Resenha: Tress, A Garota do Mar Esmeralda - Brandon Sanderson

Tress, A Garota do Mar Esmeralda é o primeiro livro do Projeto Secreto (quatro histórias fantásticas, independentes, que o Brandon Sanderson escreveu durante a pandemia). Essa aqui fala sobre uma garota que coleciona copos resolvendo embarcar em uma missão de resgate.

Se curtiu esse livro, pode gostar de:

• Warbreaker, de Brandon Sanderson
• A Princesa Prometida, de William Goldman
• Um tom mais escuro de magia, de V.E. Schwab
• Os Reis do Wyld, de Nicholas Eames
• Destruidor de Mundos, de Victoria Aveyard

Tress vive em uma rocha que não é realmente uma rocha, em um mar que não é realmente o mar. Ela coleciona copos, lava janelas e está bem contente com a sua vida. Principalmente com a parte que envolve Charlie, seu melhor amigo (e por quem ela é apaixonada). Quando os sentimentos dois dois parecem convergir em um momento feliz, no entanto, algo terrível acontece.

Charlie é levado pelo pai para uma viagem para buscar uma noiva. E o plano do garoto de postergar e entediar as candidatas poderia ser perfeito, não fosse um problema: ele some durante a viagem, capturado por uma Feiticeira que vive no mais terrível dos mares.

A única pessoa que parece interessada em salvá-lo é Tress, o que obriga a garota a fazer o impossível: deixar seu conforto e reunir coragem para se aventurar pelos mares a fim de resgatar o seu grande amor.

(Tress estava sendo gentil. Eu teria dito que ele era mais doido que um milk-shake de nitroglicerina).

Tress, A Garota do Mar Esmeralda é uma grande aventura divertida, e o Brandon Sanderson acerta mais uma vez. O livro é único e se passa na Cosmere, com direito a narração de um dos maiores personagens desse grande universo do autor: Hoid.

É ele quem nos conta a história de Tress, Charlie, da tripulação do Canto do Corvo (da qual o Hoid faz parte, inclusive, porque sim: ele é um personagem recorrente na história que está contando) e do mundo criativo que é esse de mares que não são mares.

Se você está familiarizade com a Cosmere, esse livro é um prato cheio de referências, comentários oportunos, comparações, curiosidades. Hoid está sempre ali pra nos relembrar de algum detalhe dos outros mundos desse universo, e a sensação nostálgica que bate com esses momentos torna essa leitura ainda mais emocionante para os fãs do livro do autor.

Mas, se você não conhece a Cosmere e nunca leu nada do Brandon Sanderson, é Tress que eu vou passar a inicar para começar a ler. Porque essa é uma aventura despretensiosa, cheia de coragem, amizade e amor. A sensação que tive ao ler foi bem parecida com a que A Princesa Prometida me passou (tanto o filme quanto o livro). Essa inclusive foi a história que inspirou o Brandon a escrever esse livro (é muito legal ser sobre o brainstorming dele no pós-escrito!).

Aqui você tem ótimos personagens, uma protagonista cheia de carisma, e um mundo fantástico criativo ao extremo.

Tress quer salvar Charlie. E tudo se desenrola a partir dessa decisão dela. Uma garota simples, nem um pouco extraordinária, se mostra uma das protagonistas mais incríveis que já tive a alegria de ler. Ela tem muita personalidade, um coração de ouro e uma curiosidade enervante que é sempre a responsável por salvá-la de todas as enrascadas que aparecem em seu caminho.

Memórias têm um jeito de mudar. Azedando ou adoçando com o tempo.

Viajar pelo Mar Esmeralda (e pelo Carmesim e pelo da Meia-Noite, como a aventura exige dela) é uma grande provação. E a garota que conhecemos, apaixonada por copos e por sua rotina, precisa de muita coragem e esperteza para sobreviver. Duas coisas que ela tem de sobra.

Tress, A Garota do Mar Esmeralda é muito sobre a sua protagonista, mas também muito sobre a aventura e o que aparece no caminho dela por isso. 

