Resenha: Sombras do Sol - N.K. Jemisin - Queria Estar Lendo

Resenha: Sombras do Sol - N.K. Jemisin

Publicado em 30 de mai. de 2023

Resenha: Sombras do Sol - N.K. Jemisin

Sombras do Sol, sequência de Lua de Sangue, é uma história poderosa sobre as consequências de uma conquista de poder. N.K. Jemisin, mais uma vez, mostra que é uma das vozes mais poderosas da literatura fantástica com uma trama intensa cheia de política, magia e pesadelos.

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Exemplar recebido em cortesia da Editora Morro Branco. Esta resenha vai conter alguns spoilers do livro anterior!

Aviso de conteúdo: Violência sexual, tortura.

A história se inicia anos depois da queda do rei de Gujaareh. A Cidade dos Sonhos está sofrendo sob domínio do Protetorado Kisuati; o que antes era uma grande utopia dos sonhos se tornou um interminável pesadelo. E, para piorar, pesadelos parecem estar tomando a mente daqueles que deveriam domá-los.

Uma estranha doença dos sonhos está se espalhando entre Coletores, e a investigação parece levar a um mal que nenhum deles sabe como parar. Uma guerra civil cresce nas ruas da cidade, e o terror se fortalece no mundo da Deusa dos Sonhos.

Mas existe esperança na rebelião, e naqueles que ainda lutam por Gujaareh. E essa esperança se divide entre um príncipe revolucionário que foi criado longe das ruas da sua terra natal, mas que deseja retornar a ela para reivindicar o que é seu. E numa sacerdotisa empática e cautelosa que se vê interligada ao destino do príncipe por mais do que tramoias políticas.

Resenha: Sombras do Sol - N.K. Jemisin

Sombras do Sol é uma sequência consequencial de Lua de Sangue, e faz ainda mais do que o primeiro livro da duologia com tudo que entrega. É uma história recheada de maquinações políticas, estratégias de guerra, conflitos religiosos, confrontos sobre misoginia, discussões sobre poder e um clímax carregado em fantasia e reviravoltas.

- Os banbarranos veneram aquilo que criou o mundo em toda e qualquer forma que assuma. Mas não veneram as pessoas.

O começo dele é um pouco arrastado porque tem muita coisa nova, muitos nomes novos, e é um mundo complexo, então o ritmo demorou um pouco pra me pegar. Lá pela página 100, no entanto, já familiarizada com tudo, principalmente personagens, eu me senti em casa. E aí o livro fluiu que foi uma beleza.

A Jemisin tem um dom de escrever histórias fortes. Aqui não é diferente. Sombras do Sol é bem maior do que o primeiro livro da duologia, mas todo o conteúdo dele importa. Suas 500 e poucas páginas desenvolvem uma grande história de rebelião, magia e poder, e é com certeza um dos livros que mais me ganhou no ano.

O núcleo de personagens conta com alguns nomes conhecidos (como o Nijiri e a Sunandi), mas o protagonismo fica com os novos nomes que dão vida à trama. É uma história carregada de personagens femininas, e o mundo aqui considera as mulheres e a sua força (pelo menos uma parte dele).

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Wanahomen e Hanani são, respectivamente, o príncipe revolucionário e a sacerdotisa da Deusa dos Sonhos. Cada um deles está trilhando o próprio caminho quando a história converge suas jornadas em uma só. E, ao redor deles, um leque de coadjuvantes essenciais ajuda a dar gás para a trama - que é, principalmente, sobre a retomada de Gujaareh.

Wanahomen é um personagem... difícil. Eu ainda não sei se gostei dele, mesmo depois de ter terminado. Sua lealdade ao legado do pai (que era um rei completamente psicótico, mas Wanahomen nunca aceita entender isso, tendo crescido com o "lado bom" do pai) é forte, e sua bússola moral se guia principalmente pela reconquista. Ele vai fazer tudo que precisar para tomar o trono de volta; e só passa a ver isso como um problema depois que coisas extremas e terríveis acontecem por sua sede de poder.

Mas quando a ira de Gujaareh desperta, ela queima como a de qualquer outra terra.

Eu gostei bastante do desenvolvimento dele. A jornada do personagem é muito boa, e dá para notar seu crescimento como pessoa dentro da trama. Wanahomen começa muito mais bruto e frio e, com o decorrer da história e sua convivência com outros personagens (principalmente Hanani) vai se abrindo para um lado menos brutal.

