Resenha: Quarta Asa - Rebecca Yarros

A leitura finalmente veio aí! Quarta Asa, sucesso de fantasia da autora Rebecca Yarros, foi uma aventura. Teve seus altos e teve seus baixos, mas, num contexto geral, entregou o que eu estava querendo muito e não encontrava em lugar nenhum: uma divertida história de fantasia com dragões.

Se gostou desse livro, pode curtir:

• Destruidor de Mundos, de Victoria Aveyard
• Reino das Bruxas, de Kerri Maniscalco
• Trono de Vidro, de Sarah J. Maas
• Para o Trono, de Hannah Whitten

Na trama, acompanhamos Violet Sorrengail. Ela está prestes a ingressar em Basgiath, a academia que treina cadetes para (tentar) se tornar cavaleiros de dragões. Através de uma série de provações cada vez mais mortíferas, os cadetes que sobreviverem se aproximam da Ceifa, o dia em que vão descobrir se estão aptos a serem escolhidos por um dragão ou a ser devorados por ele.

Violet tem muito a se provar. Não apenas por ser filha da comandante militar, mas porque ela sempre foi considerada fraca em comparação aos irmãos e ao legado da família. Ela não quer mais ser vista como frágil. Ela quer fazer valer a sua posição em Basgiath. E quando um dos dragões mais poderosos do mundo a escolhe, ela percebe que talvez, e apenas talvez, tenha uma chance de se provar sim.

Quarta Asa me surpreendeu bastante por ser uma leitura tão divertida. A questão com esse livro é que quem ama, ama muito, e quem odeia, odeia muito. Então, com as expectativas baixas, eu fui sem esperar muito dele. E acabei sendo pega de surpresa por isso, porque ele entrega sim uma leitura muito legal e eletrizante.

A começar pela protagonista que é fácil de gostar e mais ainda de rir com ela. A Violet é uma personagem que me lembrou um mix de Rose Hathaway, de Vampire Academy, e Aelin, de Trono de Vidro. Ela tem aquele humor debochado de quem leva um soco na boca, mas não perde a piada. E eu adorei ela por isso!

Sua jornada em Basgiath é uma provação atrás da outra. Quase todos os cadetes querem passar a perna nela, tem alguns inimigos na sua cola, e os filhos dos rebeldes definitivamente tem muito contra ela (sendo filha da comandante que executou os pais deles e tal).

Uma geração decide mudar o texto. Outra escolhe ensinar aquele texto. A geração seguinte cresce e a mentira se transforma em história.

Quarta Asa faz muito bem em mostrar a protagonista penando porque faz as conquistas dela valerem a pena pra gente também. Quanto mais a Violet sofre pra alcançar alguma coisa, mais a recompensa por essa vitória traz um suspiro de alívio. As coisas não vêm fácil para ela só porque é a personagem principal, e isso, num livro de fantasia, é muito recompensador.

Ela não é inteligente como o livro diz que é, no entanto. Muita coisa óbvia passa pela Violet igual uma brisa num dia quente. Eu ficava ??? mona você não vai MESMO notar que isso é estranho? Até que a coisa explodia na cara dela e ela ficava chocada porque "ó meus deuses, como isso ACONTECEU?!".

Sorte sua que você era engraçada, Violet.

Seus colegas de Asa (que é tipo a equipe para a qual ela é designada, com quem ela vai treinar e lutar) são bem divertidos. Com destaque para a Rhiannon, que se torna a melhor amiga dela. Achei que ela teria um quê de "token de melhor amiga preta", mas a Rhiannon tem seu desenvolvimento e seus arcos individuais que tornam ela um indivíduo, e não apenas um pilar para a Violet.

Liam também foi outro que me ganhou muito. Ele é designado para ser o guarda-costas da Violet em determinado ponto do livro e pense num personagem querido, de coração de ouro mesmo! E tem um leque de personagens que aparecem no decorrer da história que é bem legal de acompanhar, dos mais babacas aos mais amorezinhos. Tem diversidade, também! Personagem não-binário, gays, lésbicas, bi. Uma fantasia que não ignora a existência deles (cof cof né SJM? cof cof).

Em seus embates e provações, Violet acaba sempre cruzando o caminho de Xaden, que é o Dirigente da Asa e também seu inimigo mais mortal ali. Foi a família dele que matou o irmão da Violet na rebelião, e a mãe dela que matou a família dele. Uma relação bem complicada, bem "enemies to lovers", que acaba escalonando para um caminho inesperado depois da Ceifa.

- Na guerra, as pessoas morrem. Não é uma coisa gloriosa que nem os bardos cantam por aí.

O que aproxima eles é uma força além do controle dos dois, mas acaba esclarecendo muito sobre os personagens e acaba criando uma conexão interessante de acompanhar. Eu também gostei muito do Xaden! Fiquei com medo que ele fosse um Rhysand wannabe (ninguém merece isso), mas não! Ele é divertido, turrão, ele me lembra uma mistura de Dimitri Belikov com Rowan Whitetorne.

