Resenha: A Maldição da Casa das Flores - Trang Thanh Tran

A Maldição da Casa das Flores, de Trang Thanh Tran, foi o terceiro livro do Clube do Livro do QEL. A história acompanha uma adolescente chamada Jade, que aceitou passar um período no Vietnã, com o pai que abandonou a família, em troca de dinheiro para a faculdade. Mas, na casa antiga da família, ela vai começar a ser perturbada por mais do que o rancor que carrega pela figura paterna.

Para quem gosta de histórias perturbadoras:

• O Iluminado, de Stephen King
• Meninas Selvagens, de Rory Power
• Fumaça Branca, de Tiffany D. Jackson
• Gótico Mexicano, de Silvia Moreno-Garcia

Jade está com problemas. Financeiros, emocionais, familiares. Escolha um, e ela tem. Ao aceitar se mudar para o Vietnã por algumas semanas, tudo que ela sabe é que vai ajudar o pai a desenvolver um site para a casa antiga da família, que ele quer transformar em um hotel, com todas as reformas que tem feito, e que não está ansiosa para lidar com o rancor que carrega por ele.

Mas sua irmã mais nova está com ela, e Jade tem certeza de que vai aguentar aquelas semanas longe da mãe e dos problemas financeiros que aguardam por sua família nos EUA.

Em terras vietnamitas, Jade percebe que é uma estranha. Assim como também era na América. Ela não pertence ao país dos pais, e nem ao seu. Para ajudar, a casa antiga parece determinada a lembrá-la de que é uma estranha pisando em suas entranhas; com pesadelos perturbadores e presenças macabras, Jade percebe que eles não estão sozinhos naquela casa.

A Maldição da Casa das Flores tem uma premissa muito incrível, né? Casa assombrada, possivelmente possuída por alguma entidade maligna, em ambientação isolada, protagonista perturbada por problemas, queer, revoltada, questões familiares. Tudo isso é um amálgama que pode resultar em uma trama muito poderosa, de ressentimento e perdição, de não se entender como quem você é, e ter que lidar com o sobrenatural enquanto isso.

Pena que fica só na premissa.

Até os 40%, a autora estava me mantendo bem fisgada pela história. Mas, a partir daí, começou a se repetir e se enrolar e segurou um slow burn de trama e acontecimentos até que, aos 90%, enfiou umas reviravoltas sem sentido e sem pé nem cabeça num final apressado e anticlimático que só me deixou com mais raiva ainda de todo o potencial perdido.

Ironicamente, eu não concordo com muitas críticas que deram nota baixa ao livro por:

1. não traduzir as falas em vietnamita (dá para entender o que os personagens quiseram dizer porque a Jade sempre responde ao que disseram em inglês);
2. a Jade é chata (sim, é a intenção, ela tem um monte de problemas e vai reclamar deles);
3. não dá medo (não acho que esse livro pretendia ser assustador, mas sim perturbador, porque ele tem muito horror físico);

O problema nessas três questões que muitos reclamaram é que elas não sumonam o real problema do livro, que é: parece que não teve editor. Parece que não teve um amigo! A Maldição da Casa das Flores parece o primeiro rascunho que alguém escreveu e que resolveu publicar sem passar por todas as etapas que um manuscrito deve passar antes de ser publicado.

Ele é vazio. Ele não tem muito sentido e carece de emoção - o que, num livro de horror, é um pecado. Trang Thanh Tran tinha a faca e o queijo na mão quando trouxe uma garota estrangeira, lutando com a questão de identidade e pertencimento, para um cenário estranho, mas que deveria se tornar familiar porque seus pais são dali.

Tem toda a questão com o pertencimento queer também, porque Jade ainda não se entendeu dentro da sua sexualidade - ela sabe que gosta de meninos e meninas, mas está perdida em relação a se nomear. Tem os elementos de terror e horror!

E tudo isso se perde numa trama vazia e repetitiva. É tanta falta do "mostre, não conte"! Eu fiquei com ódio! O. tempo. todo. A Jade comentava sobre a paralisia do sono que nunca me mostrava. Ela comentava sobre os pesadelos que não levavam a nada. Ela comentava sobre as "fantasmas" da casa que não diziam nada com nada. Ela odiava o pai, mas não mostrava os conflitos.

Não dava para ficar perturbada quando eu não via as cenas acontecendo, só ouvia a personagem contando. Não tem como construir tensão e medo, nojo e agonia, quando você não desenvolve esses sentimentos. E desenvolvimento é uma palavra que a autora desconhece.

Para não dizer que não teve cena perturbadora, a da larva na cabeça realmente me pegou e me deixou com asco.

A Jade é chata? É. Mas eu queria entender a chatice dela! Queria ver conflitos acontecendo, queria ver a construção da personalidade difícil, queria acompanhar o crescimento da personagem. Mas não, ela começa e termina no mesmo tom.

A relação dela com a casa "viva", e com as fantasmas nos seus pesadelos, é toda esquisita. A questão com a casa também é toda esquisita. Eu entendo livros que querem ser líricos e explicar pouco, mas esse aqui fez questão de explicar tudo no final de um jeito tão bizarro que deixou as coisas ainda mais confusas.

Os outros personagens... Sei lá. A Florence podia ser mais interessante, mas ela acabou servindo de cabide para a história da Jade. Não teve uma trama paralela, um traço de personalidade além do "garota rebelde" que a autora mostrou do jeito mais clichê possível. O romance entre elas foi vazio também. O pai da Jade, que era uma figura muito interessante, ficou ainda mais pra escanteio.

Como eu disse, não é um livro terrível por completo porque até a metade dele eu estava realmente investida. Mas o jeito com que a autora enrolou para apresentar as coisas, num slow burn narrativo vagaroso demais e pouco recompensador, considerando o final corrido e sem sentido, com reviravoltas que ela tirou diretamente do nada, foi uma decepção.

No fim das contas, A Maldição da Casa das Flores é um belo exemplo de como não escrever uma história de casa assombrada.

Sinopse: Jade possui apenas um objetivo ao chegar ao Vietnã: sobreviver a cinco semanas ao lado do seu pai ausente, enquanto ele restaura uma antiga casa. A garota sempre mentiu para poder se encaixar socialmente e, desta vez, não será diferente. Basta ela ser heterossexual, vietnamita e americana o suficiente para conseguir a única coisa que deseja da complicada relação que tem com o pai: o dinheiro para a faculdade que ele havia prometido. Mas a Casa das Flores tem outros planos. Noite após noite, Jade acorda paralisada. As paredes ecoam zumbidos aterrorizantes, enquanto os jardins, outrora cuidados pelos ancestrais de Jade, revelam vestígios de um passado assustador. E dos antigos corredores ressoa um aviso ameaçador: “Não coma”. Nem o pai da garota nem Lily, sua doce irmã, acreditam que algo estranho está acontecendo. Ela, então, passa a contar com a ajuda de Florence, uma jovem problemática, para expor as entranhas famintas da residência. Afinal, a força de um lar está na vitalidade daqueles que nele residem, mas essa casa está disposta a sugar até os ossos de seus habitantes, para nunca mais ser abandonada novamente...

Título original: She is a Haunting

Autora: Trang Thanh Tran

Editora: Astral Cultural

Tradução: Patrícia Benvenuti

Gênero: Horror | Suspense

Nota: 2

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