Resenha: Na sala dos espelhos - Liv Strömquist

Na Sala dos Espelhos: Autoimagem em transe ou beleza e autenticidade como mercadoria na era dos likes e outras encenações do eu é a mais nova HQ de Liv Strömquist publicada por aqui pela Quadrinhos na Cia.

Se você se interessou por Na Sala dos Espelhos pode gostar de:

• A origem do mundo, de Liv Strömquist
• Maus, de Art Spiegelmen
• Persépolis, de Marjane Satrapi
• Lore Olympus, de Rachel Smythe

Assim como em outros trabalhos da Liv - como A Origem do Mundo e a Rosa Mais Vermelha Desabrocha - a HQ traz uma temática social de forma mais descontraída.

Puxando exemplos históricos e até bíblicos, a autora busca entender a nossa relação atual com a autoimagem e as redes sociais.

O grande questionamento apresentado é quando tudo isso começou. Mas também, o que é beleza e como definidos isso, historicamente. Quando foi que os padrões atuais começaram? Quais os impactos sociais e culturais da tal beleza? E como isso afeta a forma como nos enxergamos, como aplicamos valor a nós mesmas e as pessoas a nossa volta.

Em Na Sala dos Espelho, Liv Strömquist mostra que é possível abordar temas sérios de forma descontraída, sem perder a essência da discussão ou diluir as questões e referências.

Não é preciso ser exaustivamente didático ou acadêmico para falar de um sentimento que é comum a todos que lidam com as redes sociais diariamente. Especialmente com as expectativas em relação ao números e alcance, ao mesmo tempo em que haters e influencers crescem cada vez mais.

Foi uma leitura bem fácil de fazer e compreender. E, pra mim, muito mais interessante do que alguns "clássicos", como O Mito da Beleza.

Aqui a autora nos faz pensar em porque queremos tanto nos parecer com as pessoas no Intagram, ainda que tenhamos ciência de que aquelas fotos são editadas, por exemplo. Ou mesmo quando as próprias pessoas vem a público falar que não estão incentivando cirurgias ou hábitos pouco saudáveis? Porque queremos, a todo custo, nos parecer com o que vemos nas redes sociais?

A partir daí, Liv constrói uma linha que busca respostas na história e até na ficção, falando sobre como o valor das mulheres estão tão atrelado a sua aparência. O medo de envelhecer, engordar, de não ser considerada bonita o suficiente, atraente o suficiente. 

Além de julgadas se não somos "bonitas o suficiente", também somos julgadas quando sabemos que somos bonitas. Porque esse conhecimento dá poder - como no caso das Kardashian, por exemplo. Então, a sociedade logo trata de criar mais obstáculos. Seja através da religião - mulheres modestas não enaltecem a própria beleza, mulheres que não estão cientes da própria beleza são sempre as mais belas - como ao nos marcarem como fúteis ou vagabundas por termos ciência da nossa aparência física e realçarmos ela.

Acredito que Liv conseguiu abordar o tema de forma muito mais realista, trazendo exemplos reais (não apenas atuais) e literalmente desenhando sobre eles.

Gostei muito da HQ e agora estou ainda mais interessada nos outros trabalhos dela. Recomendo para todo mundo, especialmente quem gostaria de ler mais não ficção, mas se sente intimidado/com preguiça de volumes grandes.

Neste verdadeiro tratado sobre a aparência e as ilusões do eu, Liv Strömquist reflete sobre como a tirania da imagem vem minando a relação que travamos com nossos corpos e desejos. Um livro agudo e irreverente, que nos fará olhar de outro modo para o espelho. Por que as fotos que vemos rolar pelo feeddas redes sociais podem nos levar a sentimentos de ansiedade, raiva, tristeza e frustração? Quando foi que criamos uma relação voyeurística crônica com nós mesmos? Como, afinal, enxergar a si próprio num mundo dominado pela hiperexposição? Depois dos sucessos de A origem do mundo e A rosa mais vermelha desabrocha, Liv Strömquist volta seu olhar para as imagens que brilham, sedutoras, nas telas dos nossos celulares. Do mito bíblico de Jacó à última sessão de fotos de Marilyn Monroe, da obsessão da imperatriz Sissi da Áustria com magreza e exercício físico ao roubo do busto de Nefertiti ― o rosto mais belo que já existiu ―, a artista sueca investiga o cânone que nos escraviza e tenta encontrar o que há de real atrás de filtros e selfies. Com a ajuda de reflexões de Susan Sontag, Naomi Wolf, Simone Weil, Eva Illouz e da madrasta da Branca de Neve, Na sala dos espelhos se pergunta como a inveja e o instinto competitivo alimentam o consumo compulsivo. Um livro raro, engraçado, com opinião e inteligência singulares.

Título original: Inne i spegelsalen
Autora: Liv Strömquist
tradutora: Kristin Lie Garrubo
Editora: Quadrinhos na CIA
Gênero: Não ficção | História em Quadrinho
Nota: 5

SKOOB