Um Céu Além da Tempestade - Sabaa Tahir - Queria Estar Lendo

Um Céu Além da Tempestade - Sabaa Tahir

Publicado em 15 de nov. de 2021

Um Céu Além da Tempestade - Sabaa Tahir

Um Céu Além da Tempestade é o quarto e último volume da saga Uma Chama entre as Cinzas, da autora Sabaa Tahir - publicado aqui pela Editora Verus. Foi um final agridoce, pra mim, porque ao mesmo tempo em que me emocionou em várias partes, também me frustrou demais em outras.

Relembre a série:

Esta resenha vai conter spoilers dos livros anteriores da série!

Os djinns se libertaram e querem vingança. Liderados pelo terrível Portador da Noite, que tem o apoio da comandante Ventura e de todo o seu exército, uma guerra se inicia para varrer a terra com sofrimento.

Laia, aliada a Águia de Sangue, vem treinamento e se fortificando para impedir o horror de se espalhar pelo mundo. Ela carrega culpa por ter amado o Portador da Noite, e raiva por ter sido enganada por ele, e quer pará-lo antes que seja tarde. A Águia de Sangue, por outro lado, quer retomar o império; ela tem consigo a imperatriz regente e o herdeiro ao trono, mas precisa reconquistar as terras arrasadas pela comandante, e a capital, para ter uma chance de reconstruir o poder.

E o Apanhador de Sonhos, distante em meio a seu eterno trabalho guiando as almas para o descanso, percebe estranhezas crescendo no Lugar de Espera. Um sinal de que a guerra do Portador da Noite pode ser ainda pior do que imaginavam.

Quando comecei Um Céu Além da Tempestade, estava esperançosa; durante e até o fim da leitura, o misto de emoções que me tomou foi de alegria e de frustração.

Um Céu Além da Tempestade - Sabaa Tahir

Alegria porque é um épico, como todos os outros livros. Muito mais tenso e carregado em adrenalina porque, aqui, estamos prestes a confrontar a maior guerra que esse mundo já viu. E a Sabaa Tahir sabe como desenvolver sua narrativa de modo a fisgar a nossa atenção.

Eu não vi as 490 páginas passando. Tudo que sentia era emoção, pura e simplesmente. Algumas vezes tanta irritação que sentia vontade de jogar o livro na parede? Sim. Mas não dá pra negar que esse é um livro intenso.

- Você a matou. Essa é a natureza da guerra. Mas não precisa esquecer o seu inimigo.

O problema, no entanto, é o mesmo que rolou em Uma Tocha na Escuridão e principalmente em Um Assassino nos Portões. De novo, eu sinto que a história se perdeu na estrutura da história porque em quase 80% do tempo, os personagens iam e vinham em situações que poderiam ter sido facilmente resolvidas com 1) uma conversa 2) um confronto 3) eles não tomarem decisões estúpidas em prol de tornar esse livro um calhamaço quando poderia ter sido menor.

Exemplo disso é quando personagem A se deixa ser sequestrada para roubar um determinado objeto que pode ser crucial para o desenrolar da história só para, no instante em que PEGA esse objeto em mãos, deixá-lo cair.

Eu juro por deus que ela deixa o objeto, o sonhado objeto, o que ela demora cinquenta páginas para alcançar, cair. Só para, alguns capítulos depois, voltar ao início dessa mesma jornada pra tentar recuperar esse objeto mais uma vez.

É muito, muito frustrante.

E tem outros elementos que aparecem aqui, de repente, que também me desagradaram bastante. O fato da Laia ter se tornado uma Mary Sue foi um dos piores; eu me apaixonei pela personagem justamente pela simplicidade dela, por ser uma garota forte, amedrontada, mas disposta a tudo para proteger quem ela amava. Aqui, ela se tornou a própria deus ex machina, a cada capítulo ganhando habilidades e poderes tirados da cartola só porque o livro criou um vilão que seria impossível de derrotar sem uma personagem igualmente imparável.