Para atravessar o Mar Esmeralda, Tress acaba se envolvendo com uma tripulação de piratas. Comandados pela cruel e fria capitã Crow, o pessoal do Canto do Corvo é de uma excentricidade apaixonante. Eu amei demais principalmente o trio que mais interage com a Tress: Fort (um brutamontes gentil, surdo - com uma representatividade bem sensível!), Ann (que é a pior atiradora que os mundos já viram) e Salay (que está em uma missão emocionante e particular).

E tem também o Huck, que é uma surpresa por si só. Muito carismático, muito querido e eu adorei o que ele acrescentou na trama (e toda a sub-trama que o acompanha!).

As interações e a construção do found family são bem notáveis, e é uma alegria acompanhar a evolução e a proximidade entre os personagens. Ah, claro, o Hoid também brilha em todo momento que aparece. Ele está com um probleminha mágico que o torna não tão útil às situações quanto poderia ser - e por isso é tão engraçado.

Uma das grandes tragédias da vida é saber quantas pessoas no mundo foram feitas para voar, pintar, cantar ou conduzir - só que elas nunca têm a chance de descobrir isso.

Também é de uma tensão bem grande os embates entre a capitã e a tripulação, porque Crow representa o lado sombrio, terrível e mesquinho dos mares (que não são mares).

A questão com o sistema de magia e o funcionamento do mundo de Tress é muito interessante. Um dos mais criativos da Cosmere! Os mares são formados por esporos, e os esporos têm graus de perigo - mas, quanto mais aprendemos sobre ele, mais descobrimos que talvez nem tudo seja preto no branco como parecia no começo.

O Mar Carmesim foi meu favorito. Todo o conceito, como ele funciona, como é perigoso cria uma situação de tensão e de ação muito emocionante para a tripulação pirata. E como eles lidam com isso (com a Tress sendo a protagonista que é!) é genial.

Pra finalizar, preciso dizer que a narração do Hoid é um espetáculo da comédia. O timing cômico é perfeito; arranca risadas ao mesmo tempo em que coloca a gente pra pensar e também pra se emocionar. Brandon Sanderson, mais uma vez, me fazendo viver a montanha-russa de emoções que só uma história bem contada faz a gente viver.

Estou soterrado em bravura, inteligência e heroísmo. Em vez disso, por favor, me dê um pouco de bom senso.

A edição da Trama ficou linda demais. Eu adorei que fizeram no mesmo estilo da edição do Kickstarter gringo, com adaptação de capa e de acabamento pra parecer muito com o original. O interior do livro tá a coisa mais maravilhosa do mundo, com detalhes coloridos e ilustrações divinas (feitas por Howard Lyon). A tradução de Pedro Ribeiro também ficou excelente, com ótimas adaptações que fazem jus ao bom humor e emoção da narrativa. Só achei que a revisão pecou um pouco em alguns momentos. Pra um livro tão caro e tão bem feito, esperava um pouco mais cuidado com a gramática, vírgulas e letras no meio de palavras.

Tress, A Garota do Mar Esmeralda é aquele tipo de fantasia em volume único cujas páginas passam sem que você perceba. Quando termina, deixa um vazio no coração - mas aquele vazio de despedida de personagens e aventura que marcaram para sempre.

Sinopse: A única vida que Tress conhecia na ilha onde nasceu, em meio a um oceano verde esmeralda, era simples, com prazeres mundanos como colecionar copos trazidos por marinheiros de terras distantes e ouvir as histórias contadas por seu amigo Charlie. Porém, quando o pai de Charlie o leva em uma viagem para encontrar uma noiva e um desastre acontece, Tress precisa se esconder em um navio e procurar a Feiticeira do mortal Mar da Meia-Noite. Sobre as águas sombrias, repletas de esporos e piratas, será que Tress vai conseguir deixar sua vida simples para trás e conquistar seu espaço num oceano em que uma única gota pode significar a própria morte?

Título original: Tress of the Emerald Sea

Autor: Brandon Sanderson

Editora: Trama

Tradução: Pedro Ribeiro

Gênero: Fantasia

Nota: 5+

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