Tem um pouco de romance na história, aliás, mas é desenvolvido de um jeito que não toma muita atenção da narrativa.

Por ter sido criado em meio aos "bárbaros" (uma tribo que vive no deserto e se intitula banbarranos) os traços de Wanahomen se dividem entre seus dois lados. Ele é dois homens em um, e precisa encontrar um equilíbrio se quiser ser um bom rei.

Hanani também foi uma personagem bem complexa. Ela começa comedida, na dela. É a única sacerdotisa mulher, uma Compartilhadora poderosa com o dom de cura. Ela e seu mestre, Mni-inh (que é MARAVILHOSO), são os conciliadores dentro do que se constrói como uma crescente rebelião pela tomada de Gujaareh. Mas Hanani só encontra a própria voz depois de muito caminhar e viver fora dos muros da cidade.

- Talvez nunca possamos eliminar a corrupção de dentro de nós mesmos, não completamente. Mas é importante continuarmos tentando.

Tive alguns problemas com um dos plots que envolveu a força dela vindo à superfície. A tentativa de estupro me desagradou demais porque não tinha a menor necessidade. Acho que o luto, por si só, teria sido suficiente para tirar a personagem daquela camada cuidadosa e submissa dela.

De novo: livros, vamos parar de colocar estupro na história? Não precisa. Não tem necessidade. Você pode mostrar violência e terror com outros artifícios. Sim, é a pior coisa do mundo que pode acontecer com uma mulher. Mas eu tô cansada de ler sobre. Já sabemos disso.

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Com exceção dessa questão com a violência sexual (que aparece bastante no plot de outra personagem, aliás, a Tiaanet), o desenvolvimento do livro é impecável. Tem altos e baixos para os personagens, uma montanha-russa de ação, reviravoltas e política, e um clímax que resolve todos os problemas e ainda entrega um final excelente.

A Tiaanet, aliás, é uma personagem que quanto menos você souber a respeito, melhor. Ela sofre demais, vítima de abuso e de um controle psicológico aterrorizante. Mas tem um desenvolvimento notável, e o final é agridoce e poderoso.

O universo da duologia Dreamblood é incrível. Toda a questão com a religião da Deusa dos Sonhos, como funciona a coleta de sonhos, o horror dos pesadelos, o "não saber" em relação ao que vem adoecendo as pessoas por Gujaareh e o quanto é macabro pensar que uma doença dos sonhos pode facilmente exterminar tudo em seu caminho.

Sombras do Sol aproveita muito da mitologia que foi apresentada em Lua de Sangue e mostra um lado ainda mais terrível dela. Ao mesmo tempo em que também mostra o seu lado mais bonito através da Hanani, que acredita na Deusa e no seu poder acima de qualquer corrupção humana que possa existir. Mesmo em seus momentos de maior hesitação, a cura e a ligação com o mundo dos sonhos é forte.

- A morte é apenas outro tipo de paz para um Coletor, lembre-se; eles não pensam como os Compartilhadores.

A edição da Morro Branco tá muito bonita, com uma diagramação confortável e tradução maravilhosa de Aline Storto Pereira. Eu amei a adaptação da capa brasileira (bem mais bonita que a gringa, diga-se de passagem).

Resenha: Sombras do Sol - N.K. Jemisin

Sombras do Sol encerra a duologia Dreamblood com maestria. Mais uma vez, N.K. Jemisin conta uma história poderosa e, quando termina, deixa a gente com saudade de tudo que foi apresentado.

Sinopse: Gujaareh, a Cidade dos Sonhos, sofre sob o domínio imperial do Protetorado Kisuati. Uma cidade onde a única lei era a paz agora conhece a violência e a opressão. E pesadelos. Uma praga misteriosa e mortal assombra os cidadãos de Gujaareh, condenando os infectados a morrer gritando enquanto dormem. Preso entre sonhos sombrios e senhores cruéis, o povo anseia por se levantar ― mas Gujaareh não conheceu nada além da paz por muito tempo. Alguém deve mostrar-lhes o caminho. A esperança está com dois párias: a primeira mulher a se juntar ao sacerdócio da Deusa dos Sonhos e um príncipe exilado que deseja recuperar seu direito como primogênito. Juntos, eles devem resistir à ocupação Kisuati e descobrir a fonte dos sonhos assassinos… antes que Gujaareh se perca para sempre.

Título original: The Shadowed Sun
Autora: N.K. Jemisin
Editora: Morro Branco
Tradução: Aline Storto Pereira
Gênero: Fantasia
Nota: 4


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