Resenha: Sacramentadora - Brandon Sanderson

Como é que eu vou resenhar este livro é um mistério. Sacramentadora é o terceiro volume da série Os Relatos da Guerra das Tempestades, de Brandon Sanderson. Sequência de Palavras de Radiância, adiciona um caps lock na definição de ÉPICO que é essa série.

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Esse resenha vai conter alguns spoilers de O Caminho dos Reis, Edgedancer e Palavras de Radiância.

Sacramentadora começa em consequência ao fim do seu antecessor. Sadeas foi assassinado e seu corpo é encontrado na cidade mística dos Radiantes. Com isso, cresce o medo de quem pode ter feito tamanha atrocidade - ainda mais porque essa não é a única morte. Outro incidente estranho acontece em Urithiru, um eco dessa morte, que Adolin é alocado para investigar. Shallan, pela curiosidade, resolve investigar mais a fundo.

Kaladin viaja em busca da sua família. Agora que ele pode atravessar grandes distâncias com seus poderes de Cavaleiro Radiante, procurar pelos pais e pela segurança deles é a sua primeira missão. Depois, ele vai servir Dalinar nos preparativos para a guerra contra o inimigo de Roshar, Odium. E, por algum motivo, é esse o momento em que as memórias de Dalinar começam a retornar, e descobrimos mais sobre quem foi ele antes de sacrificar suas lembranças.

A marcha dos humanos atravessa territórios, e a única maneira de sobreviver à Everstorm e ao exército de Odium é unindo os povos nessa grande causa.

Sacramentadora é um livro tão grande, tão extenso em conteúdo e tão grandioso em acontecimentos que é muito difícil de resenhar. Ele é ainda maior que os antecessores, com mais de 1200 páginas na versão norte-americana (que foi a que eu li, por isso alguns termos aqui da resenha vão aparecer em inglês. Não sei como ficaram traduzidos).

Pra mim, esse é o melhor épico de fantasia que já foi escrito. O Brandon Sanderson escalona tudo que foi apresentado até então, do mundo às culturas dele, das ameaças às peculiaridades delas, do inimigo supremo aos seus guerreiros, dos heróis às suas falhas. Sacramentadora explora o máximo que Roshar e que seus habitantes têm a oferecer.

Apesar do tamanho, mais uma vez, eu preciso insistir nessa questão: o ritmo é tão bom que você não nota a quantidade de páginas. O autor sabe equilibrar política, drama e ação numa quantidade perfeita. Quando precisa de grandes cenas de batalha, ele entrega. Quando os personagens vivem dilemas sociais ou pessoais, ele entrega. E quando a política move o grande tabuleiro da guerra, ele entrega mais ainda.

Todo o arco do Dalinar é atravessado por essas três questões. Ele é o grande protagonista desse livro; não a toa o nome da obra vem da sua espada fractal, Sacramentadora. Ele é o personagem principal das grandes questões que aparecem no decorrer dessa parte da história; é nos seus flashbacks que entendemos mais sobre quem Dalinar foi e por que ele carrega tanto remorso e cuidado em suas ações atuais.

"A minha dor não vai pertencer a você."

Ele é um puta dum personagem foda, com o perdão das palavras. Eu já admirava muito a construção dele como um grande general de guerra, pai e político, mas aqui o Brandon Sanderson entrega o melhor do personagem: suas falhas. Sacramentadora desconstrói tudo que conhecíamos do Dalinar até então, e é isso que o deixa ainda mais interessante. Longe de ser o herói perfeito, ele é o herói necessário. E é um que carrega horrores de um passado que choca quando se revela, e continua chocando quanto mais informações obtemos.

Do outro lado da moeda, representando a honra e o temor, Kaladin Stormblessed segue perfeito. Assim como o Dalinar, aqui vemos uma faceta mais sombria do comandante da Ponte Quatro. Ele está carregando terrores, indignações e arrependimentos por tempo demais, e não há tempo, com a guerra batendo à porta, para trabalhar esses demônios. Tudo que Kaladin pode fazer é continuar lutando.

E, em determinado momento, todo mundo quebra. Todo mundo se esgota. Foi legal vivenciar os momentos épicos do personagem, mas principalmente os momentos de maior fragilidade. Sacramentadora é um livro que explora muito da psiquê dos seus protagonistas; até então vivendo o épico, eles agora vivem uma decaída temerosa que pode colocar tudo a perder, se não souberem abraçar os demônios e se reconstruir a partir deles.

Dez lanças vão à batalha e nove se quebram. A guerra forjou aquela que resistiu? Não. Tudo que a guerra fez foi identificar a lança que não se quebraria.

Eu te amo, Kaladin!

Shallan segue perfeita em tudo que faz e, de novo, também está vivendo a queda da montanha-russa em sua jornada. Toda a questão com as espionagens e com os seus poderes Radiantes, que envolvem tecer ilusões (suas mentiras, como diz o Pattern), estão começando a cobrar seu preço. Shallan se vê encurralada pelas próprias incertezas. Pelas personas que criou para assumir quando Shallan não é suficiente. Pelo medo de contemplar quem é, e que talvez isso não seja suficiente.

