Resenha: A República do Dragão - R.F. Kuang - Queria Estar Lendo

Resenha: A República do Dragão - R.F. Kuang

Publicado em 17 de abr. de 2023

Resenha: A República do Dragão - R.F. Kuang

O segundo volume da trilogia iniciada em A Guerra da Papoula é ainda mais brutal e impressionante. R.F. Kuang tece um épico de guerra e política em A República do Dragão, e não economiza no horror ao desenvolver suas críticas e analogias.

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Esta resenha vai conter alguns spoilers do primeiro livro.

Rin quer vingança. Ela está caçando a imperatriz e vai até o fim do mundo para encontrá-la. Unida a um grupo de xamãs que se denomina Cike, ela tem trabalhado caçando alvos para uma rainha pirata que, ao fim da caçada, promete entregar a localização da imperatriz numa bandeja.

Mas tudo dá errado quando o caminho de Rin cruza com a imperatriz. Ela é salva desse incidente pela figura mais inesperada de todas: Nezha, que ainda está vivo e estava procurando por Rin esse tempo todo. O pai dele precisa da xamã mais poderosa de Nikara para tentar desenvolver uma ideia: derrubar o império e fazer nascer uma república.

"Não vacile diante do sofrimento. Quando ouvir gritos, corra em direção a eles."

A província do Dragão é uma das mais fortes em poder naval, e é com esse poder que o lorde de guerra busca derrubar o governo estabelecido. Unindo forças a apoiadores locais, o lorde Yin também buscou ajuda em terras estrangeiras: os misteriosos e fervorosos Hesperians aceitaram acompanhar a campanha de guerra. E vão mover suas forças se considerarem essa uma luta digna.

Seu maior interesse, no entanto, é acompanhar Rin. Fanáticos religiosos por seu deus único, os Hesperians acreditam que há uma maneira de entender esse "povo inferior" através do Caos que Rin carrega.

Para ela, nada disso importa. Rin quer vingança, e ser um instrumento de guerra é tudo que sabe fazer. Mas o preço de tanto poder pode começar a consumi-la.

Resenha: A República do Dragão - R.F. Kuang

A República do Dragão é um livro poderoso. São quase 700 páginas (a edição em inglês, pelo menos) de guerra, política e magia. É um livro forte sobre as consequências de um conflito bélico e o desenvolvimento de uma guerra civil nascida dele.

Fica inclusive o aviso, novamente, de que essa trilogia é adulta e tem muitos gatilhos fortes. O aviso de conteúdo principal envolve: estupro, violência, tortura, crimes de guerra contra todas as idades, uso de drogas alucinógenas, violência psicológica. Leia apenas se não se sentir engatilhade por essas coisas, porque elas são bem pesadas e a R.F. Kuang não segura a mão quando aparecem.

Essa trilogia mostra o pior da guerra. Não apenas no âmbito de batalha, mas o que faz com as pessoas, com os soldados, generais e apoiadores. O que significa, realmente, ver uma cidade sitiada, o que acontece com os refugiados, o que se passa na cabeça de alguém com o poder para queimar um mundo inteiro.

Raiva e luto eram tão diferentes. A raiva dava a ela poder de queimar países. O luto só a exauria.

A República do Dragão se desenvolve de maneira gradual, equilibrando muito bem as cenas de ação e os momentos mais estáticos. É muito sobre estratégia bélica, sobre homens tomando decisões terríveis por um "bem maior", sem jamais considerar aqueles que serão realmente afetados por isso. É sobre uma garota com um poder imensurável que é constantemente atormentada por ele, e que busca na fúria a resposta para os seus problemas. É sobre um país em guerra.

Rin segue um exemplo de anti-heroína, quase vilã, muito bem escrita. Eu digo quase vilã porque aqui, principalmente, as atitudes dela estão muito mais egoístas e pelo bem da sua própria causa. Ao mesmo tempo em que ela também encontra empatia e espaço para sentir por uma causa maior.

Resenha: A República do Dragão - R.F. Kuang

Sua relação com a Fênix está ainda mais conturbada, principalmente pelas lembranças envolvendo o Altan e o sacrifício dele. Rin está em luto, mas seu luto é furioso. A maneira com que ela lida com a dor é através da dor. É na guerra que Rin encontra o seu refúgio; não tem paz no caminho dela. Se Rin não está agindo como um soldado, ela está perdida.

Por isso a campanha da província do Dragão é tão importante, e por isso vemos um desenvolvimento muito grande da Rin ali. De um soldado que aceita ser um instrumento de guerra para alguém que, pouco a pouco, entende a força do seu poder e o quanto ele é o que define o equilíbrio da história.

