Resenha: Miragem - Somaiya Daud - Queria Estar Lendo

Resenha: Miragem - Somaiya Daud

Publicado em 17 de fev. de 2021

Resenha: Miragem - Somaiya Daud

Miragem é o primeiro livro da duologia da autora Somaiya Daud. E foi lançado aqui pela Editora Literalize recentemente. A história se passa em uma galáxia distante, explorando situações envolvendo um governo opressor. E uma garota levada ao centro dele para se passar por uma princesa.

Se você se interessou por esse livro, vai gostar de conhecer:

Este exemplar foi cedido em cortesia pela Literalize para a resenha.

Na história, Amani acaba de chegar à maioridade e comemora junto ao seu povo numa cerimônia que exalta sua história e seu futuro. A comemoração, no entanto, é interrompida por droides imperiais em busca de uma garota. Essa garota é Amani.

Quando chega ao planeta que sedia o governo, Amani se descobre sósia da princesa Maram, filha do líder e futura comandante de toda a galáxia. Maram teme atentados contra sua vida por causa disso. Então passa a treinar Amani para que ela se torne a princesa frente ao povo e às câmeras. Ou seja, se algo acontecer, a verdadeira princesa estará a salvo.

Em meio ao medo e à prisão, Amani se aproxima da política. Eventualmente, passa a entender melhor sobre tudo que tem acontecido no seu sistema solar, distante dos olhos da população oprimida. Rebeliões silenciosas estão se erguendo. E Amani pode se tornar parte dela por estar tão próxima ao coração do governo.

Miragem é um YA de ficção científica. Exalta uma cultura inspirada no Marrocos e em tradições familiares. Além de abordar o peso de um governo tirano na liberdade de diversas civilizações.

Através do ponto de vista de Amani, somos apresentados ao universo de planetas e sistemas políticos criados cuidadosamente pela autora. É um universo rico em cultura. E uma cultura que difere do mainstream que vemos na literatura juvenil. Por isso deve ser exaltado.

Resenha: Miragem - Somaiya Daud

O cuidado com que a Somaiya traça os paralelos entre esse sistema solar fictício e o nosso é bastante notável. Ela pincela detalhes nas descrições. Desde vestimentas até símbolos e lendas e músicas e idiomas. Os vathekeses são o povo opressor, os conquistadores que varreram todos os planetas com seu poder de fogo e se ergueram governantes de tudo. Os andalões são o povo de Amani, confinados a uma lua esquecida. Distanciados de suas tradições, agarrando-se ao pouco que é permitido vivê-las.

A cerimônia de maioridade de Amani serve como passagem para a vida adulta. Ao mesmo tempo, para marcar seu rosto com um símbolo que vai ditar sua história, legado e futuro. É nesse dia que tudo que ela sonhava vai por água abaixo.

Forçada a servir uma princesa que tem o seu rosto, mas a crueldade dos opressores que dominaram seu mundo, Amani é uma peça descartável no jogo de poder. Contudo, se torna essencial para quem está fora dele. Uma vez apresentada à rebelião, ela é a ligação entre os insurgentes e o governo que eles desejam derrubar.

O sangue nunca morre. O sangue nunca esquece.

Eu sou do time "demore o quanto quiser para me apresentar tudo, mas, por favor, não escreva nada sem substância". Portanto, até a página 200, infelizmente, eu senti que nada estava acontecendo. Sim, coisas estavam sendo apresentadas, mundos e políticas e tradições, lendas e histórias. Mas sabe quando o plot parece que está indo para lugar nenhum?

Resenha: Miragem - Somaiya Daud

Quando eu peguei Miragem para ler, esperava que lá pra metade do livro a Amani já estaria ao menos tendo conversas com rebeldes. Ao menos se envolvendo em observações mais minuciosas. Quem sabe até espionando pra valer! Porém não. Demorou muito mais do que eu gostaria para alguma coisa relevante acontecer de fato.

E, nessa demora, eu acabei me apegando a poucos personagens. Amani foi uma delas. Centrada e amedrontada a princípio, para lentamente começar a se desenvolver em uma garota mais corajosa e questionadora. Tudo sob medida porque ela sabe os riscos que está vivendo entre os vathekeses.

- Sou tratada como um mau presságio de um futuro terrível independente de onde eu vá.

Maram foi a grande surpresa. A princesa do Império Vathekês, a princípio, nada mais era do que uma garota mimada e furiosa descontando sua frustração na prisioneira. Com o tempo, as camadas se revelaram, e como foi interessante acompanhar a dinâmica da Amani com ela se desenvolvendo a partir daí. Os diálogos se tornaram amigáveis, compreensíveis. O peso da criação das duas, das diferenças, foi mostrado em suas personalidades. Amani entendeu a crueldade de Maram e o que havia por trás disso.

Eu preferia mil vezes um livro inteiro focado nisso do que naquele instalove que, francamente, foi muito forçado.

Idris é noivo de Maram por conveniência política. Para agradar aqueles que foram subjugados pelos vathekeses. E se aproxima de Amani a partir disso. Mas, gente do céu, como eu não aguento mais instalove.

Foi coisa de três capítulos e eles já tinham ultrapassado o nível de atração física pra olhares e juras que, pelo amor, vocês acabaram de se conhecer! Isso nem existe! É uma coisa tão forçada, tão "tá ali pra cumprir pauta de romance em YA" que, nossa... Tirou substância de um personagem que poderia ter sido muito mais interessante se usado em um slowburn.

