Desde o lançamento do primeiro livro da trilogia Powerless, a fantasia young adult de estreia de Lauren Roberts tem gerado discussões entre os leitores. Com uma grande hype e recomendado como um favorito do Booktok, a semelhança entre ele e livros como A Rainha Vermelha, Jogos Vorazes e Jovens de Elite tem sido questionada.
Mas afinal, seria Powerless um plágio ou apenas uma inspiração literária?
Afinal, Powerless é Fanfic, plágio ou inspiração?
Como uma boa leitora de fanfic, entendo que ela seja uma homenagem às histórias que amamos. Uma forma de expandir aquele universo, dar continuidade a histórias que gostaríamos de ter visto, destacar personagens que amamos ou até mesmo criar universos alternativos que sigam rumos totalmente diferentes dos originais.
Analisando por essa perspectiva, Powerless poderia ser entendida talvez como uma fanfic disfarçada, uma reinterpretação carinhosa de livros como:
Por esse ponto de vista, Lauren teria conscientemente adaptado à sua maneira tropos comuns a essas histórias e que são favoritos dos fãs, como “poderosos x comuns” e “provas mortais como entretenimento”. Ou seja, ela não estaria buscando copiar, mas sim reimaginar e expandir a essência do que os fãs adoram.
O plágio, por outro lado, significa a cópia não autorizada de ideias, personagens ou enredos de outras obras, sem que existam alterações suficientes para que a transforme em algo novo e original.
Algumas pessoas apontam que semelhanças entre Powerless e A Rainha Vermelha, principalmente, são tão fortes que a linha entre inspiração e plágio pode ter ficado muito próxima de ser cruzada.
A própria Victoria Aveyard, autora de A Rainha Vermelha, chegou a dar algumas indiretas nesse sentido.
Por outro lado, vale lembrar também que no mundo literário, principalmente no gênero de fantasia young adult, é comum encontrar temas recorrentes. A ideia de sociedades divididas, poderes especiais e rebeldes enfrentando um sistema opressor não é exclusiva de A Rainha Vermelha, Jovens de Elite ou Jogos Vorazes.
No caso de Powerless, Lauren pode ter sido inspirada por esses sucessos literários, utilizando-os como ponto de partida para sua própria história. Afinal, muitas das ideias literárias que vemos hoje são reinterpretações de temas que vêm sendo trabalhados por séculos.
Para facilitar a leitura desse artigo, vou deixar linkado aqui a resenha de Powerless, a resenha de A Rainha Vermelha e a resenha de Jovens de Elite.
Comparação entre Powerless e A Rainha Vermelha, Jogos Vorazes e Jovens de Elite
Beleza, entendemos agora um pouco sobre as diferenças entre aquilo que pode ser considerado plágio, inspiração e fanfic. Mas, afinal, quais são as comparações feitas em relação a Powerless?
Para facilitar a compreensão e te ajudar a formar sua própria opinião sobre essa polêmica literária, listei abaixo algumas dessas semelhanças entre as histórias.
Poderosos vs sem poderes
Aqui está o que é provavelmente a maior fonte de apontamentos de plágio entre a história de Lauren Roberts e a obra de Victoria Aveyard.
Em Powerless a sociedade é dividida entre os Notáveis, pessoas que possuem poderes, e os Comuns, aqueles que não foram afetadas pela Peste e continuam sem poderes. O mesmo acontece em Rainha Vermelha, onde a divisão se dá pela cor do sangue, com os Prateados sendo poderosos e os Vermelhos sendo pessoas comuns.
Nas duas histórias existe uma situação de opressão daqueles que possuem poderes para com os sem. No caso de Powerless chegando ao nível de que os Comuns foram exilados e são sumariamente executados quando descobertos.
A doença que virou fonte de poderes
Falando sobre os poderes dos personagens de Powerless e como eles foram adquiridos, é interessante apontar que o conceito de Peste do livro é muito semelhante à Febre de Sangue da trilogia Jovens de Elite.
