A Ladra Amaldiçoada é uma fantasia sombria lançada aqui pela Editora Seguinte. Escrita por Margaret Owen, ela re-imagina contos de fadas e dá protagonismo à ladra que rouba o lugar da princesa perfeita. Mas, como todo conto de fadas, tem um motivo para isso.
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Vanja nem se lembra da última vez que foi chamada assim. Quando tinha quatro anos, ela foi deixada na floresta para as deusas Morte e Fortuna. Ela era a décima terceira filha de uma décima terceira filha e, segundo a mãe, trazia muito azar. Por isso, as deusas poderiam fazer com ela o que bem entendessem. E as deusas resolveram adotá-la.
Aos treze anos, foi dada a Vanja uma escolha: servir à Morte ou à Fortuna. Mas ela não queria ter que escolher entre nenhuma das duas, então decidiu orquestrar uma fuga para longe do reino onde os Deuses Maiores e Menores têm poder. Assim, começou uma onda de roubos. E o maior deles foi roubar o rosto da princesa, para quem Vanja trabalhava até então.
Como em todo conto de fadas, as história têm moral. E por seus roubos e egoísmos, Vanja é amaldiçoada por outra Deusa. Agora, ela tem o tempo contado antes que a ganância a devore por completo. Para se livrar dessa maldição, a ladra vai precisar rever todo o mal que causou e como revertê-lo - isso se não achar outro jeito de escapar da sina.
Eu não esperava muito de A Ladra Amaldiçoada e agora quero socar a minha própria cara por não ter lido ele antes. Essa é genuinamente uma das fantasias mais criativas e carismáticas que eu li em muito tempo. Me lembrou muito o universo Grisha e Tress, A garota do mar esmeralda.
Só tem uma coisa que consigo resgatar nessa situação: minha raiva. Ela me faz lembrar de quem sou.
É uma história jovem, num universo sombrio, sobre uma garota trambiqueira. Que é realmente trambiqueira. Vanja não mede esforços para cometer seus roubos, e ela é inteligente. Sabe quando a personagem se acha esperta e não é? Aqui não tem nada disso. A Vanja é um gênio do crime e é bom demais acompanhar as tramoias dela, porque mesmo esperando, ainda nos pega de surpresa!
A trama da ladra egoísta que é amaldiçoada e precisa deixar a corrupção de lado cresce com o passar das páginas, e é muito mais do que parece. Vanja é uma garota traumatizada, que sofreu muito no passado e aprendeu a sobreviver sozinha. Quando precisa se unir a outras pessoas para resolver um problemão no reino e, consequentemente, em sua vida, é difícil para ela.
- Mas você consegue falar que nem eu?
- Eu sou a Vanja. Eu roubo coisas e sou malvada sem motivo algum.
E é outro ponto positivo do livro, porque a gente acompanha os traumas dela através de fábulas. E a gente sente a dor dela por isso. A Ladra Amaldiçoada é dividido em sete fábulas contando o "era uma vez" de uma ladra, uma dama e uma princesa, e como entrelaça as fábulas à história da Vanja é lindo de acompanhar.
O leque de coadjuvantes também é um espetáculo. Da princesa que teve seu rosto roubado à filha de uma deusa que consegue se transformar em animais (te amo tanto, Ragne!) e tem o coração mais puro do mundo ao investigador tímido e corajoso que pode acabar roubando o coração da ladra, o livro investe nos seus personagens. Eles têm histórias próprias, além da principal. São coadjuvantes vivos, cheios de carisma e de personalidade.
A Ladra Amaldiçoada também é um livro muito engraçado. Um humor que não se esforça para ser divertido, vem naturalmente da protagonista debochada e sabichona, dos encontros bizarros com os monstros e Deuses, dos coadjuvantes que são opostos às atitudes dela. Tem romance também, mas é um slow burn bem slow e uma delicinha por isso! O Emeric e a Vanja são umas gracinhas! O Emeric, aliás, eu queria colocar num potinho e proteger do mundo. Meu Prefeito Mirim favorito!
Mais um ponto maravilhoso desse universo: como a diversidade de personagens LGBTQIA+ aparece com naturalidade. Personagens trans estão inseridos na trama política sem dores de cabeça com transfobia, personagens lésbicas amam quem são, personagens demissexuais apresentam suas etapas de relacionamento com clareza. Eu amei como a fantasia abraçou a diversidade de maneira tão... simples.
Nenhum de nós quer ficar sozinho com as pessoas que fomos. Nenhum de nós precisa disso.
O universo, aliás, é incrível. É macabro em vários momentos, cruel. É habitado por Deuses que respondem às súplicas e também que amaldiçoam, por monstros que rondam pesadelos e também se esgueiram sobre seus ombros. O mais perigoso nele, no entanto, é um homem com sede de poder.
A tradução da Laura Pohl ficou muito boa! Tem ótimas inserções de palavras do cotidiano e adaptações maravilhosas. A edição da Seguinte também ficou muito bonita; tem ilustrações dividindo as fábulas, a fonte é confortável, ficou tudo lindo!
A Ladra Amaldiçoada é o tipo de livro para quem gosta de mocinha corrupta que, mesmo em toda sua corrupção, ainda quer proteger quem precisa. Tem um pouco de romance, um pouco de ação, muita fantasia e um final satisfatório que resolve toda a história e dá um ponto final para ela.
Sinopse: Este livro não é um conto de fadas. Esta não é a história da princesa. Esta é a história que ninguém contou: a da criada malvada. Vanja é uma criada, e desde cedo aprendeu que nenhum presente é de graça. Quando suas madrinhas, as deusas Morte e Fortuna, exigem um preço alto por sua ajuda, a garota decide tomar as rédeas do seu futuro… e roubar a identidade de Gisele, a princesa que deveria servir. Agora, ela tem um álibi para frequentar as festas da nobreza e roubar as joias que vão financiar sua grande fuga. Até que, perto de conquistar sua liberdade, a jovem cruza o caminho da deusa errada e sofre uma maldição: seu corpo vai, aos poucos, se transformar nas pedras preciosas que ela tanto ama. Vanja tem duas semanas para descobrir como quebrar a maldição e escapar. O que já seria bem difícil sem um jovem detetive no seu encalço. Será que Vanja finalmente encontrou alguém páreo para sua inteligência ― e capaz de mexer com seu coração?
Título original: Little Thieves
Autora: Margaret Owen
Editora: Seguinte
Tradução: Laura Pohl
Gênero: Fantasia
Nota: 5+
Tinham anos que eu não entrava em um blog e lia uma resenha, nossa que nostalgia... Bem, deixando isso de lado, A Ladra Amaldiçoada foi um livro que me passou despercebido, até agora. Gostei tanto da resenha que agora quero muito ler!!! Parece muito divertido e bem diferente das fantasias atuais.
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