A relação dos dois, conforme se desenvolve num romance, é bem explosiva. Em todos os sentidos. Sim, eu estou falando de cenas de sexo também. Quarta Asa não é um livro juvenil. É adulto e deixa isso bem claro, tanto nas falas das personagens, nas discussões, nas cenas de violência e de sexo.

Essas comparações são inevitáveis, desculpa. Quarta Asa usa sim, e muito, de referências da literatura fantástica hypada para se construir. E não tem nada de errado nisso, porque é literatura jovem e esses estilos de personagens e relacionamentos se tornaram comuns no mainstream. Não torna a leitura menos divertida por isso.

Que eu não gostei tanto assim. Acho que a autora acabou se aproveitando demais de conveniências narrativas e buracos que ela mesma tinha plantado para trazer o plot twist para a história. Um plot twist que nem foi tanto um twist assim, porque estava bem óbvio para onde o livro pretendia caminhar. Não foi uma experiência que estragou a leitura para mim, só me deixou meio "ah... era isso então".

Como eu disse: Quarta Asa é um livro divertido. É uma aventura com dragões muito legal, com um universo criativo (ainda que cuspido de algumas referências óbvias) que se transforma quando chega no final. Não é um livro revolucionário pra quem já leu muita alta fantasia, mas ele é uma leitura bem legal pra quem está querendo começar no gênero.

Outro problema do livro foi a edição. Meu deus do céu, Rebecca Yarros não teve um editor, um leitor beta, um amigo para avisar que menos é mais. E olha que eu sou fã do Brandon Sanderson! Mas eu nunca vi tanta página sendo usada para contar pouca coisa. Discussões entre personagens se repetiram até dizer chega, algumas cenas pareciam estar andando em círculos de tanto que ela fazia a mesma descrição, e não teve ninguém pra podar os diálogos e repetições da protagonista! A gente está na cabeça da Violet, não precisa pensar uma coisa pra depois dizer essa mesma coisa.

Reclamações feitas, deixa eu falar do melhor de Quarta Asa, que são os dragões! Eles foram um show à parte. Desde a primeira aparição até o fim, entregaram conceito, aclamação, roubaram todas as cenas para eles.

Vai morrer como escriba ou viver como cavaleira?

Tairn, que é o dragão da Violet, e Andarna (que é uma surpresa) foram meus favoritos. Mas eu também gostei muito da Sgaeyl, a dragão do Xaden. Esse conjunto de personagens interage muito por circunstâncias inesperadas, e rapaz como é divertido toda vez que eles estão na mesma cena. Tairn com seu pavio curto e paciência mais curta ainda, Andarna que é um anjo com escamas e Sgaeyl que é mais perigosa do que veneno de naja.

Eu os amo e vou morrer por esses dragões!

Gostei bastante da edição da Planeta Minotauro. A tradução da Laura Pohl ficou muito boa e divertida, com maneirismos em português que combinaram demais com o deboche e o humor da Violet.

Quarta Asa foi uma surpresa muito agradável, e eu espero que a série continue nesse ritmo de aventura, romance e bom humor. Tô curiosa para ver pra onde a história vai com a última cena que tivemos, e quais vão ser os destinos da Violet, do Xaden e dos seus dragões. 

Sinopse: Violet Sorrengail, uma jovem de vinte anos, estava destinada a entrar na Divisão dos Escribas, levando uma vida relativamente tranquila entre os livros e as aulas de História. No entanto, a general comandante das forças de Navarre – também conhecida como sua mãe –, durona como as garras de um dragão, ordena que Violet se junte às centenas de candidatos que buscam se tornar a elite de seu país: cavaleiros de dragões. O problema é que, quando você é menor que todos os demais candidatos e certamente mais frágil que eles, a morte está a apenas uma batida de coração de distância... Porque os dragões não se unem a humanos “frágeis”. Eles os reduzem a cinzas. Todos no Instituto Militar Basgiath têm um objetivo. Com menos dragões disponíveis que cadetes, a maioria estaria disposta a matar Violet para aumentar suas próprias chances de sucesso. O restante a mataria apenas por ser filha de quem é – e um bom exemplo disso parece ser Xaden Riorson, o líder de esquadrão mais poderoso e implacável na Divisão dos Cavaleiros. Entre amigos, inimigos e amantes, Violet precisará contar com sua inteligência se quiser sobreviver. Mas as proteções do reino estão falhando e a cada dia que passa a guerra se torna mais mortal. E o pior: Violet começa a suspeitar que a liderança está escondendo um terrível segredo.

Título original: Fourth Wing

Autora: Rebecca Yarros

Editora: Planeta Minotauro

Tradução: Laura Pohl

Gênero: Fantasia

Nota: 3,5
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