A guerra civil se desenvolvendo ali é brutal. Em muitos momentos causa mal estar e perturba, porque é mostrada de maneira nua e crua. A crueldade escorre das ações dos personagens, principalmente dos senhores que comandam aquela guerra. A imperatriz é sim um grande problema, uma sombra que atormenta pelas decisões que tomou e pelo horror que causou, mas mesmo aqueles por quem deveríamos torcer são tenebrosos demais.

Se as coisas ficassem tão ruins a ponto de precisar da sua intervenção, então acabaria em fogo.

A República do Dragão é um segundo volume à altura do que A Guerra da Papoula estabeleceu. Funciona muito bem em todos os momentos, e não teve capítulo algum que tenha enroscado ou soado fora de tom.

A questão religiosa também aparece aqui na história com mais força. Não da parte de Nikara, com seu panteão de deuses bem estabelecidos e bem reais, mas com a participação ativa dos Hesperianos. Eles são claramente uma nação inspirada nos europeus, com as peles brancas, cabelos claros e olhos azuis, e a presença intimidadora e inerentemente opressora.

Resenha: A República do Dragão - R.F. Kuang

Quando aparecem, já questionam tudo em seu caminho. Eles são os donos da verdade, eles estão estudando a "raça" desse povo em guerra para provar que os Hesperianos são superiores. E Rin, que se torna alvo dos experimentos, existe para que eles consigam provar que o Caos é real, e que seu Criador é o único que existe.

Todos os embates entre Rin e esse povo são de ferver o sangue, porque muito se parece com o que os europeus fizeram em todo país que invadiram para colonizar. Ainda que Nikara esteja no comando, é nítida a sombra opressora dessa nação com poder de fogo e a mentalidade de supremacia racial.

Eles queimavam pela guerra dos outros.

A República do Dragão é poderoso para a trilogia, porque é aqui que estabelece os caminhos que o fim dela vai tomar. Reviravoltas chocantes no fim desse livro me deixaram de queixo caído, sem imaginar isso vindo. As traições, principalmente, me tiraram dos eixos.

Quando chegou no fim, eu só queria ver a Rin queimando o mundo todo.

Os coadjuvantes aparecem em peso na história. Em especial Kitay, meu menino mais precioso do mundo, o gênio de estratégia que, uma vez inserido de volta à trama, é quem coloca essa campanha de guerra nos eixos certos. Sua relação com a Rin, também, cresce em amizade e força, e é nítido o quanto os dois se entendem e conseguem se encontrar um no outro.

Nezha, por outro lado, é uma presença gentil e enigmática. Ele e Rin tem alguma coisa forte um pelo outro, mas há muito rancor e segredos para que esse sentimento possa se desenvolver. Ainda mais em meio a uma guerra, quando momentos de paz e emoção são tão raros. Nezha também traz um novo plot para a história que pode se tornar grandioso no capítulo final da trilogia.

A República do Dragão foi um livro incrível. Eu me apaixonei, de novo, pela narrativa da Kuang e pela maneira com que ela conta essa história. É pesado e perturbador, mas funciona justamente por ser tão cru e intenso. Eu terminei de boca aberta, querendo mais, mas com medo do que vem por aí para o fim.

Sinopse: No Império Nikara, a guerra é o início e o fim de tudo, e a paz é apenas uma ilusão. A vitória na Terceira Guerra da Papoula foi garantida e o inimigo foi derrotado, mas as doze províncias estão afundadas em miséria, matança e destruição, prontas para retomar antigas rivalidades em conflitos locais por poder. A nação pode ruir a qualquer momento, e a esperança de salvá-la reside, mais uma vez, em uma única pessoa: Fang Runin. Rin. A guerreira que salvou o Império. Que cometeu atrocidades inimagináveis. Que usou seus poderes xamânicos para varrer a Federação de Mugen do mapa. À noite, os gritos de suas vítimas não a deixam dormir. Para aliviar a culpa sufocante que sente e deter o fogo e a fúria da Fênix dentro de si, ela se entrega ao vício em ópio. Embora não veja mais sentido em viver, Rin se recusa a morrer antes de se vingar da Imperatriz, a mulher que traiu a nação. Para isso, a jovem une forças com o poderoso líder da Província do Dragão, que planeja conquistar o Império, depor a governante e criar uma nova república. Em meio a maquinações políticas, negociações militares e conspirações, Rin não sabe em quem confiar, mas tem certeza de que uma nova guerra se anuncia. E, dessa vez, a Fênix terá uma oponente à altura.

Titulo original: The Dragon Republic
Autora: R.F. Kuang
Editora: Harper Voyager
Gênero: Fantasia adulta
Nota: 5


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