Resenha: A Filha do Guardião do Fogo - Angeline Boulley - Queria Estar Lendo

Resenha: A Filha do Guardião do Fogo - Angeline Boulley

Publicado em 27 de out. de 2022

Resenha: A Filha do Guardião do Fogo - Angeline Boulley

A Filha do Guardião do Fogo é um aclamado thriller YA, que ganhou inclusive o selo do clube de livros da Reese. Escrito por Angeline Boulley, é uma história sobre legado, família e mudanças.

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Daunis Fontaine se sente estranha nos dois mundos em que vive. De um lado, a família da mãe; conservadora, branca. Do outro, a família do pai, indígenas da reserva Ojibwe de Sugar Island. Sua ideia de futuro é um que envolva se mudar para a faculdade, de modo a seguir em frente sem ter que lidar com boatos sobre sua origem.

O problema acontece quando uma tragédia interrompe todos os seus planos. O que deveria ser um futuro maravilhoso ao lado da melhor amiga se torna um tormento sem precedentes. Daunis continua ali, entre dois mundos, mas carrega um novo peso em suas costas.

Quando é oferecida para ela uma chance de investigar a fundo o que aconteceu, e o que vem acontecendo na reserva, Daunis aceita. É seu lar; sua família. É por eles que Daunis vai fazer isso. E, quanto mais investigar e escavar em busca de verdades, mais vai querer esquecê-las.

Aviso de conteúdo (que eu gostaria de ter encontrado em resenhas e não encontrei): tem uma cena de estupro. Não é gráfica e nem descritiva, mas está lá. Eu fui pega de surpresa (e não foi uma surpresa agradável) então fica o alerta.

A Filha do Guardião do Fogo foi uma leitura em partes arrastada, em partes extremamente cativante. Do meio para o final, ele fica impossível de parar; do começo até o meio, é um pouco truncado. Tem bons momentos, sim, mas poderia ser um pouquinho menor.

Quando alguém morre, tudo a respeito deles se torna passado. Com exceção do luto. O luto permanece no presente.

Não é um livro frenético e carregado em reviravoltas e acontecimentos. É um livro lento, e leva o seu tempo para fazer as coisas acontecerem. Em parte por causa da protagonista, em partes pelo mistério.

Daunis foi uma personagem principal ok. Em alguns momentos, parecia uma adolescente teimosa de 13 anos, em outros a jovem adulta que realmente é. Nas partes da teimosia, eu perdi um pouco a paciência. Mas é um pouco de praxe encontrar protagonistas difíceis em suspenses do tipo, então não é realmente culpa da história; sem a teimosia dela, a narrativa poderia ter sido mais fluida, mas talvez não alcançássemos os resultados do fim da mesma maneira.

Resenha: A Filha do Guardião do Fogo - Angeline Boulley

Eu gostei bastante da evolução que ela apresentou no decorrer da história. Suas jornadas dentro da investigação e fora dela são distintas, e muito importantes. A Filha do Guardião do Fogo mescla o suspense investigativo com a trilha de cultura, ancestralidade e legado que Daunis vive.

Todo o plot sobre sua origem, quem ela é, qual mundo a representa (ou se os dois mundos são partes dela) é muito emocionante. A cultura Ojibwe é belamente retratada pela autora; Angeline Boulley é um autora Chippewa, e trabalhou pela melhoria da educação de crianças indígenas.

Conhecer mais da cultura dos povos originários é essencial, e A Filha da Guardiã do Fogo faz isso através das famílias, dos diálogos, dos infinitos detalhes na vida de Daunis. Eu li a versão em inglês, mas sei que a brasileira, que saiu pela Intrínseca, teve uma tradução sensível e cuidado na adaptação.

Eu aprendi que havia momentos em que era esperado que eu fosse uma Fontaine, e outros momentos em que era seguro ser uma Firekeeper.

