil, marcada pelos horrores da guerra, que claramente infringiram na personalidade de Vladek traços de trauma irreversíveis. Pequenos detalhes que parecem irritantes aos olhos do filho, já acostumado com as paranoias do pai, mas que lentamente se mostram sombras do horror que o pai aguentou.

Resenha: Maus - Art Spiegelman

Maus é pesado, em todos os sentidos. E por isso tão necessário; falta empatia no nosso mundo, hoje. Falta consciência. Avançamos tanto para continuar a regredir.

Ainda que os momentos de Art com seu pai sejam tensos, e outros que mostrem que Vladek, como todo ser humano, tem seu lado sombrio, por vezes o autor traz leveza para a narrativa. Com lembranças mais doces de Vladek, quando menciona sua falecida esposa, ou quando relembra da Polônia antes da invasão. Quando ele e o filho mantém um diálogo simples, sem terrores ou traumas.

Eu não sei se tenho em mim a capacidade de explicar tudo que esse quadrinho me fez sentir. Lágrimas e angústia são palavras leves pra me expressar. Mas, ainda assim, é uma leitura obrigatória. É uma discussão ainda relevante. É um mal que continua vivo e influente na nossa realidade. Hitler caiu, mas o nazismo ainda tem voz.

Resenha: Maus - Art Spiegelman

Maus é uma história que merece ser ouvida, uma narrada entre milhões que se perderam com o holocausto. Uma história sobre família, resistência, fé, amor e os horrores da guerra.

Sinopse: Maus ("rato", em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio ao filho Art. O livro é considerado um clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos. Foi publicado em duas partes, a primeira em 1986 e a segunda em 1991. No ano seguinte, o livro ganhou o prestigioso Prêmio Pulitzer de literatura. A obra é um sucesso estrondoso de público e de crítica. Desde que foi lançada, tem sido objeto de estudos e análises de especialistas de diversas áreas - história, literatura, artes e psicologia. Em nova tradução, o livro é agora relançado com as duas partes reunidas num só volume. Nas tiras, os judeus são desenhados como ratos e os nazistas ganham feições de gatos; poloneses não-judeus são porcos e americanos, cachorros. Esse recurso, aliado à ausência de cor dos quadrinhos, reflete o espírito do livro: trata-se de um relato incisivo e perturbador, que evidencia a brutalidade da catástrofe do Holocausto. Spiegelman, porém, evita o sentimentalismo e interrompe algumas vezes a narrativa para dar espaço a dúvidas e inquietações. É implacável com o protagonista, seu próprio pai, retratado como valoroso e destemido, mas também como sovina, racista e mesquinho. De vários pontos de vista, uma obra sem equivalente no universo dos quadrinhos e um relato histórico de valor inestimável.

Título original: Maus
Autor: Art Spiegelman
Editora: Companhia das Letras
Tradução: Antonio de Macedo Soares
Gênero: HQ
Nota: 5


3 comentários:

  1. Olá, Denise.
    Eu quero muito ler essa HQ. Tenho certeza de que é excelente e que vai mexer muito comigo. Eu tenho o hábito de sempre ler algo referente a Segunda Guerra porque não quero esquecer. Diferente de grande parte da população, infelizmente em sua maioria governantes, eu aprendi com os erros deles. Mas o povo parece que gosta de repetir sempre os mesmos erros. Vide essa guerra absurda que começou. Já não basta o Covid ter matado tanta gente.

    Prefácio

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  2. Oi!
    Já tinha visto alguns elogios à essa HQ, mas não fazia ideia de qual era a abordagem dela sobre o holocausto, que ao ler a sua resenha notei que tem um tom mais pesado (que acho necessário para o tema e como andam as discussões sobre o fascismo atualmente) do que eu imaginava, virou prioridade de leitura para mim sim.

    Beijão
    https://deiumjeito.blogspot.com/

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  3. Oie, essa obra está na minha lista há um tempo e sempre que vejo uma nova recomendação, me sinto no dever de agilizar a leitura haha.

    Bjs

    Imersão Literária

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