Idris é um bom personagem, tem uma história legal. É o herdeiro de um povo destruído, está jurado em matrimônio para uma princesa cruel. Tem lembranças da guerra de conquista e do que a rebeldia custou à sua família. Contudo, é reduzido aos momentos de romance que simplesmente não se vendem por serem tão apressados. Enquanto a autora demora zilhões de páginas pra desenvolver o conflito político, muito mais interessante, o romântico acontece e pa pum, tó o ship.

Desculpa a exaltação, mas stop instalove cis hetero 2021.

Como eu mencionei ali em cima, o universo e a riqueza de detalhes te fisga. A promessa de alguma coisa grandiosa prestes a acontecer te mantém na história. Eu queria ter gostado mais. Mas talvez já tenha me esgotado de histórias que criam grandes caminhos e só vão a algum lugar nas suas últimas 50 páginas. Como foi o caso de Três Coroas Negras.

Eu aprendi a me parecer tanto com ela, a usar as expressões dela no lugar das minhas, que era como se eu usasse uma segunda pele e, às vezes, eu esquecia que existia uma original.

Eu acho a leitura vale a pena demais para quem tá procurando uma ficção científica que se destaque entre as conhecidas. Porque o que a autora fez construindo seus planetas, sistemas políticos e conspirações rebeldes é brilhante. Se você ignorar o instalove ou se curte esse tipo de trope romântico, pode gostar mais ainda.

A edição da Literalize é linda. O trabalho gráfico ficou perfeito. As páginas têm uma textura boa e tanto a revisão quanto a diagramação estão ótimas. A tradução, que ficou a cargo da Mariana C. Dias, tá bem eloquente e ótima. Você se perde nos termos, mas faz parte por ser um universo de ficção científica totalmente novo.

Resenha: Miragem - Somaiya Daud

Por apresentar uma diversidade tão grande e um final impactante, eu com certeza vou procurar pela continuação pra conferir o resultado das reviravoltas políticas. Só acho importante dizer que Miragem não é um livro agitado, cheio de ação e de emoção e rebeldia. Ele se desenvolve arrastadamente, e entrega um fim de tirar o fôlego justamente por ter usado o marasmo até aquele ponto. O desenvolvimento da protagonista e da antagonista é maravilhoso e, não fosse pelo romance insosso, eu teria amado muito mais.

Sinopse: Em um sistema solar dominado pelo brutal Império Vathekês, Amani é uma sonhadora. Quando uma mudança finalmente ocorre em sua vida, não é exatamente da maneira como ela esperava: a garota é sequestrada pelo Império e levada em segredo para o palácio real, onde descobre que é idêntica a Maram, a cruel princesa de Vathek. Maram é tão odiada por seus colonos que ela precisa de uma substituta, alguém que tome o seu lugar em aparições públicas… e que possa morrer por ela. Mesmo forçada a desempenhar um papel, Amani não consegue ignorar a beleza do palácio—ou a presença de Idris, o noivo da princesa. Só que o esplendor da corte esconde um mundo de violência e medo. Para ter a chance de ver a sua família de novo, Amani precisa interpretar a princesa com perfeição, já que um único passo em falso pode guiá-la para a morte.

Título original: Mirage
Autora: Somaiya Daud
Tradução: Mariana C. Dias
Editora: Literalize
Gênero: Ficção científica | YA
Nota: 3,5

6 comentários:

  1. Eu gosto de ficção, mas é bom saber que não é super agitado. E que edição linda! Adorei!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  2. Olá...
    Acho que votei pra você ler esse livro lá no stories ;)
    Sabe, estava muito entusiasmada pra ler esse livro, porém, a demora desse plot me desanimou um pouco. Na minha opinião, o que mais me decepciona numa leitura é quando você não consegue se apegar aos personagens, então, acho que vou fugir desse livro, pelo menos por um tempo...
    Bjo

    http://coisasdediane.blogspot.com/

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  3. Ooi
    A Literalize tem lançado muitos livros interessantes de fantasia, cada vez mais to de olho no catalogo deles.
    Ainda não conhecia esse e já fiquei curiosa, gosto dessa temática.

    Silviane, blog kzmirobooks.com• Siga no Instagram: @kzmirobooks

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  4. Olá, Denise.
    Eu estou lendo uma série que precisei até voltar umas partes porque do nada estão apaixonados e achei que tinha pulado o momento em que isso acontece, mas foi instalove mesmo. Eu quero muito ler esse livro mas ainda não consegui comprar. Ainda bem que é duaologia então nem vou ler por já mesmo.

    Prefácio

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  5. Soraia Rack6.6.21

    Nem dá pra chamar esse livro de ficção científica. Se você tirar todos os elementos como droides e as poucas menções a naves e planetas, vira um enredo de YA. Nem é uma fantasia também, pois não tem elementos sobrenaturais.

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    Respostas
    1. Oi, Soraia. Mas os elementos de droides e menções a naves e planetas classificam o livro como ficção científica :) não dá pra 'tirar' porque eles ESTÃO no enredo, então fazem parte da história. Ou seja: ela é uma ficção científica do gênero YA, por ter personagens e narrativa voltada para o público jovem adulto.

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