Na fantasia de Marie Lu, uma doença também acometeu o reino e matou muitas pessoas. Entre aquelas que sobreviveram, muitas foram marcadas pela doença e, com ela, adquiriram poderes.
Diferente do que acontece em Powerless e Rainha Vermelha, no entanto, aqui os Malfettos (pessoas com poderes) são vistos como párias e são caçados pela sociedade. É daí que surge o grupo de Jovens de Elite, rebeldes malfettos, que dá nome a história.
A violência como entretenimento
É praticamente impossível pensar no conceito de uma competição para entretenimento com provas envolvendo a morte de seus participantes sem lembrar imediatamente de Jogos Vorazes. A trilogia de Suzanne Collins foi sucesso mundial, apresentando um universo distópico onde adolescentes precisavam lutar por suas vidas e matar uns aos outros enquanto uma sociedade rica e doente assistia em êxtase.
Em Powerless, os Jogos de Expurgo, como são chamados, também servem para comemorar um acontecimento cruel do qual o governante não quer que seu povo esqueça.
Se em Jogos Vorazes o Presidente Snow quer relembrar a todos a vitória da Capital sob os estados rebeldes, em Ilya o Rei promove os jogos para comemorar o Dia do Expurgo, a data quando todos os Comuns foram exilados do reino.
E, apesar de esta ser a maior comparação feita quando se trata deste aspecto da história, é importante lembrar que em A Rainha Vermelha, no primeiro livro da série, também havia uma competição entre pessoas com poderes e com direito a mortes. Afinal, foi caindo acidentalmente dentro do domo da prova que Mare acabou descobrindo seus poderes e dando início a toda sua jornada.
Os rebeldes e a resistência
Outra semelhança muito forte entre Powerless e A Rainha Vermelha são os rebeldes, ou a Resistência. Aqui é importante deixar claro que ter um grupo adversário à instituição de poder é um elemento extremamente comum entre histórias de fantasia e distopia.
Acredito que o que mais se destaca, nesse caso, são as similaridades entre as histórias em si.
- O passado estabelecido das personagens
- Sua posição na sociedade
- A forma como elas descobrem e se juntam a esses grupos
Na verdade até todo o plano envolvendo os túneis em Powerless me lembrou a mesma cena de A Rainha Vermelha.
Preciso, porém, fazer um adendo quanto a este tópico e falar que, em nível de organização e periculosidade, a Resistência da Lauren Roberts me lembrou muito mais os rebeldes de A Seleção do que o grupo bem escrito e estruturado de Rainha Vermelha. É claro que isso pode refletir muito mais sobre a capacidade e qualidade de escrita da autora do que sobre a organização em si, mas é um ponto a ser feito.
Dois príncipes para uma protagonista
Talvez aqui seja um dos pontos que mais me pega quanto as coincidências entre Powerless e Rainha Vermelha. Enquanto a questão dos poderes é sim pertinente, já mostrei aqui que Jovens de Elite trata da mesma situação, ainda que em contexto diferente.
Mas quando somamos a isso outras coisas, como a relação das protagonistas com os príncipes de seus respectivos livros, a história começa a ficar perigosamente parecida.
Todo mundo que leu A Rainha Vermelha sabe que existe uma relação entre Mare e Cal, o príncipe herdeiro, mas que ela também cria um vínculo com Maeven, o irmão mais novo e menos frio. Se você já leu a série, não preciso contar como essas duas relações se desenvolvem.
Já em Powerless a mesma dinâmica aparece, com Kitt sendo o irmão mais gentil e menos rigoroso, mas nesse caso ele é o mais velho e portanto o futuro rei. Aqui a relação de um possível triângulo amoroso não ganha tanto destaque como no primeiro livro da Victoria Aveyard, mas ainda existe e fica claro o interesse que os dois irmãos têm na protagonista.