Eu achei que a Laia estaria numa posição muito mais madura e segura de si, e não tomando decisões estapafúrdias atrás de decisões indignantes que resultavam em nada além de caos e ela precisando ser salva ou se livrando de situações com seus novos superpoderes espetaculares. Depois de tudo pelo que ela passou em três livros, eu esperava muito mais sabedoria e calma e, principalmente, racionalidade da parte dessa protagonista. Por tudo que ela carrega, por toda esperança que pode trazer.

Em vez disso, encontrei uma protagonista perdida, rebelde sem razão em momentos que pediam por disciplina e capaz de pouco por causa de poderes que surgiram do nada - porque, da parte dela, só algumas frases de efeito e estar ali, já que sua nova personalidade Mary Sue é que fez o serviço.

O Elias, cara... É outro que a narrativa não compensou. Ele agora é o Apanhador de Almas, mas continua andando em círculos. Assim como a Laia, seus capítulos parecem não ir para lugar nenhum porque sempre voltam para o ponto de início.

Primeiro, ele não quer ajudar. Aí decide que talvez deva fazer alguma coisa. Quase faz alguma coisa. E volta para não querer ajudar. Repita isso mais algumas vezes e você tem o plot do Elias nesse livro. É frustrante, em todos os momentos. E é isso até o fim do livro!

Um Céu Além da Tempestade - Sabaa Tahir

Eu entendo que ele está em uma posição complicada e, no começo, até estava simpatizando com suas indecisões porque eram compreensíveis; mas depois de determinado momento em que ele vira as costas, causa um problema absurdo (quando poderia ter continuado ajudando) e volta para ajudar quando tudo foi pro brejo, ah, pelo amor de deus, né?

O nome disso é encheção de linguiça. O livro não precisava, porque o ritmo funcionava muito bem sem esses vai e voltas.

O romance com a Laia eu não vou nem comentar porque nunca me desceu e continuou forçando a barra nesse aqui. O drama tá ali, mas não convence - até porque eu estava sentindo mais raiva dos dois do que qualquer outra coisa, com todo esse lenga-lenga de "vou fazer alguma coisa" > comete uma burrice imperdoável > resolve refazer essa coisa pra ver se dessa vez dá certo quando poderia ter dado certo da primeira se tivesse parado para pensar por UM MINUTO SEQUER.

Eu não senti, em nenhum momento desse livro, que a autora tinha um desenvolvimento concreto pra história. Com exceção da parte final, que é muito bem elaborada (ainda que a resolução da grande batalha seja um pouco sem graça), todo o resto só... está ali. Injustificável, considerando que os capítulos da Laia e do Elias só se prolongaram tanto porque eles estavam cometendo atitudes estúpidas.

A Laia ter soltado aquele objeto, cara! Eu nunca vou perdoar esse acontecimento.

Acho que a única personagem que foi fiel ao que eu amava foi a Helene; ela também deu seus escorregões em vários momentos do livro, mas compreensível considerando o peso que ela carrega agora. E, diferente do Elias e da Laia, suas indecisões levam a algum lugar.

Senti mais firmeza pela sua posição de general, representando o futuro imperador, e menos das atitudes burras que ela tinha no volume anterior.

O medo só é seu inimigo se você deixar.

Helene está mais concisa, mais séria e muito mais uma guerreira imbatível do que jamais vimos dela. Eu queria, muito, ter visto mais dela com a Laia porque - além de shippar absurdamente as duas - uma amizade forte e importante nasceu entre elas, mas a narrativa tinha que separá-las pra colocar a Laia em seus momentos estúpidos, claro...

A Helene é uma força da natureza e é o amor da minha vida e eu amei e me emocionei e chorei horrores com todos os seus momentos nesse último livro. Para mim, a personagem mais impecável da quadrilogia. Cheia de erros e de acertos e por isso tão cativante.

