Resenha: A Deusa em Chamas - R.F. Kuang - Queria Estar Lendo

Resenha: A Deusa em Chamas - R.F. Kuang

Publicado em 30 de ago. de 2023

Resenha: The Burning God - R.F. Kuang

Essa vai ser uma resenha difícil. Eu amei A Guerra da Papoula, fiquei em surto com A República do Dragão. E aí chegou A Deusa em Chamas, volume final da trilogia. Que eu gostei, mas não amei tanto quanto esperava amar.

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Esta resenha vai conter spoilers dos outros volumes da trilogia: A Guerra da Papoula e A República do Dragão.

Rin foi traída. Depois da fuga milagrosa que custou a ela não apenas sua mão, mas seu orgulho e sua confiança na República, ela agora sobrevive com a ajuda dos poucos com quem pode contar. E está fugindo e se escondendo enquanto busca forças e aliados para erguer e proteger o Sul.

A guerra continua devastando o país que agora está dividido. Não apenas pela batalha entre a República e os sulistas, mas pela intervenção colonial dos Hesperians, que buscam expurgar Nikara de tudo que é impuro aos olhos do Arquiteto (seu deus todo poderoso).

Rin tem um deus ao seu lado. Um que quer colocar fogo no mundo e buscar vingança acima de tudo. E é com ele que ela pretende travar sua guerra.

A Deusa em Chamas foi definitivamente uma leitura intensa. R.F. Kuang colocou muita tensão e adrenalina desde o primeiro capítulo, e conduziu - pelo menos até a metade - uma história desesperadora sobre os confins de uma guerra tão duradoura.

Mas onde ela acertou na primeira metade do livro, ao meu ver, ela errou feio na segunda. Mas errou rude mesmo.

Resenha: The Burning God - R.F. Kuang

Sabe quando o livro se perde? Quando parece que a trama não sabe mais para onde está indo? Mesmo com a guerra e com as batalhas, a sensação que eu tive nessas mais de 600 páginas foi de perdição. Onde os dois primeiros da trilogia eram organizados, esse foi o puro caos.

E não o caos da guerra que deveria ter elucidado, mas um caos de falta de cuidado ao construir a trama mesmo. Porque ela deu voltas e voltas e reviveu conflitos internos e mais conflitos internos e colocou personagens para se confrontar e então se confrontar de novo e de novo. Sem nunca sair do lugar.

"Os deuses não querem guerreiros." 
"Então o que eles querem?" 
"Dor."

Ela só saiu do lugar, realmente, nas últimas 50 páginas. E aí foi um descarrilhamento de trem por completo.

A Deusa em Chamas não cumpriu o que os seus antecessores prometeram. Eu esperava ver uma Rin muito mais decidida, uma anti-heroína (quase vilã) que entendeu seu papel nessa guerra terrível. Que se viu como a arma que foi criada para ser, e que tomou controle da situação até então movendo as cordas da sua marionete.

Mas ela não faz nada disso. Nunca. Até a metade do livro, eu estava aceitando a confusão e incerteza dela porque era a primeira vez que ela liderava. Era a primeira vez que a Rin estava no comando das suas próprias batalhas, que não dependia do aval ou da decisão de alguém. Mas isso passa, e o livro se repete, e de repente os conflitos internos dela só enchem a paciência.

O quanto isso me frustrou não dá para explicar. A partir da metade, The Burning God foi uma decepção completa.

A autora construiu plots que não serviram para nada. Deu voz a criaturas ultra-poderosas que perdem batalha para uma ou duas explosões. Apresentou os xamãs aos 45 do segundo tempo só para não fazer nada de útil com eles, mesmo as estratégias e cuidados em batalha prometendo grandes acontecimentos.

Pra quê, então? Se a gente deu voltas e mais voltas e acabou num lugar óbvio? Nem mesmo o plot de vingança da Rin fez sentido. O tempo todo ela ia de um receptáculo poderoso de uma deusa furiosa para uma criança chorona indecisa do que fazer. A gente já viu isso! Por dois livros! Coloca a sua personagem em um lugar e desenvolve ela a partir dali, não fica voltando para os conflitos que já foram mostrados!

Resenha: The Burning God - R.F. Kuang

A Rin me encheu o saco. Pronto, falei. Eu tinha me apaixonado pela personagem, e aqui ela drenou todo esse amor. As atitudes não condiziam com o que foi prometido no fim do dois, e mais e mais ela se aproximava de uma criança birrenta. Até o ponto final.

A Deusa em Chamas, como eu disse, soa em partes como uma bagunça. Esse vai e volta fica cansativo e o que antes era tensão e adrenalina acaba se esvaindo em tédio. As batalhas do fim foram qualquer coisa; uma em específico, que envolveu uma criatura mítica, pareceu escrita pelo chatGPT. Por quê? Por que você introduz aquilo para se livrar dele na página seguinte? Pra que fazer alarde sobre um grande poder para esculhambar com o que tinha apresentado? PRA QUÊ?