Tem o romancinho de fundo - não apenas com o Adolin, mas um interesse no Kaladin também - que efervesce as cenas e ajuda a dar um tom mais leve quando necessário. É engraçado e fofo. E é humanamente impossível não shippar os três. Não me importa o que é canon e o que o Brandon Sanderson quer pros personagens, no meu coração o trisal existe sim!

Você não pode escolher o destino, apenas o caminho a seguir.

Falando no Adolin, ele é outro que está vivendo problemas. Não apenas pela atitude drástica que ele tomou ao fim do segundo livro (se você sabe, você sabe) mas por não se arrepender dela. O que isso faz dele? Um homem justo ou um monstro? É na investigação dos assassinatos e se fazendo presente por Shallan, Kaladin e Dalinar que ele tenta se provar.

Gostei muito do arco do Adolin em Sacramentadora. Ele é o cara comum em meio aos heróis de outra era. Não tem poderes, além do seu incrível senso de moda, e entrega leveza e humor quando a gente precisa. Ele é parte do coração dessa aventura, e mais de uma vez eu me vi emocionada com as cenas dele (principalmente no final!).

Ainda há histórias para contar.

Como eu disse, esse livro tem uma infinidade de situações e consequências sendo exploradas, o que torna impossível falar muito sobre ele. O que eu posso dizer, com tranquilidade, é que Sacramentadora é o melhor volume da série até agora. Quando termina, te enche daquela energia de "eu preciso ler o próximo!" (e sim, eu já estou com Dawnshard em mãos para continuar essa aventura).

O leque de personagens que aparece e contribui para a trama principal é gigantesco. Alguns que se destacaram e que me surpreenderam em suas jornadas foram o Szeth, Teft, Renarin, Venli, Lift e Jasnah. Eles são protagonistas dos seus arcos e do quanto eles reverberam pelos arcos da guerra, e rapaz como trazem coisa pra história! A Jasnah, principalmente, que é uma força da natureza, o Renarin com o seu mistério, a Lift com a sua leveza e descontração, Teft com dilemas morais, Venli tentando encontrar o seu lugar entre os Fused e o Szeth com reviravoltas que eu não esperava encontrar mas eita como eu me surpreendi. E o Wit! Jamais esqueceria do meu bardo multidimensional favorito.

Falando no Szeth, aliás, ele tem uma companhia. Se você leu Edgedancer, ou se pescou a participação ali no final de Palavras de Radiância, ela vem de outro livro da Cosmere e meu deus a minha cabeça explodiu e meu coração ficou em polvorosa por isso. Quero saber mais sobre esse encontro de mundos, quero entender mais sobre a chegada dela. E se você está querendo se divertir com esse livro, não temas: Nightblood vai cuidar disso!

Assim é a vida. Quanto mais você vive, mais você falha. Falhar é a marca de uma vida bem vivida.

Tem também toda a questão mitológica e cultural de Roshar, dos Cavaleiros Radiantes e dos Arautos (eu acho que foram traduzidos assim?) que ganha ainda mais importância nesse volume. Conhecemos um pouco mais sobre Odium e sobre seus guerreiros, os Unmade. E dá um medo do caramba do que eles podem fazer, porque já fizeram tudo de terrível antes.

De novo: se eu pudesse, ficaria falando sobre Sacramentadora por mais de dez páginas. Mas é difícil, quando você resenha um terceiro livro sem poder dar spoilers demais. Aqui, você vai sorrir, vai chorar, vai rir, vai se esgoelar. Vai terminar a leitura arrancando os cabelos porque sabe que o pior ainda está por vir. Odium não brinca em serviço.

Sacramentadora é um acontecimento. O melhor terceiro volume que essa série poderia ter. Eu me despeço dessa parte da história com lágrimas nos olhos porque o final foi avassalador em todos os sentidos. Agora, rumo ao Ritmo da Guerra!

Sinopse: "Sacramentadora" de Brandon Sanderson continua a saga épica do Os Relatos da Guerra das Tempestades com uma intensidade envolvente. Ele retoma os eventos de "Palavras Radiância", onde a humanidade enfrenta uma ameaça terrível com o retorno dos Portadores do Vazio. Os exércitos Alethi, liderados por Dalinar Kholin, alcançam uma vitória custosa, mas desencadeiam a destrutiva Everstorm, que provoca uma rebelião entre os parshmen escravizados, revelando sua raiva justificada. Enquanto isso, Kaladin Stormblessed luta com seu papel em meio a esses conflitos crescentes, dividido entre seu dever e sua empatia pelos oprimidos. Shallan Davar, na cidade-torre de Urithiru, explora os segredos dos Cavaleiros Radiantes, desvendando mistérios que poderiam influenciar o destino de Roshar. Dalinar, lidando com seu próprio passado conturbado, percebe que unir Alethkar é apenas o começo. Para salvar seu mundo, todas as nações devem se unir contra a ameaça iminente. A história entrelaça temas de redenção, sacrifício e as complexas relações entre poder, dever e justiça. A habilidade de contar histórias e a construção de mundo magistrais de Sanderson tornam "Sacramentadora" uma continuação envolvente da série, levando os leitores ainda mais fundo no universo ricamente imaginado de Roshar.

Título original: Oathbringer

Autor: Brandon Sanderson

Editora: Tor Books (Trama, no Brasil)

Gênero: Fantasia

Nota: 5+
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Resenha: Sacramentadora - Brandon Sanderson

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