Em relação ao mistério, não achei tão misterioso assim. Dá para sacar o que está acontecendo (e quem está causando) com um pouco da investigação; como é revelado é que me chocou bastante. Funciona na construção de tensão do final da história, e ainda dá gás para uma última reviravolta desesperadora.

Os coadjuvantes que aparecem na história estão bastante conectados à Sugar Island, em partes, e à protagonista, principalmente. Os membros da reserva têm suas histórias paralelas apresentadas conforme o dia a dia de Daunis nos apresenta a eles; conflitos, discussões, rotinas, problemas familiares. Eles enchem as páginas quando a investigação não está em destaque, e funcionam muito bem para ajudar no tom da trama.

Nem muito sombrio, nem muito alegre. Tem drama e tem felicidade na mesma medida.

Resenha: A Filha do Guardião do Fogo - Angeline Boulley

Ainda sobre a investigação, é muito forte as críticas que a autora levanta em relação ao tratamento que indígenas recebem do governo, de agentes federais e da polícia. Tem muito espaço para falar sobre o racismo, a maneira desumana com que são recebidos. Mesmo Daunis fazendo parte de uma força tarefa para entender o que está acontecendo, ainda existe a perturbação; a certeza de que os direitos deles não são tão defendidos e justos quanto os dos brancos.

A ligação da Daunis com as mulheres da família Firekeeper é muito importante pra ela. Sua ligação com a mãe, marcada pelo luto, também. O luto, aliás, é uma temática muito presente nesse livro. Trabalhado de diferentes maneiras, representando muito bem como ele funciona em cada pessoa distinta; melancolia, raiva, não querer aceitar, aceitar tanto que se deixa ser consumido por ele.

"Mulheres Ojibwe fortes são como a maré, nos lembrando de forças poderosas demais para nosso controle."

Tem um romance também, mas esse não me desceu. Instalove com personagens que não dividiram um pingo de química, definitivamente não funcionou pra mim. Entendi o que a autora quis fazer com a conexão emocional entre os dois, e o fato de eles se sentirem iguais nessa divisão de mundos, sem um rumo definido, mas podia muito bem ter sido uma amizade forte. Funcionaria melhor, sem a pressa e a sensação de que não havia muito entre eles pra tanto sentimento.

A Filha do Guardião do Fogo, num contexto geral, foi bom. É o livro de estreia da autora, e ela mostra que tem poder narrativo para entregar livros impactantes para o público. Eu queria que ele fosse só um pouquinho menor, porque o ritmo teria funcionado melhor para mim. Mas com certeza é uma leitura mais do que indicava para todo mundo que gosta de suspense, com drama familiar e um final agridoce.

Sinopse: Daunis Fontaine vive em dois mundos, mas se sente uma estranha em ambos. Aos dezoito anos, a jovem se vê eternamente dividida entre a família da mãe — branca e conservadora — e a do pai, indígenas da reserva Ojibwe de Sugar Island, no Michigan. Ela sonha com a nova vida que vai levar ao se mudar para cursar a faculdade, bem longe dos boatos sobre sua origem, mas uma tragédia a obriga a adiar seus planos. Quando Jamie, um lindo e talentoso jogador de hóquei, chega à cidade, a jovem sente que a monotonia dos seus dias está prestes a acabar. Porém, ao testemunhar um assassinato perturbador na reserva, ela se dá conta de que há algo errado — com Jamie, seus amigos e sua comunidade. De uma hora para outra, Daunis se vê envolvida em uma investigação do FBI sobre uma nova droga que tem feito cada vez mais vítimas. Receosa, ela aceita trabalhar como informante, usando seus conhecimentos de química e da medicina tradicional Ojibwe. Mas a busca pela verdade se mostra mais perigosa e dolorosa do que ela imaginava, trazendo à tona segredos e abrindo feridas ainda não cicatrizadas.

Titulo original: Firekeeper's Daughter
Autora: Angeline Boulley
Tradução: Bruna Miranda
Editora: Intrínseca
Gênero: Thriller
Nota: 4
SKOOB


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