Agora, para não dizer que o livro todo foi uma perdição - até porque eu não dei nota baixa! - The Burning God teve sim seus bons momentos. A primeira metade do livro, como eu mencionei, é ótima.

Toda a construção do medo, dos horrores dessa guerra prolongada, do que civis e soldados confrontam no decorrer dos dias e semanas e meses. É tudo muito bem feito e construído para chocar; para mostrar de maneira nua e crua o peso do terror que é um mundo em conflito.

A questão com a colonização também é um horror à parte. Um país dividido pela guerra ainda ter que lidar com um inimigo estrangeiro, um que quer oprimir pela raça e pela religião, é um terror absoluto. Os Hesperians aparecem bem menos nesse volume, mas perturbam da mesma maneira. Seja com ideologias xenofóbicas, seja com a grandiosidade bélica.

O universo era um sonho desperto.

Um ponto que muito me interessou e foi bem explorado - até a metade - foi o dos três poderes que governavam aquele país. O que foi explorado e o que foi explicado, e o mistério que se manteve em outros pontos, eu gostei muito de tudo. Deu humanidade e ao mesmo tempo construiu ainda mais monstruosidade na questão dos deuses e dos xamãs.

Toda a conversa sobre poder excessivo - seja ele político, bélico ou divino - se desenrolou de maneira brilhante. É uma pena que ela tenha se perdido tanto com a Rin, porque até então a gente teve ótimos conflitos sobre a grandiosidade do que era a Fênix e o custo de carregar tamanha força dentro de si. Uma força capaz de exterminar e também de salvar a guerra.

Resenha: The Burning God - R.F. Kuang

Só que o lenga lenga da Rin atrapalhou toda essa parte.

A Deusa em Chamas usou seus personagens de maneira satisfatória, mas eu queria ter visto mais de alguns deles. Em específico Nezha e Kitay; como a gente tá presa ao POV que acompanha a Rin, acaba perdendo muito do que os outros podiam oferecer.

Não é apenas sobre o inimigo. É sobre como o mundo vai se parecer quando tudo acabar.

O que oferecem, no entanto, são contrapontos ao extremismo e à birra da Rin. Kitay, principalmente, foi luz nesse livro. De longe o meu favorito, não apenas pela racionalidade e perspicácia, mas também pelo coração grandioso.

A Deusa em Chamas teve altos muito mangíficos, mas baixos igualmente decepcionantes. Eu queria muito que o tom do livro tivesse ficado à altura dos outros volumes da trilogia, mas acabou num blasé. Teve um excelente capítulo final, com um epílogo desolador, mas que não emocionou tanto quanto poderia ter emocionado se o meio pro fim não tivesse sido tão... Blé.

Sinopse: Depois de salvar a nação de Nikan de invasores estrangeiros e batalhar contra a terrível Imperatriz Su Daji em uma guerra civil brutal, Fang Runin foi traída por seus aliados e deixada para morrer. Apesar das derrotas, Rin não desistiu daqueles por quem sacrificou tanto - as pessoas das províncias do sul e especialmente de Tikany, a vila que é sua casa. De volta às suas origens, Rin encontra desafios complicados - e oportunidades inesperadas. Quando seus aliados da Coalização Sulista se mostram escorregadios e nada confiáveis, Rin percebe que o poder real de Nikan está nos milhões de civis comuns sedentos por vingança, que veem ela como sua deusa salvadora. Com o apoio das massas e do Exército Sulista, Rin vai usar todas as armas para derrotar a República do Dragão, os colonizadores Hesperians, e qualquer um que ameace as artes xamãs e seus praticantes. Conforme seu poder e influência crescem, será ela forte o suficiente para resistir ao poder intoxicante da Fênix, que a incentiva a queimar o mundo e tudo que há nele?

Título original: The Burning God
Autora: R.F. Kuang
Editora: Harper Voyager
Gênero: Fantasia adulta
Nota: 3


Um comentário:

  1. Estou com os mesmos sentimentos conflituosos com o final dessa trilogia. Amei os dois primeiros livros e estava bem ansiosa pra ler esse aqui, mas ele me pareceu desnecessariamente longo e com voltas e voltas para coisas que a gente já tinha entendido. Fiquei esperando pela Trindade e de repente FUEN (WTF com aquela cena na montanha??!). Nada sobre como Nezha se tornou tão poderoso, várias questões levantadas e que não foram respondidas. E concordo com a parte sobre a criatura mítica. Quando ela comenta que Arlong estava em ruínas, eu pensei "Oxi, perdi alguma coisa??". 🐉

    Enfim, é uma trilogia que acabou com um saldo positivo porque os dois primeiros livros se sustentam muito bem, mas se dependesse desse terceiro aqui, a autora estaria mal na fita.

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