Resenha: Vespertina - Margaret Rogerson - Queria Estar Lendo

Resenha: Vespertina - Margaret Rogerson

Publicado em 14 de out. de 2023

Resenha: Vespertina - Margaret Rogerson

Terceiro livro da Margaret Rogerson a chegar aqui no Brasil pela Editora Literalize (que cedeu este exemplar em cortesia), Vespertina é uma fantasia sombria sobre morte e necromancia. Acompanha uma freira dos mortos que, ao ter contato com uma relíquia antiga, acaba possuída pelo terror guardado dentro dela.

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Artemisia se sente em casa entre os mortos. Ela não sabe lidar com pessoas e, noviça entre as freiras que cuidam dos ritos fúnebres de seu mundo, sente que está onde deveria estar. Depois de um evento traumático em sua infância, lidar com os vivos se tornou um tormento.

O problema é que um incidente inesperado no convento a força a confrontar uma relíquia antiga carregada em magia. Para salvar as vidas de todos ao seu redor, Artemisia aceita o encargo de carregá-la - só para ser possuída pela presença que vivia ali dentro.

Agora, Artemisia precisa correr contra o tempo e todas as adversidades em seu caminho se quiser impedir um mal antigo de despertar para devastar um mundo que já foi completamente mutilado pela morte.

- Às vezes, para salvar outras pessoas, é preciso não se esquecer de se salvar primeiro.

Vespertina se tornou o meu favorito da Margaret Rogerson por dois motivos: é simples e é muito criativo. Assim como aconteceu com O Feitiço dos Espinhos, a forma com que a magia rege e existe nesse mundo é muito interessante.

Resenha: Vespertina - Margaret Rogerson

Estamos falando de um cenário que sobreviveu a uma guerra mágica que deixou cicatrizes terríveis. Os mortos precisam passara por ritos adequados, ou se tornam espíritos de diferentes categorias e perigos - de acordo com as mortes que tiveram. O trabalho de Artemisia e de outras freiras é garantir que os mortos não perturbem os vivos; mas isso sai do controle bem rápido.

Gostei demais da miscelânea de entidades macabras que andam pelo mundo. Mortos que sofreram todo tipo de atrocidade em seu fim, e são marcados por ela no pós-vida. Espíritos tão poderosos que se tornaram mais do que simples presenças, mas perigos mortíferos onde quer que apareçam. E aí tem as freiras, e todo um Clero, que não apenas cuida deles, mas também se encarrega de caçá-los e enfrentá-los quando é preciso.

Com o poder do avejão, eu poderia salvar todo mundo. Mas, se perdesse o controle, atearia fogo ao mundo e só restariam cinzas.

Vespertina se move através do universo e da sua protagonista, Artemisia, que foi a personagem mais interessante que a Margaret já escreveu.

Apesar de não ser dito, tem muitos traços de autismo na personagem, seja na maneira com que ela vê o mundo, ou na maneira com que reage às pessoas e situações. É bem sensível e cuidadoso, e dá para ver que a autora fez tudo de maneira muito respeitosa, trazendo uma representação interessante em uma personagem tão complexa.

Eu também vi Artemisia como uma boa representação de uma personagem arromântica e assexual, duas sexualidades que raramente aparecem em fantasia. Apesar de não ser dito abertamente que ela é (até porque, nesse mundo, essas palavras nem existem), eu entendi sua maneira de ver os flertes, os romances e o amor no mundo como uma pessoa aro/ace veria.

Resenha: Vespertina - Margaret Rogerson

O jeito com que a história da Artemisia se desenvolve, trabalhando muito bem o trauma e a solidão dela, expondo-a a situações que nunca deixam de ser desconfortáveis, mas que passam a ser toleráveis com o cuidado e o conforto dela para encará-las, é maravilhoso.

Vespertina também apresenta um coadjuvante e companheiro de viagem para Artemisia que rouba a cena a todo momento. O avejão é o espírito poderoso que a possui logo no começo do livro, e passa a ser a "voz na consciência" da Artemisia a partir dali. E como a relação deles é divertida!

