Resenha: A Memória de Babel - Christelle Dabos

A Memória de Babel é o terceiro volume da série Passa-espelhos, da autora Christelle Dabos. Publicado aqui pela Editora Morro Branco, esse livro somou os surtos dos volumes anteriores e me capotou completamente do começo ao fim.

Conheça os outros títulos da série e mais algumas fantasias:

• Os Noivos do Inverno, de Christelle Dabos
• Desaparecidos em Luz da Lua, de Christelle Dabos
• Nós somos a cidade, de N.K. Jemisin
• Nona Casa, de Leigh Bardugo

Esta resenha vai conter alguns spoilers dos livros anteriores.

Ophélie está isolada há quase três anos desde os acontecimentos bombásticos que a levaram de volta para casa. Thorn desapareceu e não há sinal dele, as Decanas estão de olho em cada passo que ela dá e não há nada que Ophélie possa fazer para mudar esse cenário, o que a mantém nessa rotina enfadonha e tensa.

Até que Archibald surge com uma oportunidade que Ophélie aceita logo de cara; enquanto ele segue seu caminho, ela decide ir até Babel, seguindo uma pista misteriosa que pode indicar o paradeiro de Thorn. A Arca de Babel é tão chamativa e bela quanto é traiçoeira e perigosa e, sozinha lá, Ophélie vai precisar de muita força e perseverança para manter seus planos intactos e garantir que nem Deus nem o mundo saibam do seu paradeiro.

A Memória de Babel já começa com o baque que é essa passagem de tempo gigantesca para construir o desespero que é o decorrer de todo o livro. A partir do momento em que Ophélie se isola de todos os outros, nós nos isolamos com ela; sozinha nessa nova Arca, sem ideia do que fazer além de uma pista estranha envolvendo o Memorial de Babel, Ophélie vai precisar usar toda a sua força e astúcia para sobreviver a mais uma provação.

Com Deus em seu cangote e mais perguntas do que respostas, aqui a gente vê Ophélie no ápice do seu desenvolvimento de personagem. Ela está muito mais firme, certa e decidida. Em Desaparecidos em Luz da Lua, Ophélie ainda tinha em quem se agarrar quando precisava de ajuda; aqui, mesmo os novos amigos não inspiram total confiança.

Ophélie não sabia que perspectiva era mais assustadora: o mundo governado por Deus ou o mundo governado por homens que se faziam de Deus.

Por isso, ela assume um novo nome e identidade e se torna uma sombra de si mesma. Ainda é a leitora e a animista, mas a passa-espelhos permanece em seu segredo. E como passar espelhos envolve conhecer e entender a si mesma, aqui vemos uma nova faceta da nossa protagonista; uma marcada pelas inúmeras situações frustrantes, desesperadoras e desafiantes que viveu até então.

E eu ouso dizer que Babel é o pior delas, porque ô lugarzinho miserável.

Todo dedicado aos estudos e à perfeição, é também uma Arca centrada em censura e uma firmeza quase ditatorial. Seus espíritos-familiares não oferecem grandes coisas, uma vez que quem realmente controla o lugar é uma instituição da qual Ophélie quer distância.

Não bastasse tudo isso, mas Ophélie também tem que lidar com estranhos assassinatos que começam a acontecer em Babel - estranhos e terríveis, porque as pessoas parecem morrer de susto e "acidentalmente"; e todas essas pessoas estiveram próximas a ela em algum momento, o que pode estar colocando nossa protagonista como um dos próximos alvos.

Sem saber em quem confiar, e sendo ameaçada por todos os lados, tudo que resta a Ophélie é resistir. E ela sabe fazer isso como ninguém.

A vibe que Babel passa, perigosa e misteriosa, combina com o livro. Estamos em busca de respostas, de Thorn, de entender o que diabo está acontecendo nesse universo e por que ele parece cada vez mais próximo de um colapso. E, devagar, as respostas aparecem.

E reviravoltas também. Lá para o fim do livro, eu me encontrei gritando um O QUÊ? para uma das revelações e nem sei onde foi parar minha consciência, tamanho surto. A Christelle Dabos conseguiu desenvolver um plot twist muito bom, com as pistas existindo por todo o livro, disfarçadas discretamente entre os diálogos e leituras e visões.

- Quando paramos de ser humanos e nos tornamos objetos?

Personagens como Berenilde, a tia Roseline, Archibald, Raposa e outros coadjuvantes familiares dos volumes anteriores estão relegados a poucas aparições justamente pela sensação de exílio e solidão que esse livro quis trabalhar. Ainda assim, quando aparecem, trazem momentos importantes para o desenrolar da trama principal, com a presença de uma nova personagem, Victorie, sendo essencial para tudo.

Novos coadjuvantes, como Ambroise e Elizabeth e até mesmo os espíritos-familiares, Hélene e Pólux, servem para momentos interessantíssimos e uma grandiosa expansão de conhecimento em relação a essa nova arca.

Thorn, por sua vez, outro grande mistério. Onde está, por que sumiu por três anos e nunca deu uma pista sequer do paradeiro, está bem, vivo, sob custódia? Quais são as respostas e por que são tão difíceis de alcançar? Ao mesmo tempo em que a frustração e o nervosismo cresce na gente por esse silêncio, a autora prepara o terreno para tudo que vai se desenrolar quando - e se - chegarmos às revelações.

Eu queria muito falar sobre ele, mas acho que uma das melhores surpresas da história existe justamente pelo mistério envolvendo Thorn, então fica aqui meu surto silencioso por tudo que aconteceu neste livro.

A Memória de Babel se tornou o meu favorito dessa trilogia, com um ótimo equilíbrio entre suspense e tensão. Tem um ritmo equilibrado, expande ainda mais esse universo querido e fantástico e bizarro e entrega um final de cair o queixo.

Eu estou me preparando psicologicamente para A Tempestade de Ecos porque sinto que o tombo emocional vem aí, mas, de novo, fica minha dica e meu apelo para você, que ama fantasia ou quer se aventurar por esse gênero, para conhecer a série Passa-espelhos.

Sinopse: Ophélie está isolada na arca de Anima há quase três anos, onde vive uma existência sem emoções. Mas, encorajada por novas revelações do livro de Farouk e por um segredo que pode ser a chave entre passado e futuro, é chegada a hora de agir. Sob uma identidade falsa, ela viaja até Babel, uma arca ultramoderna e cosmopolita, habitada pelos mais suspeitos residentes. Composta por mais de mil ilhas e conhecida como “a joia do universo”, a arca esconde inúmeras armadilhas atrás de seus rígidos regulamentos. Ophélie precisa usar todas as suas forças para superar uma rede de mentiras e intrigas cada vez mais ameaçadora. Suas habilidades como leitora serão suficientes para enganar seus inimigos? Conseguirá ela seguir os rastros de Thorn?

Título original: La mémoire de Babel

Autora: Christelle Dabos

Editora: Morro Branco

Tradução: Sofia Soter

Gênero: Fantasia

Nota: 5+
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