Dia Internacional da Mulher #MulheresdaLiteratura - Queria Estar Lendo

Dia Internacional da Mulher #MulheresdaLiteratura

Publicado em 8 de mar. de 2017

Dia Internacional da Mulher #MulheresdaLiteratura

Para compreender a importância do Dia Internacional da Mulher é preciso falar sobre a nossa trajetória, e é o que vamos fazer hoje.

Historicamente falando, as mulheres saíram de um lugar onde, por decoro e moral, eram proibidas de aprender a sequer ler e escrever, para criar subgêneros literários e conquistar cada vez mais espaço em um mundo onde a literatura que elas escrevem é considerada inferior a escrita por homens.

Como já mencionamos no texto Porquê é Importante Falarmos das #MulheresdaLiteratura, ainda hoje existe um grande preconceito com as mulheres que escrevem. Há uma insistência em ver os livros escritos por elas como unicamente focados no romance -- independente de se tratar de uma alta fantasia, terror ou ficção científica. E mesmo quando comparam homens e mulheres escrevendo o gênero que, por conveniência é dito feminino, o romance, aqueles escritos por homens são vistos como jornadas de vida que calham de ter um romance, por que o que é a vida sem amor, não é mesmo? Mas quando parte da mulher são taxados de romance água com açúcar, feitos apenas para suprir a "necessidade" feminina de viver "romances irreais".

Mas através da história podemos notar a luta das mulheres para conquistarem seu espaço. Hoje, quando olhamos para nomes como Jane Austen e as irmãs Bronte, podemos nem lembrar de como foi para elas no inicio. Mulheres escrevendo não eram bem vistas pela sociedade e, por esse motivo, Jane Austen chegou a publicar Razão e Sensibilidade com o pseudônimo de By a Lady, a pedido da família, para que não embaraçasse seu nome. 

Anos antes as irmãs Bronte, Charlotte (Jane Eyre), Emily (O Morro dos Ventos Uivantes) e Anne (Agnes Grey), também tinham publicado seus livros primeiramente com pseudônimos masculinos Currer, Ellis e Acton Bell, respectivamente, pois tinham medo de terem seus livros avaliados de forma diferente por serem mulheres.

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Ainda no século XIX, com a popularização dos romances de folhetim (publicados aos poucos nos jornais), as mulheres tornaram-se autoras prolíferas, pois costumavam entregar os capítulos com mais rapidez do que os homens, evitando atrasos ou buracos nas edições dos jornais.

Provando há muito tempo que a habilidade literária das mulheres vai muito além do romance, no início do século XIX Mary Shalley escreveu Frankenstein, não só um terror como também o primeiro livro de ficção científica. A história era tão intensa e gráfica para a época, que a moral conservadora da era vitoriana fez com que o livro fosse editado para ficar dentro do padrão "aceitável".

Falando do Brasil no século XIX, quer apostar como nenhum professor de literatura jamais citou o nome dessas autoras pra você? Dificilmente vai conhecê-las, mas elas estiveram lá, abrindo as portas para as milhares que estão aqui hoje. Ana Aurora do Amaral Lisboa era gaúcha e educadora, e sua vida, tanto civil quanto profissional, foi dedicada a educar e defender a justiça, a liberdade de pensamento e os direitos da mulher. Anália Franco, também uma educadora conciliando pensamentos e ideias à vida literária. Suas colaborações se davam principalmente em revistas feministas, como A Mensageira e O Eco das DamasAuta de Souza foi uma poetisa norte-rio-grandense. Sua poesia romântica tinha traços simbolistas e, como muitas autoras, trazia influências de suas experiências de vida. Nísia Floresta ganhou destaque aqui no país por romper limites. Seus muitos textos foram publicados em grandes jornais, e seu livro, Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens, foi o primeiro no Brasil a tratar do direito das mulheres à educação e ao trabalho, e a exigir que a inferioridade deixasse de ser pauta para as mulheres; que sua inteligência fosse vista e que elas recebessem respeito.


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Com a chegada do século XX, nasce o modernismo e, com ele, grandes clássicos literários. Lá fora temos grandes mulheres surgindo, como Virgínia Woolf,  a "Proust Inglesa" (Ms. Dalloway, Um Teto Todo Seu) que, como integrante do grupo de Bloomsbury, se opunha as tradições literárias, políticas e sociais vitorianas, e escreveu romances e ensaios pioneiros sobre literatura. Alice Walker, autora de A Cor Púpura, levando voz as mulheres negras de um EUA separado pelas leis racistas da época como ativista pelos direitos dos negros e das mulheres, lutando também pelo fim da mutilação genital feminina em países africanos. Harper Lee, autora de O Sol é Para Todos, um livro que reflete o racismo da sociedade norte-americana nos anos 60 e que continua relevante e atual mais de 50 anos depois.

Dando um rosto feminino ao romance policial, surge também Dame Agatha Christe. Com seu primeiro livro, O Misterioso Caso de Styles, publicado em 1920, ela deu inicio a uma prolifera carreira. Entre os detetives de seus romances encontra-se Miss Jane Marple, uma solteirona de idade avançada que não se parece em nada com um detetive, uma personagem que não se vê, hoje em dia, protagonizar muitas histórias. Agatha Christie consta também no Guinness Book como a autora mais vendida do mundo, suas obras já venderam mais de 4 bilhões de cópias em 103 idiomas, gerando mais de 4 milhões de dólares por ano. Em 1971 tornou-se Dama da Ordem do Império Britânico, tendo na rainha Elizabeth II uma grande fã.