De um lado, uma freira altruísta, solitária e cuidadosa com tudo que faz. Do outro, uma entidade maligna e poderosa que quer alcançar alguma coisa que ainda não conhecemos, mas que parece arriscado. Pensa numa dinâmica pra lá de hilária e, surpreendentemente, muito confidente também. Porque o avejão e Artemisia, no fim das contas, não são tão diferentes assim.

- Você pediu minha ajuda. Não é culpa minha se não gostou do que eu tenho a dizer.

Outros coadjuvantes também sustentam e acrescentam muito à história, mas acho que falar sobre eles é entregar demais para onde Vespertina caminha. E a graça e a criatividade do livro está justamente em seguir rumos bastante inesperados.

Eu, pelo menos, não esperava tantas reviravoltas depois de conhecer uma personagem tão cuidadosa quanto a Artemisia. E por isso é tão legal! O modo com que o universo molda a jornada dela, os perigos guiam para onde vai, seus companheiros e amigos apoiam as decisões mais absurdas. É tudo muito bem feito.

E, de novo, que universo legal! O modo com que a necromancia se conecta com a política, e como o Clero controla tudo, do governo aos pequenos conventos, e como a fé se torna um personagem tão essencial na história. Eu fiquei apaixonada.

Resenha: Vespertina - Margaret Rogerson

A edição da Literalize, com tradução de Sofia Soter, tá linda - como sempre. Diagramação confortável, qualidade impecável, detalhes que combinam muito com a história. Eu amei que trouxeram a capa original pra cá, porque essa arte da Charlie Bowater é fenomenal!

- Mas você não pode fugir para sempre, menina. A Senhora fará o que quiser com você. No fim, é o que ela sempre faz.

Vespertina começa com a história de uma freira que não quer ver nada do mundo além dos mortos, e se transforma em uma grande aventura para tentar salvar o mundo dos mortos. Um livro perfeito para quem quer se apaixonar por personagens de moral dúbia e acompanhar um universo onde necromancia e religião andam de mãos dadas.

Sinopse: Os mortos de Loraille não descansam. Artemisia não gosta muito de lidar com os vivos... Na companhia dos mortos, ela não precisa se preocupar com as fofocas sobre o seu passado complicado e as cicatrizes que leva nas mãos. É por isso que a jovem está treinando para se juntar às Irmãs Cinzentas, uma ordem de freiras encarregadas de purificar os corpos daqueles que morreram para que suas almas não retornem como espíritos famintos. Quando seu convento é atacado por soldados possuídos, Artemisia é obrigada a usar a relíquia de uma santa para enfrentar o perigo. Dentro dessa relíquia reside o avejão, um espírito antigo, maligno e muito poderoso que ameaça possuir a jovem na primeira oportunidade. Controlar todo esse poder é quase impossível, mas a morte se alastra em Loraille e somente uma vespertina — uma sacerdotisa treinada para manejar uma alta relíquia — poderá impedir o pior. Só que a maior parte do conhecimento sobre as vespertinas se perdeu no tempo, e agora Artemisia não tem nenhuma opção além de buscar a ajuda do único ser que ainda se lembra delas: o próprio avejão. À medida que os mistérios sobre os santos e suas relíquias são desvendados, a conexão de Artemisia com o avejão cresce. Quando um inimigo inesperado aparece, a jovem percebe que enfrentar esse mal pode muito bem obrigá-la a trair tudo o que acredita... Se o avejão não a trair primeiro.

Título original: Vespertine
Editora: Literalize
Autora: Margaret Rogerson
Tradução: Sofia Soter
Gênero: Fantasia
Nota: 5+


3 comentários:

  1. Anônimo17.10.23

    oi, me interessei e gostaria de saber: o livro faz/fará parte de uma série ou é independente?

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    1. É livro único! O final tem abertura pra mais, mas a história se resolve totalmente nele :)

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    2. Anônimo23.10.23

      muito obrigado :)

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