Esse livro, em resumo, é um grande: dois dos protagonistas ficaram tomando decisões estúpidas enquanto uma terceira protagonista sustentava toda uma guerra nos ombros.

Eu sinto que um pouco mais de cuidado da narrativa em expor todo esse caos e todo esse terror e medo teria servido melhor à história. Não apenas pela enrolação sem sentido que mencionei antes, mas também pela construção de tensão. Não precisa fazer uma personagem confrontar outra se não vai dar em nada. Usa esse momento para trabalhar melhor as relações entre ela e os personagens ao seu redor.

Porque eu já desabafei sobre as minhas maiores frustrações, vamos agora ao porque esse livro não foi um completo e absoluto desastre e porque eu ainda consegui finalizar essa série com carinho no meu coração.

Primeiro: a construção de universo. Toda a guerra com os djinns é muito intensa e a mitologia por trás deles, o que os move, qual a razão para seguirem o Portador da Noite, o próprio Portador da Noite. É tudo muito bem explicado e desenvolvido pela narrativa; é uma fantasia cativante (com exceção da vibe Mary Sue da Laia) e hipnótica. Você baba na construção de mundo que a Sabaa entrega e, até o fim, se sente parte dele.

Um Céu Além da Tempestade - Sabaa Tahir

Os outros personagens estão ali para deixar a trama mais rica e, diferente dos livros anteriores, todos eles têm seus momentos grandiosos. Darin, Harper, Livvy, Mamie, o Portador da Noite e até mesmo a comandante (por deus, chega de dar histórias tristes de origem para vilões, eu imploro) vivem e entregam seu melhor para esse adeus.

Por isso eu me emocionei dizendo adeus. Foi um final agridoce por causa da frustração e decisões apressadas, sim, mas foi um final bonito. Me arrancou algumas lágrimas porque falou, acima de tudo, sobre amor e perdão.

Todas nós, treinadas para contar histórias, temos um pouco de mágica em nossos ossos.

Essa série entregou momentos inesquecíveis com personagens que poderiam ter sido melhor trabalhados, mas que serviram a seu propósito. Eu posso não sentir falta do Elias, mas sua jornada foi épica. Eu posso ter tido vontade de sacudir a Laia pelos ombros, mas sua história foi importante. Eu me apaixonei pela Helene, e vou carregá-la comigo para sempre.

Um Céu Além da Tempestade não foi o final que eu esperava, mas foi uma despedida querida desse universo desértico, cheio de mágica e de histórias que ultrapassam a barreira do real, alçando o fantástico.

Sinopse: Em Um céu além da tempestade, após ficarem mil anos aprisionados, os djinns partem para o ataque, dizimando vilarejos e cidades. Mas, para o Portador da Noite, a vingança contra os humanos é apenas o começo. Ao seu lado, Keris Veturia se declara imperatriz e ameaça de morte todos aqueles que a desafiarem. No topo da lista estão a Águia de Sangue e o que resta de sua família. Laia de Serra, agora aliada da Águia de Sangue, luta para se recuperar da perda das duas pessoas mais importantes de sua vida. Determinada a impedir o apocalipse que se aproxima, ela se lança à destruição do Portador da Noite. No processo, desperta um poder ancestral que pode levá-la à vitória – ou a uma tragédia inimaginável. E, nas profundezas do Lugar de Espera, o Apanhador de Almas busca apenas esquecer a vida – e o amor – que deixou para trás. No entanto, fazer isso significa ignorar a trilha de assassinatos deixada pelo Portador da Noite e seus djinns. Para manter seu juramento e proteger o mundo humano do sobrenatural, o Apanhador de Almas deve olhar para além das fronteiras de sua terra. E assumir uma missão que pode salvar – ou destruir – tudo o que ele conhece.

Título original: A Sky Beyond the Storm
Editora: Verus
Autora: Sabaa Tahir
Tradução: Jorge Ritter
Gênero: Fantasia | YA
Nota: 3


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