Resenha: Estou Feliz que Minha Mãe Morreu - Jennette McCurdy - Queria Estar Lendo

Resenha: Estou Feliz que Minha Mãe Morreu - Jennette McCurdy

Publicado em 14 de jan. de 2023

Resenha: Estou Feliz que Minha Mãe Morreu - Jennette McCurdy

Cara, essa vai ser uma resenha difícil de escrever. Porque a experiência de ler Estou Feliz que Minha Mãe Morreu, a biografia da ex-atriz Jennette McCurdy, foi um baque.

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Aviso de conteúdo: esse livro contém descrições explícitas de abuso físico e psicológico, de transtornos alimentares (anorexia e bulimia) e abuso de substâncias alcoólicas.

O livro é exatamente isso. A biografia da Jennette McCurdy de maneira nua e crua, contando tudo sobre sua infância em um lar descompensado, com uma mãe abusiva que mascarava todo o abuso com amor e carinho. Também fala sobre sua jornada como atriz, do começo de carreira às conquistas que ela nunca buscou.

Estou Feliz que Minha Mãe Morreu, apesar de todo o conteúdo pesado e sensível, é escrito de maneira leve. Jennette McCurdy tem um jeito único com as palavras, e descreve sua vida explicitamente, sem deixar qualquer detalhe de fora. Em alguns momentos da história, ela troca nomes por pseudônimos, ou apelidos, tal qual a maneira com que se refere a quem sabemos se tratar de Dan Schneider - no livro, ela o chama de O Criador.

Rapaz, como essa garota sofreu. Como ela resistiu e como sobreviveu, principalmente. Desde a infância, roubada dela quando a mãe decidiu que Jennette tinha talento e deveria se tornar uma atriz mirim, até a adolescência conturbada e a vida adulta ainda mais perturbada por todos os problemas que empilhou no decorrer dos anos.

Eu não estou autorizada a ter nenhum problema.

O começo do livro, o "antes", é sobre sua relação com a mãe. O "depois" se segue à morte da mãe, e as cicatrizes emocionais e psicológicas que ela deixou na filha.

Estou Feliz que Minha Mãe Morreu é uma biografia completa, que parte nosso coração. Eu acompanhava a Jennette em iCarly, era apaixonada pela Sam e pelo seu jeito pateta e bruto, e é tão doloroso conhecer o que estava acontecendo por trás das câmeras, e como a Jennette era forçada a esconder isso; como era doutrinada a fingir que estava tudo bem, com a manipulação da mãe o tempo todo sobre ela.

A começar pelo fato de que a Jennette nunca quis ser uma atriz, e se incomodava demais com a atenção, as câmeras e a atuação. O fato de perder o controle ao atuar era muito perturbador, ainda mais por estar ali entregando esse controle quando nunca pediu por isso.

Resenha: Estou Feliz que Minha Mãe Morreu - Jennette McCurdy

E a presença da mãe como uma sombra constante é sufocante até para quem está lendo. A relação delas é tão abusiva que machuca através das páginas. E o fato da Jennette amar tanto a mãe, e fazer tudo para vê-la feliz, é o que machuca mais. Desde pequena, ela aprendeu que deveria se dobrar à felicidade da mãe; aquela coisa de estragar a si mesma para garantir que alguém esteja feliz.

Todas as coisas que a mãe da Jennette fez com elas configuram uma passagem só de ida para o inferno. De incentivo a transtornos alimentares a abuso físico, emocional e psicológico; é uma lista interminável. E a Jennette que está escrevendo sua história sabe disso, mas mantém a leveza ao mostrar como, aos olhos dela mais jovem, a mãe era a coisa mais importante do mundo. Mais do que a sua própria felicidade, porque assim sua mãe a havia feito acreditar.

Mas o mundo não me deixa amadurecer. O mundo não me deixa ser outra pessoa. O mundo quer que eu seja apenas Sam Puckett.

Os relatos da Jennette sobre seu período como atriz são tensos. Enquanto a gente via sorrisos e bom humor nas telas, atrás delas havia tensão, abuso emocional, manipulação e muitos, mas muitos problemas psicológicos. Não apenas por parte da mãe, mas por causa do Criador. É nojento o que ele fazia com seus astros, e como comandava seus programas.

