Resenha: Margot Mertz arruma a sua vida - Carrie McCrossen e Ian McWethy

Margot Mertz arruma a sua vida é um YA com vibes de suspense investigativo lançado aqui pela Editora Naci (que cedeu este exemplar para a resenha). Escrito pelo casal de comediantes Carrie McCrossen e Ian McWerthy, poderia muito bem se chamar Margot Mertz Complica a sua Vida enquanto Tem 100 Opiniões Sobre Isso.

Mais histórias com essa vibe:

• Moxie, de Jennifer Mathieu
• As Anônimas, de Amy Reed
• A (R)Evolução das Mulheres, de Mindy McGinnis
• A Lista do Ódio, de Jennifer Brown
• O ódio que você semeia, de Angie Thomas

Margot Mertz tem uma empresa. Com dezessete anos, ela criou o Margot Mertz Arruma a Sua Vida para ajudar outras pessoas, porque descobriu que tem um enorme talento em resolver problemas que envolvem tecnologia e pessoas cometendo erros.

O problema começa com um site de pornografia de vingança que, aparentemente, foi criado por algum aluno da escola onde estuda. Margot recebe esse novo trabalho de uma das suas colegas, que está desesperada por ajuda para derrubar o site antes que ele se torne maior e se espalhe por aí; e Margot está determinada a resolver o caso.

Margot Mertz arruma a sua vida é um YA com vibes de suspense investigativo e tenta se aproximar do que Moxie e As Anônimas foram, com toda a questão de garotas adolescentes se unindo contra a misoginia e algum tipo de violência relacionada a isso. O problema é que não entrega tudo que promete.

A começar pela protagonista. Meu deus, que gastura que essa garota me deu. Esse livro não raspa o tacho da profundidade e sensibilidade que as temáticas que debate pedem. Tenta muito fortemente falar sobre pornografia de vingança e assédio sexual e violência contra a mulher (em relação à pornografia de vingança e do assédio, não a violência física, aqui) e não traz cuidado para conversar sobre o assunto.

Tudo por causa da sua protagonista, que tem o nível de empatia de uma tampa de panela de pressão.

Margot Mertz Arruma a sua vida até começa bem. Eu admito que até os seus 40%, eu estava me divertindo. Sim, a Margot é uma Karen Quebrando o Tabu. Ela tinha opinião sobre tudo, precisava criticar tudo; ela é o arquétipo de "garota que é diferente das outras garotas, admite isso o tempo todo, mas finge que não está se gabando por esse detalhe de personalidade". Quando a verdade é uma só: você não é diferente, só é chata.

Mas estava engraçado. Eu não levava a Margot a sério, porque adolescente tende a ser emocionado e tá tudo bem. Você precisa passar pela fase "vou agir como uma otária mas estou me achando o máximo". Todo mundo passou por isso! A ideia é que melhore com o tempo.

Aí entra o problema: o tema do livro é sensível, mas a narrativa acaba não cuidando de falar sobre ele da maneira certa. É tudo sobre a Margot. Sobre ela resolver o caso, sobre suas crises, sobre a pressão de precisar "proteger" essas garotas (com quem ela quase não tem contato, só umas mensagens aleatórias no grupo das vítimas que poderiam nem existir, porque nada servem pra trama).

E eu nem vou começar a falar sobre a falta de sensibilidade e bom senso dessa garota em continuar enchendo a ex-amiga (que se mudou da cidade há DOIS ANOS depois de um incidente traumático) com mensagens diárias. Ex-amiga, repito. Porque elas não se falam há dois anos. Mas a Margot, aparentemente, ainda não entendeu isso.

Tem também o fato da feminista me soltar a pérola de que o MARLON BRANDO (confesso estuprador, que arruinou a vida de uma atriz ao estuprá-la ao vivo, em cena) era seu crush da infância. Com quatrocentos comentários ao vento sobre tudo que envolve o patriarcado opressor, ela meter essa sem puxar uma crítica ao cara acabou com a minha paciência (não querendo comentar nada, mas aí você olha a dupla de autores e tem um homem ali, né...)

Enfim, é tudo sobre ela. E é exaustivo, quando deveríamos estar falando sobre um coletivo de garotas tentando lidar com um assunto tão sério quanto pornografia de vingança. Não apenas isso, mas pornografia infantil, porque são adolescentes!