Não sou sua querida, meu bem
E aproveitando que estamos falando da relação entre Paedyn e Kai, vou deixar uma curiosidade que percebi, e outras leitoras também, entre Kai Azer e outro príncipe de uma série literária muito amada por suas fãs.
Em inglês, na versão original, Kai gosta de chamar Paedyn de “darling” o que foi traduzido para o português como “meu bem”. E isso faz com que seja quase impossível não lembrar e comparar com o mesmo “darling” do Maxon de A Seleção, série da Kiera Kass, que nos premiou com a famosa quote “não sou sua querida”.
Algumas outras similaridades, como o nome dos reinos serem Illéa e Ilya e a própria questão da resistência contribuem para que comparações leves acabem sendo feitas.
Nesse caso, é claro, com apontamentos muito mais sutis e que só apareceram de fato por conta de todas as outras informações apresentadas acima. Ninguém aqui está dizendo que tudo é inspiração de algum lugar ou que a Kiera Kass tem a patente da palavra “darling”, só quis realmente trazer esse tópico a titulo de curiosidade.
Mas afinal, o livro Powerless de Lauren Roberts é plágio ou não?
Resumindo, conforme exemplifiquei ao longo do texto, vários elementos da história de Powerless podem ser facilmente comparados com os de outros livros publicados anteriormente.
Quando analisadas isoladamente, essas escolhas podem até ser ignoradas. Pois, como já foi estabelecido aqui, todos eles são tropes comuns de fantasia YA e distopias. Como já diz o ditado: nada se cria, tudo se copia. Basta comparar os próprios livros citados aqui e você vai perceber várias similaridades entre eles também.
Ou seja, como identificar quem inspirou quem para começo de conversa?
O problema maior de Powerless reside na maneira como ele se alimenta de pontos centrais de outras histórias, principalmente de Rainha Vermelha.
A história da protagonista favelada que se vê envolvida em uma trama perigosa e arriscada, em uma sociedade onde ela não é ninguém em um mundo de pessoas poderosas, e que acaba chamando a atenção de dois irmãos que são príncipes e, portanto, perpetuadores do sistema e consequentemente seus inimigos…
Bem, fica um pouco óbvio demais e difícil de ignorar.
Dito isso, podemos considerar Powerless um plágio de Rainha Vermelha?
Pessoalmente, eu não acredito que a obra seja plágio, por si, ou nem mesmo uma fanfic.
Mas entendo que a Lauren Roberts, talvez até mesmo por inexperiência, possa ter ido longe demais ao emprestar algumas ideias. De maneira que, ainda que não configure plágio, fica claro uma falta de autenticidade por parte da autora.
Agora é esperar os próximos livros, acompanhar a evolução da história e torcer para que ela siga caminhos próprios e mais originais.
Se for ver pelo ponto de que A Rainha Vermelha já é uma mistura de Jogos Vorazes, GOT e A Seleção com os X-Men, não tem nada muito original em nenhum dos livros. Não acredito que seja plágio e sim em escrever o que o povo está querendo ler. É o que está fazendo sucesso, pra que fugir dessa formula? Jogos Vorazes mesmo se for ver é tido como plágio de Battle Royale.
ResponderExcluirExato, Sil. A grande ironia de tudo isso é que A Rainha Vermelha super foi apontada como "mais do mesmo" e "uma mistura de vários livros anteriores". Por isso que eu olho com muita parcimônia toda vez que alguém acusa de plágio e tal. Pra mim, nesse livro em específico, o que me pega mais são as similaridades entre a protagonista e o plot envolvendo ela e os dois príncipes. Porque os elementos de poderes, do jogos e blablabla, isso tudo é plot batido já, mas a forma como ela construiu a história da Paedyn com o Kai e o Kitt lembra MUITAS coisas de Mare/Cal/Maven... Enfim, vou esperar para ler o segundo e poder opinar melhor.
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