Já em nosso grandioso Brasil, muitas mulheres se destacaram com obras que permanecem relevantes e muito faladas até hoje. É o caso de Lygia Fagundes Telles, Cecilia Meireles e Clarice Lispector. Rachel de Queiroz, primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Seu primeiro romance foi publicado em 1930; chamado O Quinze, a narrativa realista retratava a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria advinda dela – luta essa que Rachel vivenciou ao fugir da mesma seca e miséria narrada em seu romance de estreia. Tal livro tornou Rachel destaque na ficção social do nordeste, uma vez que todas as suas obras publicadas denunciavam os problemas da realidade social do nordeste brasileiro.

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Hilda Hilts é considerada uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX. Suas obras retratavam a relação das mulheres com suas emoções e seus desejos, a complicada e muito romantizada relação de Deus com o homem, assuntos bastante controversos e pouco comentados, especialmente em se tratando de literatura. Foi vencedora do Prêmio Jabuti e recebeu diversas outras homenagens a seus feitos literários.

Entrando no campo da fantasia, no entanto, notamos que a maior parte das obras no mainstream são assinadas por homens e o gênero ainda é muito ligado ao público masculino. Poucas mulheres se destacaram na Alta Fantasia, por exemplo, mas uma das maiores e mais conhecidas é Ursula K. Le Guin, destaque da Fantasia e da Ficção Científica, vencedora de cinco prêmios Hugo e seis prêmios Nebula. Seus primeiros textos chegaram em meados de 1960. Ela relatou que, com a ficção, tanto fantástica quanto científica, desejava explorar a mente humana, o alcance do psicológico e do trato social, as reações e estruturas sociais formadas na realidade, coisas relevantes que podem ser transportadas para o mundo da literatura através de críticas bem fundadas.

Ainda na fantasia, puxando para o lado da ficção especulativa, também podemos destacar Margaret Atwood, cuja obra mais aclamada, O Conto da Aia, acabou de ganhar uma série pelo site de streaming Hulu. Apesar de não considerar seus livros literatura feministas -- pois acredita que para receber o título os autores devem, conscientemente, trabalharem na moldura feminista, o que ela não faz -- seus livros frequentemente mostram mulheres dominadas pelo patriarcado, refletindo sobre direitos civis, liberdades individuais e poder. O conto da Aia foi agraciado com o prêmio Arthur C. Clark Award em 1987 e indicado ao Nebula Award e ao Prometheus Award em 1986 e 1987, respectivamente. Além de romances, Atwood já publicou poesias, contos, livros infantis e não-ficção, recebendo o prêmio St. Lawrence pelo livro de contos Dançarina e Outras Histórias, e o Governor General's Award, em 1966, pelo livro de poesias The Circle Game.

Atualmente também podemos citar J.K. Rowling, uma das autoras de ficção mais bem sucedidas da história. Construiu um império com a saga Harry Potter, arrastou consigo legiões e gerações de fãs apaixonados. Mas, quando o primeiro rascunho do bruxinho mais famoso de todos os tempos foi finalizado, ela se escondeu atrás de um pseudônimo. Porque, ainda em 1996, o medo de ter uma mulher à frente de uma grande saga literária fantástica persistia. Hoje a gente pode dizer que ela deu uma gloriosa volta por cima.

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Outra conquista feminina veio com a publicação de Crepúsculo, da Stephenie Meyer, que já vendeu mais de 120 milhões de cópias e, apesar das problemáticas com a história, popularizou a Fantasia Urbana, um subgênero da fantasia completamente dominado por mulheres como Cassandra Clare, Richelle Mead, Meg Cabot, Maggie Stiefvater, Holly Black, Kim Harrisson, etc. Esses livros costumam trazer mulheres pegas na adversidade, descobrindo um mundo fantástico onde é preciso lutar pela própria vida -- ou pela vida daquelas que elas amam.

Na área do romance, destacam-se  Danielle Steel, com o nome no Guinness Book por ter ao menos um livro na lista dos mais vendidos do New York Times por mais de 381 semanas consecutivas, e Nora Roberts, uma das mais proliferas autoras de romance; em sua conta podemos incluir mais de 200 best-sellers e um total de 19 RITA Awards, um número sem precedentes.

E essas são só algumas das conquistas e das mulheres da literatura que conseguimos listar para não deixarmos o texto mais longo do que já está. Mas existem milhares de outras mulheres cuja contribuição para a literatura é imprescindível -- inclusive aquela autora independente que acabou de lançar o primeiro livro na Amazon. Sua voz é importante e vamos continuar lutando para que ela nunca seja calada!

Apesar de tentarem apagar as mulheres da literatura -- assim como tentam em todos os outros campos -- elas persistiram, fizeram e continuam fazendo história! É importante lembrar que as obras produzidas por elas não deixam nada a desejar em comparação com àquelas feitas por homens, e não vamos parar de falar sobre elas ou da busca por equidade e igualdade!

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