Quase todo o livro acaba soando como um desserviço por bater tanto na tecla de "mas a justiça não vai fazer nada!" quando nem ao menos considera levantar esse debate. A Margot que é toda "antenada" nas causas feministas não PENSA em procurar uma advogada que lute por essas causas pra ajudar; não pensa em usar a internet a seu favor para tentar cair em cima do site pornográfico; não pensa que esse não é mais um caso qualquer para arrumar a vida de alguém. É caso de POLÍCIA mesmo.

Margot Mertz não arruma sua vida, ela só complica ainda mais. Porque, no fim das contas, é um livro que dá voltas e voltas para acabar no mesmo lugar.

O "mistério" de quem tinha criado o site estava na cara o tempo todo. Mas, de novo, a Margot é boa demais para pensar racionalmente por cinco segundos. Ela tem que tomar decisões absurdas e precipitadas o tempo todo em prol do universo que gira ao seu redor! A resolução do caso é tão apressada que acaba contribuindo com a questão do desserviço. Só mostra que o livro enrolou, enrolou, e chegou no mesmo ponto.

Pelo preço certo, eu iria até os cantos mais remotos da internet para consertar os erros das pessoas.

Margot Mertz arruma a sua vida tem coadjuvantes legais, pra dar uma balanceada com a Margot. Coadjuvantes, inclusive, que são bom demais pra ter que aguentar as picuinhas e as ideias absurdas e egoístas dela. Sim, eu sei, faz parte da jornada de um protagonista escroto magoar as pessoas e tudo o mais. Mas não dá pra sentir evolução nela. A "resolução" da Margot em relação a isso, no fim, é quase risível.

Avery, você é bom demais para o mundo. Um garoto precioso e com coração de ouro que eu vou colocar num potinho pra proteger da Margot. É por ele, aliás, que esse livro tem uma estrela a mais. Porque tudo que eu salvo da história tem a ver com a presença do Avery. O carisma e o cuidado e a simpatia dele.

Eu queria muito que esse livro tivesse sido o que o começo dele prometeu. Queria muito que os autores tivessem usado essa história para falar sobre união feminina, sobre a Margot se encontrando entre outras garotas, sobre o peso da violência e da exposição na internet. Mas não acontece nada disso.

A edição da Naci ficou muito bonita. A diagramação tá bem confortável para a leitura, a revisão também tá ótima, e a tradução da Bruna Miranda ficou excelente (com trocadilhos e adaptações para o português de piadas que funcionam bem demais).

Margot Mertz arruma a sua vida prometeu, mas não arrumou nada. É um livro cujo começo poderia facilmente ter levado até o final sem precisar do meio, de tão sem sentido que é a jornada da protagonista. Queria muito que tivesse sustentado o que prometia quando começou, mas acabou se perdendo no vazio da protagonista e na falta de cuidado com o tema que apresentou.

Sinopse: Cobrando o preço certo, Margot Mertz, uma estudante do ensino médio, vai até os confins da internet para remover fotos constrangedoras, nudes ou mensagens vergonhosas. Ao menos é o que ela afirma em seu cartão de visitas. Depois que seus pais perdem toda a poupança que bancaria sua faculdade, Margot resolve abrir uma empresa para ajudar estudantes, professores (e até mesmo o moço do tempo do jornal local) com eventuais limpezas (discretas) de seus vexames digitais. Porém, quando uma colega a contrata para derrubar alguns nudes vazados, Margot descobre um site de pornografia de vingança que usa fotos e vídeos de meninas da sua escola. E não tem fúria maior no mundo do que a de Margot ao ver a bunda de uma garota sendo compartilhada sem consentimento. Com a ajuda de um aliado desavisado, o popular e desconfortavelmente bonito Avery Green, Margot vai se infiltrar nas diversas panelinhas do colégio, disposta a fazer qualquer coisa para encontrar o maldito criador do site. Mas, quanto mais ela cava, mais misterioso e ameaçador o caso se torna, e ela percebe que alguns trabalhos são tão sujos que ninguém consegue sair limpo deles. Nem mesmo ela.

Título original: Margot Mertz Takes it Down

Autores: Carrie McCrossen e Ian McWethy

Editora: Naci

Tradução: Bruna Miranda

Gênero: Suspense | Comédia

Nota: 2

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