Não apenas iCarly, mas outras histórias criadas por ele tiveram relatos parecidos com os da Jennette. De como ele perturbava os atores, de como era terrível atrás das câmeras, de todo o abuso psicológico que causou na equipe e quem atuava. Só alguns relatos de encontros que a Jennette teve com ele já subiram um calafrio na espinha; puro terror.

Resenha: Estou Feliz que Minha Mãe Morreu - Jennette McCurdy

O "depois" também é pesado. Porque, apesar de morta, sua mãe continua a assombrá-la. Com a bulimia e o medo de não estar sendo suficiente, com a memória e a perdição com a qual Jennette se encontra em sua carreira - apesar de estável, ser atriz nunca foi o que ela amava.

Não foi uma vida fácil antes, mas definitivamente não foi fácil depois. A mãe estava morta, mas sua lembrança continuava firme e forte abusando da filha.

Estou Feliz que Minha Mãe Morreu é uma biografia pesada, sim. Porque a vida da Jennette foi assim. Mas tem muitos momentos leves também. A amizade da Jennette com a Miranda, estrela de iCarly, é linda. Sua recuperação e superação, também. Não tem nada de milagroso em sua jornada de vida, mas ela mostra que é possível sim se reerguer depois de tanto abuso. Que é possível buscar ajuda.

Eu não escolhi essa vida. Foi minha mãe quem escolheu.

O final é um ponto de virada muito importante da vida da Jennette, e mostra como ela conquistou o tão sonhado controle sobre cada passo e decisão que tomava e tomaria dali para frente. Ela não gostava de atuar, mas tem um dom com as palavras, e com certeza tem muitas histórias para contar em seu futuro em direções e roteiros.

Sinopse: Um comovente e hilário livro de memórias da estrela Jennette McCurdy sobre suas lutas como ex-atriz infantil – incluindo distúrbios alimentares, vícios e o complicado relacionamento com sua mãe autoritária – e como retomou o controle de sua vida. Jennette McCurdy está ciente de que o título de seu novo livro, "Estou Feliz que Minha Mãe Morreu" chama a atenção: "É algo que quero dizer sinceramente, não estou dizendo para ser esquisito." McCurdy, que co-estrelou as séries na Nickelodeon iCarly com Miranda Cosgrove e seu spin-off Sam & Cat, ao lado de Ariana Grande, espera que os leitores entendam por que ela faz uma declaração tão ousada: "Espero que os leitores sintam que, no final, 'isso faz sentido’." A jovem de 30 anos escreve em seu livro que sua mãe "era uma narcisista" que "abusou dela emocional, mental e fisicamente". Ela empurrou McCurdy para uma carreira de atriz quando criança e a induziu a desenvolver distúrbio alimentar. Sua mãe insistiu em dar banho na filha até o final da adolescência, alegando que ela não lavava o cabelo corretamente, diz McCurdy. Jennette narra com franqueza e humor ácido, "Estou Feliz que Minha Mãe Morreu" é uma história inspiradora de resiliência, independência e superação.

Título original: I'm Glad My Mom Died
Autora: Jennette McCurdy
Tradução: Soraya Borges de Freitas
Editora: nVersos
Gênero: Não Ficção | Biografia
Nota: 5+


Um comentário:

  1. Oi, Denise!

    Eu sou uma grande fã de iCarly! A série fez parte da minha infância, e até hoje me pego assistindo (e até rindo!) dos mesmos episódios que já cansei de ver.
    Eu já sabia sobre toda a história do Dan Schneider e acho um absurdo que ele nunca foi punido por tudo que fez. Quando soube do livro da Jennette, imediatamente quis ler! Mas não sei ainda se tenho psicológico pra isso. É muito triste saber que uma pessoa que fez parte da minha vida (ainda que indiretamente e pela televisão), sofreu tanto e pelas mãos de quem deveria lhe proteger.
    Gostei muito da sua resenha e espero poder ler o livro em breve!

    Estante Bibliográfica

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